A Garota

Capitulo 18 - Aqui sem você


Chego em casa e sinto o cheiro de comida vindo de longe, eu agora não tinha mais apenas Ana pra se preocupar, tinha uma família que eu nunca conheci por exatos dezesseis anos, chego à cozinha e Leila está fazendo o almoço.

– Oi, Leila. - digo, solto Ana no colo e sento-me na cadeira.

– Oi querida, como foi lá? - ela pergunta.

– Não sei falar se foi bom, ou se foi ruim. - digo e respiro fundo.

– Me fala tudo o que aconteceu, quem sabe eu não sei identificar. - ela diz e sorri.

– Leila, eu descobri que sou filha do Armando e da dona Esmeralda, descobri que eles me deixaram com um dia de vida praticamente me deram a dois desconhecidos que é quem eu pensei que fossem meus pais, Antônio e Lúcia e o pior, meus pais de criação me esconderam toda a verdade e se eu morresse ontem eu jamais saberia que sou filha de um motorista e de uma mulher que está prestes a morrer. - digo com os olhos cheios de lágrimas, ela segura minhas mãos e senta-se na cadeira á minha frente.

– Sei que é difícil, mas não acha que foi bom pra você ter descoberto a verdade sobre seu, passado? - ela pergunta.

– Eu não sei ver aquela mulher ali naquela cama, sem cabelos, fraca Leila, me doeu muito, eu passei minha infância e adolescência toda na ideia de que tinha perdido a minha mãe biológica naquele acidente, mas não, ela estava mais viva do que eu e se eu não tivesse vindo pra Brasília, jamais a encontraria. - eu digo fitando o teto.

– Agora que sabe que ela está viva e que seu pai está vivo... O biológico é claro, aproveite o tempo que tem com eles principalmente com a dona Esmeralda, ela está morrendo como você mesmo disse e eu, sou a prova viva do quanto ela te procurou toda essa vida Bia. - ela diz.

– Estou magoada com meus pais de criação. - digo e abaixo a cabeça.

– Não adianta ter mágoa de morto, eles não irão voltar pra te pedir perdão. - ela diz.

– Insensível. - falo.

– Se eles voltassem, eu sairia correndo e você?- ela diz me descontraindo.

– Eu acertaria as contas primeiro. - falo.

– Olha seus pais atrás de você. - ela diz com cara de espanto.

– AAAAAAAAI. - eu grito, dou um pulo da cadeira e fecho os olhos.

– Certeza que acertaria as contas, desse jeito toda branca? - ela me zoa.

– Sem graça. - digo sorrindo, ela me dá uma água eu realmente, tinha assustado.

Ficamos conversando o resto do dia, ela me contou sobre os filhos do Armando, sobre a vida que eles tiveram ela era muito amiga da família e foi graças a ele que ela conheceu a família Almeida Campos, disse também que viveu um grande amor ao lado do senhor Robert e que teve um filho com ele, só que desse filho ela prefere não comentar, eu cheguei a perguntar se era o Eduardo e ela disse um não que me deixou um pouco desconfiada, mas preferi não tocar mais nesse assunto por respeito, mas que eu estou curiosa... Estou sim!

Haviam se passado um mês desde que conheci meus pais biológicos, desde que descobri que por falta de um tenho três irmãos, continuo trabalhando meu relacionamento com Eduardo está cada vez melhor, Ana está cada vez mais arteira e só me dá dor de cabeça cada dia ela quebra alguma coisa em casa e só diz '' Ops. '' Mesmo assim a amo, vou visitar minha mãe com freqüência, ela ainda está muito ruim e me parte o coração ver que talvez ela nem levante daquela cama e deixe aquele lixo cheio de vômito, de lado, acordei com o celular despertando, hora do colégio... Rastejo-me pro banheiro ainda com sono, dormi mal a noite passada tive alguns pesadelos que agora, prefiro não comentar... Desfaço-me das minhas roupas as coloco no cesto, ligo o chuveiro e deixo a água cair depois de quase dois minutos brisando começo a me ensaboar logo saio, coloco o uniforme do colégio, uma sapatilha preta faço um coque mal feito no meu cabelo, pego minha mochila e vou até o quarto de Ana como de costume. Chego lá ela está mamando.

