No sábado, exatamente as 08:00 da manha, Paola estava em pé na sala esperando por Lizete, ela tinha um brilho no olhar que eu nunca havia visto antes. Vovó Piedade conversava com ela quando descemos.

— Tia... – Lizete correu ate ela e a abraçou, Paola se abaixou e beijou seu rosto.

— Oi princesa, esta pronta?

— Estou sim. – Lizete respondeu radiante.

Carlos Daniel desceu as escadas e parou ao meu lado colocando as mãos envolta de minha cintura.

— Paola. – ele a cumprimentou com um aceno de cabeça.

— Bom dia Carlos Daniel. – ela disse nos fitando e se pondo de pé.

— Eu coloquei algumas coisas na mochila, pro caso dela precisar. – falei.

— Ah... Obrigada. – ela respondeu pegando a mochila que estava nas costas de Lizete – Então nós já vamos.

— Qualquer coisa é só nos ligar. - disse olhando-a.

— Claro. – ela respondeu com um meio sorriso.

— Espero que a traga no horário combinado Paola. – Carlos Daniel disse olhando-a seriamente.

— As 18:00 horas estaremos aqui Carlos Daniel, não se preocupe. – ela respondeu séria.

— Não vai nos dar um abraço Lizete? – Carlos Daniel perguntou olhando para a filha.

Lizete correu ate ele com os braços abertos, Carlos Daniel a abraçou e a ergueu nos braços.

— Se comporte com a... Paola, e quando voltar obedeça à vovó, a mamãe e eu voltaremos amanha bem cedo.

— Tudo bem papai.

— Eu te amo minha princesinha. – ele disse beijando seu rosto e abraçando mais uma vez antes de coloca-la no chão.

Lizete me abraçou e me ajoelhei para ficar do seu tamanho.

— Se divirta com a Paola meu amor, - beijei sua bochecha – eu vou sentir muita saudade de você.

— Eu também vou mamãe, - ela passou as mãos por meus cabelos – e do meu irmãozinho também. Mas a noite, vou ajudar a vovó a cuidar dele, eu sei onde você guarda todas as coisas que ele precisa.

— Ah meu amor! – disse e a abracei apertado – Se divirta e seja obediente.

— Vou ser mamãe, - ela beijou meu rosto – eu te amo.

— Eu também te amo minha princesa.

Lizete se despediu de vovó Piedade com um caloroso abraço, e então Paola se despediu e saiu de mãos dadas com a “filha”, senti meus olhos lacrimejarem assim que elas saíram.

— Se Paola fizer qualquer coisa com minha filha... – Carlos Daniel disse baixinho, eu suspirei fundo para impedir que as lágrimas caíssem, não entendia porque estava assim, afinal Lizete estaria de volta as 18:00.

— Ela vai ficar bem Carlos Daniel. – falei engolindo em seco.

— Eu só concordei em Paola levar Lizete porque você me convenceu Lina. – ele me olhou, senti um tremor percorrer meu corpo – Espero que não me arrependa depois.

— Eu tambem. – falei.

— Vou pro escritório arrumar algumas coisas antes de partimos. – ele disse beijando minha testa e indo em direção ao escritório.

A casa sem Lizete não tinha nenhum brilho, Carlos Daniel ficou a maior parte da manhã trabalhando, e eu fiquei um bom tempo no quarto de vovó Piedade, ela paparicava o bisneto enquanto falávamos de Paola.

— Eu acho que Paola esta mesmo mudando vovó, eu percebi como os olhos dela brilharam quando viu a filha.

— Talvez voce esteja certa Paulina, - vovó sorriu para Otávio que estava em seu colo – Paola parecia mesmo diferente, ela me disse que queria construir uma relação mais forte com Lizete, quer estar mais presente na vida da menina.

— Eu espero que ela faça isso vovó, - disse pensativa – Paola é muito sozinha, e depois que nossa mãe morreu ela só teve um contato maior com a Lizete...

— E você acha que ela aprendeu a amar a filha? – vovó me interrompeu.

— Sim vovó, - disse e sorri acariciando a cabecinha de Otávio – o amor de uma mãe pelo filho é maior do que qualquer coisa, acho que Paola finalmente se tocou que ela é mãe.

— Eu tenho a mesma opinião que voce Paulina. – ela sorriu em cumplicidade.

