Voltei para a sala onde vovó estava, as palavras de Carlos Daniel ecoavam em minha cabeça e apunhalavam meu coração, jamais imaginei que ele diria isso pra mim, que eu não era a mãe de Lizete.

“Como pode dizer que eu não me importava com ela? Como pode ser tão insensível assim?” Logo aquela dor se tornou em magoa, em decepção... Limpei as lagrimas de meu rosto com força, eu tremia, respirei fundo antes de entrar.

— Paulina, e o Carlos Daniel? – Vovó perguntou assim que entrei na sala.

— Ele saiu pra delegacia vovó. – respondi segurando para não desabar em lagrimas.

— Eu só espero que ele não faça nenhuma besteira, Carlos Daniel perde a cabeça quando fica nervoso. – vovó disse cansada, seu rosto estava abatido e seus olhos vermelhos. Em suas mãos havia um terço que ela segurava com força.

— É eu sei. - disse limpando uma lágrima que me escapou – E a Lalinha?

— Ela subiu com o Otávio, Lalinha me ajudou muito com meu bisnetinho. – vovó deu um sorriso triste.

Fui até ela e beijei seu rosto.

— Vovó, vá descansar um pouco, - falei segurando sua mão – dá pra ver que não dormiu nada a noite.

— É verdade senhora, - Adelina disse preocupada com a amiga – vovó não pregou os olhos nenhum minuto.

— Adelina, leve a vovó para o quarto, eu vou ver o Otávio, não podemos fazer nada a não ser esperar. – disse me levantando, beijei as mãos de vovó e subi para o quarto de Otavio.

Lalinha havia acabado de trocá-lo.

— Como ele se comportou Lalinha? – perguntei enxugando os vestígios de lagrimas de meu rosto.

— Muito bem senhora, – ela respondeu com um pequeno sorriso – ele é um anjinho, quase não chorou.

— Eu agradeço muito por ter cuidado dele Lalinha. – disse pegando-o nos braços, ele me olhava intensamente e suas mãozinhas pegavam meu rosto.

— Não foi nada senhora Paulina.

Caminhei com ele ate a janela que dava para o jardim, lembranças de Lizete brincando ali invadiram minha mente. “Minha menininha, minha filhinha.” As lagrimas molharam novamente meu rosto.

— Onde esta você Lizete? – falei baixinho.

Otávio se agitou em meus braços, o olhei ali, tão indefeso, tão pequeno.

— Meu filhinho... Onde esta nossa princesinha? – falei deixando as lagrimas rolarem por meu rosto.

Fiquei alguns minutos com Otávio, o abraçando contra meu peito, tentando acalmar a dor de meu coração.

Como se não bastasse a angustia e todo sofrimento por não saber onde estava Lizete, ainda tinhas as palavras de Carlos Daniel que me rasgavam por dentro. Nunca imaginei que ele me diria algo tão absurdo. Mesmo sabendo que aquelas palavras foram ditas num momento de raiva.

Ali parada olhando meu bebê, tomei uma decisão impensada. Não podia ficar de braços cruzados esperando.

“Você vai ter sua filha de volta Carlos Daniel.” Disse para mim mesma. Fui idiota e ingênua por ter confiado em Paola.

— Vou precisar que cuide dele mais um tempo Lalinha. – falei me virando para olhar Lalinha que continuava no quarto me observando.

— A senhora vai sair? – ela perguntou desconfiada, Lalinha era esperta e curiosa.

— Sim. – respondi observando cada traço de Otávio, ele me olhava como se entendesse que algo estava errado - Meu amor, a mamãe vai buscar nossa princesinha, e depois... Depois vamos ver o que fazemos. – sussurrei enquanto o acariciava, ele bocejou abrindo a boca em um “o” redondo, meu peito se apertou e deixei uma lagrima rolar enquanto me despedia dele.

— Senhora me desculpe perguntar, mas vai atrás de sua irmã? – Lalinha perguntou curiosa.

— Vou Lalinha, eu vou trazer Lizete de volta. – respondi colocando Otávio em seu berço.

— Mas senhora, e o senhor Bracho? O que digo a ele? – ela perguntou com preocupação.

— Diga que fui reparar meu erro. – disse beijando meu bebê – Cuide dele pra mim Lalinha. – ao dizer isso sai do quarto.

Minha mente fervilhava, peguei meu carro e sai em disparada, “Aonde eu procuraria Lizete e Paola?” me perguntava enquanto o carro ganhava velocidade. Liguei para Paola, para sua casa, mas não havia nenhum sinal dela.

Minha busca não tinha direção, andava sem rumo pelas ruas, torcendo para encontrar Paola e Lizete na próxima esquina. Mas depois de algum tempo o desespero me dominou, sabia que não as encontraria, que não chegaria a lugar algum... Sem saber mais o que fazer, encostei o carro e desabei sobre o volante, chorando alto, deixando a dor e o desespero me dominar. “E se nunca mais encontrasse Lizete? E se Paola estivesse realmente fugido com ela? Como conseguiria viver sem minha filha? Como conseguiria olhar para Carlos Daniel sabendo que ele me culparia?”

No meio de todo aquele desespero, o som de meu celular me trouxe de volta a realidade. Meu peito acelerou ao ver um numero desconhecido na tela.

— Alô? – perguntei vacilante.

— Paulina!

— Paola? – minha voz saiu rouca e entrecortada ao identificar a voz. – Cadê a Lizete? O que voce fez com ela? Como ela esta?

Falei sem nem ao menos respirar, eu sentia alivio e medo.

— Paulina! – ela chorava compulsivamente – Eu preciso... Preciso que venha...

— Paola, por favor, o que aconteceu, onde esta Lizete? – perguntei ainda mais desesperada quando notei que Paola chorava.

— Paulina, preciso que venha ate a saída da cidade, na antiga estação... – ela dizia entre soluços, o medo me dominou por completo – por favor, venha logo...

— Paola, o que aconteceu? – perguntei chorando.

A ligação foi encerrada antes mesmo de conseguir uma resposta de Paola, eu temia pelo o que houvesse acontecido. “Porque Paola estaria num lugar abandonado com Lizete? Porque ela chorava?”

Com milhões de perguntas e temores, saí sem me dar conta a que velocidade estava, as lagrimas rolavam por minha face sem cessar.

Encontrei uma força que não sabia que existia. Lizete estava em perigo, eu sentia.

Cheguei ao local, vinte minutos depois, meu coração acelerado, minha respiração pesada. Não havia nenhum sinal de qualquer pessoa ali, o mato alto rodeava a antiga estação de trem. Caminhei determinada ate a antiga construção, não havia mais portas, os vidros das janelas estavam quebrados e a luz do sol iluminava o interior da velha cabana.

— Paola? – chamei assim que entrei, mas não houve nenhum ruído.

Observei à cabana, havia restos de bancos e cacos de vidros pelo chão, entrei mais adentro e voltei a chama-la.

— Paola, você esta ai? – minha voz soou alta – Lizete, cadê voce?

Um ruído atrás de mim me assustou, mas não houve como reagir, logo depois senti uma mão forte tapar minha boca e nariz com um pano úmido e de cheiro de forte, me debati, mas minhas forças foram se esvaindo e tudo escureceu a minha volta.