– Bom dia princesas. - digo dando um beijo no rosto dela e na Leila.

– Bom dia mãe, sabe segurar a mamadeira sozinha. - ela me mostra fazendo graça.

– Que linda, a bebê da mamãe está crescendo. - digo e sorrio.

– Dormiu bem, Bia?. - Leila pergunta.

– Não muito, eu tive pesadelo. - digo.

– É normal. - diz ela pensativa.

– Bom, vou pra escola amo vocês. - dou um beijo na bochecha da Ana.

Minha rotina agora era estudar cedo e trabalhar no período da tarde, pedi ao senhor Rpbert que me deixasse trabalhar até as oito da noite já que não trabalharia na parte da manhã e ele recusou, disse que tenho uma filha e por causa disso não me deixaria estender senão ficaria ausente na vida da garota, eu aceitei de boa menos trabalho até ajuda.

Saio e vou rumo ao carro do Armando, era estranho chama-lo de pai, mas chamava para ver um sorriso em seu rosto, ele já me esperava por sinal.

– Bom dia, pai. - digo.

– Olá, filha. - ele diz, sorri pra mim e eu entro no quarto.

– Como está minha mãe? - pergunto preocupada.

– Cada vez, pior... Hoje ela tem médico. - ele diz.

– Queria poder acompanhá-la, mas não posso. - falo.

– Não se preocupe te mando noticias se não se importar. - ele fala.

– Claro que eu não me importo, qualquer coisa é só me ligar. - digo e logo chegamos à escola.

– E lá está o seu irmão, fumando mais um cigarro. - ele diz, suspira e faz cara de triste.

– Isso ainda vai mudar pai, eu espero tchau. - digo, dou um beijo em seu rosto.

– Eu também espero por essa mudança, te amo Bia. - ele diz e eu sorrio agradecida.

Coloco a mochila nas costas e encaro meu irmão que logo me vê e revira os olhos, garoto rebelde, entro na escola e sento no pátio, várias pessoas perambulando pra lá e pra cá, chegava a dar até dor de cabeça, piriguetes as sete da manhã cheia de pó na cara e com a blusa do uniforme amarrada pra aparecer suas gorduras, depois quer respeito...

O sinal bate e eu vou beber uma água antes de entrar pra sala, quando termino de beber noto que alguém me observa, viro e vejo que é o João.

– Vai beber? - pergunto apontando pro bebedor.

– Não bebo água da escola, eu queria falar com você mesmo. - ele diz.

– Pode começar. - digo e cruzo os braços.

– Vamos andando, antes que perdemos o primeiro horário eu te falo no caminho. - ele diz e eu o acompanho - Qual é a sua? - ele pergunta.

– Seja mais claro. - eu digo sem entender.

– O que você quer de mim, dos meus pais e dos meus irmãos? - ele diz.

– Não quero nada, eu sou da família agora se é que você me entende. - eu falo.

– É, porém você é não é a mais velha, tinha que ser menos chata e menos mandona. - ele diz seco.

– Eu defendo o que é certo, João. - falo.

– Na boa eu não sei por que você apareceu antes em casa, eu era o centro das atenções, todos me amavam mesmo eu sendo assim tão errado, mas agora só é você, é Beatriz pra lá, Beatriz pra cá. - ele reclama.

– Isso é ciúme? - pergunto e arqueio uma sobrancelha.

– Não, isso é inveja - ele fala na lata.

– Porque tem inveja de mim, você deveria tentar ser melhor do que eu e não sentir inveja por eu ser o que sou não acha? - digo como se fosse óbvio.

– Tenho inveja porque você aí é toda certinha, cara minha mãe está naquela cama há quase seis meses e ela nunca sorriu pra mim igual ela sorri pra você, e o pior é saber que ela te procurou por dezesseis anos e quando eu sumia pra casa das vizinhas pra vê-las peladas pela janela, ela nem sequer ia atrás de mim. - ele diz e revira os olhos.

– Ela não ia atrás de você, porque sabia que você era um moleque tarado e voltaria. - falo.

