A Garota

Capitulo 17 - Supostas Revelações


Ficamos conversando e perdemos a noção da hora, quando vejo no relógio já batiam nove e meia.

– Meu Deus, você avisou teu pai que eu não ia trabalhar? - pergunto assustada.

– Sim, fica calma amor. - ele me abraça.

– Estou calma, tenho que ir, tchau. - digo levantando ele me puxa.

– Fica mais um pouquinho. - ele pede.

– Não, eu vou fazer matrícula em alguma escola aqui perto. - digo.

– Até que em fim vai voltar estudar dona Beatriz. - ele fala.

– Falou o que ama estudar. - digo e reviro os olhos.

– Posso ir com você? - perguntou ele.

– Não, eu sei andar sozinha, te amo. - digo e dou um selinho nele.

– Eu sei que sabe, como quiser, te amo também. - ele fala e eu saio.

Chego até o carro e Armando está encostado.

– Olá, Bia. - ele diz e sorri.

– Oi Armando. - digo.

– Ta de lance com o chefe?- ele pergunta sorrindo.

– Estamos nos entendendo, acho que agora vai dar certo. - eu digo.

– Amém. - ele diz, abre a porta pra mim eu entro ele dá a volta e dá partida.

– Onde fica uma escola mais próxima? - pergunto.

– A do meu filho de dezoito anos. - ele diz sorrindo.

– Onde? - pergunto.

– Umas quatro quadras mas pra frente, quer matrícula? - perguntou ele.

– Sim. - falei.

– Vamos lá sou muito amigo do diretor se quiser ajeito pra você. - ele diz.

– Ai eu quero. - digo.

– Vamos então. - ele dá partida e logo chegamos à escola, realmente não era muito longe dava pra ir a pé normalmente.

A escola por fora eram de dois andares, azul com branco as tintas do portão estava meio destruídas pelo jeito a escola era pública, tinha alguns alunos pra fora e Armando me olhou com ar de tristeza.

– Aconteceu alguma coisa? - pergunto.

– Está vendo aquele garoto ali? - ele aponta pra um garoto, que aparentava ter seus dezoito anos, calça do uniforme e uma blusa escrito '' Eu sou da paz'' preta com azul, seu cabelo estava arrepiado e ele segurava um cigarro em suas mãos.

– Sim, o que tem ele? - pergunto.

– É meu filho, tão jovem e já fuma. - Armando diz e vejo seus olhos cheios de lágrimas.

– Não chora, hoje o mundo é assim. - digo, tento consola-lo.

– Dói sabe Bia, eu e a mãe dele o cria com tanto amor, ele e seus irmãos nunca tiveram todo o dinheiro do mundo porque somos pobres, olha pra mim eu sou o motorista de um homem rico, eu não tive estudo eu parei na oitava série, essa escola é publica mais é uma das melhores que tem nessa cidade, ai meu filho cresce todo rebelde e vê-lo tragando um cigarro, machuca muito. - ele diz, suspira e seca uma lágrima.

– Vai ficar tudo bem ele vai acordar e vai perceber que isso não é vida pra ele, eu só espero que ele não enxergue tarde demais quando você e sua mulher se forem. - digo.

– É, acho que seus pais tiveram muita sorte de ter uma filha como você. - ele diz segurando minhas mãos.

– Não exatamente, eu era uma criança muito rebelde, eu desperdiçava todo o amor que tinha dos meus pais, tipo eu era uma criança ruim eu não dividia as coisas na escola, eu batia nas coleguinhas e minha mãe sempre era chamada na escola, porém eu só aprendi a dar valor no amor e na educação que eles me deram, depois daquele acidente que marcou muito a minha vida. - digo.

– Entendo, o João é complicado o problema dele é as amizades. - ele fala.

– Se eu cair no mesmo turno que ele, prometo tentar muda-lo como amigo, ok? - digo.

– Faria isso por mim, Bia? - ele pergunta.

– Claro, você é meu melhor amigo o único que tenho aqui, sinto um amor muito forte por você , como se fosse você fosse pai que eu não tive. - eu falo e ele tosse e tosse alto. - Está tudo bem? - pergunto preocupada.

– Sim, Bia. - ele diz.

– Não gostou que eu falasse que te trato como se fosse meu pai? - pergunto arrependida.

– Não é isso, esquece... Vai lá antes que se atrase. - ele diz e sorri.

