A Garota

Capitulo - 10


Chego em casa e ao entrar na sala, flashes do ocorrido passam como um filme em minha mente e eu volto a chorar, Viviane me abraça.

– Foi aqui. - aponto pro tapete - Foi aqui, que vi o cara que me amava, morrer - eu digo sentando-me ao sofá, tinha um pouco de sangue no tapete.

– Amiga, quer ir passar uns tempos lá em casa? Tem dois quartos sobrando, meus pais te amam por sinal, vão te acolher super bem. - Viviane diz.

– Eu não sei amiga. - eu disse.

– Vamos, vai ser uma boa você ir, esfriar a cabeça, tentar apagar os acontecimentos recentes da sua mente, eu não vejo problema com isso. - ela diz.

– Tudo bem amiga, talvez seja isso que eu preciso. - eu digo e suspiro.

– Arruma as suas coisas, que eu vou chamar um caminhão de mudança pra desmontar os móveis do quarto da Ana e do seu. - ela diz.

– Tudo bem. - eu falo e ela me dá um beijo no rosto.

– Deixe essa porta trancada, não abra pra ninguém... Somente pra mim. - ela diz.

– E como vou saber se é você? - pergunto.

– Eu grito que sou eu do outro lado. - ela fala.

– Ok. - eu termino a conversa, a levo até a porta, e ela sai.

Olho o chão com aquele pouco de sangue, e novamente a cena passa na minha cabeça.

– JAMESSSS. - eu grito.

Meus olhos estão fechados, triturando e lembrando daquela cena, das palavras nojentas de Bryan, da hora da notícia que eu recebi da sua morte, aquilo me torturava.

Fui pro banheiro, enchi a banheira de Ana, não demorou muito desliguei e dei um banho nela, ela estava com fome e com sono, coloquei uma blusinha escrito "Sou do papai" e um short rosa, deixei a mesma descalço com aquelas bisnaguinhas amostras, coloquei ela na minha cama, forrei três vezes mais com travesseiros, tirei as malas de cima do closet e comecei a por as minhas roupas, acessórios e tudo mais, em menos de uma hora as minhas malas estavam prontas. Peguei a mamadeira e tratei de Ana, ela logo dormiu. Fui pro quarto dela, tirei suas roupas e coloquei todas dentro de malas também. Quando deram três horas da tarde, eu ainda não tinha noticias sobre o corpo de James , minha campainha tocou, gelei!

– SOU EU! - era Viviane, fui e abri a porta, era ela e mais dois homens fortes - Relaxa que não é sequestro, eles vieram desmontar as coisas, o caminhão está lá embaixo, suas malas estão prontas? - ela pergunta.

– Sim. - eu digo.

– Vou colocando no carro, e vou descer pelas escadas porque o elevador demora muito, - ela diz.

– Ok - eu falo e ela vai pro meu quarto, pega quatro malas de uma vez e sai, depois de quase dois minutos ela volta soando.

– Poxa, que escada grande, vou pelo elevador. - ela começa a rir e bebe um copo de água.

Ela pega minha ultima mala e vai pro quarto de Ana, onde pega as três dela que tinham, e a bolsa de acessórios eu mesma levei, eram sete horas da noite quando acabamos os móveis já estava posto em sua casa e era hora da janta, meu celular tocou , era um número desconhecido.

– Alô? - falo.

– Oi, é a mãe do James, desculpe não te ligar ele estará sendo velado na funerária São Paulista. - ela diz.

– Tudo bem, que horas que sai o corpo? - eu digo.

– Amanhã, às dez da manhã. - ela disse.

– Tudo bem, vou só tentar jantar e alimentar minha filha, tomar um banho e vou pra ai. - eu disse.

– Ok. - ela disse.

– Tchau, beijo. - eu despeço.

– Tchau. - ela diz e assim desliga.

– Quem era? - Viviane pergunta entrando no meu novo quarto Ana estava na minha cama fitando o teto cor de rosa.

– Era a mãe do James. - eu suspiro.

– Ela disse onde ele está? - ela pergunta.

– Esta sendo velado na funerária São Paulista. - digo.

– Hum... Você vai hoje? - ela pergunta.

– Sim, será que tem como você ficar com Ana pra mim pode ir? eu não vou demorar lá. - Eu digo.

– Claro que sim amiga, fica tranquila pode ir na paz. - ela fala.