– E você, ela achava que você não voltaria? - ele pergunta.

– Na verdade nem eu sabia que voltaria, acredite João não é sempre que você descobre ser filha de um motorista não que isso seja uma coisa horrível, mas eu fui enganada por toda a minha vida eu cresci sozinha e o pior com a ideia de que os meus pais tivessem morrido naquele acidente de ônibus. - eu disse.

– Você teve tudo Beatriz. - ele diz.

– O que adianta ter tudo e não ter o essencial, o amor? - eu digo.

– Eu estou perdendo todo mundo, eu estou perdendo meus amigos e estou perdendo a minha família, pra você. - ele diz.

– Você está perdendo as pessoas que se dizem seus amigos e que te levam pro mundo que você está hoje, isso não é amigo João acredite... Isso é só uma amostra do capeta na tua vida e você não está perdendo sua família por causa de mim, faz tempo antes mesmo de descobrir que sou sua irmã vejo sofrimento nos olhos do nosso pai por te ver tragando um cigarro, suas atitudes está fazendo você perde-los, olha pra nossa mãe João tem dia, meses ou até mesmo poucas horas de vida e o que você fez pra dar orgulho, limpou uma casa? Falou um '' eu te amo'' , isso não é prova de amor João, prova de amor é estar ao lado em qualquer circunstância, você foi visitá-la hoje naquele quarto escuro, tentou fazer algo pra animá-la? E se seu telefone toca agora e você recebe a notícia de que ela está morta, você ficará com remorso, certo? Mas ai você vai perceber que não adianta mais nada, ela se foi e você não vai mais ter aquela comida fresca, aquele beijo na testa e aquelas sandálias voadoras na tua cabeça, as pessoas se vão João e aqui na Terra a missão é aproveitar, dar valor antes de perder, mude suas atitudes, conte comigo pra largar esse cigarro cada vez que eu te ver tragando um, acredite vou jogá-lo ele e não sei mais quantos no lixo até você parar de ser idiota. Eu te amo João, sou sua irmã e quero cuidar de você, quero te ajudar, mas pra isso você precisa querer ser ajudado e cuidado. - digo, dou um beijo em seu rosto e entro pra sala, já atrasada.

A aula passa em forma de uma tartaruga, vejo que agora era a aula de Educação Física me lembro do James, saudades daquele beijo, daquela voz daquela amizade que tínhamos queria que ele voltasse e eu aproveitaria mais não como um casal e sim como uma amiga de preferência, sua melhor amiga, olho pelo espelho do meu celular e vejo meus olhos cheios de lágrimas, fito o teto.

– Você não pode chorar, você é forte. - digo baixinho a mim mesma e abaixo a cabeça, mas foi em vão uma lágrima maldita pelo menos, caiu.

– Bom dia classe, vamos para quadra? - diz um professor que também era muito bonito, todos se levantam e partem pra quadra, ao contrário de São Paulo aqui não tinha aqueles vestiários , nós fazíamos a educação com a roupa que estávamos estando soados ou não, ele dá futebol e os meninos por sua vez, começa... Sento-me na arquibancada e o professor termina de assinar a papeleta e me olha.

– Você deve ser a Beatriz Chaddad, certo?- ele diz e checa meu nome.

– Sim. - sorrio

– Prazer, me chamo Marcos, professor Marcos. - ele diz e me cumprimenta com as mãos.

– Vai ser um pouco difícil me acostumar, aqui. - digo.

– Sei que já faz um mês que estuda aqui, mas só agora tive coragem de me apresentar. - ele diz.

– Fica tranqüilo. - digo.

– Desculpa a pergunta, você namora? - ele pergunta.

'' QUE ATIRADO!''

– Sou casada, professor. - digo mentindo.

– Como assim, casada? - ele pergunta arregalando os olhos.

– Sou casada tenho dezassete anos, e uma filha de um ano. - digo.

– Nossa, estou ficando velho. - ele diz e sorri branco.

– Faz sentido. - digo e fico mexendo no meu celular

Logo a aula acaba me despeço e saio depois teve mais três aulas e finalmente acabou, saio ao lado de João e avisto de longe o Armando.

