A Gêmea do Professor

Atrás dos Sorrisos da Boa Menina - Parte 1.


— Essa pirralha estava matando minha aula! - Reclamava a velha para o Diretor Tater, que apenas tinha uma feição de tédio enquanto mantinha seus braços cruzados numa posição desdenhosa para ela.

Minha orelha gritava com a dor dos puxões que recebia, enquanto as minhas mãos seguravam a sua para empurrá-la, mas a bruxa tinha uma carta na manga, chamado unhas; prendia o lóbulo da orelha entre suas pontas finas, que o apertavam. A agonia de sentir a ardência de um aperto mínimo numa região frágil, era doloroso, mais do que eu imaginava sentir. - Eu não vou te culpar pela falta de audição que pode estar prejudicada pela sua velhice! Porque eu já te disse que estava em outra aula-Pode me soltar! - Peço com violência, sendo o suficiente para a mão seca, com sua pele grossa, soltar o lóbulo da minha orelha num empurrão; ponho minhas duas mãos por cima da minha orelha que fervia, encarando, com maus olhos, a minha professora com cara de sapo. - Obrigada!

— Ela não estava matando aula, estava na minha aula, e eu pedi para que ela pegasse algum giz emprestado da sua classe. - Explicou Adam, com bom humor.

— E porquê ela estaria numa aula sua? - Perguntou ela, confusa, o olhando com os olhos estreitos por desconfiança.

— Porque eu sou um professor. - Revela.

— Esse pirralho trabalha aqui?! - Perguntou com exaltação, ao se virar bruscamente para o nosso diretor.

— É o que você ouviu. - Irritada, ainda sentindo a dor na minha orelha quente, eu respondo.

— Não existe uma idade mínima para ser professor?! - Ela continuou com sua indignação, espremendo seu olhar desconfiado para o diretor.

— Bom, com certeza, não existe uma idade máxima. - Retrucou com indiferença, ainda continuando com sua pose arrogante.

A mesma firmou seus olhos estreitos e desconfiados, para ele.

— Senhora Byrne, por favor, volte para sua classe. - Pediu o careca, com gentileza e educação.

A própria se virou para uma porta que estava do nosso lado, não antes de dar um último olhar reprovador para mim e para meu gêmeo. Abriu a porta e entrou na mesma.

Eu olhava a cena da velha caduca com espanto.

— Aí é o armário de limpeza! - O diretor avisa.

— Por que apagaram as luzes na minha classe?!! - Gritou, e sons de objetos caindo foram ouvidos por nós.

— Não deviam ir para sua classe também? - Sugere o diretor, apontando para trás.

— É, Adam, deveria! - Digo com braveza, tirando as mãos de cima da minha orelha, ainda dolorida, saindo do lado do Adam para começar a caminhar e a passar ao lado deles.

— Eu sou seu professor, e agora é minha aula! - Adam diz, seguindo meus passos.

— Falta de sorte. - Resmungo.

— O Senhor não tem uma chave reserva?

Escuto ele perguntar, atrás de mim.

— Não está com a sua?

— Bom, é que a minha...

— Professores têm uma chave mestra que abre todas as portas da escola.

Aquela informação fez os meus olhos brilharem e parar a minha ida de volta para a sala, por querer ter mais informações, para um possível começo de tramagens que terminará em expulsão... na minha expulsão.

Giro noventa graus para a esquerda, somente para voltar a olhá-los com curiosidade.

— Se perder essa chave, será o professor mais jovem que vai ser demitido dessa escola! - Repreendeu meu irmão com seu olhar sério e apontando seu indicador.

Abro um sorriso pretensioso antes de chamar pelo mais velho. - DIRETOR!! - Mesmo antes de gritar, Adam se vira e corre, desesperado, até mim, me abraçando com força e colocando sua mão por cima da minha boca. Fico estática por segundos, pela sua ousadia.

— Não liga pra ela. - Forçou um sorriso em meio ao seu nervosismo, encarando o diretor enquanto me mantinha nos seus braços.

Eu odiava quando alguém me tocava, ainda mais sem minha permissão, aquilo me deixava agoniada e com a ansiedade ultrapassando o limite.

Curvo meu braço e o alavanco para trás, pegando impulso, logo o direcionando para baixo e golpeando meu cotovelo na altura da costela do meu gêmeo; tremo o corpo por sentir uma pontada na mesma região.

Eu odiava ter essa conexão com ele, por sermos gêmeos, essa e por muuuuito mais.

Meu gêmeo me solta, entre seus gemidos de dor, e se curva para frente entre seus choramingos; olho para ele e o vejo se contorcendo.

— Nunca mais coloque sua mão por cima da minha boca! Eu não sei por onde você passou ela! - Esbravejo, jogando as mechas do meu cabelo para trás e cruzando meus braços, soltando um suspiro irritado. - E para com essa frescura, nem bati tão forte!

— Não foi você quem sentiu. - Respondeu entre sua voz trêmula e fraca, se arrastando com dificuldade até a parede para poder se levantar.

— Já pensou em entrar para o clube de luta da nossa escola? - O diretor sugere.

Apenas viro meu olhar de poucas amizades para ele, o vendo estremecer no lugar, mas a sua cabeça lisa, que era bem refletida pela luz da lâmpada, tirou todo o foco que tinha sobre seu rosto, e comecei a encará-la na cara dura. - Já pensou em fazer um teto para sua cabeça? - Ficou em silêncio pelo meu comentário, apenas com sua cara de paisagem. - Sei lá, proteger os olhos de alguém quando a luz refletir nessa lisa e enorme, bola de bilhar.

