Onipotência

Três "marretadas" foram dadas na porta às 6h da manhã. Assustado, o Luffy despencou do segundo andar da beliche e caiu sobre os tênis que deixávamos naquele espaço (e as milhares de camisetas do Ace que mais ficavam no chão do que vestidas). Por falar em Ace, este bateu a cabeça no estrado da cama do Luffy ao levantar-se como um poste de iluminação. Eu dei um salto olímpico e fui parar com o peito nas costas da cadeira da mesa de estudo. Uma figura de cabelos desgrenhados apareceu, com cara de morto-vivo:

[Ace]-Argh, mas que me...

[Sabo]-Z-Z-Z-Z-Z-ZUMBI!!!!!!!

[Luffy]-Uaaaaaaaaaaaaaaaaah!!!!! Foge!

[Dadan]-Bom dia, bando de idiotas.

[Ace]-É só a Dadan? Vou voltar a dormir.

[Dadan]-Nada disso, moleque. Hoje é o primeiro dia de aula de todos vocês. E Ace, não acho que o pessoal do técnico vá tolerar seus atrasos.

[Sabo]-Primeiro dia de aula? AH É MESMO! -dibrei a Dadan e fui direto para o banheiro tomar banho

[Dadan]-Quê?

[Ace]-Sabo tá se sentindo um Deus.

[Dadan]-E ele tem motivos?

[Ace]-Koala.

[Dadan]-E ele nem me contou...

[Ace]-Mas eu contei. Boa noite pra vocês. -meu irmão puxou o cobertor até o topo do rosto

[Luffy]-Dadan, eu quero queijo quente! E toddy quente! E carne!

[Dadan]-Para com essa mania de carne toda hora, menino.

Terminei meu banho e voltei para o quarto. Vesti a melhor calça que eu tinha, calcei meu All Star e peguei a camiseta do uniforme:

[Sabo]-Ô Ace.

[Ace]-Faltei, fessora. -ele resmungou

[Sabo]-Ainda tem aquele perfume?

[Ace]-Cê vai pra uma premiação internacional ou pra escola, idiota?

[Sabo]-Não profane minha onipotência, inseto mortal.

[Ace]-Pff... Tá na caixa azul. E por favor, não faça feio. Honre a Irmandade.

Peguei a minha cartola do cabideiro e a enfiei no cocoruto:

[Sabo]-Nada dará errado hoje.

[Ace]-Mais uma coisa, Sabo. -um dedão positivo apareceu da lateral do cobertor - Óculos escuros.

[Sabo]-Mas não era você que tava falando pra não fazer feio?

[Ace]-Já viu alguma lenda sem óculos escuros? É claro que não.

Pus os óculos sobre a aba da cartola e desci para tomar café. Já cheguei puxando a cadeira e pegando a xícara para servir café, enquanto era observado por uma Dadan incrédula:

[Dadan]-Sabo, vai procurar emprego?

[Sabo]-Não.

[Dadan]-Não vai me dizer por que está saindo assim, tão empetecado?

[Sabo]-Bom... Eu só posso dizer que algo muito bom vai começar. E que vai revolucionar essa casa. -sorri com o pão pendurado na boca

[Luffy]-O que que é relovuçar?

[Sabo]-Se diz "revolucionar". E um dia eu te conto.

[Luffy]-Eu também quero relojoar!

[Ace]-Luffy... Você ainda não tá na idade disso. -ele brotou na cadeira ao meu lado

Olhei para o relógio: Já era hora de ir. Corri para o banheiro, escovei os dentes e joguei meio litro de enxaguante bucal pra dentro. Pesquei a mochila no corredor e desci esbaforido. Ajeitei a cartola e pus os óculos. Cheguei no ponto de ônibus e 10 segundos depois o mesmo apareceu, como um carro presidencial. Subi e me atirei na primeira carteira livre. Não demorou muito até ele chegar ao meu destino. Desci, respirei fundo, barriga pra dentro e peito pra fora, sorriso de confiança. Atravessei a rua e fui seguindo a rua, entre a multidão. Logo a vi, sentada no banco de pedra da entrada, lendo um livro:

[Sabo]-O dia está tão lindo... Acho que ele quis se espelhar em você.

Ela fechou o livrou e levantou a cabeça:

[Koala]-Bom dia, Sabo. Uau, você está... Arrumado. O que foi?

[Sabo]-Sacumé... A gente muda. O mundo muda....

[Koala]-Não termine essa, pelo amor que você tem à sua vida.

[Sabo]-Certo, vida.

[Koala]-Hmm? -ela me olhou encabulada - N-não era isso o que eu quis dizer.

[Sabo]-Mas foi o que EU quis dizer. -sentei ao seu lado

Ela sorriu e pôs a mão na minha bochecha direita:

[Koala]-Você não precisa se arrumar tanto só por minha causa, bestão. Mas eu fico feliz que eu seja o motivo de você estar tão cheiroso.

[Sabo]-Talvez eu me arrume assim pra pelo menos ficar apresentável perto de você. Ou talvez porque eu goste de te impressionar. Você fica bonitinha quando tá com vergonha, ainda mais com essa carinha de bebê que você tem.

