A Força De Uma Paixão.

Capítulo 5 Confirmação


Estava quente demais pra estar tão escuro, ou escuro demais pra estar tão quente, abri os olhos, havia duas meninas idênticas brincando na beira da piscina, elas não tinham mais que 4 anos, elas brincavam contentes, felizes, havia uma mulher com elas, não consegui ver seu rosto, o sol estava quente, a mulher brincava com as duas meninas, corria atrás delas, as crianças gritavam dizendo que ela não as pegava.

— Paulina, Paola volta aqui, eu vou pegar vocês. – a mulher gritou correndo atrás das crianças – Te peguei Paulina.

— Assim não vale mamãe.

Acordei assusta, a noite já havia chegado, o quarto estava escuro, não me lembro quando peguei no sono, acendi o abajur ao lado da cama, já se passava das oito da noite, eu havia dormido demais, me levantei ainda confusa com aquele sonho que parecia mais uma lembrança.

Depois de tomar banho desci ate o restaurante do hotel e novamente fiz minha refeição sozinha, a noite estava quente e o céu repleto de estrelas, decide caminhar um pouco próximo ao hotel, sentia um vazio enorme no peito, depois de passar aquela manhã com Lizete esse vazio havia sumido um pouco, mas agora era mais profundo, como se eu necessitasse algo que ainda não sabia explicar. Andei apenas alguns quarteirões próximo ao hotel, já estava bem tarde e não havia quase ninguém na rua, não queria me arriscar a me perder ou ser assaltada.

Assim que entrei novamente no meu quarto o telefone tocava, corri para atendê-lo.

— Alô. – minha voz suou curiosa, não tinha a mínima idéia de quem poderia ser.

— Paulina!? – aquela voz do outro lado fez meu coração acelerar.

— Sim...

— Desculpe incomodar, mas a Lizete insitiu em ligar, ela quer te dar um beijo de boa noite.

— Ah... – disse meio sem jeito, como aquela menininha podia estar tão apegada a mim se mal nos conhecíamos? – tudo bem, não é incomodo algum.

— Bom vou passar pra ela. – notei uma certa tensão em sua voz.

— Oi tia. – Lizete disse alegre fazendo meu coração inchar de felicidade.

— Oi minha linda. Como você esta?

— Estou bem tia, você já estava dormindo?

— Não meu amor, porque?

— Ah, é que o papai disse que não era hora pra te ligar, porque você poderia estar dormindo.

— A tia não estava dormindo não, pode me ligar à hora que quiser. – disse sem pensar.

— Boa noite tia. – ela disse e escutei um som de um beijo sendo mandado pra mim – Meu beijinho chegou ate você?

— Chegou sim meu amor, - disse enquanto meus olhos se enchiam de água – boa noite meu anjo, e um beijão bem grande pra você.

— Tchau tia. – notei o tom de felicidade na voz dela, e antes de pensar em responder Carlos Daniel falou ao telefone.

— Paulina!? – disse com a voz tímida.

— Sim? – a minha soou mais tímida ainda.

— Só pra te lembrar do nosso jantar amanhã.

— Claro... Eu... Vou te esperar. – bati a mão na testa, não queria ter dito aquilo.

— Bom, ate amanha então, boa noite senhorita.

— Boa noite. – foi o que consegui dizer.

Fiquei alguns minutos com o telefone na mão, não conhecia aquela sensação que crescia no meu peito. Depois de ter dormido a tarde inteira eu estava completamente sem sono, resolvi abrir a única bagagem que ainda restava, nela havia coisas mais pessoais, meu livros favoritos, fotos de minha família, alguns pequenos objetos que me faziam ter recordações de meus pais. Eu estava relutando em abri-la, mas decidi criar coragem, peguei a mala e coloquei sobre a cama, assim que abri vi meus livros, alguns de Willian Shaskepeare, e um de uma coletânea que meu pai havia me dado, o abri e li o primeiro poema.

Pergunta

Corpo minha casa

Meu cavalo meu cão de caça

O que farei quando caíres

Onde dormirei

Como cavalgarei

O que caçarei

Onde posso ir sem

Minha montaria

Ávida e veloz

Como saberei

No matagal adiante

Se há perigo ou riqueza

Quando o Corpo meu admirável

Esperto cão tiver morrido

Como será

Jazer no céu

Sem telhado ou porta

E vento em vez de olho

Com nuvem para viajar

Como hei de cavalgar?