– Ok quero,saber depois. - dou um beijo em seu rosto e desço do carro, vejo que naquela rodinha de amigos onde seu filho estava, todos me olham entro com um pouco de medo, peço pra falar com o diretor e logo depois Armando entrou, falou tudo certinho e me matriculei, eu iria estudar na parte da manhã no mesmo turno que o João seu filho.

Por; Armando

Quinze de Novembro de 1998... O pior dia da minha vida foi quando entreguei na mão de um desconhecido que passava em um ponto de ônibus minha filha, com apenas um dia de vida, a entreguei porque eu não tinha condições de criá-la, ela era a mais amada por todos, sua mãe, minha esposa entrou em depressão profunda, me sinto um lixo até hoje por ter entregado minha filha, quando tinha vinte anos a um qualquer, até dois meses atrás eu não tinha a encontrado e hoje estou mais perto dela do que nunca, Beatriz... hoje aos vinte anos uma garota tão sonhadora que perdeu esses pais falsos aos dez anos por causa de um acidente, queria ter passado a adolescência dela ao seu lado, dar as broncas necessárias, ter aquele ciúme quando a ver com o seu primeiro namorado, queria ter dó quando ela rolasse de cólica na cama, eu quis tanta coisa mais por causa de uma idiotice eu não pude e simplesmente a entreguei de mão beijada.

Por; Beatriz

Depois de termos conversado com o diretor eu já estava matriculada, começaria na segunda feira no período na manhã e talvez caísse na mesma sala que o filho do Armando, que ótimo poderia tentar muda-lo, eu nunca tive um irmão nem mais velho e nem mais novo, e até hoje eu não sei por que meus pais preferiram em me ter como filha única, talvez fosse opção, ao chegar no carro encontro João, tragando um cigarro.

– Você sabia que isso faz mal? - pergunto.

– E desde quando você é medica? - ele pergunta seco.

– Desde que torço pra você acordar e ver que está se matando com essa droga. - tiro o cigarro da mão dele e jogo longe.

– Você é louca garota? Eu nem te conheço, e você vem pegando meu cigarro e dando uma de mandona? - ele pergunta praticamente gritando.

– Abaixa o tom de voz comigo, se você não quer ser ajudado, se você quer fumar fume longe de mim, longe do seu pai e longe do meu carro. - digo grossa também e ele sai, bate a porta com tudo, e Armando vem vindo.

– Aonde você vai meu filho? - escuto Armando dizendo.

– Vai se ferrar. - João diz, chuta um lixo, coloca a bolsa nas costas e sai andando, Armando percebe que eu estou vendo aquela cena, abaixa a cabeça e fica super sem graça, saio do carro e vou ao seu encontro.

– Calma. - o abraço e ele me abraça forte.

– Me sinto um, trapo. - ele diz.

– Não fala isso, vem vamos embora. - digo pegando em seu braço.

Ele entra no carro e eu entro logo em seguida, vamos quietos pela primeira vez ele quem não queria muito assunto, pelo retrovisor vi que chorava queria consolá-lo, Armando me chamava atenção, era como se ele fosse a minha família, agora, chegamos em casa, ele desceu com os olhos vermelhos abriu a porta pra mim, eu desço.

– Vai ficar tudo bem. - digo.

– Eu espero. - ele diz, dá um sorriso fraco e eu saio dali.

Vou em direção a minha casa, preocupada com o Armando ele não merecia sofrer tanto, entro cabisbaixa e Leila está brincando com Ana no chão da sala.

– Olá. - digo.

– Oi . - Leila diz.

– Oi mamãe. - Ana diz, vem engatinhando até a mim, a pego no colo e a encho de beijos.

– Aconteceu alguma coisa? - Leila pergunta.

– Estou preocupada com o Armando. - digo.

– O que tem o Armando?. - ela pergunta e arregala os olhos.

– O filho dele o trata muito mal. - digo.

– Ah, o João? É normal. - ela diz.

– Não pode ser normal, eu daria tudo pra ter o meu pai comigo e ele simplesmente desperdiça todo o amor que o Armando dá. - digo.

– Seu pai pode estar mais perto do que imagina Bia. - ela diz um pouco baixo.

– O que? - pergunto.

– Não nada, eu falei coisa a mais, quer comer? - ela desconversa.

– Tudo bem, quero miojo faz pra mim? - faço cara de bebê pidão.

– Ok. - ela diz, sorri e vai pra cozinha, me deixando sozinha com Ana na sala.