O meu diretor suspirou e revirou seus olhos, murchando seus ombros, demonstrando seu cansaço ao ouvir as mesmas piadas que todos faziam sobre sua cabeça.

— Bom… - Adam se colocou na minha frente, fazendo sua feição de dor, enquanto massageava a região onde acertei. - Voltando, a questão da chave, que foi, vagamente, interrompida. - Virou seu olhar repreendedor para mim, para depois voltar a olhar para o mais velho. - Eu só quero usar para… - Hesitou em momento. - P-pra fazer uma simulação do experimento do Benjamin Franklin.

— Nossa, até fico surpresa, bom mentiroso. - Digo num tom baixo, apenas para ele ouvir.

— Ótimo, o zelador vai abrir pra você. - Pôs sua mão no bolso para pegar seu celular. - Vou chamar o Dang.

— Me chamar! - Um cara, atrás dos dois, respondeu, fazendo nós três o olharmos em espanto, mas os dois paspalhos gritaram, mas eu fiquei surpresa e imóvel enquanto encarava o asiático, tranquilamente.

— Como você chegou aqui?! - Perguntou Adam, alterado, virando seus olhares confusos e desnorteados para os lados do corredor vazio.

— Chegar em barco de pesca, escondido dentro de carcaça oca de peixe boi. - Respondeu, em seu sotaque puxado.

— Depois você me ensina? - Peço, e todos viram seus olhares para mim. - Que foi? Eu nunca pensei em atravessar um país, escondida num navio com bafo de sardinhas. - Blefo, abrindo um sorriso sugestivo.

— Melhor nem falar nada. Ainda me lembro daquela vez. - Lembrou do acontecido de dois anos atrás, apontando para mim.

— Foi só daquela vez! - Franzi ao responder, demonstrando a minha indignação sobre o caso, por não ter conseguido. - Foram péssimas férias de verão, só pra constar.

Fico emburrada o caminho inteiro, de braços cruzados, por me lembrar das férias mais entediantes de todas. - Alabama... Tinha o Havaí! - Resmungo.

— É um estado rentável.

— Ficamos numa fazenda sem eletricidade, presos por um muro de três metros, somente porque, ano retrasado, de dois anos atrás, alguém tentou pegar uma flor!

— Uma espécie ameaçada!

Solto um suspiro e reviro meus olhos. - Jesus.

— E nem foram tão ruins.

— Nossa mãe nos obrigou a dançar Vaffi Vaffi por duas horas seguidas, em cima de um palco cheio de luz na nossa cara suada, com um bando de velhos caquéticos nos assistindo. - Lembro com indignação. - Nunca mais olhei para um vestido da mesma forma.

Seguimos o zelador em silêncio, ouvindo as rodas do seu carrinho de limpezas deslizarem sobre o chão, voltando até a frente da porta da classe do meu irmão.

— Eu agradeço muito, hã.. Dang, não é? - Meu gêmeo diz, comigo parando do seu lado.

— É, Dang, de De-eng. - Respondeu num sorriso expressivo, que mostrava os dentes brancos da frente.

— Faz muita diferença. - Comento na ironia, passando por eles para ir até a porta.

— Ela ter sempre essa cara de fuinha? - Pergunta em tom baixo para meu gêmeo.

Me viro para ele e curvo minhas sobrancelhas, em conflito ao que disse.

— Esquece, ter sim. - Chegou na sua conclusão e se virou, quase estático, para meu gêmeo. - Então, te deixaram ser professor? - Perguntou ele, para tentar tirar o ar tenso que eu mesma coloquei.

— Au, desculpa, eu sei que aqui você é zelador e no seu país, talvez, você fosse médico ou programador de computador.

— Não, era zelador, em museu de adubos. - Franzi minha testa por escutá-lo, encarando seu sorriso animado no rosto, que fazia seus pequenos olhos puxados se fecharem. - Aqui eu subir um degrau.

— Prefiro nem comentar o porquê. - Digo, balançando minha cabeça em negação e piscando os olhos, abismada com o pessoal desse lugar.

— Enfim, a próxima vez que ficar fora… - Se virou para empurrar o carrinho e se aproximar da porta, ficando do meu lado. - fácil entrar.

Adam se aproximou, parando do meu lado.

— Eu mostrar. - O próprio inclinou seu corpo para baixo, apoiando suas mãos no chão para jogar suas pernas para cima, fazendo uma estrela, para depois dar uma pirueta e acabar de pé no outro lado.

Fico pasma ao assistir aquele pequeno fazer suas acrobacias, ficando, novamente, impressionada com aquele homem.

— Uou. - Comentou.

Após pegar um escovão dentro do seu carrinho de limpeza, puxou uma cadeira que estava no canto e a arrastou para a pôr em frente do seu carrinho: jogou o escovão no chão e correu para subir na cadeira, e depois no carrinho, que foi segurado pelo Adam, dando o impulso com suas pernas para dar um pulo e passar por cima de nós, esticando seu corpo que foi diretamente numa pequena janela acima da porta, passando facilmente por ela.

Com a cabeça erguida para cima, encarava a cena de circo que tinha acabado de assistir, quase paralisada.

— Daaaaang! - Adam expressa seu ânimo, exagerando no tamanho do seu sorriso, eu a calada, apenas surpresa por dentro num feição de desdém para com ele.

A porta se abre e ele sai por ela, como se nada tivesse acontecido. - Gostar?

