A Força De Uma Paixão.

Inconsequências x Consequências


Carlos Daniel respirou pronfundamente, seus olhos estreitaram se perdendo em ponto qualquer, como se sua mente regressasse para o passado, e assim ele começou a me contar.

— Era uma noite de sábado e um amigo nosso, o Donato daria uma grande festa de inauguração da casa nova que ele havia comprado. Eu não queria ir àquela festa, mas fui praticamente obrigado por Donato ser um de meus melhores amigos e porque ele exigiu que eu fosse por tê-lo ajudado com a escolha e a compra da casa.
Donato tinha convidado á todos os nossos amigos, praticamente todos eram em comum comigo porque crescemos juntos, estudamos juntos e nos negócios também tínhamos uma parceria. A casa estava muito animada quando eu cheguei, havia muita gente e tinha muita comida, bebida e música. Estava bebendo moderadamente com alguns amigos enquanto conversava e não pretendia demorar ali, tinha tido um dia cheio e estava cansado demais para virar a noite acordado e ainda mais numa festa como aquela.
Estava tudo na mais completa harmonia até que eu alguém apareceu por atrás de mim e vendou os meus olhos com as suas duas mãos.
— Advinha quem é? - Disse a pessoa atrás de mim.
Aquela voz era muito marcante e não tinha como não reconhecê-la. Peguei as suas duas mãos com as minhas tirando-as de meus olhos e virei-me até ela.
— Paola! - Eu disse sorrindo sem graça ao olhá-la nos olhos. Ela sorriu demonstrando decepção por eu tê-la descoberto tão rápido.
— Ahh, assim não vale! Você não disse quem era antes de ver. - Ela respondeu jogando todo o charme que tinha em cima de mim e se aproximou de meu rosto rodeando os seus braços em meu pescoço.
— Ah, é que esta não é a primeira vez que você me aborda assim e é impossível não reconhecer a sua voz. - Respondi sorrindo olhando-a.
— Ah espertinho você, hein! Quer dizer que você reconheceria a minha voz em qualquer lugar é? -Ela perguntou aproximadando-se ainda mais de mim. Dava pra ver que ela tinha bebido muito, como sempre, e ela sempre se atirava para mim e para qualquer homem que fosse interessante aos seus olhos, até mesmo aos que não eram.
— Acho que alguém aqui bebeu demais e precisa ir para casa. -Eu disse à ela fugindo desse assunto, afastando-a de meu pescoço.
— Não, queridinho! A festa só está começando! - Respondeu ela alterando a voz pegando mais uma bebida da bandeja de um dos garçons que passava por ali naquele momento, chamando a atenção de todos os que estavam próximos de nós.
Essas atitudes sempre fizeram parte da vida de Paola e eu não suportava isso, nunca dei espaço porque ela sempre foi uma mulher que gostava de chamar a atenção por onde passava e, além de sempre beber demais nas festas e fazer algum tipo de "vexame", tinha fama por "pegar todos".
Ela nunca fez o meu tipo de mulher, e por mais que fosse muito bonita e me atraísse, isso não bastava para que eu me interessasse por ela e muitas vezes ela já havia se insinuado para mim mas eu nunca dei muita brecha, até aquela noite.
Já se passava das 2h e eu já não agüentava mais ficar ali, estava cansado e precisava dormir. Quando fui me despedir de alguns amigos e de Donato, Joana, uma outra amiga nossa se aproximou de mim.
— Carlos Daniel você está indo para casa agora, não é? – Perguntou cautelosa.
— Sim Joana, estou. Porquê?
— É que a Paola veio no meu carro comigo e daqui eu não vou para casa e acho que ela já bebeu um bocado demais e... Será que você poderia dar uma carona à ela? - Joana sabia das intenções de Paola e sabia também que eu a evitava ao extremo mas não hesitou em me pedir isso.
— Porque vocês não chamam um taxi? - Rebati olhando-a seriamente.
— Porque está muito tarde, Carlos Daniel e não sabemos se um taxista é confiável. E se ele agarrar a Paola, como ela vai se defender sozinha? - Argumentou ela tentando me convencer, sabia que seria difícil.
— Não tem outra pessoa que possa levá-la, Joana? - Perguntei tentando encontrar uma outra solução.
— Não, o Antônio está com a namorada, Marcelo não vai agora e o Henrique você sabe que não dirige quando bebe e vai ficar por aqui mesmo.
— Tá, tudo bem. Onde ela está? -Bufei vencido pela insistência de Joana e fomos em direção à localização de Paola que, para a minha "surpresa" já estava ao lado do meu carro no estacionamento me esperando. Elas tramaram tudo e eu imbecil me deixei levar pelo cavalheirismo exagerado
— Carlos Daniel, muito obrigada! Se não fosse por você, eu não sei o que seria de mim. - Disse arrastando a voz assim que me viu me aproximando com Joana ao lado.
— Você bebeu demais Paola! Não devia ter bebido tanto. Vamos, entre! - Disse abrindo a porta do carona para que ela entrasse assim que nos despedimos de Joana.
— Ahh e você se importa comigo? -Perguntou ao segurar o meu rosto insinuando um beijo quando eu já estava ao seu lado no carro.
— Você está bêbada demais, Paola! - Respondi impaciente tirando as suas mãos de meu rosto. - Por favor, ponha o cinto de segurança. - A adverti enquanto ela me olhava com reprovação.
—Você não muda não é, Carlos Daniel? Antiquado como sempre! -Exclamou ela revirando os olhos e colocando o cinto.
Dei partida no carro e seguimos o caminho inteiro em silêncio, ela pegou no sono enquanto eu dirigia e eu dei graças a Deus por isso. Quando chegamos em sua casa, todos já estavam dormindo e eu a chamei para que pudesse pegar as chaves e abrir a porta. Ela não conseguia caminhar sozinha, ou parecia não conseguir, "tudo fingimento para me levar para a cama aquela noite!” ...