Me levantei a puxei pela mão, entrelaçando nossos dedos:

[Koala]-Eu tô doida pra te bater... Mas tô com vergonha demais pra fazer isso. -ela fez bico

[Sabo]-Aaaah, então é assim que funciona? Ótimo!

Levei um tapa no ombro:

[Koala]-Não abuse da sorte, moço.

[Sabo]-O que a gente tem pra hoje?

[Koala]-Bom, eu espero que nada. Mas vai saber né...

[Sabo]-A dona da situação, a imperatriz da certeza, a rainha do planejamento... Não sabe???? Preciso vir bonito mais vezes! Isso é divertido.

Ela me olhou, brava:

[Koala]-Não tem nada a ver com isso. Assim como você, eu nunca estive no Ensino Médio. Nossa sala é a 37 se não estou errada.

Passei o olho na lista de chamada pendendo no quadro de avisos e conferi:

[Sabo]-37.

Subimos as escadas em meio à multidão de pessoas comunicativas e risonhas até chegarmos à nova sala, no andar superior. Assim que entramos, logo fui para o fundão de sempre e ela sentou à minha frente:

[Sabo]-Quanto tempo ainda temos?

[Koala]-Uns 30 minutos. Por que?

[Sabo]-Vem comigo.

A sensação de andar de mãos dadas com ela era indescritível. Era como me sentir um castelo feito de diamante, protegendo uma princesa baixinha com cara de bebê. E é claro, eu exalava essa sensação de poder ilimitado o tempo todo. Saímos pela escada que dava para o pátio:

[Koala]-Para onde está me levando, Sabo?

[Sabo]-Você vai saber.

Chegamos até a quadra de futebol de campo. Subi as arquibancadas até o penúltimo degrau e me sentei no canto. Ela, com dificuldade, saltou degrau por degrau e sentou-se:

[Koala]-Agora vai me dizer por que aqui?

[Sabo]-Senta lá.

Ela o fez. Pus a cartola no degrau abaixo e me joguei no colo dela:

[Sabo]-Pronto.

[Koala]-Mas cê sabe que teremos de voltar logo logo, não é?

[Sabo]-Nah, vamos nada não. Aqui tá bom.

[Koala]-Podemos passar o recreio aqui, se você quiser. -ela entrelaçava os dedos no meu cabelo

[Sabo]-Se eu não dormir, aceito!

O sinal soou alto. Levantei e dei um beijo em seu rosto:

[Koala]-Antes, eu preciso ir ao banheiro.

A esperei na porta dos vestiários. E pra variar, o indesejado apareceu:

[X-Drake]-Saudações, loirinho da cartola.

[Sabo]-Mas vejam se não é o homem placenta... Tchau.

[X-Drake]-Já vai?

[Sabo]-Estou esperando minha namorada?

[X-Drake]-Então quer dizer que a coelhinha está livre? -ele sorriu

[Sabo]-Dobre essa sua língua reptiliana antes que eu a dobre por você. Sabe lagartixa, eu tô doido pra te bater... Sugiro que você fique na sua e não diga essa palavra nunca mais.

[X-Drake]-Agora que seu irmão encrenqueiro saiu, VOCÊ quer caçar confusão comigo? Ha... Faça-me rir, bobo.

[Sabo]-Não passe do limite, animal. Ou eu vou te ensinar boas maneiras com ou sem o Ace aqui no colégio.

[X-Drake]-Pff... Eu vou atrás da coelhinha, se me der licença. Talvez ela precise da atenção de um homem de verdade.

[Koala]-Na verdade... A "coelhinha" -ela enfatizou as aspas - já tem a atenção de um homem, muito obrigada. E ele com certeza não é você.

[X-Drake]-E aí, princesa. Achei que ele estava esperando a namorada dele e não um anjo.

[Sabo]-Mas é ela. Em ambos os adjetivos.

[X-Drake]-Então quer dizer que você ofereceu uma cenoura para a coelhinha e ela caiu na sua armadilha? Ela é bem mais fraca do que eu pensava.

[Koala]-Eu seria fraca se tivesse dado corda ao seu discurso. Não sou um troféu pra você ficar me disputando com o Sabo.

[X-Drake]-Hmm. Você verá, cedo ou tarde, quem está certo nessa história. Até mais! -ele estendeu o braço em despedida e seguiu o caminho para o prédio principal.

[Sabo]-Deuses existem.

[Koala]-Hmm? -ela sorriu

[Sabo]-Todos saúdem a Deusa Suprema! -peguei-a nos braços - Que sua imensidão seja aclamada pelo mundo!

Ela começou a rir e derrubou a cartola:

[Koala]-Pare com isso! A gente vai se atrasar.

A devolvi ao solo e pus a cartola no lugar certo. Voltamos correndo para a sala e por sorte o professor não havia aparecido. Procuramos nossos lugares e por lá ficamos, até aparecer alguém no tablado.

O dia foi longo, e descobrimos que ainda teríamos aula à tarde. No fim de tudo, mais ou menos umas 5 da tarde, estávamos na arquibancada:

[Sabo]-Definitivamente, eu odeio o Ensino Médio. Odeio muito.