— É. - Dou de ombros e virei para a porta, me apressando em passar por ela e encontrar todas as mesas vazias, mas, precisamente, com a minha mesa sendo uma exceção. Me enfureço, tornando voraz meu olhar e enrijecendo minha feição, voltando a caminhar, sem pressa, até minha mesa, que apenas tinha meu estojo, o grafite e o celular com os fones sobre ela; meu sangue ferveu ao lembrar da visão do meu caderno na mão gordurosa do Slab.

Solto um suspiro longo e pesado, tentando tirar todo o ódio gratuito e explosivo de dentro de mim, mas era nulo; apenas iria desaparecer quando a existência desse grandalhão se extinguir dessa terra. - É hoje que eu mato alguém! - Me apresso, começando a guardar as poucas coisas que estavam sobre a mesa na minha mochila, onde notei que estava remexida. - Filho da puta. - Fecho o zíper da mochila com agressividade, com a adrenalina pulsando nos meus pulsos.

— Novidade! - Reclamou ao entrar na sala. - É assim que eles tratam um professor?

— Você poderia me emprestar um ácido? - Pergunto, colocando a alça da mochila sobre meu ombro, encarando ele ao passar do meu lado para ir até a lousa para colocar as barras do giz nela.

— Eu não vou te dar ácido nenhum… - Se virou para mim ao negar. - Lembra da última vez…?

— Como eu poderia me esquecer? - Respondo, contraindo meu ódio pelo momento de descontração por relembrar do momento em que coloquei um frasco de vidro minúsculo e cheio na sua mochila quando tínhamos sete anos; o sorriso iluminou meu rosto.

— Sua cara assusta qualquer um quando relembra seus momentos de puras ações malignas contra esse mundo.

— Bons tempos aqueles. - Me glorifico, sorrindo para ele. - O começo de uma arte singular.

— Aquela mochila ainda existe e está nos fundos do meu armário, e foi por pouco que aquele ácido não me pegou.

— Foi uma pena não ter pego. - Digo na mais pura vil, enquanto mantinha meus olhares inocentes para ele. - Poderia fazer uma tatuagem com a cicatriz que poderia ter ficado nas suas costas.

— Prefiro não saber da onde que tira essas ideias? - Me olha com os olhos estreitos e confusos.

— Do meu profundo abismo maligno que habita dentro do meu ser, e que agora está desejando enviar a minha mão num lugar que, provavelmente, vai doer em alguém. - Respondo na mais pura tranquilidade puxada pela perversidade, segurando a alça da mochila com força.

Desvio meus olhos para a porta ao começar a caminhar, passando pelas mesas.

— Onde pensa que vai?

— Tão todos cabulando aula, acha mesmo que vou ficar sobrando aqui? - Respondo, me apressando em segurar na maçaneta.

— Seu professor está aqui.

— Está! - Viro para ele e giro a maçaneta. - E é meu irmão... gêmeo, ainda por cima. - Empurro a porta e me apresso em sair, dando de cara com a garota que havia chegado atrasada.

— Oi! - Levantou sua mão num cumprimentou animado, em um sorriso recheado de pura felicidade.

Nunca vou entender essa gente, na pura felicidade uma hora dessas da manhã?

— Viu o Slab? - Nervosa, eu pergunto, olhando com dureza, diferente dela.

— Não. - Respondeu em hesito, num olhar receoso.

— Obrigada por nada! - Sigo meu caminho, passando ao lado dela, seguindo pelo corredor entre meus passos impulsivos e cheios de ira, enquanto percorria os meus olhares de caçador pelas curvas dos corredores pelos quais passava, caçando o próprio Slab e o Derby.

Desço por uma escadaria, que fazia uma curva até embaixo, levando para um corredor que estava bem movimentado dos meus próprios colegas de sala, e entre esses grupos, onde havia mais desconhecidos, vejo o Derby enturmado num grupo de garotas que tinham um semblante notável de desgosto e desprezo para com ele.

Desço pelos últimos degraus entre pulos brutos até o chão, caminhando com minha marra pelo ar ardente do rancor que me batia no peito. Paro no centro do corredor, cruzando meus braços e o olhando com o olhar molesto, tão depravado que as garotas que estava com ele, ou melhor, o desprezando, me encararam com discordância e arrogância. Todas, sem exceção, passaram seus olhares repulsivos e de desprezo aparente pelo meu corpo.

Meu estilo de roupas e as mechas vermelhas do meu cabelo, chamam atenção demais, principalmente por ser a diferentona entre todas as garotas que já havia conhecido, na maioria das vezes, sendo elas quem começavam a provocar.

Descaradamente, solto um riso nasal, o que fez meus ombros balançarem e um sorriso tirando surgisse no meu rosto, fazendo a questão de retribuir aqueles olhares de baixo com meu sarcasmo imponente. Ao reparar na minha atitude, as caras de buldogue prosseguiram com sua demonstração de autoridade naquele corredor, a qual havia a confrontado com o valentão na sala, e que agora, havia encontrado mais um motivo de farrear com aquele lugar.

Não duvido nada que Ivy conheça alguma delas, ou todas. E ainda pior, seja uma delas.

Em seguida, as donas da razão demonstraram sua caminhada indolente, balançando suas bolsinhas de marca e as roupinhas caras que compravam com o dinheiro do papai, para darem as costas ao Derby e caminham pelo corredor, balançando suas bundas e seus cabelos hidratados.

Alargo um riso de canto, prolongando a minha estadia nesse lugar. - Estou adorando mais ainda esse hospício.