– Paz, é tudo que eu menos tenho agora. - eu digo e meus olhos estão marejando de lágrimas.

–Não chora, seja forte! - ela diz e me abraça.

– Vou tomar um banho, dá comida pra Ana? - pergunto.

– Sim, vai lá. - ela diz.

Vou pro banheiro, me desfaço das minhas roupas e as coloco no cesto, no chuveiro volto a chorar baixinho, assim ninguém ouviria. Terminei com os olhos inchados, com dor de cabeça tinha que ter lágrimas pro velório. Saí coloquei uma blusa preta e uma calça jeans escura calcei minha sapatilha fiz um coque mal feito no meu cabelo, já estava pronta. Desci as escadas da casa de Viviane e fui pra cozinha, ela tava dando comida com batata pra Ana.

– Bom, eu vou indo. - falei dando um beijinho na testa de Ana.

– Quer que eu te leve? - perguntou Viviane.

– Não , só quero que me busque pode ser? - eu digo.

– Sim, você me liga. - ela diz.

– Tudo bem, tchau. - eu me despeço e saio.

Pego o primeiro táxi que passa e dou o endereço, ele me olha com cara de tristeza, chegando lá estava cheio de carros, senti vergonha de entrar, estava me sentindo um pouco culpada, por fim suspirei e entrei, ao entrar na sala, a mãe dele estava encostada no caixão passando a mão em sua testa, deu um aperto no peito, me aproximo dela...

– Eu cheguei. - eu disse e ela me abraçou.

– Ainda não caiu minha ficha, está doendo tanto. - ela me diz chorando.

– Eu sei que está me sinto culpada, tem coisa pior do que sentir-se culpado de algo? - eu pergunto.

– Não se sinta ele foi o meu herói, o seu herói, e Deus fará justiça com teu ex. - ela diz olhando pro caixão, eu crio coragem e olho, ele parecia estar dormindo mesmo, seu rosto com maquiagem, seu corpo cheio de flores e percebi que no teu ombro tinha uma cicatriz, era do tiro, porque ele não sobreviveu? Por quê?

– James, obrigada por salvar a minha vida, eu não tive a oportunidade de te beijar, de te abraçar tanto como você sempre quis, agora você se foi, e levou uma parte do meu coração que você habitava, obrigada por ter sido quem você foi pra mim e pra Ana, nós te amamos... Você estará sempre no nosso coração, em nossas vidas... Espero que onde você esteja agora, você possa me ouvir. - eu disse me aproximando mais do caixão e sem medo ou receio, dei um beijo em sua testa pálida, e derramei lágrimas, muitas lágrimas.

– É muita dor!- a mãe dele diz.

– Vamos ter que ser forte. - eu disse e um dos bombeiros que o socorreu apareceu com uma caixinha vermelha em mãos, e me cutucou.

– Moça? - ele diz.

– Oi? - eu digo.

– Quando socorremos o James, encontramos isso no bolso dele acho que é pra você. - ele me entrega a caixinha e eu abro, era um par de alianças, e um papelzinho escrito "Namora comigo?". Derramo mais algumas lágrimas, aquilo era pra mim sem sombra de dúvidas, agora tudo faz sentido, ele foi à minha casa para me pedir em namoro, e deu um presente maior... Sua vida!

As horas ali passaram voando, quando deram duas horas da manhã resolvi ir embora.

– Eu vou embora, eu não sei seu nome ainda. - falo.

– Joana. - a mãe dele diz secando algumas lágrimas.

– Então dona Joana eu vou indo, amanhã não vou ao enterro, ok? - digo.

– Por quê? - ela pergunta.

– Eu não gosto de despedidas. - digo e abaixo a cabeça.

– Tudo bem, obrigada por vir querida. - ela diz.

– No que precisar de mim é só me ligar tudo bem? - pergunto.

– Sim. - ela fala.

– Tchau, fica com Deus. - dou um beijo em sua testa e saio.

Ligo pra Viviane, que logo chega.

– Como foi? - ela pergunta.

– Horrível. - eu disse lembrando dele no caixão.

– Tirou foto? - ela pergunta.

– A claro, vou tirar foto com defunto, sai dessa. - eu digo e reviro os olhos e acabo sorrindo com a idiotice, que ela acaba de dizer.