– Só observa o que vou fazer, se eu mandar bem você faz joia escondido se não você faz sinal com a cabeça que não, ok? - João diz.

– Olha lá em João. - digo.

– Relaxa. - ele diz e sorri, continuamos a andar, deu até medo do jeito que ele falou.

Chegamos até o Armando, dou um beijo em seu rosto e João dá um abraço bem apertado nele, vejo que ele fica sem reação mas retribui o abraço.

– Oi paizão. - João diz.

– Não tenho dinheiro. - Armando diz.

– Não quero dinheiro. - ele diz e sorri, logo entra no carro , e eu começo a rir.

– Ele é doido. - digo e entro logo em seguida.

Meu pai dá partida até ao meu trabalho, João me olha e eu faço joia com a mão, ele vem e me abraça.

– Está carente? - pergunto.

– Vou mudar por você, por mim irmãzinha. - ele diz.

– Isso, começa me dando seu cigarro. - digo e pego do bolso dele.

– Só um. - ele implora.

– Nem dois. - digo e jogo o maço todo pela janela, ele me fuzila com o olhar e logo cai na gargalhada.

– Não vai fazer, falta. - ele diz e fita a rua.

– Eu espero que você não tenha mais, João. - digo e o olho séria.

– Ok. - ele diz e tira mais três maços do bolso e eu os jogo pela janela.

– Vão fazer falta, esses. - ele diz e faz cara de choro.

– Dane-se, vida nova garoto. - digo.

Vamos ouvindo umas músicas que tocava na rádio e o nosso pai sempre em silêncio, logo chego ao meu destino... Meu trabalho.

– Tchau homens. - digo e dou um beijo no rosto do João e um beijo no rosto do meu pai.

– Tchau. - eles dizem juntos.

Pego minhas coisas e vou direto pro banheiro, coloco o uniforme da escola na bolsa e pego o uniforme de trabalho, dou uma arrumada no meu cabelo passo uma maquiagem pra disfarçar a cara de morta, passo um perfume básico, coloco a bolsa da escola no guarda-volumes e vou pra minha sala, chego já tem um monte de papeis pra eu assinar e enviar pro correio, que ótimo.

'' Aja mão''

Começo a assiná-los, estava tão entretida que não noto um homem parado bem à minha frente, só percebo quando ele tosse.

– Ai, desculpa. - digo e sorrio.

– Você que é Beatriz Chaddad? - ele pergunta.

– Sim. - digo.

– Mandaram uma encomenda pra você, vou buscar logo volto. - ele diz.

– Tudo bem. - digo, eu estava ansiosa... Espero que não seja um bebê.

Continuo assinando depois de cinco minutos contados, ele volta com um buquê de rosas vermelhas.

– Assina aqui. - ele pede e eu assino. - Obrigado. - ele pega o papel, me entrega o buquê e vai embora, procuro o cartão nas rosas e logo encontro, ele dizia na frente '' COM AMOR AO MEU AMOR '' eu já sabia que era do Eduardo, do James que não seria.

O cartão dizia: '' Oi meu amor, como vai? Às vezes acho que estou ausente em sua vida, se estou pode mandar me matar que eu não me importo... Comprei essas flores pra tentar falar o quanto te amo, uma dessas flores é de plástico e vou usar aquela velha frase clichê tão verdadeira quanto à chuva: '' Vou te amar até essa flor de plástico morrer'' estou filosofando pra você e isso sim é uma frase de Twitter se recebeu essas flores e terminou de ler, favor chegar até a minha sala porque quero te dar um bom dia, descente. Ass.: Eduardo. ''

Mais que depressa deixo as flores de lado, e vou ao encontro do meu amor entro sem bater na porta mesmo e ele está lá fitando a janela, chego de fininho ainda bem que estava sem salto, como ele era maior que eu, o abraço por trás, ele coloca suas mãos nas minhas e se vira e me olha.

– Bom dia meu amor. - ele sorri segurando meu rosto.

– Não quero um bom dia assim. - digo.

– E quer como? - ele pergunta.