— Garotas! Vejo vocês mais tarde! - Gritou em seu ânimo, escondendo seu desânimo de ser rejeitado, dando passos para trás até se virar e dar de cara comigo, e parou no exato momento ao me ver, tirando sua expressão orgulhosa para a estreitar em pânico. - A-a-a-amy… Oi…

Permaneço no silêncio, apenas o observando sem expressão, até quebrá-lo e fazer com que ele trema, voltando a me trazer a leve sensação de prestígio à minha pessoa. - Você… ao menos fez alguma coisa pra ele não pegar meu caderno, ou impedir que… desmoralizasse, assim dizendo, meus desenhos? - Pergunto com tranquilidade premonitória, em meu olhar soberbo de pura calmaria que escondia meu rancor à ele. Começo a dar passos sujeitos até sua direção, o observando recuar entre gemidos chorosos. - Derby! - O chamo para acordá-lo e me responder, continuando nossa divertida caminhada, do caçador à caça.

— AAAH!! - Gritou, imerso no seu temor, se virando bruscamente para trás e correndo para o corredor à direita, sumindo das minhas vistas.

Paro com meus passos, mantendo meus olhares ressentidos no lugar por onde desapareceu. - Eu só quero meu caderno e acabar com eles, é tudo tão simples, então porque eles complicam tanto? - Sarcástica comigo mesma, continuei o caminho pelo corredor movimentado, sendo que mal estávamos no horário do intervalo; essa escola era péssima.

Da entrada da frente do corredor reto, surgiu uma multidão de nerds que conversavam animadamente, os quais caminhavam e lotavam o corredor que já estava movimentado. Minha presença irreverente chamou seus olhares que se viraram na minha direção, num espanto e com uma ar idiota de admirados.

Solto um suspiro nasal, pasmada, surpreendida pelos olhares dos nerds para mim.

Continuo a caminhar, impulsivamente, pelo corredor, sem dar a menção de desviar ou parar, levando no rosto um olhar rígido, insociável, para com eles que, de deslumbrados, ficaram atrapalhados entre seus olhares nervosos por verem que não iria parar minha caminhada: entre tapas de avisos nas costas dos amigos, passos de seus pés desordenados, empurravam uns aos outros numa bagunça para tentarem abrir espaço para poder passar; uns até caiam ao chão por tropeço.

Eu, simplesmente, escondia minha postura tirana e meu sorriso esnobe, por ver a bagunça que eles faziam, apenas por estar passando no chão por onde pisam.

Aff, que exagero.

No máximo, eu apenas poderia tirá-los para fora de alguma janela, não seria a coisa mais traumática que aconteceria na vida deles, pensava comigo mesma entre meus pensamentos sem pé nem cabeça.

No fundo, sou uma retardada não assumida.

Após muita bagunça em meio ao corredor, vozes atropeladas por outras vozes, o caminho foi aberto entre o grupo, justo no momento em que já estaria em frente aos próprios, estando numa fila feita por seus corpos enrijecidos e feições tensas; fui acompanhada pelos olhares nervosos e estáticos, que pareciam jamais ter visto ou estando perto de uma garota.

— Vocês são muuuuuito sábios! - Falo, já na ponta de passar pela passagem e virar na curva para seguir à direita, curiosamente, ou não, sendo o mesmo andar que iria ter a aula de gramática, mas, ainda tinha algum tempo até ela começar, por isso resolvi ganhar tempo procurando por Slab.

Caçava aquela Ratazana de quase dois metros pelos corredores da escola, até mesmo o procurei pelo pátio do lado de fora, mas nada dele, e assim, meu tempo acabou e o sinal da minha segunda aula soou, mas acho, apenas acho, que poderia ter me atrasado.

Paro em frente a porta da sala e me deparo com uma sala cheia de adolescentes com os hormônios à flor da pele, e que me encararam, me fazendo ser a principal atração de todos os olhares, principalmente do professor; todos estavam na sala.

— Deve ser a-a-aluna nova. - Disse o mais velho, entre gaguejos.

Numa feição neutra, assinto, tomando passos lentos para dentro da sala, ouvindo um choramingo, que me fez parar e levar minha atenção até o feitor: Derby.

Refiro os olhos, soltando um suspiro pesado para voltar a olhar para frente. - Só pode tá de brincadeira.

— G-gostaria de se apresentar p-p-para a turma?

Penso comigo mesma que seria um gago.

— Não. - Respondo sem demora, pouco delicada, percebendo seu desconforto, o que fez piorar sua dificuldade em falar.

— S-s-sim, e-está certo. P-pode s-se sentar... d-do lado da s-senhorita Z-z-z-zizzleswift. - Entre sua dificuldade em dizer, ouvia os risinhos de mal gosto de todos atrás de mim, e sua feição constrangida me fez encará-los com a repulsa que subiu na garganta, apenas não vomito por respeito.

Então, entre a turma de babacas, vejo que seria a mesma garota que chegou “ atrasada ”, notando a mesma escondendo seu rosto atrás do cabelo para desviar atenção.

Tomo os passos até entre o espaço entre as mesas, em meu semblante rude para todos, com meu olhar disperso para frente, o que acabou não me permitindo ver por onde eu andava: entre meus passos, a ponta do meu pé bate em algo em frente, o que me faz parar. Tombo minha cabeça para o lado e a abaixo, vendo o pé de alguém posto na minha frente; usava uma bota com um salto, branco. Levo meus olhos para a figura, reconhecendo suas roupinhas de marca e seu cabelo ruivo, sua maquiagem neutra, mas com a boca tomada por vermelho.

— O quê? Quer tirar uma foto para me apreciar mais? - Abre um sorriso em meio ao seu deboche, o que revelou marcas de batom vermelho nos seus dentes da frente.