— Sabe vovó, confesso que sinto um pouco de ciúmes de ver Lizete falando da Paola... Eu tento negar a mim mesma, mas não posso esquecer que Paola é a verdadeira mãe dela.

— Minha filha, - sua mão acariciou a minha – Paola é a mãe da Lizete sim, mas quem a amou como uma mãe foi você, você deu a Lizete o que nunca podemos dar, que era o carinho, o cuidado, o amor que só uma verdadeira mãe pode transmitir. Então eu digo e repito a todos que você é a mãe da Lizete.

— Vovó, - limpei uma lagrima que me escapou – eu amo Lizete como minha filha, e tenho certeza que ela me ama também, mas não posso esquecer que ela é filha da Paola, filha da minha irmã gêmea. E se algum dia Lizete me disser que eu não sou sua mãe? Que eu não devo me intrometer em sua vida?

— Paulina, não se martirize assim, - ela sorriu amavelmente – você fala como se Lizete fosse crescer de um dia pro outro... E com a educação que você e Carlos Daniel dão a ela, eu duvido muito que ela sequer chegue a pensar nisso algum dia.

— Ah vovó Piedade... – me inclinei para abraça-la – Obrigada por sempre me entender.

— Sabe que pode contar comigo pra tudo Paulina... – ela sorriu e a abracei mais uma vez.

Depois que almoçamos, arrumamos uma pequena mala e nos preparamos para partir.

— Esta tudo pronto. – Carlos Daniel entrou na sala depois de levar a mala para o carro – Só vamos esperar o Rodrigo e a Patrícia e partimos, eles foram levar o Carlinhos na casa da avó.

— A mamãe vai sentir muita saudade de você meu filhinho. – disse abraçando Otávio, meu peito estava apertado por deixa-lo.

— Não se preocupe Paulina, nós vamos cuidar dele com todo carinho e amor. – vovó falou entre um sorriso – Ele estará mais confortável aqui do que se fosse com vocês.

— Eu sei vovó, mas me aperta o coração saber que vou passar essa noite sem ele.

— Amanha chegaremos antes do almoço meu amor, - Carlos Daniel disse se sentando ao meu lado e acariciou a cabeça de Otavio – também vou sentir saudade desse garotão aqui.

— Vovó, quando Paola trazer Lizete nos avise, - disse passando Otávio para os braços do pai – vou estar com meu celular o tempo todo, não hesite em nos ligar se acontecer qualquer coisa.

— Esta bem minha filha, - vovó sorriu – mas aproveitem bastante que vão estar sem as crianças, se divirtam, - ela se inclinou para frente para sussurrar – e aproveite bastante de seu marido.

— Vovó... – a recriminei sentindo meu rosto corar.

— Pode deixar vovó Piedade que vamos aproveitar sim. – Carlos Daniel sorriu piscando em cumplicidade para a avó.

Rodrigo e Patrícia logo chegaram.

— Vamos todos no mesmo carro? – Carlos Daniel perguntou ao irmão.

— Se não se importar, eu e Patrícia iremos no nosso, estou louco para colocar aquela maquina na estrada. – Rodrigo disse sorrindo se referindo ao novo carro que haviam comprado.

— Bom, então é melhor partimos, temos umas boas horas de viagem. – Carlos Daniel falou.

Nos despedimos de todos, e depois de beijar e abraçar bastante meu pequeno, partimos rumo a pousada, levaria algumas horas para chegarmos, e durante boa parte do caminho os únicos pensamentos que habitavam minha mente eram de Lizete saindo com Paola, e Otávio sorrindo para mim nos braços de vovó Piedade.

***

Chegamos ao entardecer, o lugar era lindo, havia um imenso jardim em volta da pousada, que estava enfeitado com guirlandas de pequenas luzes e flores. Eu e Patrícia deixamos um suspiro de encantamento escapar de nossos lábios.

Fomos muito bem recebidos por Alonso Xavier, o dono da exportadora, um senhor simpático e bem humorado. Depois nos guiaram ate os quartos que ocuparíamos aquela noite. O quarto parecia ter saído de um filme, uma enorme banheira nos convidava para um banho, mas não tínhamos tanto tempo para aproveita-la. Liguei para casa, apesar da ligação ruim, vovó me garantiu que estava tudo bem e aconselhou mais uma vez a aproveitarmos a noite.