– Esse povo é doido, filha. - digo, dou um beijo em sua testa

– Mamãe, te amo. - ela diz, e me dá um beijo na bochecha.

– Eu também te amo meu amor. - digo, jogo ela pra cima e ela cai na gargalhada.

Passo o resto do dia trancado dentro de casa, na base do ar condicionado porque o calor estava de matar, eu ainda sim estava preocupada com Armando e queria muito ir até a sua casa, ver como ele estava, mas a verdade é que eu não sei se seria bem vinda, á casa do Duda pega um quarteirão todo quase, então tem bastantes casas, tem a minha a dele que é uma mansão, andando pelo quintal tem a casa onde todas as empregadas mulheres moram e depois tem a casa de Armando.

– Leila? - a chamo e ela desce.

– Oi, Bia. - diz ela preocupada.

– Você acha que eu seria bem vinda na casa do Armando? - pergunto.

– Com toda certeza do mundo. - ela diz um pouco pensativa.

– Cadê a Ana? - pergunto.

– Está brincando lá em cima com a galinha pintadinha. - ela diz e sorri.

– Vou subir pro meu quarto colocar uma roupa mais fresca, dá um arrumadinha nela pra mim mesmo sendo perto vou até a casa do Armando. - digo.

– Tudo bem. - ela fala e sobe, subo logo em seguida.

Chego ao meu quarto com um aperto no coração sem ver, não sabia o porquê de estar sentindo aquilo resolvo tomar um banho gelado pra acalmar os ânimos eu não entendi o porquê de sentir aquilo, saio coloco um shorts de renda soltinho , e uma blusa azul simples faço um coque mal feito no meu cabelo, coloco minha rasteirinha passo desodorante, pego meu celular e saio rumo ao quarto de Ana, chego lá a Leila está passando colônia nela, ela estava parecendo uma princesinha, estava com um vestidinho rosa e cheio de tic-tac no cabelo.

– Que linda, minha bebê. - digo, a pego e dou um cheirinho.

– Mamãe. - ela diz, sorri e me dá um beijo na ponta do nariz.

– Vou indo, ok? - digo.

– Tudo bem, juízo. - Leila diz, me dá um beijo no rosto quando vou saindo ela segura meu braço - Bia? - ela diz baixo.

– Oi? - pergunto olhando pra ela.

– Não se surpreenda com nada que ver naquela casa, por favor. - ela diz.

– Eu deveria me surpreender? - pergunto.

– Talvez. - ela diz.

– Ok. - digo e saio.

Desço as escadas, pego rumo à casa do Armando quando ia chegando vejo duas crianças pulando e brincando na grama, as observo de longe eram dois meninos que aparentavam ter seus sete anos de idade , depois de quase cinco minutos de observação resolvo me aproximar.

– Oi. - digo e eles me olham, param de brincar.

– Oi moça. - um deles diz.

– O Armando está? - pergunto.

– Quem é você? - um deles que não é muito educadinho diz.

– Sou namorada do filho do patrão dele. - digo.

– A sim, desculpa ele está lá dentro entra. - ele pede e eu o acompanho.

'' INCRÍVEL COMO UMA PESSOA MUDA DE HUMOR, TÃO RÁPIDO''.

Entro naquela casa e dou de cara com o batente da porta logo de cara, que mico.

– Cuidado, moça. - o mal educadinho responde e eu acabo rindo, coloco a mão no rosto está queimando.

– Isso não devia estar aqui. - digo sorrindo e continuo andando.

A sala é pequena mais é confortável, tem ar condicionado e os móveis são quase todos marrons, a estante perto da televisão de vinte e nove polegadas tem vários porta-retratos, do Armando com os filhos, acho que ali tinha no máximo uns vinte porta-retratos, eu ainda os via sem pressa, o sofá estava um pouco velho, mas tinha uma capa que o deixava com cara de novo, Ana de cara já quis ir pro chão porque o tapete tinha várias flores e ela com certeza iriam querer comer todas, então não a deixei no chão, relutei até ela se acalmar, fez até sua cara de choro pra ver se me ganhava, perto do sofá tinha um vaso muito bem arrumado de flores, era pra elas estarem mortas com toda certeza elas devem ser de plástico, daquelas que não morrem mesmo.