Enquanto Carlos Daniel me contava toda aquela história, tinha um semblante de ódio e seus olhos queimavam feito brasa, que era perceptível o arrependimento e a magoa que sentia de Paola, ele os demonstrava através de seus gestos.


...Ela pegou as chaves e eu precisei carregá-la até o seu quarto, maldita foi a hora em que eu fui até o seu quarto. Maldita a hora que eu aceitei levá-la para casa, estava tudo planejado naquela mente maliciosa e astuta que ela tem.
Quando já estávamos em seu quarto e eu precisei colocá-la na cama, ela agarrou o meu pescoço com mais força me puxando para perto de sua boca, roçando os seus lábios nos meus.
— Carlos Daniel me beija! -Ela disse ao meu ouvido num sussurro completamente sensual. - Quero que me beije, é isso que eu desejo há muito tempo.
— Não Paola, eu...- Sem dar-me tempo de dizer algo, ela tomou a minha boca com tanta agilidade e possessão que eu não consegui responder de imediato. Sabia que estava cometendo um grande erro.
— Paola eu preciso ir embora. - Respondi ofegante após encerrarmos aquele beijo.
— Fica comigo essa noite, Carlos Daniel. Eu te desejo, eu te quero! - Retrucou ela rapidamente depositando beijos sobre toda a extensão do meu pescoço, mordiscando a minha orelha.
— N-não podemos, Paola! -Respondi engolindo em seco um nó que havia se formado em minha garganta.
— Claro que podemos, Carlos Daniel! Você é homem e eu sou mulher e somos adultos, solteiros e nos desejamos. O que há de mal em sexo casual entre duas pessoas que se desejam? - Eu não queria admitir, mas ela tinha razão. Eu não tinha outros motivos para recusar uma mulher como ela, já estando em meus braços pronta para mim e eu já estava excitado o bastante para querer voltar atrás...

Estremeci ao seu lado, e meus olhos pinicaram, os fechei com força impedindo que as lagrimas caissem, nao queria que Carlos Daniel notasse que me doia ouvir aquilo, nao era ciumes, mas ouvir Carlos Daniel dizer que sentiu desejo por Paola foi como ter uma faca cravada em meu peito.

— Paulina, eu... – Ele interrompeu o que dizia ao ver a minha reação diante de tudo o que eu escutava e se aproximou mais de mim olhando-me com apreensão. - ...É... Não continuo se você não quiser...

— Não Carlos Daniel, - Respirei fundo - eu quero! – Disse-lhe rápido olhando-o nos olhos. – Continue.


...Depois destas palavras, eu assenti e a beijei com desejo, era só isso que existia entre nós, desejo. Não havia sentimento nenhum além desse, além de ser algo momentâneo. Qualquer homem se renderia aos pés de Paola e eu a tinha em meu poder, confesso que o meu ego subiu um pouco aquele momento como aconteceu várias outras vezes mas é normal porque eu sou homem, já havia transado com mulheres lindíssimas e nunca foi nada sério, com Paola não seria diferente.