Nos arrumamos e descemos para o jardim onde seria a recepção, já que a noite estava quente e o céu repleto de estrelas. Patrícia e Rodrigo logo se juntaram a nós. Havia poucas pessoas, todas ligadas de algum modo à exportadora.

A todo o momento eu verificava meu celular, sentia uma sensação estranha de que alguém ligaria com uma má noticia.

— Meu amor, já é a terceira vez que você verificava seu celular só nos últimos dez minutos. – Carlos Daniel disse se aproximando com duas taças com alguma bebida.

— A vovó não ligou mais. – disse pegando a taça que ele me entregou.

— Se ela não ligou é porque estão bem. – ele sorriu amavelmente e tirou o celular de minha mão o colocando em seu bolso – E além do mais o sinal aqui não é muito bom. Relaxe e vamos aproveitar meu amor, as crianças estão bem. Mais tarde ligamos do telefone da pousada para a vovó.

— Tem razão Carlos Daniel, - dei um gole na bebida – afinal ninguém melhor que vovó para cuidar delas.

Tentei relaxar e aproveitar ao máximo, logo fomos apresentados para alguns sócios da exportadora, houve um pequeno discurso de um dos donos da empresa, dizendo a alegria e satisfação que sentiam em ter fechado negocio com a fabrica Bracho, e depois Rodrigo e Carlos Daniel assinaram um contrato na frente de todos que aplaudiram de pé. Conversamos com algumas pessoas sobre a empresa, jantamos, e ouvimos algumas historias que o senhor Xavier nos contou.

Tudo transcorreu bem, nos divertimos, dançamos, demos muitas risadas e jantamos num clima descontraído. Mas ainda havia aquele aperto em meu peito.

Aos poucos os convidados foram se dissipando, Rodrigo e Patrícia logo subiram para o quarto e Carlos Daniel e eu aproveitamos para ficar mais algum tempo no jardim.

— Paulina, - Carlos Daniel me puxou para sentar em seu colo em um dos bancos no jardim – notei que você esta meio distante... pensativa. Esta tudo bem?

— Estou sentindo falta das crianças. – respondi me aconchegando em seus braços, recostando minha cabeça em seu ombro – Eu iria ligar para a vovó, mas agora já esta tarde.

— Sim minha vida, - ele beijou minha testa – com certeza estão dormindo. Como também é certo que estão bem.

— É eu sei, - disse o olhando – mas sinto um aperto no peito.

— Amor, - ele me abraçou mais forte – não fique assim. Nunca ficamos longe do Otávio, também estou ‘morrendo’ de saudades. – ele deu um meio sorriso.

— Nosso bebezinho. – sorri ao me lembrar de Otávio – É tão estranho não estar com as crianças.

— O lado bom de estarmos sem as crianças é que te tenho exclusivamente pra mim. – ele sorriu e beijou meus lábios.

— Seu bobo... – sorri levando minha mão ate sua nuca e entrelaçando meus dedos em seus cabelos – Mas confesso que também que estou gostando de ficar assim com você.

— Então vamos aproveitar mais um pouco que estamos aqui, no ar puro, sobre a luz das estrelas... Porque ainda tenho planos maravilhosos para essa noite.

Sorri sem dizer nada enquanto ele buscava meus lábios para um beijo demorado, depois ficamos mais um tempo ali, aproveitando a tranquilidade daquela noite.

Quando subimos para o quarto, nos amamos com calma, desfrutando sem pressa do outro, e então adormeci em seus braços, me sentia feliz, mas estranhamente agoniada.

Na manha seguinte só conseguimos sair depois de tomar um saboroso café da manhã, descobrimos que a pousada era do senhor Xavier, que nos convidou para voltarmos com nossa família a aquele lugar encantador.

O caminho de volta parecia ainda mais longo, queria logo chegar em casa, abraçar e beijar meus filhos, sentir o cheirinho de bebê de Otavio e ouvir Lizete contar sobre o dia com Paola. Acabei adormecendo no caminho só despertando quando já entravamos pelos portões da casa Bracho.

— Já estamos em casa meu amor. – Carlos Daniel sorriu assim que parou o carro.

— Estou louca para ver as crianças. – o beijei antes de sairmos do carro.