– Moça, espere aqui eu vou chamá-lo ele está lá em cima, com minha mãe. - o mal educado diz

– Tudo bem. - falo e me acomodo no sofá, fico analisando me perdi em pensamentos, olho novamente para aquela estante e vejo um porta-retrato que me chama muita atenção, deixo Ana sentadinha no sofá, ele era baixo então se ela caísse não machucaria e vou até aquele suposto porta retrato, quando vejo de perto é uma neném recém-nascida , eu conhecia aquela neném, tirei a foto do quadro e olho atrás tinha algumas coisas escritas, começo a ler.

'' NOSSA ETERNA FILHA, PARA SEMPRE EM NOSSOS CORAÇÕES, BEATRIZ DIAS. 15/11/1998."


Sinto meus olhos lacrimejando de lágrimas, aquela data era a data do meu aniversário e exatamente o ano em que nasci, viro a foto e olho a feição daquela criança estava mais que concreto que aquele bebê era eu, mas se minha foto está aqui, o que aconteceu? Sinto alguém me observando, viro e é Armando com os olhos cheios de lágrimas, derramo uma lágrima.

– Porque, minha foto está aqui? - pergunto colocando ela de lado e pego Ana no meu colo.

– Beatriz... - ele fala baixo.

– Me responda, porque a minha foto está aqui, e porque essa legenda o que está acontecendo? - digo, derramo centenas de lágrimas.

– Eu sou seu, pai. - ele fala pausadamente a palavra '' pai''

– Não você não é meu pai, o meu pai é o Antônio Chaddad e ele morreu junto com a minha mãe Lúcia Santos naquele acidente de ônibus. - eu disse sentando, minhas pernas estavam bambas.

– Deixe-me, explicar. - ele diz, senta perto de mim.

– Começa. - digo, cruzo os braços, ainda chorando.

– Essa foto eu tirei assim que você nasceu, lembra quando eu te disse que fui pai aos vinte anos? Então... Você era pra ser a minha filha, mas eu não trabalhava, eu não tinha o apoio de ninguém e assim que saímos da maternidade com você, aos prantos e sem sombra de dúvidas notamos que você passaria fome, eu não tinha dinheiro pra comprar uma fralda pra você, eu não tinha um teto então eu deixei minha esposa na casa dos pais dela e eu fui com você para um ponto de ônibus da cidade, lá eu encontrei o casal que te criou e te entreguei de mãos beijadas a eles, mas tudo isso pra não ver o seu sofrimento, nossa única filha mulher sofrendo por não ter o que comer tão sensível... - ele dizia e chorava, eu não acreditava no que estavam ouvindo, os pais que me criaram não era os meus pais verdadeiros.

– E porque nunca me contaram, porque vocês nunca me procuraram? - eu perguntei.

– Seus pais nunca te contaram pra evitar o seu sofrimento, e sim eu e minha esposa lhe procuramos mas você era uma recém-nascida, te procuramos por 16 anos ninguém lembrava da sua feição, seus pais sumiram do mapa com você, nos mandaram somente uma carta em 2001 dizendo que você estava viva, tínhamos a esperança deles nos devolver você, passei até mesmo o meu endereço pra manter contato por cartas, pra mim receber fotos do seu crescimento e eles foram egoístas e nem sequer se preocuparam em nos mandar , somente aquela carta que foi queimada á dois anos pela minha esposa. - ele disse segurando minhas mãos.

– Então, o João é meu irmão? - eu disse.

– Sim. - ele diz e abaixa a cabeça.

– Meus pais foram muito egoístas. - eu disse secando uma lágrima, que tinha insistido em cair.

– Eu sinto muito, eu não queria que você passasse por tudo que eu e sua mãe, ou seja, minha esposa passamos moramos embaixo de um viaduto, o João demorou muito pra ter uma escola descente, isso eu não te conto porque machuca, mas a vida foi dura com nós. - ele diz e derrama lágrimas.

– Eu não sei o que dizer. - digo, fito o teto, sem deixar a lágrima cair.

– Não diga nada, só te peço que perdoe a mim e perdoe sua mãe, só queríamos evitar o tamanho sofrimento. - ele diz e suspira.

– Onde está a minha mãe, ou seja, sua esposa? - pergunto.

– Lá em cima, ela está muito doente Bia. - diz Armando.

– Deixe-me, vê-la? - digo.

– Sim. - ele diz, levanta e eu o acompanho.

Subo as escadas com receio e com Ana no colo, minhas pernas estavam bambas, logo chego a um corredor um pouco extenso que tinha algumas fotos e sempre a minha de recém-nascida estava ali, será que os filhos deles sabiam que eles eram os meus irmãos? Será que João, sabia que era meu irmão? Escuto a porta abrir e quando vejo, é ele saindo do quarto.