Enquanto nos beijávamos e já estávamos quase lá, procurei uns preservativos na minha carteira e nos bolsos de minha calça, mas não encontrei nada, nunca saía de casa desprevenido e, para contribuir com o meu azar daquele dia, eu os tinha esquecido no carro. Perguntei à Paola se ela tinha algo em seu quarto e a principio ela disse que não, fingiu ter se ofendido com a minha pergunta me deixando um tanto sem graça mas não era novidade para ninguém que Paola não era nenhuma santa virgem e ela não escondia isso de ninguém, não entendi o porque daquela expressão e fiquei preocupado, não por transmiti-la alguma doença ou algo do tipo porque eu sempre me cuidei e nunca tive problemas e também confiava nela quanto à isso mas meu medo era que ela engravidasse mas ela me tranqüilizou dizendo que estava tomando pílula e que eu não me preocupasse, pois estaria tudo em ordem. Confiei nela e me deixei levar pelo momento...

Seus olhos queimavam feito brasa, ele apertou as mãos com tanta força que os nós de seus dedos ficaram brancos. Seu rosto estava levemente corado, sentia em sua voz que aquilo lhe envergonhava, e ele não tinha coragem de me olhar nos olhos, notava-se de perfeitamente que estava sendo difícil para ele falar sobre isso.

...Na manhã seguinte, acordei com os raios de sol que invadiam as janelas do quarto de Paola e atingiam os meus olhos. A princípio, estranhei o ambiente mas logo em seguida me dei conta de onde estava. Eu estava complemente nu e ela estava ao meu lado dormindo. Esfreguei os meus olhos com as costas das minhas mãos e me levantei em busca de minhas roupas. Não sei onde estava com a cabeça que me deixei seduzir por Paola. Sabia que ela era "perigosa" e mesmo assim a deixei me dominar. Sentia raiva de mim mesmo por tudo e nunca me senti tão arrependido de ter dormido com uma mulher como eu me senti aquele dia.
Não quis me despedir dela, não tinha este costume, mas não ia acordá-la para dizer que iria embora, não estava preparado para encará-la depois do que fizemos. Logo eu que sempre me controlei para não deixar que ela me seduzisse, mordi que nem um peixe a sua isca venenosa. Era muito cedo e eu saí devagar para não acordar ninguém da casa, mas para começar o meu dia ainda pior do que estava, tive que me deparar com a pessoa que eu menos esperava:
— Carlos Daniel, bom dia! - Disse Paula surpresa fazendo careta por estranhar a minha presença em sua casa e ainda mais aquele horário.
— Paula, bom dia! - Respondi sem graça ao ser surpreendido por ela. Não queria que ela soubesse que eu estava lá, não queria que ninguém soubesse.
— Eu vi o seu carro aqui e quase não pude acreditar quando o reconheci. - Ela disse séria, com curiosidade. - Você e Paola...
— Não, apenas bebemos um pouco mais na festa do Donato e para não dirigir até em casa, Paola me ofereceu estadia... - Menti, respondendo antes que ela mencionasse o óbvio. Não sei porque menti, eu não tinha nada a esconder de ninguém.
— Ah sim, sei... -Ela respondeu fingindo acreditar, mas percebeu a minha inquietação e mudou de assunto me fazendo sentir à vontade. - Você vai ficar e me acompanhar no café da manhã? Como Paola acorda um pouco mais tarde, eu sempre tomo sozinha; - Convidou com muita boa vontade logo demonstrando um certo desânimo ao mencionar Paola.
— Não Paula, obrigado mas não vai dar. Preciso ir embora porque lá em casa estão me esperando e a vovó deve estar preocupada comigo por não ter dormido em casa. Eu vou indo! - Respondi dando-lhe um sorriso, o que me foi retribuído e logo ela me acompanhou até a porta e nos despedimos com um beijo no rosto.


Cheguei em casa e fui diretamente ao quarto da vovó Piedade lhe dar uma satisfação e quando lhe disse onde passei a noite, tamanha foi a sua surpresa, mas já era de se esperar que ela reagisse daquela forma. Ela me conhecia e também conhecia a Paola, sabia como ela era e sempre me alertava mas agradeci aos céus por ela não ter me julgado mal pelo que eu havia feito.
— Meu filho, você parece cansado. Vá tomar um banho, descansar e depois continuamos essa conversa. Só espero que vocês tenham sido responsáveis. -Disse a minha avó. Parecia que sabia das coisas, e sabia é claro, mas é como se ela soubesse o quão eu fui irresponsável por não ter me cuidado e confiado apenas em Paola.