Arqueei minha sobrancelha para aquela sonsa, imaginando seu surto ao descobrir a pintura egocêntrica que se destacava entre seus dentes brancos.

— Filhinha de papai. - Levanto meu pé direito e piso em cima do seu pé, voltando a olhar para frente e ignorar seu gemido de dor pouco alto, mas já não era necessário, pois já éramos a central das atenções naquela sala.

Meu primeiro dia acabou de melhorar.

Ponho meu peso em cima do seu pé, o que acarretou em aumentar seus gemidos de dor, pisando no outro lado para continuar o caminho até a mesa vazia, ignorando os sussurros baixos, os risos, e os olhares meio espantados de todos.

— Você é louca?! - Berrou em fúria para mim.

— Clara que sou. - Respondo na mesma altura, sendo que numa calmaria mascarada, me virando para ela e mostrando meu riso cínico de canto, o que fez sua feição se enfurecer mais ainda.

Me sento no assento, colocando a mochila em cima da mesa, e notando o carinha que sentava na minha frente, se virar, num sorriso de segundo no rosto.

— Se vira! - Mando num tom rude, abrindo a mochila, alargando um sorriso ao vê-lo se virar sem graça.

Segui a aula em silêncio, apenas escutando as explicações entre os gaguejos do professor que sempre era atrapalhado por alguém, aquilo piorou o ódio que já sentia por aquela turma.

Não me basta ficar numa sala onde meu próprio gêmeo iria me dar aula?

Escrevia tudo no meu caderno, mesmo querendo dar a de louca, deveria prestar atenção, pois poderia ser a única que tinha consideração por ele... Até eu me estranhei um pouco, jamais fui com a cara de algum professor.

Deve ser pelo ranço que os próprios alunos me fizeram ter por eles mesmos, e não do professor, que era notável sua timidez e seu jeito atrapalhado.

As demais aulas seguiram uma atrás da outra, de puro tédio, raiva, e tombos de cabeça mole para os lados, além das vagas, onde deveria escolher em que clube entrar; as vozes de pura empolgação dos professores me davam sono; as pretensões dos meus colegas em virem conversar comigo me faziam querer enfiar a própria tocha da estátua da liberdade no meu cu.

Pelo menos, naquelas aulas seguintes, os retardados não me perturbavam a cabeça, após minhas respostas brutas e as caras de poucos amigos, todos se mantiveram longe de mim, por finalmente compreenderem que estava melhor sozinha.

Assim era desde que era pequena.

Estava melhor assim…

O sinal do intervalo bateu, fazendo com que todos pulassem da cadeira e voassem para fora da sala, enquanto a professora dizia, numa voz média, uma página do livro de geometria para que respondessem os entregássemos pela segunda aula de amanhã, mas acho que nenhum dos meus amados coleguinhas ouviu, por já estarem na centésima hora das fofocas.

Estava de fones, mas não ouvindo minha amada voz do Bon Jovi, e talvez seja por isso que tenha recebido uma cara mal intencionada da professora.

Me levanto do lugar, colocando a alça da mochila em cima do ombro, fingindo não ter visto seu olhar ou escutado seu pronunciamento, seguindo calmamente até fora da sala, encontrando um corredor movimentado, mas aquilo não me reteve de caminhar no centro do corredor, ignorando as existências de todos a minha volta.

“ Always ” preencheu meus ouvidos na sua melodia lenta, em sua voz suave e grave, maravilhosa, que me fazia ir para as nuvens ao chegar no ápice do refrão.

Por que não nasci naquela época? Assim poderia ter me casado com ele!

Me lamentava constantemente por isso, e minha mãe me estranhava, e ainda estranha, pelo fato de querer me casar com um homem quarenta anos mais velho que eu.

Sou problemática por querer me casar com ele?

Cantarolava junto com sua voz, me aventurando entre os corredores para procurar o refeitório daquela escola. Poderia perguntar a alguém, mas, como sempre, meu orgulho me impedia de me aproximar ou de admitir que precisava de ajuda, mas não foi preciso, seguia aqueles que tinham uma feição faminta e pronto, entrei pela entrada do refeitório que estava cheia; encaro todas as mesas que estavam cheias, mas colocando os olhos numa do canto da parede, no final do refeitório, que estava vazia.

— And I… will love you. - Cantarolo, parando em frente ao balcão, pegando a bandeja que estava ao lado e entrando na fila extensa que estava na minha frente; reviro os olhos por ver o tamanho da fila que deveria esperar para pegar meu lanche. Sorte deles que a voz do meu Bon Jovi me mantinha na mais pura calma e poderia esperar tranquilamente no lugar, ouvindo mais da sua voz enquanto eu esperava, do contrário, todos que estavam na minha frente, já estariam com a bunda no chão.

A fila era rápida, dando apenas o tempo de terminar a que ouvia para colocar outra.

Percebendo que estava em frente ao balcão onde o lanche estava, e quando vi o que tínhamos para comer, meu estômago roncou alto e minha boca salivou: havia suco de laranja em caixinha, frango frito e hambúrguer.

Com pressa, guardo meu celular para começar a pegar o lanche, sendo que o mais absurdo, era que deveria pagar.

— Sério mesmo que vou ter que pagar pra comer aqui? - Pergunto em indignação, para a senhora, que tinha uma touca de proteção na cabeça e que me olhou numa feição de tédio.

— O que espera que eu faça, menina? Não controlo o diretor.

— Infelizmente. - Resmungo, estendendo a nota de dez dólares, presa entre meus dedos, para ela, que o pegou com rapidez.