– O que está fazendo aqui, mandona?- João diz grosso.

– Não interessa, sou mandona mesmo. - digo e entro com Armando no quarto que por sinal não era muito grande, tinha uma televisão um pouco velha, uma cama de casal grande algumas roupas em cima de um criado mudo, a cor das paredes era meio bege, só tinha o abajur ligado, as janelas fechadas e uma mulher que pela sua aparência, estava bem doente... Ela estava coberta e estava muito calor, me aproximo dela e Armando acende a luz, sento em uma cadeira que estava ali bem pertinho de sua cama.

– Oi. - digo , não sabia por onde começar, ela me olha ergue as mãos e passa no meu rosto.

– Você é minha, filha? - ela diz e dá um sorriso.

– É o que parece. - eu digo, eu não queria ser grossa.

– Você voltou, pra mim? - ela diz e abre outro sorriso.

– Não sei dizer, senhora. - digo e respiro fundo.

– Me chama de mãe, porque você não me chama de mãe?- ela diz e derrama uma lágrima, estava fraca.

– Não é fácil pra mim... Acabo de descobrir que não sou filha dos pais que me adotaram, tenta me entender. - digo e seguro sua mão.

– Eu te entendo minha filha, eu te entendo, sua mãe está morrendo. - ela diz e tosse.

– Não diga isso, você vai ficar bem. - falo.

– Estou com câncer, sou uma depressiva tenho menos de três meses de vida, eu não podia morrer antes de te encontrar, agora eu sei que posso morrer em paz agora. - ela dizia.

– Você não vai morrer, a senhora não acredita em Deus? - eu digo com os olhos cheios de lágrimas.

– Eu acreditei tanto, eu pedi todas as noites para que ele me trouxesse você no dia seguinte, e você nunca apareceu. - ela diz, tosse.

– E eu não estou aqui? - pergunto e seguro sua mão um pouco mais forte.

– Talvez agora, seja tarde filha. - ela diz, vira pro lado e vomita em um lixinho, olho pra Armando que derrama algumas lágrimas, eu não podia chorar eu tinha que ser forte por todas aquelas pessoas.

– Acredite nele, ele te ama tanto. - eu digo.

– Eu não consigo mais, filha. - ela diz e derrama mais lágrimas.

– Qual é seu sonho? - pergunto.

– O meu sonho já está concretizado, era te encontrar, era te ver assim e quem é esse bebê? - ela pergunta e olha pra Ana.

– É minha filha. - digo.

– Eu já sou avó. - ela diz e sorri, e eu assenti com a cabeça que sim - Deixe-me pega-la? - ela pede.

– Sim. - entrego Ana com cuidado a ela.

Ana sorri no colo dela, elas brincam mesmo a senhora estando tão ruim.

– Qual é o seu nome? - pergunto.

– Esmeralda. - ela diz um pouco fraca.

– Vovó. - Ana dá um beijo em sua testa, vejo que ela chora mais ainda.

– Sim, vovó que está morrendo. - dona Esmeralda diz.- A pegue, preciso vomitar. - ela me entrega Ana correndo e vomita.

– Tenho que ir, embora. - eu digo levantando.

– Filha. - escuto a Esmeralda me chamando.

– Oi? - me viro.

– Não saia mais da minha vida, por favor, eu não suportaria perde-la de novo. - ela diz.

– Ok, mãe. - eu digo, peraí eu a chamei de '' mãe''?

– É bom te ouvir, me chamando de mãe. - ela diz

Volto dou um beijo em sua testa.

– Eu te amo. - ela me diz e eu sorrio agradecida.

Ela dá um beijo na testa de Ana e eu saio, desço as escadas e Armando vem logo atrás.

– Ela está morrendo, Bia. - ele diz.

– Eu percebi. - digo, abaixo a cabeça, triste.

– Me perdoa? - ele pergunta.

– Não tenho o porquê de te perdoar, você só quis me salvar da pobreza. - eu digo e o abraço.

– Você será capaz de um dia me chamar de pai? - ele pergunta ainda me abraçando.

– Claro pai. - dou um sorriso fraco, um beijo em seu rosto, ele dá um beijo na testa de Ana e nós vamos pra casa, é muita coisa para um dia só, estou confusa... Agora eu sei quem são meus pais.