Me despedi da vovó e fui para o meu quarto tomar um banho e tive a intenção de dormir um tanto para descansar melhor, mas quase não consegui pregar os olhos. A preocupação e o arrependimento rondavam a minha mente e fui tirado de meus devaneios quando meu celular tocou, recebi uma SMS e era de quem eu menos esperava, Paola.
"Mensagem recebida : Ah que decepção ter acordado e não ter te encontrado ao meu lado, queridinho! Mas obrigada pela noite INCRÍVEL que você me proporcionou! Espero te ver em breve! Paola"


Quando li aquela mensagem, quase joguei o meu o celular na parede pela raiva que me dominou. Ela tinha tramado tudo e conseguiu o que queria, fui um homem fraco demais e agi como um adolescente a flor da pele, seduzido pela beleza e pelas palavras de uma mulher.
Os dias foram se passando e voltei a minha rotina de trabalho, o que não foi mais a mesma por causa das ligações, SMS e visitas constantes de Paola no meu escritório. Deixei bem claro à ela que tudo não passou de uma noite e como ela mesma disse, foi sexo casual mas ela parecia não entender. Finalmente ela me deixou em paz e eu pensei que ela tinha esquecido de mim, mas foi aí que eu me enganei complemente quando recebi uma visita dela na fábrica me dizendo que precisava falar comigo algo muito sério e importante e que eu teria de ouvi-la. No início eu não quis acreditar e achei que era mais uma de suas façanhas para me capturar de novo, mas vi que ela estava nervosa e não parava de fumar, outra de suas manias que eu detestava. A guiei até o meu escritório e a convidei para sentar, ela não quis, estava indiferente, nervosa.
Foi quando ela olhou pra mim com impaciência e retirou de sua bolsa um envelope branco revelando o nome de um laboratório de análises clínicas.
— O que é isso? -Perguntei confuso. Ela não tinha o porque me entregar envelope algum, muito menos com um exame de laboratório, ou pelo menos foi o que eu pensei.
— Abra e veja você mesmo! - Disse nervosa, estava inquieta andando de um lado para o outro.
Ao abrir o envelope, não entendi de imediato o que ela quis me dizer, não sabia ler direito o que tinha escrito naquele papel, mas logo em seguida eu me dei conta e o que eu mais temia veio à tona e pareceu que tudo ao meu redor havia desaparecido e só restava eu segurando aquele maldito exame de sangue enquanto um buraco grande e profundo se formava debaixo dos meus pés. “BETA – HCG Qualitativo— Tinha um monte de coisas escritas naquele papel mas o único que eu pude ver claramente foi – ...PARA DIAGNOSTICO DE GRAVIDEZ... POSITIVO, no mesmo papel, pude ver outra coisa que entendi, Quantitativo – DUAS SEMANAS DE GESTAÇÃO.” - Não pode ser! - Eu não podia acreditar que ela estava grávida mas aquelas palavras escritas me rodeavam e já ecoavam em minha mente. Precisei sentar para absorver tudo aquilo, não estava preparado para ser pai, não queria ser pai, não assim desse jeito com uma mulher que eu não amava, era impossível ao menos pensar em constituir uma família com Paola e logo ela está carregando um filho meu! "Será que é meu mesmo? Não podia acreditar que ela tinha mentido pra mim de novo, eu me deixei levar de novo por ela. O que estava acontecendo comigo? Onde eu estava com a cabeça? Porque isso aconteceu logo comigo?" Milhares de perguntas eram feitas em minha cabeça ao mesmo tempo, eu estava desesperado.
— Quero um DNA! - Era óbvio que o filho que ela estava esperando era meu por causa do tempo de gestação, do dia em que passamos a noite até o dia do exame eram exatamente duas semanas, mas estas foram as primeiras palavras que me vieram à tona.
— O que? Você está me ofendendo Carlos Daniel! - Ela me disse horrorizada. Talvez esperasse uma reação dessa de mim mas não isso.
Não respondi nada, apenas andava de um lado para o outro. Minha cabeça fervia quando parei e olhei novamente para o papel. Ela não podia ser tão leviana assim e eu vi que essa responsabilidade também era minha.
— Me desculpe! - Estava com muita raiva e o nervosismo me dominava mas tentei me controlar e engoli seco para olhá-la. - Preciso colocar as minhas idéias no lugar, eu não esperava por...
— Você acha que está sendo fácil para mim? Eu estou tão surpresa quanto você, Carlos Daniel! – Ela me interrompeu quase num grito. Notava-se que ela estava sendo sincera pelo desespero que dominava a sua face. - O que quer que eu faça? Estou desesperada! Eu não sei o que fazer! - Continuou desabando ao sentar-se no sofá em meio às lágrimas.
Eu precisava pensar, tínhamos que tomar uma decisão, e a partir daquele momento a minha vida mudou por inteiro...