No momento que seguro as bordas da bandeja para me virar, pelo canto dos olhos, vejo silhuetas se colocarem do meu lado, sendo as mesmas que me empurraram e que me fizeram bater contra um alguém que estava atrás de mim; minha zanga me impediu de pedir desculpas.

Levanto meus olhos enfurecidos para as mesmas filhinhas de papai, juntas com a ruivinha da sala, tendo semblantes de deboche para mim; seus sorrisinhos sarcásticos me davam ranço: risos baixinhos, murmúrios ao redor; o ápice áspero da irritação subiu, como a adrenalina que remoía meus ossos.

Daquilo que tirei do mais profundo, refletiu na mais perversidade que era acobertada pelo ódio que aquela gentinha me fez sentir; conseguiram me tirar a calmaria que consegui ter em minutos.

Fico imóvel nos próximos segundos, escutando a voz da calmaria nos meus fones, mas, e eu lamento por isso, meu amado Bon Jovi, mas sua voz tão magistral não iria acalmar essa vadia que o ama, mais conhecida como eu.

— A menininha vai chorar? Aaah, coitadinha. - Fingia em sua voz adocicada que me dava aversão, num mal gosto e personalidade, sua simpatia e caridade para mim, o que apenas me alvoroça da pior maneira possível.

Existe um milhão de coisas as quais eu detestava, mais, principalmente, aquele tipo de gentinha degradante, e em sua cegante e sufocante alta-ostentação, em sua promíscua presunçosa em se colocar acima, pisar e humilhar a quem.

Posso estar sendo hipócrita em meus pensamentos, por me conhecer e saber que poderia ter os mesmos trejeitos de medidinha arrogante, mas o que, com certeza, não faria, é humilhar alguém de graça, mas do contrário, farei com gosto, caso se essa pessoa mereça ou por me provocar; via uma opção maravilhosa na minha frente, que me olhava em seu sorriso e olhar vaidosos.

Abaixo meus olhos, estando em êxtase pelo furor que percorria no sangue, para os pôr sobre uma das caixas de suco de laranja que havia pego, tranquilamente, em meus movimentos minuciosamente controlados, levo minha mão em sua direção, para o pegar.

— Porque não vai chorar com os vermes do lado de fora, sua esquizofrênica! Soube que ficou com dozinha do p-professorzinho boca de sapa. - O desprezo em sua ignorância tóxica, foi percebido nitidamente por todos, onde seus cochichos começaram a dançar pelos meus ouvidos, mas estava na imersão do meu transe causado pelo nojo que comecei a sentir daquela coisa que estava na minha frente. - Aliás, aproveita e desaparece com ele, ninguém vai sentir a falta dos dois esquisitões.

Pisco e levanto meus olhos, na repulsa que me afundava para o abismo escuro e sem volta, entre meus pensamentos genocidas em como poderia castigá-las, da pior maneira possível.

Hoje iria começar…

Puxo a embalagem do canudo, enquanto ouvia os risinhos repulsivos das vadias, para sim fincar a ponta do canudo na abertura de alumínio da caixa e o trazer até minha boca, entre meus lábios secos que o prendeu e soprou o ar para dentro da caixa, inflando a mesma; com o ar entrando, o suco natural foi expelido para fora: tiro o canudo da boca e o puxo de dentro da caixa, estendo o mesmo na direção da Puta, a qual foi recebida pelos esguichos gelados: seu rosto, cabelo, roupas. Movimentava minha mão sobre ela, apertando com furor a caixa que expulsava o suco sobre sua beldade.

Extinguia a atenção de todos que assistiam, pelo mais simples motivo de não repetir o mesmo com todos eles, pela fúria que me consumia a cada segundo de ranço que estava pegando daquelas pessoas.

Minha passagem de ida vai ser mais rápida do que imaginava se a progressão continuar nesse ritmo.

O suco acaba e jogo a caixa em cima da sua cabeça, entre seu corpo imóvel e sua feição de espanto, que tremeu ao receber o impacto; olhos fechados e boca aberta; os respingos escorriam de seus cabelos colados em seu rosto e sua maquiagem desfeita; seus olhos estavam rodeados pela cor preta que descia para suas bochechas.

Ainda não satisfeita, me viro para a minha bandeja e pego um dos hambúrgueres, tirando o pão de cima e apenas deixar a carne mal passada e o acompanhamento rebanhado de molho fora: bruscamente o levei até seu rosto que foi atingido com tudo, não sendo o suficiente para descontar todo o meu ódio, mas era gratificante o suficiente para me manter satisfeita por ora. Movo com veemência a bola de carne e o molho por cima do seu nariz e seus olhos para esfregar por todo o canto ainda limpo, espremendo o hambúrguer entre meus dedos.

Tudo que ouvia ao redor eram as famosinhas gargalhadas altas com um silêncio impactante de outros que apenas nos encaravam, nada tão diferente do que esperava de um bando de adolescentes que só se importam com o umbigo e fofocar sobre a vida alheia dos outros.

Soltei os pedaços que sobraram, os deixando cair por cima de sua roupa de grife, até cair por cima do seu salto scarpin, que era bege, e agora tinha uma tonalidade mais puxada para carne vermelha cheia de gordura.