May Swenson

Aquela poesia fez lágrimas cair pelo meu rosto, enquanto lia imaginava onde estaria meus pais e Luciano, nossa família era apenas eu e meus pais, eu não tinha tios, primos, avós, ninguém alem de meus pais, e quando os perdi, minha vida simplesmente desabou, mas assim que cheguei ao México e encontrei Lizete uma pequena luz apareceu no fim do meu túnel, se Paola fosse realmente minha irmã eu não estaria mais sozinha, teria uma irmã, sangue de meu sangue, uma família.

Continuei a explorar o que havia dentro da mala, logo um ursinho rosa fez um sorriso brotar em minha face, foi um presente de meu pai, passei horas revirando as coisas naquela mala, olhando as fotografias e sentindo a saudade aumentar em meu peito e fazendo lagrimas caírem.

Acordei às dez da manhã, na cama varias fotos espalhadas, acabei adormecendo entre elas, me levantei e recolhi tudo que havia tirado de dentro da mala colocando novamente nela, tomei um banho, o dia estava extremamente quente, apenas desci para almoçar e voltei para aquele quarto. Uma angustia enorme no peito e uma saudade imensa fez com que eu chorasse por um bom tempo, sentia que não suportaria mais aquela falta, aquela solidão que crescia em minha alma.

A tarde passou solitária e triste, como sempre nesses últimos meses, e quando percebi já eram quase sete da noite, me lembrei do encontro com Carlos Daniel, e aquela curiosidade sobre Paola e ate esperança de que fossemos irmãs me fez sair rapidamente da cama e entrar correndo no banheiro, tomei um banho rápido, abri o guarda roupas e peguei o primeiro vestido que encontrei, era bem simples, não era um encontro formal, e não me preocupei com isso.

Carlos Daniel chegou ao hotel pontualmente as oito, ele me esperava na recepção, ao descer as escadas o vi parado olhando o chão com uma mão no bolso, parecia tenso.

— Boa noite. – cumprimentei sem jeito, minha falta de socialização e aquelas sensações que ele me passava me deixava desconcertada.

— Boa noite Paulina, - ele disse me olhando – você esta linda.

Senti minha face corar, eu não estava linda, estava normal e com os olhos um pouco inchados de tanto que chorava ultimamente, passei a mão pelo meu pescoço, o fato é que eu estava muito nervosa com esse jantar.

— Podemos ir? – perguntou sorrindo.

— Cla... Claro. – gaguejei ao dizer.

— Bom, eu escolhi um restaurante próximo daqui, ele é bem aconchegante e tranqüilo.

— Tudo bem, eu não conheço nada na cidade, qualquer lugar esta bom.

Caminhamos lado a lado ate o carro dele que estava estacionado na porta do hotel, ele abriu a porta do carro pra mim e pegou minha mão me ajudando a entrar, novamente o choque de nossas peles fez um vibração percorrer pelo meu corpo, ele rodeou o carro e assim que entrou me lançou um sorriso, retribui timidamente.

— E então, o que esta achando da cidade? – perguntou assim que colocou o carro em movimento.

— Bom, na verdade ainda não conheci nada dela, apenas a praça que encontrei Lizete. – respondi sorrindo de volta.

— Mas não tem vontade de sair e explorar a cidade? – me perguntou surpreso – Temos lugares lindos e incríveis aqui.

— É eu sei, mas ultimamente não tenho tido muito animo pra sair. – disse com tristeza.

Ele me olhou por alguns segundos enquanto esperava o sinal abrir.

— Notei uma tristeza em seus olhos, - ele voltou a falar já com o carro em movimento – você veio sozinha para o México?

— Vim.

— Veio a trabalho? – perguntou e novamente me olhou esperando a minha resposta.

— Não, - forcei um sorriso com a resposta – eu vim para morar aqui, perdi meus pais recentemente e resolvi tentar recomeçar minha vida em outro país.

— Ah... Sinto muito.

— Tudo bem. – disse e olhei pela janela.

Seguimos o restante do caminho em silencio, ao chegar ao restaurante notei que havia falado a verdade, não era nada muito luxuoso, havia poucas pessoas nele, o que me deixou mais aliviada, era um local muito bonito e agradável.

Assim que entramos um garçom nos guiou ate uma mesa um pouco mais afastada, Carlos Daniel puxou a cadeira para eu sentar e sorri agradecendo.