– Assim. - digo e me aproximo dele, selo nossos lábios e sem me preocupar com as câmeras o beijo com a maior vontade e sede do mundo

– E a câmera? - pergunto sorrindo.

– Está queimada. - ele diz sorrindo também, e voltamos a nos beijar.

Quando vi já eram cinco horas da tarde. Fui até o meu guarda-volumes peguei minha mochila estava um pouco cansada, terminei de pegar as coisas e saí rumo a entrada, por leves segundos corri meus olhos e não sei se foi imaginação mas tenho quase certeza que vi Bryan por aquela redondeza, meu coração bateu mais forte eu estava com um pouco de medo e se ele tentasse fazer algo comigo ou até mesmo com Ana? Tenho parar de pensar nessas possibilidades e vejo que meu pai já me espera com cara de preocupação.

– Olá, pai. - digo dando um beijo em seu rosto.

– Oi filha. - ele diz.

– Aconteceu algo? - pergunto.

– Fui ao médico com sua mãe , e as noticias não são tão boas. - ele fala e vejo que derrama uma lágrima.

– Qual é a noticia pai? - pergunto preocupada.

– O câncer está se espalhando muito rápido filha e o doutor disse que ela não tem nem mais três meses de vida, se for ver. - ele diz e seca a lágrima.

– Minha nossa. - digo e abaixo a cabeça, não posso deixar de derramar algumas lágrimas, ele entra no carro e dá partida pra minha casa, fomos em silêncio ambos chorando, era minha mãe eu estava perdendo mais uma pessoa... Chegamos frente a minha casa e ele estacionou.

– Pai, vamos sair dessa. - digo, e o abraço.

– A mulher que eu tanto amo está indo embora e eu não posso fazer nada pra impedir. - ele diz me abraçando cada vez mais forte.

– A mulher que deu luz a mim, está indo pai. - digo derramando lágrimas.

Depois de longos minutos abraçados, resolvo entrar e ele ir guardar o carro , vou pra minha casa cabisbaixa entro e Leila esta assistindo televisão.

– Oi. - ela diz.

– Oi Leila. - digo, e deito em seu colo e choro ela me faz carinho.

– O que aconteceu? - ela me pergunta.

– Minha mãe está morrendo. - eu digo secando algumas lágrimas.

– Isso vai acabar acontecendo, e nós temos que estarmos preparados o câncer poucas vezes tem cura, querida. - ela diz e alisa meus cabelos.

– Não podia ser assim Leila, não podia. - eu digo chorando mais.

– A vida é um ciclo e ela chegou ao ciclo final. - ela diz.

– Preciso ir vê-la. - digo secando a lágrima e levanto correndo.

– Tudo bem. - ela diz.

– Onde está Ana? - pergunto.

– Dormindo feito anjo. - ela diz.

– Ok. - eu digo e saio correndo, pego rumo à casa do meu pai.

Logo chego e vejo que está tão silenciosa, pela primeira vez meus irmãos Nicolas e Bruno não estão brincando, a sacada da casa está cheia de folhas mortas... Entro sem bater e vejo João abraçado com meu pai, respiro fundo.

– Onde ela está? - pergunto.

– Lá em cima, como de costume. - João diz e sua voz saiu falha por causa das lágrimas, pego rumo ao quarto logo chego e ela está do mesmo jeito, escuro com as roupas em cima do criado-mudo.

– Mãe? - pergunto.

– Filha. - ela diz totalmente fraca.

– Vai ficar tudo bem. - digo e me aproximo da cama.

– Eu vou morrer querida, seu pai lhe disse? - ela pergunta.

– Sim, mãe. - digo e sento na cadeira, dou um beijo em sua mão.

– Filha. - ela diz e tosse.

– Fala mãe. - digo.

– Se eu morrer, me promete que vai se cuidar e que não vai abandonar seu pai e nem os seus irmãos? - ela pergunta.

– Sim mãe, eu prometo não sei como cuidarei deles mas prometo dar o meu melhor. - digo e derramo uma lágrima.

– Você é o meu melhor presente, meu amor. - ela diz e me dá um beijo na mão com dificuldade.