Ficamos o resto do caminho em silêncio, logo chegamos.

– Onde está, Ana? - pergunto.

– Dormindo em seu berço. - ela diz, sigo rumo ao quarto de Ana que dorme feito um anjo.

– Boa noite pequena - eu dei um beijo em sua testa e um em sua bochecha e saio em direção ao meu quarto, tomo um banho rápido, coloco um pijama e durmo rápido.

01 mês depois...

Minha vida está caminhando, está cada dia mais complicado conviver sem Eduardo na minha vida e na vida de Ana que todos os dias acorda o chamando, hoje ela faz um aninho de vida, a cada dia que passa ela está mais esperta, é alegria daqui de casa quer dizer casa da Viviane. Acordo com o meu despertador tocando, eram aproximadamente nove horas da manhã de um sábado ensolarado, quem colocaria o celular pra despertar em pleno sábado? Só podia ser minha amiga Viviane, olhei pro lado e Ana ainda dormia feito um anjo, na noite anterior a deixei dormir comigo.

– Parabéns princesa. - comecei a bater palmas e a Ana desperta.

– Ma...ma - ela diz e deu os bracinhos.

– Mamãe está aqui. - tirei uma foto de imediato dela, ficou tão fofa.

– Pa...pa - ela disse e meus olhos se encheram de lágrimas.

– Papai não está aqui, mas vai estar meu amor. - digo e dou um beijo em sua testa.

Fiquei brincando um pouquinho com ela, até Viviane entrou com seus pais e Mathias batendo palmas, Viviane segurava um bolo pequeno.

– Parabéns pra Ana. - todos falavam e eu assoprei a vela pra mostrar que sou boa mãe, a pequena Ana sorria feita doida.

Mathias pegou Ana de mim e todos saíram do quarto, espreguicei e fui pro banheiro tomar um banho, deu uma saudade do James falta pouco pra fazer um mês que eles nos deixaram, até hoje não tive coragem de voltar pro meu apartamento, quando tento criar coragem pra ver como ele está, sinto um arrepio percorrer pelas minhas espinhas e eu logo desisto, saio do chuveiro, me seco e coloco um vestido branco com azul e um cintinho dourado, ele ficava um palmo acima do joelho, calcei minha rasteirinha e desci, todos brincavam com Ana que dava gritinhos.

– Voltei me amem. - falei sorrindo.

– Menos amiga, bem menos. - Viviane diz e me abraça.

Ana me vê e faz biquinho daqueles de foto e logo em seguida quando vê que estamos rindo, ela cai na gargalhada e faz mais pra chamar atenção. Viviane bate uma foto nossa e eu já posto no meu facebook assim.

'' Meu presente mais que perfeito, uma obra prima... Minha filha, Ana. Graças a Deus hoje ela é uma criança saudável, gordinha, todo esforço vale a pena para ver o sorriso do grande amor da minha vida, parabéns filhota que Deus te dê anos e mais anos de sua vida #filha #princesa #perfeição #vidademãe."

Almoçamos todos nós juntos e depois fui eu, Mathias, Viviane e Ana pro shopping... Ao chegarmos todos sorridentes encontramos Sofia, a ex do Eduardo ela me olha torto e continua sua caminhada.

– Amiga, quero dar um presente pra Aninha. - Viviane diz.

– O que, quer dar? - pergunto.

– Um brinquedo, pode? - ela fala.

– Sim, mas sem ser peças pequenas porque ela engole. - digo e faço bico.

– Ok, mãe responsável. - ela diz e eu sorriu.

Entramos em uma loja e foi muito difícil de encontrar algo que agradava a ela, até que por fim ela achou uma boneca muito fofa, que falava umas 100 frases, quando Ana bateu o olho logo quis comer a cabeça da boneca, rimos.

– Está vendo, essa menina parece que passa fome. - falei rindo.

– Parece mesmo. - Mathias diz sorrindo.

Recebo uma mensagem no meu celular e vou checar pra ver quem era, era Eduardo, meu coração acelera, tento não deixar transparecer, mas minhas mãos ficam frias de uma hora pra outra, abro a mensagem que diz.



'' Estou em São Paulo, onde você está? - Enviado: 15h30min.

'' Estou no shopping com a Viviane, Ana e o Mathias. - Enviado: 15h33min.

'' Posso ir pra aí? - Enviado: 15h33min.