— Aaaah… - Resmungou em assombro, erguendo seus antebraços e abrindo seus olhos perdidos no tempo para mim, mas antes que pudesse falar algo, seguro no seu blazer e levo minha mão toda suja até seu tecido, o qual era bem prático no quesito em limpar coisas. - O que…

Após limpar o molho entre meus dedos, mas ainda sentindo uma gordura sobre eles, afastei minha mão e com a outra, pressionei a região onde limpei sobre seu vestido delicado, o qual tive uma pena em sujá-lo; a olhava com cinismo. - Deveria agradecer, mal agradecida, poderia ter tido seu rosto massageado pelo meu punho… talvez um braço quebrado. - Dizia em controle sobre minhas emoções, enquanto a encarava com inocência, sob seu olhar de fúria e confusão. - E uma dica, é melhor você lavar seus lindos e preciosos scarpins, porque, uma vez manchando, sempre manchando... Isso que dá ser irmã de alguém parecida com você.

— Você… me pagar! - Rangeu entre os dentes.

— Uuuuh, cadelinha, vai com calma… - Abro um sorriso afiado e um olhar provocador. - A diversão ainda nem começou. - Me viro para pegar novamente a bandeja e me virar para ela, para tomar o rumo até a mesa, antes passando do lado dela. - Te vejo na próxima. - Dei uma olhada de canto para suas seguidoras do cio e me afasto.

Mantenho meu olhar imperante para frente, com o nariz empinado, em minha feição de satisfação dominadora que deixava meu semblante na mais pura animação, num riso perverso de canto. Seguia entre os espaços das mesas, ignorando todos os olhares estupefatos e cochichos que me seguiam... estava adorando toda a atenção.

Ignorando todas as presenças insignificantes à minha volta, lia o fabuloso e incrível conto “ O Barril de Amontillado ” escrito pelo meu mentor de literatura, Edgar Allan Poe. Sua escrita, a maneira como projeta a angústia e a ansiedade do leitor, instigando ao recear o que iria acontecer no segundo seguinte da história. Claro que, essa minha fase já se foi, por comer seus livros quase todos os dias desde que era menor, mas ainda sim, sempre me deixava com uma sensação entorpecente para dirigir a próxima frase do conto.

Como sempre, ansiava pelo momento grandioso do assassino construindo a parede de tijolos em frente ao corpo preso do louco que ainda proferia suas palavras delirantes: “ Amontillado ”. Imaginando cada expressão do sabor da doce vingança do assassino, sou interrompida por uma silhueta se sentando no espaço vago do banco, irritantemente, me tirando o foco da melhor degustação do conto.

Trato de o ignorar e voltar a ler, para ter tempo de devorar mais um dos seus contos antes do sinal tocar e o inferno das aulas continuar, mas, incrivelmente, para melhorar ainda mais meu dia, o infeliz me chama pelo nome.

Fico imóvel por segundos, apenas remoendo a minha irritação e me segurando para não descontar na capa do livro. Odiava, com todo meu ser, ser interrompida num momento que lia, ainda mais, odiar a pessoa a qual me interrompeu.

Irritada, controlando os movimentos bruscos que queriam extrapolar, continuo imóvel, somente movo minhas mãos que seguravam o livro para deslizarem sobre minha coxa levantada, descendo e descendo, abrindo mais a visão do mesmo bad boy que minha irmã está afim.

Franzi pela confusão, o medindo com o olhar sob o seu, convencido, tendo um sorriso galanteador para cima de mim. Posso sim dizer que tem um charme, mas sabendo e conhecendo tipos como ele, a imagem encantadora rapidamente desaparecia e só restava a imagem do babaca que ele era.

— Não pude deixar de notar que você-

— Cala boca. - Mandei rispidamente, retribuindo seu interesse com minha frieza em meu tom e meu olhar desinteressados. Solto um riso nasal, vendo seu semblante em espanto.

— Como? - Expressou em sua confusão, virando sua frente para mim.

— Apenas vou dizer três palavras, as quais jamais irá esquecer acaso não for embora no momento que eu terminar de dizer.

— Hã? - Franziu, estreitando seus olhos.

— Cai. Fora. Daqui. - Digo pausadamente, continuando no lugar, trazendo meu olhar danoso e obscuro na sua direção, demonstrando o meu total desgosto de ter sua presença perto de mim.

O vejo engolindo seco, entre sua feição tensa, minimamente assentindo, sem jeito, abaixando sua cabeça ao pegar sua bandeja e se levantando, entre passos tímidos até sair entre o espaço do assento e ir embora; parecia bem confuso; tanto como os outros que observaram a cena da mesa ao lado.

— Gostaram da fofoca?! - Digo em tom alto e arrogante, virando meu olhar de poucos amigos para o grupo misto que sentava na mesma do lado da minha; se viraram para frente com tudo ao me ver encará-los. - Idiotas. - Resmungo, voltando a dar atenção ao conto, mal dando dois minutos de pura leitura, quando senti o espaço do bando do meu lado tremer, numa silhueta de alguém que tinha um aroma de hortelã.

Novamente paro o meu momento de alívio, tirando meus olhos das letras, soltando um suspiro irritado e alto. - O que essa gente tem na cabeça que não entende que, quando alguém está lendo sozinha, é somente por um motivo bem específico! - Digo com irritação exaltada, quase rangendo os dentes, lentamente levando meus olhos para a pessoa, onde, não vejo surpresa, sendo o Derby se acanhando no assento por receber meu olhar. - O que foi, moleque? Acha que eu não te mato agora mesmo? A ponta desse livro pode te fazer dormir pra sempre, quer descobrir?

— Não! - Negou de supetão, arregalando seus olhos. - Quero dizer, sim! Não...! Calma... É só que-

— Sabe onde o idiota do seu querido namorado, Slab, está? - O interrompi com um olhar interrogativo, o vendo expressar em estranheza para mim. - Cristo. - Expresso com espanto, voltando a dar atenção para meu livro. - Vai fazer um tremendo favor se for embora, ou melhor ainda, desapareça da minha vida!