– Xiu... Não fale nada, mãe a senhora está fraca. - eu digo escondendo a voz de choro.

– Filha, diz que me ama? - ela fala.

– Mãe, eu te amo. - eu digo.

– Diga de coração, e não forçado. - ela diz e tosse.

– Mãe, eu te amo e amo muito. - eu digo, ela solta da minha mão e vomita no lixo, não tive nojo, eu tive dó.

Depois de ter conversando um pouco com a minha mãe resolvo ir embora, eu queria ficar ali pedi ao meu pai que se acontecesse qualquer coisa era pra ele me ligar e assim saí, triste por vê-la naquela situação a gente pode impedir várias as coisas mas a morte é uma filha da mãe, chego em casa e resolvo subir pra tomar banho antes de ir pegar Ana, não demoro muito saio coloco uma roupa simples de ficar em casa, faço um coque mal feito no meu cabelo e vou até o seu quarto, dou um pulo quando vejo Eduardo com ela.

– Duda? - digo.

– Oi amor. - ele diz e me dá um selinho.

– O que faz aqui? - pergunto.

– Vim ver você e a Ana, estou com saudades. - ele diz e sorri.

– Saudades da Ana, você me vê todos os dias. - digo.

– Saudades sua também. - ele diz e me dá outro selinho.

– Vamos descer, está muito calor nesse quarto. - digo.

– Vamos. - ele diz, e com Ana em seu colo nós descemos para a sala – Leila disse que você tinha ido até a casa de seus pais. - ele fala.

– É. - digo e abaixo a cabeça.

– Como sua mãe,está? - ele pergunta.

– Péssima, hoje o meu pai foi levá-la ao médico e ele disse que o câncer está se espalhando muito rápido e que ela tem menos de três meses de vida, ela pode morrer a qualquer momento. - digo com os olhos cheios de lágrimas e sinto um arrepio percorrer por todas as minhas espinhas.

– Vai ficar tudo bem, meu anjo. - Eduardo diz e me abraça.

– Vai ficar bem mamãe. - Ana diz e passa a mão no meu rosto.

– Eu amo vocês. - eu digo dando um selinho no Duda e um beijo no nariz da Ana.

– Nos amamos você, também. - Duda diz e sorri.

Ficamos brincando, eu preparei um jantar meio estranho pra nós que até ficou bom, depois que comemos, ele foi dar banho na Ana confesso que foi uma tremenda aberração, ele mal sabia passar sabonete quem acabou por fim dando banho, fui eu claro, depois fiz Ana dormir e ela não demorou muito pra pegar no sono, a coloquei no berço junto com sua galinha pintadinha.

Volto pro meu quarto e Eduardo está lá sem camisa, sem tênis só de meia com o controle remoto da televisão em mãos, estava super vidrado na tv, me aproximo da cama e deito ao seu lado, fico fitando o teto por alguns minutos e depois começo a pensar na minha vida, em tudo que aconteceu em quase um ano de convivência com o Duda, até sentir seus braços vindo por volta de mim, pra me abraçar, deito em seu peito. Meio desconfortável ele tira seu braço das minhas costas e começa a fazer carinho no meu cabelo.

– O que está pensando, meu anjo? - perguntou ele.

– Em nós. - digo.

– É coisa boa, pelo menos? - ele pergunta.

– Estou pensando em tudo que já passamos juntos não foi pouca coisa não é? - digo.

– Pois é, meu amor, mas isso só foi à prova do quanto nosso amor é duradouro. - ele diz e sorri.

– Você me machucou bastante. - eu digo.

– Eu sei que te machuquei você nunca será capaz de me perdoar? - perguntou ele.

– Talvez eu perdoe, eu sou uma garota muito difícil. - eu digo, cruzo os braços e sorrio.

– Bia?. - ele fala.

– Oi? - pergunto.

– Posso te pedir uma coisa, mas eu não aceito um, não como resposta. - ele diz.

– O que? - pergunto.

– Depois peço. - ele diz e me beija.

– Fala. - digo deitada em seu peito.

– Eu não quero parecer um idiota. - ele diz sorrindo.