'' Tudo bem, onde te espero? - Enviado: 15h34min.

'' Na praça de alimentação '' Enviado: 15h35min

'' Ok. '' Enviado: 15h35min.



Olho pra Viviane que já me encara, esperando uma resposta. Eu não estava legal porque Eduardo desde quando foi não voltou, nem para ver Ana.

– Eduardo, está na cidade. - falo.

– E você vai ao encontro dele? - ela pergunta.

–Ele me mandou esperar na praça de alimentação, acho que quer ver a filha depois de um mês. - eu digo.

– Você vai? - ela pergunta.

– Se importa se eu for amiga? - perguntei.

– Não amiga, só cuidado não quero ver-te magoada de novo. - ela diz.

– Pode deixar. - dou um beijo em seu rosto e saio rumo a praça de alimentação, nosso ponto de encontro.

Cheguei à praça e ele não havia chegado ainda, pedi uma porção de fritas pra enganar o estomago e um copo de suco de laranja, senti seu perfume longe, mas não fiz questão de virar, se ele quisesse ele que ficasse de frente pra mim, foi dito e feito logo ele estava de frente pra mim.

– Oi. - ele diz sorrindo branco.

– Olá. - digo, permaneço séria, e a frita com o suco chega, coloco um pouco de suco na mamadeira que a Ana toma água, e fechei comecei a dar pra ela.

– Como vai? - ele pergunta sentando-se.

– Levando a vida e você, como vai? - pergunto.

– Ótimo. - ele diz.

– Que bom. - eu falo e ele pega Ana do meu colo.

– Que saudades o papai estava de você, pequena. - ele jogava Paige pra cima que caia na gargalhada, comecei a comer em silêncio, em nenhum momento ele quis conversar comigo, será que eu tinha feito algo? O celular dele que estava em cima da mesa, com uma foto dele com uma morena, o celular que por sinal estava tocando, e a pessoa tinha o nome de Vida, abaixo a cabeça - Licença, precisa atender. - ele se afasta um pouco de mim e vai com Ana atender.


Eduardo estava tão diferente, mudado nem parecia o Eduardo que eu conheci há alguns meses atrás, que me amava, que me traía, que uma hora eu era perfeita outra hora eu era o monstro da relação, que é isso que é aquilo. Estava tão distante com meus pensamentos que nem percebi que ele tinha voltado, só depois de uma piscadela que eu voltei ao meu normal e continuei a comer.

– E como vão os relacionamentos? - ele diz.

'' Como assim, ele está falando de relacionamento, pra mim? Não se importa mais se eu estou com um qualquer? É ele me esqueceu. ''

– Não estou namorando ninguém. - eu digo.

– E o James? - ele pergunta.

– O James faleceu faz quase um mês, Eduardo. - eu digo um pouco mais grossa.

– Nossa como ele morreu? - ele pergunta.

– Ele deu a vida dele, por mim. - eu falo.

– Continuo sem entender. - ele diz.

– Meu ex voltou, mas estava bem pior que antes, e até entrou na minha casa e tal's, foi quando ele chegou e começou a lutar com ele e o Bryan tirou uma arma do bolso e atirou em seu ombro, ele quis salvar a minha vida e eu daria tudo pra conseguir salvar a dele, no hospital ou ele ficaria com sequelas ou morreria, não conseguiram salva-lo. - eu digo com um tom triste.

– Você gostava dele, não é? - ele diz.

– Gostava como amigo, como meu professor, ele era uma ótima companhia e Ana o adorava infelizmente se foi. - eu disse.

– Hum. - ele fala sem dar continuidade na conversa.

– E você, está namorando? - pergunto.

– Sim, estou bem feliz. - ele diz e sorri, como se fosse a melhor coisa do mundo.

– Felicidades. - falo e sorriu falso.

– Eu percebia que não valia tanto a pena lutar por você Bia. - ele diz.

– Vamos mudar de assunto. - eu digo.

– Você ainda me ama? - ele pergunta.

– Amo Eduardo, mas não vale a pena lutar por você. - eu digo e fica um clima chato, um silêncio perturbador.

– Senti sua falta, princesinha. - ele diz pra Ana e eu continuei comendo, eu queria e não queria chorar, eu só fui um passatempo pra ele, aquela noite foi só um passatempo, fui só mais uma da sua lista.