[Koala]-Agradeça por eu ter dinheiro, seu pobre.

[Sabo]-Obrigado, ó nobre dama da corte francesa.

[Koala]-Por que francesa?

[Sabo]-Porque você tem cara de quem ficaria bem com uma bandeira listrada de azul, branco e vermelho pendurada nas costas.

[Koala]-A bandeira da Inglaterra tem esse padrão de cores, amor.

[Sabo]-Por isso eu disse LISTRADA! Ha! Sabo 1 x 0 Koala!!!!

[Koala]-Huh. -ela virou a cara - Como é que eu fui me deixar levar por você mesmo?

[Sabo]-Política, coelhinha. Eu sou bom com isso!

[Koala]-Você se acha demais...

[Sabo]-Eu não me acho. Eu tenho é certeza! E essa certeza aumenta quando eu tô com você.

[Koala]-Eu lá sou um cilindro de gás pra inflar o ego das pessoas?!

[Sabo]-Não. Não caberia quase nada de gás se você fosse um cilindro.

Levei um tapa no peito esquerdo:

[Koala]-Grosso.

[Sabo]-O-o que eu quero dizer é que fico mais seguro pra ter certeza.

[Koala]-Agora não adianta concertar, seu animal. -ela fez sua pose de brava - Nem mesmo chocolate adianta. Hunf.

[Sabo]-Iiiiih, que que foi mulher? Foi bonitinho, admite.

[Koala]-Foi um insulto.

[Sabo]-Koala...

[Koala]-Xô daqui, Sabo.

[Sabo]-Cê acha mesmo que eu ia querer uma garota alta com os seus traços?

[Koala]-Acho.

[Sabo]-Pois acha errado, sua bocó. É tipo aqueles mapas de geografia que ficam com as proporções bugadas. Ninguém merece proporções desproporcionais.

[Koala]-Mas todo mundo aceitava na época das Grandes Naevegações. -ela continuou de braços cruzados

[Sabo]-Se eu tivesse um navio, pode ter certeza que ia querer o mapa mais fiel ao que o mundo é.

[Koala]-Naquela época não tinha conhecimento o bastante pra uma coisa dessas.

[Sabo]-Então eu faria esse mapa. Ao lado da melhor navegadora que a humanidade conhecesse. E de preferência, que ela tivesse um chapeuzinho vermelho.

Ela bufou devagar e descruzou os braços:

[Koala]-Alguém deve ter te contado como lidar comigo.

[Sabo]-Eu só olhei pra sua cara e descobri como se faz. Simples! -sorri glorioso

[Koala]-Eu te odeio, Sabo.

[Sabo]-Ao inverso, né?

[Koala]-Não.

[Sabo]-É o quê?!

Ela se inclinou e me beijou:

[Koala]-Você acredita tão fácil... Bobo.

[Sabo]-E duvidar de você? Vai que a vida me faz casar com você e você anota isso pra me fazer dormir no gramado? Nem. Eu gosto da cama quentinha.

[Koala]-Além de lindo, é muito esperto. Fico impressionada todo dia com você, amor. Se o destino fizer isso, prometo não anotar essa.

[Sabo]-Destino, eu vou chutar a sua bunda gorda se falhar comigo! -apontei para o céu

[Koala]-A gente tem que ir pra casa.

[Sabo]-Seu tio fica em casa?

[Koala]-Não. Mas eu preciso comer.

[Sabo]-Ué, você sabe cozinhar?

[Koala]-Sou uma mulher autossuficiente, Sabo. Lavo, passo, cozinho, arrumo a casa... Tudo isso.

A encarei por uns minutos e comecei a rir descontroladamente. Pra variar, levei um soco no braço direito:

[Koala]-Idiota. Vamos embora logo.

Beijei o nariz dela só para deixá-la envergonhada e saí. Dei a volta por trás do colégio e peguei o ônibus quase partindo. Assim que cheguei em casa, fui surpreendido pelo silêncio absoluto. Retrocedi ao portão e conferi o número da casa, para ter certeza de não ter entrado na casa errada:

[Sabo]-Ãrh... Dadan?

[Dadan]-Hmm?

[Sabo]-Ué, agora você é invisível?

[Dadan]-Eu estou aqui fora, garoto.

Parei na porta da cozinha e me debrucei no arco:

[Dadan]-Teve um bom dia?

[Sabo]-Muito. Cadê os dois bocós?

[Dadan]-O Luffy tá esudando geometria. E o Ace... -ela pitou o cigarro

[Sabo]-O Ace...?

[Dadan]-Chegou sem sequer almoçar e está no forte de vocês.

[Sabo]-Sozinho?

[Dadan]-Claro, moleque! Acha mesmo que eu ia deixar vocês trazerem meninas pra dormir aqui e ainda por cima deixar vocês a sós?

[Sabo]-Ér.... Sim?

Dadan me encarou:

[Dadan]-Ele não quer me ouvir.

[Sabo]-Eu vou te dizer como lidar com ele.