– Prometo que não vou te achar um idiota, pede logo. - digo ansiosa.

– Peraí. - ele diz e pega o celular.

– O que está fazendo? - digo.

– Colocando uma música. - ele sorri e coloca. '' Superman- Joe Brooks'' - Essa música é mais ou menos o que sinto quando te vejo, você chama meu nome e eu simplesmente tremo, tenho medo de cansar de mim, tenho medo também de nunca mais conseguir me perdoar por todas as burradas que cometi, mas acredite, eu estou tentando mudar e estou cada dia mais feliz com a minha mudança, eu vejo resultado nisso tudo, por você eu mudaria quantas vezes pedisse, já ouviu aquela música '' Por você, eu dançaria tango no teto, eu pularia os trilhos do metrô, eu correria a pé do Rio ao Salvador? Eu faria tudo isso por você, Bia sem muitos rodeios eu já vou direto ao ponto. - ele sorri.

– Chega ao ponto logo, você está me matando. - digo e revirando os olhos.

– Quer casar comigo? - ele diz e meu coração quase pare, socorro.

– Repete? - eu digo e arqueio uma sobrancelha e ele fica de pé na cama.

– Beatriz Chaddad, quer casar comigo e me aturar pelos fins dos seus dias e ser uma Almeida Campos? - ele diz alto pra caramba.

– É quase meia noite, fala baixo. - eu digo sorrindo.

– Vou continuar falando alto, enquanto você não responder: '' Beatriz Chaddad, quer se casar comigo? - ele gritava, eu levantei correndo e tapei sua boca com a mão, ele mordeu de leve.

– É claro, que eu aceito me casar com você. - eu derramo mais lágrimas, porém agora de felicidade e o beijo, perdemos o apoio das pernas e eu caio, ele veio por cima de mim, e nos beijamos, porem paramos o beijo pois escutamos o chorrinho de Ana, fui lá no quarto da Ana e a peguei no colo e a balancei devagar até pegar no sono novamente, a coloquei no berço e fui a o meu quarto onde o Eduardo já estava dormindo, e assim que entrei no quarto o meu celular tocou.

– Alô. - digo sonolenta.

– Filha?- meu pai diz.

– Pai? - pergunto.

– Sua mãe... - ele diz e eu já começo a derramar lágrimas.

– O que aconteceu com minha mãe? - eu disse, eu já sabia e Eduardo acorda.

– Filha, ela morreu. - ele diz chorando do outro lado.

– Onde vocês estão? - pergunto derramando lágrimas inconsoláveis.

– Em casa, ainda... Venha pra cá. - dele disse.

– Estou indo. - falo e desligo.

Coloco minhas mãos em meu rosto e disparo a chorar inconsolável, Eduardo me abraça.

– Ela morreu Duda. - eu dizia em meio das lágrimas.

– Eu sinto muito meu amor. - ele disse dando um beijo em meu ombro.

– Ela não podia morrer, ela tinha que ver pelo menos o meu casamento com você, ela não podia, não podia. - eu dizia desesperada, levanto e vou pro banheiro, enfio minha cabeça debaixo da água da pia, que dor... Eu perdi minha mãe, mesmo não convivendo com ela, ter descoberto há pouco tempo, eu a amava, ela me deu a luz mesmo com tudo o que aconteceu... Depois de quase cinco minutos lá dentro e escutando Eduardo quase arrancar a porta com socos, resolvo sair, olhos vermelhos e inchados cabelos encharcados de água, sem ânimo coloquei uma roupa qualquer e desci, Duda veio logo atrás caminhei aos prantos até a casa do meu pai, chegando lá tinha carro de policia e bombeiros, procuro por meu pai e ele está sentado ao sofá, aos prantos com o João aproximo-me deles.

– Pai, João. - eu digo chorando e os abraço.

– Ela se foi Bia, minha mãe morreu. - João dizia.

– Foi melhor. - meu pai se fazia de forte, mas sempre caia as lágrimas.

– Quero vê-la. - eu disse.

