A Força De Uma Paixão.

Capítulo 4 Mistérios


Olhar aquela fotografia me deixou paralisada, os mesmos olhos, os mesmos cabelos a mesma face. Senti minha mente tentar romper aquela barreira que me impedia de relembrar meu passado, não sei por quanto tempo fiquei ali olhando aquela imagem perdida em uma confusão nos meus pensamentos, como pode haver duas pessoas completamente iguais?

— Senhorita Paulina, beba um pouco de água, você esta sem cor alguma na face. – Piedade disse me entregando um copo d’água.

Peguei o copo com as mãos tremulas, minha cabeça latejava.

— Sente-se aqui Paulina. – Carlos Daniel disse tirando a fotografia de minha mão e segurando minha cintura me ajudando a sentar.

Dei um pequeno gole na água.

— Tia, - Lizete disse se aproximando e passando a mão no meu rosto – você esta bem?

A forma com que aquela garotinha me tratava fazia a dor no meu coração amenizar um pouco, era como se ela fosse um anjo que veio me ajudar a passar pelo sofrimento que minha vida estava.

— Sim meu amor, - disse forçando um sorriso – eu estou bem sim.

— Você não parece bem. – ela disse me retrucando.

— É que fiquei um pouco assustada com minha semelhança com sua tia Paola. – disse e fechei os olhos tentando organizar minha mente.

— Você esta sentindo alguma coisa? – Carlos Daniel perguntou se sentando exatamente ao meu lado.

Abri os olhos e encontrei os dele me fitando, novamente me vi perdida naquele olhar que ele me lançava.

— Eu acho melhor ir pra casa. – disse sem desviar o olhar dele.

— Eu te levo ate a sua casa. - ele disse e sorriu, senti a cor voltar a minha face de uma maneira rápida.

— Não precisa se incomodar. - disse me levantando, Lizete segurou uma de minhas mãos.

— É o mínimo que podemos fazer por você, - Piedade disse sorrindo – você trouxe minha bisnetinha pra casa, seremos eternamente gratos.

— Imagina senhora, - disse sorrindo e passei a mão pelos cabelos de Lizete – Lizete é uma menina linda, foi um prazer passar esse tempo com ela.

Carlos Daniel se levantou parando ao meu lado.

— Eu e Lizete ficaríamos muito felizes se você nos deixar te levar ate sua casa, não é verdade Lizete? – ele disse sorrindo.

— É sim papai, nós vamos te levar ate sua casa, você me trouxe pra minha e agora eu e o papai te levamos pra sua.

Sorri para Lizete.

— Não quer ficar e almoçar conosco senhorita Paulina? – Piedade perguntou sorrindo com ternura.

— Obrigada pelo convite senhora, mas realmente preciso ir pra casa. – disse retribuindo o sorriso, o que eu mais precisava naquela hora era voltar para a solidão do meu quarto no hotel e buscar alguma explicação entre eu e Paola.

— Bom então vamos, - Carlos Daniel sorriu – acho que já te incomodamos e assustamos muito por um dia.

— Confesso que me assustaram mesmo, não imaginei que havia uma pessoa tão idêntica a mim. - disse passando a mão pela minha testa – Mas acreditem, ter encontrado Lizete e passar esse tempinho com ela foi à melhor a coisa que me aconteceu nos últimos meses.

Lizete me abraçou fortemente.

— Eu gostei muito de você tia.

— E eu de você. – disse a pegando nos braços – Bom, dona Piedade, foi um prazer te conhecer.

— O prazer foi todo meu senhorita, - ela pegou em meu braço com carinho – e muito obrigada por trazer Lizete.

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No caminho ate o hotel Lizete acabou dormindo no banco de trás, um silêncio imperava dentro daquele veiculo, sentia que Carlos Daniel me lançava olhares, provavelmente também estava assustado com minha semelhança com Paola, fiquei preocupada, afinal ele devia prestar atenção era na estrada e não em mim.

— Faz tempo que esta aqui na capital? – ele perguntou rompendo o silencio.

— Não... Na verdade eu cheguei ontem. – disse olhando pra ele.

— Ah... E de onde você veio? – perguntou, estranhei esse interesse por minha vida, talvez fosse um habito mexicano.

— Espanha. – disse olhando a cidade pela janela, lembrar de Espanha puxava lembranças de meus pais.

Ele ficou em silencio novamente, enquanto olhava pela cidade me lembrei de Lizete dizer que Paola era sua tia, talvez ela fosse irmã de Carlos Daniel e eu estava muito intrigada com nossa semelhança, mas Lizete também havia me chamado de tia.

— E quanto a Paola... – comecei a dizer formulando uma pergunta em minha mente – ela é sua irmã?

Ele me olhou e sorriu, seu sorriso era perfeito.

—Não.

Carlos Daniel só disse aquela palavra, e minha curiosidade só aumentava.

— Sabe, fiquei muito impressionada com essa semelhança entre nós duas, - disse um pouco mais a vontade depois de trocar algumas palavras com ele – é bem estranha.

Olhei pra ele, estava sério olhando pra frente, notei em seu olhar uma faísca de raiva, me perguntei se havia falado algo que o magoou.

— Vocês são mesmo idênticas. – ele disse, suspirei aliviada.

— Sabe onde posso encontrá-la? – perguntei, embora não conhecesse Carlos Daniel direito, ele era a única pessoa que estava ao meu alcance de saber mais sobre Paola.