— A-atendendo seus pedidos, claro que sim, mas apenas estou aqui para… como posso dizer… trégua! - Em sua fina, diz, abaixando sua cabeça que foi coberta pelos seus braços.

— Você é tão pau mole. - Comento, entre minha mente maliciosa, abrindo um sorriso perverso no rosto.

— T-t-tá. - Gaguejou em surpresa pelo que disse. - Mas AH questão aqui é… qual é a questão mesmo? - Olho para ele, em tédio absoluto, observando sua expressão se espremendo pela força que fazia para pensar. - Calma… ele já vem.

Reviro meus olhos e fecho o livro, repreendendo minha raiva somente por cansaço. Já não tinha paciência, e agora para lidar com ele, aí já não poderia responder pelos meus atos.

— Com a máxima magnitude que meu comportamento impróprio quando apenas era um jovem-

— Pirralho catarrento. - Respondo por si, abrindo o zíper da minha mochila para colocar o livro dentro da mesma.

— Se você diz. - Responde num tom trêmulo, falho e fino. - C-continuando a dizer sobre minha proposta de trégua, eu somente digo que nosso sistema será o melhor e o mais qualificado para suas escolhas e ações - Enquanto dizia sem parar, eu me levantava do lugar, puxando a mochila pela mesa ao caminhar entre o espaço até em frente. -, incluindo socar, empurrar, chutar.

— Esquartejar. - Sugiro novamente, ficando em frente da mesa, totalmente séria para ele.

— Esqua… - Num sorriso, iria dizer, mas no instante que se deu conta, o tirou do rosto que já estava nervoso, para deixar no lugar, um apavorado na minha direção. - M-mas…

— Leva a bandeja pra mim, queridinho, por aí já se livra de um dia de porrada. - Ponho a alça por cima do ombro e me viro para andar, mas olhares alheios da mesma mesa do grupo me parou os passos por me intrigar, o qual encarei diretamente com meu olhar nada amigável; novamente se viraram para frente, escondendo seus rostos.

Já irritada com essa façanha, tomo o rumo dos meus passos impulsivos e pesados na direção da mesa onde sentavam, a qual bati minhas mãos com tanta força que fez algumas das garrafas caírem pela mesma que tremeu, não surpreendendo os mesmos, pois se tremeram quando se deram conta que vinha na direção dos mesmos.

Me inclino para frente, passando meus olhos atentos por todos seus couros cabeludos, pelos seus rostos estarem abaixados, e calados, disfarçando seus olhares para os cantos, menos para mim, entre alguns que, disfarçadamente, tentaram esconder tablets entre suas mãos. - O que foi? Não estavam entre gargalhadas quando me encaravam, como se fosse a atração principalmente do seu mundinho desprezível. - Vejo um risinho debochado aparecer de um carinha bacalhau, sentado entre os demais.

Solto um riso nasal, alargando um riso de canto. - Qual é, pau pequeno? - No mesmo momento, recebo seu olhar nada tranquilo pela provocação, e sorri com aquilo. - Acha mesmo que estou aqui por ficarem me fazendo de chacota, rirem de mim, e, tecnicamente, pedir... implorar para pararem? - Me faço de vítima, estreitando meu semblante entre tristeza falsa, mas que logo trato de ocupá-lo com meu bom e velho humor tirano, abrindo um sorriso perverso nos lábios para ele, que ainda tinha seu olhar tenso entre rancor, para mim. - Eu estou pouco me fudendo para o que falam e o que acham de mim, mas… um avisinho amigo para o próprio bem de vocês nessa escola, passem dessa merda e eu…

— E vai fazer o quê? - Desafiou ele, levantando sua voz e empinando seu nariz.

— Precisa mais de um olhar de cachorrinho e um nariz vermelho para me intimidar, aliás, já que estou aqui… - Analiso todas suas feição amedrontadas e caladas, que agora estavam postas na minha direção, mas apenas uma black power teve toda minha atenção, por estar sentada na ponta daquela mesa, e a única que não gargalha. - Viram o merdinha do Slab?

— N-não. - Respondeu ela, gaguejando ao balançar a cabeça em negação, em seu olhar temido. - M-mas, ele sempre fica de um lado para o outro, escondido em cantos da escola, quando quer fazer alguma coisa com alguém.

— Ótimo… - Franzi, pensativa, começando a balançar minha cabeça enquanto encarava o nada. Logo trato de voltar com a minha atenção para ela e abro um sorriso sarcástico. - Está me dizendo para revirar essa escola de cima a baixo, até encontrar aquele monte do oeste, em algum lugar com meu caderno…? Ou um possível nerd quase morto...? - Abro minha boca num sorriso lunático, indo aos céus com aquela ideia que vinha num momento a calhar. - Muito obrigado mesmo… Quando for expulsa, vou te dar os devidos créditos.

Deixo aquela mesa para voltar a caminhar entre o espaço das mesas, levantando meus olhos para cima e encarar o teto: " Provavelmente devem existir dutos de ar ". Penso entre as várias formas de se criar algo, pelo o que deveria fazer com aquele lugar.

Meu sorriso tirano se fez nos meus lábios. - Minha famosa bomba de gás…? - Sugiro para mim mesma. - Ou está cedo demais?

Saí pela entrada do refeitório, já sabendo que não voltaria mais a pisar os pés nela.

Mamãe vai ter outra surpresa…