– Ela está no quarto, sendo retirada pelos bombeiros. - meu pai diz e eu subo correndo pro quarto, ela ainda não estava posta na maca, estava na cama, me aproximo ela está de olhos fechados, segurando o porta-retrato que tinha a minha foto.

– Mãe, porque a senhora me deixou? - eu peguei em suas mãos, frias. - Me responde mãe, eu te amo tanto... Queria ter aparecido antes pra evitar tamanho sofrimento. - eu dizia a balançando e um dos bombeiros tocou meu ombro.

– Ela está morta moça, não vai conseguir te responder. - ele disse.

– Eu quero a minha mãe de volta moço, eu quero a minha mãe. - eu dizia chorando e o Eduardo entrou.

– Vem, vamos descer. - ele diz e me segura e eu surto.

– Eu não quero descer, eu quero ficar aqui... É a minha mãe, vocês não podem levá-la de mim, não é a minha mãe, ela está viva. - eu chorava, estava completamente fora de mim, Eduardo me pegou no colo e desceu comigo, eu me debatia.

– Se acalma. - ele disse.

– Eu quero a minha mãe, dói perder a mãe pela segunda vez, dói caralho. - eu dizia, chorava tanto que minha cabeça já doía.

– Aqui, dê esse remédio pra ela se acalmar. - uma moça vestida de uniforme de bombeiros entrega um comprimido do tamanho médio e um copo de água pro Eduardo, para que ele me entregasse.

– Toma isso. - Eduardo diz e me entrega.

– Eu não quero tomar nada. - eu dizia, soluçava.

– Amor, não complica... Sei que está sendo complicado, eu te amo... Estou aqui. - ele diz, me fez abrir a boca e me dá o remédio, eu tremia.

Bebi o remédio e depois de quase quinze minutos tudo começou a rodar, um sono bateu e eu dormi ali mesmo.

Acordei sentindo algo me observar, abro os olhos lentamente e vejo que estou na cama do Eduardo, minha cabeça dói e eu tento respirar, meu nariz está entupido isso dificulta, e ao meu lado está ele todo lindo que abre um sorriso fraco pra mim.

– Oi meu amor. - ele diz e me dá um selinho.

– Oi... quero minha mãe. - eu disse derramando uma lágrima já cedo, ele a secou - Porque ela tinha que ir? - pergunto derramando mais uma lágrima.

– Amor à vida é assim, a gente nasce, cresce se reproduz e morre, vai ser assim pra todos. - ele suspira tentando me explicar.

– Ela era tão, nova. - digo, lembrando-me da feição da minha mãe, mesmo doente.

– Quer ir ao velório? - ele pergunta.

– Não quero ir. - eu digo e abaixo a cabeça.

– Tudo bem. - ele fala.

– Cadê a Ana? - pergunto.

– Dormindo. - ele diz.

– Que horas são? - pergunto.

– Oito e meia da manhã, quer comer algo? - ele diz, era super prestativo.

– Não, só quero ficar quietinha, chorando pela morte da minha mãe. - digo e ele deita ao meu lado, me abraça fico deitada em seu peito, ele faz carinho e beija minha cabeça.

– Vai passar, eu te amo. - ele diz e me dá outro beijo na cabeça.

– Quando? - pergunto.

– Não sei. - ele diz e abaixa a cabeça pelo que noto.

– Amor?. - eu digo.

– Oi? - ele diz.

– Posso te falar uma coisa? - eu falo.

– Pode. - ele diz e espera para que eu fale.

– Acho que estou grávida. - digo.

– SÉRIO? - ele fica tão animado que me deixa bater a cabeça com tudo na cama.

– Não. - eu falo sorrindo fraca.

– E porque falou que acha que está?- ele diz.

– Pra ver sua reação, vai que um dia eu fico ai já sei que vai ficar com cara de tacho e vai deixar sua noiva bater a cabeça com tudo nessa cama, dura. - eu digo.

– Desculpas. - ele diz e me dá um selinho e fica em silêncio. - Mas eu queria. - ele fala.

– Ter um filho ou me deixar bater a cabeça? - pergunto.

– Ter um filho... - ele diz.

– Bom saber, agora me deixa voltar a dormir, xiu. - digo e volto a dormir.