Fizemos o pedido o qual rapidamente foi atendido, conversamos sobre vários assuntos sobre o México, Carlos Daniel conhecia bem a cultura de seu país e eu sempre gostei muito do México. Ele também me fazia perguntas sobre a Espanha. Aos poucos fui me sentindo mais a vontade com ele, Carlos Daniel era uma boa companhia.

— Bem Paulina, - ele disse enquanto saboreávamos uma taça de vinho – acho que devo te contar sobre Paola.

Olhei para ele rapidamente mostrando o quanto estava interessada nesse assunto, meus olhos se fixaram nos dele esperando que ele continuasse.

— Minha família conhece a família de Paola, os Montaner, há um bom tempo. – ele dizia com calma me olhando seriamente.

— Por favor, Carlos Daniel, peço que me conte tudo o que sabe sobre Paola. – disse um pouco nervosa, eu precisava ter a certeza de que éramos irmãs, o que era obvio, não havia justificativa para uma semelhança assim, ainda mais quando eu fora adotada.

— Bom Paulina, acho que vou te contar desde o começo, talvez fique mais claro. – ele disse e suspirou fundo – Bom, Paola tem uma irmã gêmea... - ele disse e meus olhos se arregalaram, ele notou minha reação e me olhou por um tempo procurando algum indicio meu para ele continuar.

— Continue Carlos Daniel.

— Como eu dizia, Paola tem uma irmã gêmea, mas essa irmã de Paola sumiu misteriosamente a mais ou menos 20 anos atrás, - ele disse e parou novamente observando minha reação, apesar de estar chocada com a história acenei com a cabeça para ele continuar – apesar de todas as investigações e procura nunca encontraram a menina, a família Montaner sofreu muito durante anos procurando qualquer noticia da filha, mas nunca encontraram nada.

Senti meus olhos encherem de água, eu não lembrava de nada disso, mas tinha certeza que essa menina era eu, eu e Paola éramos irmãs, eu sentia.

— Paola... minha irmã! – minha voz saiu entrecortada pela minha garganta que tentava impedir que aquele choro saísse.

— Quando vimos você na nossa casa, bem a primeiro momento pensei que fosse Paola, mas ver você ali, tão... idêntica a Paola, nos fez ter a certeza que você seja PAULINA MONTANER.

Olhei paralisada para ele, estava sem reação, eu tentava inutilmente lembrar de qualquer coisa do meu passado mas não conseguia, sempre tinha aquela barreira que me impedia.

— Paulina, - ele disse pegando minha mão – você esta sentindo alguma coisa? Acho que não devia ter falado assim tão repentinamente que você e Paola possam ser irmãs...

— Não, - eu disse enquanto sentia que algumas lágrimas caiam pelo meu rosto – eu já imaginava que Paola fosse minha irmã, não havia outra explicação para tanta semelhança.

— Mas, você se lembra do dia em que sumiu? – ele perguntou esperançoso, dava pra ver que o meu desaparecimento interessava muito a ele – Pelo o que sei você tinha cinco anos quando desapareceu, talvez se lembre de alguma coisa.

— Não, - disse com a voz baixa – não me lembro de nada, eu não sei o que me aconteceu antes dos cinco anos, só me lembro de quando meus pais me adotaram.

— Adotada?

— Sim, meus pais me adotaram quando eu tinha quase seis anos, eu estava em um orfanato em Madri, eles foram tudo na minha vida.

— Mas como você foi parar em Madri? – perguntou curioso – Você desapareceu aqui mesmo, nessa cidade.

— Aqui no México?

— Bom foi, mas você disse que não se lembra de nada do seu passado, - ele disse intrigado – e seu nome? Você se chama Paulina, como tem o mesmo nome de antes?

— Ah, por isso aqui, – disse pegando na correntinha em meu pescoço e mostrando a ele – eu estava com essa correntinha quando meus pais me adotaram.

— Você foi noticia durante vários anos aqui no México. – ele disse afagando minha mão que estava sobre a dele, olhei um pouco envergonhada pelo gesto e puxei minha mão delicadamente para trás limpando os vestígios de lagrimas de meu rosto.

— Bom eu... Não sei o que pensar, quando vi a foto de Paola, pensei que ela também pudesse ter sido adotada como eu, mas agora eu descobri que na verdade eu fui raptada ou sei lá. - eu disse olhando para o vazio, sempre havia pensado que meus pais biológicos houvessem morrido ou talvez não me quisessem.

— Paulina, - ele disse chamando minha atenção de volta para ele e notei sua expressão séria – tem mais uma coisa que tenho que te falar.

— O que? – perguntei imaginando o que mais poderia ser.