— Ela saiu de viagem, e suas viagens costuma ser bem longas. – notei uma tristeza em seu olhar ao dizer isso.

— Ah sim. – disse e decide não incomodá-lo mais sobre isso.

O resto do caminho foi em total silencio, e quando finalmente paramos na porta do hotel em que eu estava hospedada ele me disse.

— Paulina, eu... Bem tenho algumas coisas sobre você e Paola que devo te contar, acho que você tem o direito de saber, mas agora não é o melhor momento, o dia nem bem começou e já tivemos muito acontecimentos, acho que você deve descansar e se quiser amanha podemos marcar um encontro e conversar.

Fiquei imóvel no carro, ele queria marcar um encontro comigo e nem nos conhecíamos, tudo bem que esse “encontro’’ era pra falar sobre mim e Paola, sentia que tinha algo muito forte relacionado a nos duas, e minha curiosidade por saber sobre essa ligação falou mais alto, fazendo com que aceitasse esse convite sem me importar com o fato de não conhecer aquele homem.

— Tudo bem, eu estou mesmo muito curiosa pra saber sobre essa semelhança, e ate desconfio de algo.

Ele sorriu e desceu do carro dando a volta para abrir a porta pra mim, notei o quanto ele era cavalheiro, assim que abriu a porta me estendeu a mão me ajudando a sair, quando nossas mãos se encontraram senti uma vibração percorrer pelo corpo, ele parece ter sentido também porque soltou gentilmente a minha mão e abriu a porta de trás onde estava Lizete.

— Lizete meu amor, acorde. – ele disse passando a mão pelo rosto da menina.

Senti um aperto no peito por ele querer acordar Lizete, ela dormia tão tranqüila, parecia um anjinho.

— Carlos Daniel, não precisa acordá-la. – disse e sem perceber toquei no ombro dele e novamente senti aquela sensação, abaixei minha mão um pouco envergonhada.

— Ah senhorita Paulina, se ela não se despedir de você vai me fazer voltar ate aqui só pra te dar um beijo e dizer tchau. – ele disse sorrindo enquanto me olhava e voltou a chamar Lizete.

Não demorou muito para ela acordar, e assim que notou que havíamos chegado saiu do carro e me abraçou, a peguei nos braços e beijei suas bochechas rosadas.

— Tia, você vai me visitar? – perguntou com um olhar tristonho.

Olhei pra Carlos Daniel sem saber o que dizer, afinal eu não os conhecia, e também Lizete poderia estar tão apegada a mim devido a minha semelhança com Paola.

— Claro que vai minha filha. – Carlos Daniel disse sorrindo pra mim.

— Verdade tia? – ela perguntou ainda desconfiada.

— Claro Lizete, prometo que vou te visitar. – disse e ela me abraçou forte.

Carlos Daniel olhava parado e sorrindo, assim que coloquei Lizete no chão ela entrou no carro novamente, Carlos Daniel continuou parado me olhando, notei um conflito interno em seus olhos.

— Bom, - disse totalmente sem jeito – eu vou entrar, muito obrigada por me trazer.

— Foi um prazer senhorita Paulina, - ele disse – obrigado você por ajudar Lizete, e acredite, ela já esta muito apegada a você.

— E eu a ela. – disse sem perceber, não queria ter dito aquilo, o que ele poderia pensar?

Ele sorriu novamente, esses sorrisos estavam me torturando, era o sorriso mais lindo do mundo.

— Então eu passo aqui amanha as oito da noite, pode ser? – perguntou ainda com aquele sorriso.

— Claro, bem vou entrar então. – eu estava desconsertada com aquele sorriso.

— Ate amanha então. – ele disse dando um passo em minha direção fazendo meu coração acelerar, parou a alguns centímetros próximo a meu corpo e vi seu rosto se aproximar lentamente, meu coração batia apressado eu sentia a pressão dos batimentos em meu ouvido, seus lábios macios e quentes depositaram um beijo em minha face, fechei os olhos me perdendo naquela sensação. O que estava acontecendo comigo? Jamais havia me sentido assim, a ponto de querer flutuar, embora tenha sido tudo muito rápido, pude sentir sua respiração tocar minha pele, e seus lábios macios e carnudos fez meu corpo arrepiar.

— Ate. – eu disse suspirando, e me sentindo uma idiota por ter ficado assim, ainda mais quando notei aquele sorriso em seus lábios enquanto ele entrava no carro.

Subi ate meu quarto com os pensamentos confusos, provavelmente a falta de contato físico nesses últimos meses me fez esquecer como é ter alguém tão próximo, nem com Luciano que era meu namorado e que eu amava eu reagia assim, com meu coração quase saltando pela boca.

Assim que entrei em meu quarto a solidão veio me abraçar, e depois de ter passado aquelas horas com Lizete, com dona Piedade e Carlos Daniel, eu havia me esquecido como era ficar só, aquela ferida no meu peito novamente se abriu, me puxando para a realidade, tomei um banho e me arrumei para descer para almoçar, sentei afastada das outras pessoas no restaurante do hotel, todas estavam alegres e conversavam descontraídas, quase não consegui comer, aquela manha havia sido cheia de acontecimentos, minha cabeça ainda doía, subi para o quarto e me deitei abraçando um travesseiro, aquela imagem de Paola voltava a minha mente fazendo minha cabeça latejar, eu tinha quase certeza de que não era apenas uma semelhança, sentia que era algo a mais, só havia uma explicação coerente pra tudo aquilo, eu e Paola éramos irmãs, irmãs gêmeas.