Assim que entramos em casa Lalinha descia as escadas com Otávio, que abriu um sorriso ao nos ver, meu coração saltou e corri ate ele o pegando em meus braços.

— Meu amorzinho... a mamãe sentiu tanto sua falta. – inspirei profundamente sentindo seu cheiro, acalmando meu coração, o beijei e abracei contra meu peito.

— Oi garotão. – Carlos Daniel se aproximou beijando a cabeça de nosso filho e nos abraçando.

— Onde esta a vovó, Lalinha? – perguntei notando que ela estava séria.

— Ela está na biblioteca com a Adelina senhora. – ela respondeu vacilante.

— Aconteceu alguma coisa Lalinha? – Carlos Daniel perguntou.

— É que... A... É melhor falarem com a vovó. – ela respondeu nervosa.

Assim que entramos na biblioteca senti meu peito gelar, vovó Piedade estava sentada em um dos sofás, ela segurava um copo d’água na mão tremula, e Adelina tinha os olhos marejados.

— Vovó! – Carlos Daniel e eu dissemos ao mesmo tempo indo até ela. Me sentei ao seu lado com Otávio nos braços.

— Está sentindo alguma coisa vovó? – perguntei segurando suas mãos gélidas.

— Meus filhos, graças a Deus chegaram... – ela tinha os olhos úmidos e parecia cansada.

— O que foi vovó? – Carlos Daniel perguntou se ajoelhando a sua frente e acariciando seus braços.

— A Paola... Ela não voltou com Lizete. – aquela frase me atingiu como um golpe.

— O QUE? – Carlos Daniel se alterou no mesmo momento, ele se levantou e passou as mãos pelo cabelo – Vovó, porque não nos avisou? Eu sabia que não devia confiar nessa des... mulher.

— Eu pensei que ela só havia se atrasado Carlos Daniel, não queria preocupar vocês sem motivo, e sabia que quando soubessem iriam vir feito loucos. – vovó Piedade se explicava, abracei com força Otávio em meus braços.

— Deve ter acontecido alguma coisa... – disse olhando para Carlos Daniel.

— O QUE ACONTECEU É QUE AQUELA MULHER SEQUESTROU A MINHA FILHA. – Carlos Daniel explodiu, seu olhar estava carregado de fúria, todo meu corpo gelou. Otávio se agitou em meus braços.

— Nós ligamos pra ela, fomos ate a sua casa, mas nos disseram que ela saiu com Lizete um pouco antes das 18:00, e não voltou para casa. – Adelina disse preocupada.

— Eu não posso acreditar que Paola foi capaz disso. – disse deixando uma lagrima me escapar, beijei a cabeça de meu bebê.

— Senhora, me dê o Otávio, eu vou arrumar a mamadeira dele. – Lalinha disse se aproximando, o entreguei depois de abraçá-lo mais uma vez e ela seguiu com ele para a cozinha.

— Eu vou... Eu vou à delegacia. – Carlos Daniel saiu nervoso.

Não precisei pensar muito para correr atrás dele.

— Carlos Daniel espera... – disse colocando minha mão em seu ombro para tentar acalma-lo, não podia deixa-lo sair daquele jeito.

— Agora não Paulina. - ele tirou minha mão de seu ombro e andou em direção ao carro.

— Meu amor, por favor, tenha calma, não faça nada de cabeça quente. Vamos procurar Paola e... – disse fazendo-o parar.

— CALMA!? – ele disse alto e sorriu ironicamente - Como você quer que eu me acalme Paulina? Não sei onde está a minha filha, não sei o que podem fazer a ela... Eu não devia ter deixado ela ir com a irresponsável da Paola, eu não deveria ter te ouvido, afinal você nem mãe de verdade dela é.

Suas palavras frias e duras atingiram em cheio meu peito, as lagrimas rapidamente se acumularam em meus olhos e me segurei para não chorar, não podia acreditar no que ele estava me falando.

— Carlos Daniel... Não fala isso... – solucei tentando engolir o choro.

— É melhor sua irmã trazer minha filha sã e salva Paulina, ou eu não sei o que sou capaz de fazer. – a fúria que ele me olhou só serviu para que me peito sangrasse ainda mais – Fique aqui com a vovó.

Ele saiu furioso, batendo a porta do carro com força e saindo em alta velocidade, chorei sentindo suas palavras me esmagarem por dentro.