A Exilada

Espírito Noxiano


Seria um cerco. Aquilo ficou mais que evidente pela forma como os noxianos se comportaram. Grandes catapultas armadas ao redor de Demácia, controlada por soldados escravos. Torres de cerco altíssimas também eram rapidamente construídas. Tudo aquilo assustava Riven. Embora não tanto quanto o gigante ariete que se aproximava lentamente do portão principal. O trabalho dos arqueiros comandados por Quinn - muito bem feito, diga-se de passagem - atrasava o objeto consideravelmente, mas Riven sabia que, em algum momento, ele estaria exatamente onde precisava estar, forçando os portões da cidade estratificada.

A mulher assistia tudo isso do topo da muralha. Yasuo estava ao seu lado direito, também assistindo. Atrás, sua unidade. Riven virou-se para olhá-los. Eram os comandados de Fiora. Cada um deles.

Riven não sabia como eles se sentiam, com relação a si. Afinal ela era um ex-noxiana, e não havia sido capaz de derrotar Shyvana no combate singular. Ao mesmo tempo sabia que metade daqueles homens considerava Fiora uma filha e a outra metade sonhava levá-la para a cama. Mas todos a amavam incondicionalmente, e confiavam nela. "Vocês devem obedecer Riven, e dar a vida por ela", foram as palavras de Fiora à Gunnar, um dos sub capitães.

Foi o próprio Gunnar quem quebrou o silêncio:

— O que eles vão fazer quando o ariete chegar... Comandante?

Comandante.

Fazia tempo que Riven não era chamada daquele jeito. E, sinceramente, não sentiu nenhuma saudade da palavra.

— Eles estão em maior número. - Riven disse, olhando o exército massivo que se espalhava pela campina, desaparecendo à distância. - Um homem inteligente montaria um certo longo e nos mataria de fome. - Ela disse, identificando o comandante noxiano. - Darius não é um homem inteligente. Convivi muito tempo com ele. Sabe qual era sua frase favorita, companheiros? - Ela perguntou, olhando para os homens.

Não houve uma resposta.

Riven somente riu, e prosseguiu:

— Somente eu posso nos levar a vitória. E ele vai tentar... - Sussurrou, voltando a olhar para o campo. - Mantenham suas espadas afiadas, companheiros. Porque quando aquele ariete chegar e o nosso portão cair... - Ela sussurrou, mordendo o lábio inferior.

Riven se lembrava perfeitamente da primeira vez que havia erguido a espada rúnica em combate por Noxus. Quando era um simples soldado, como todos os outros. Noxus não perdoava. Noxus não tinha misericórdia. Noxus não fazia prisioneiros.

Riven fechou os olhos e tentou bloquear aqueles pensamentos.

******

Levou a noite toda quando eles finalmente conseguiram.

Garen estava suado, de nervosismo e excitação, como sempre acontecia na véspera de uma batalha. Quando a primeira gota de sangue fosse derramada, entretanto, ele voltaria ao seu estado natural de calma absoluta, que o guiaria até o fim do confronto. No fundo, esperava aquilo há muito temo. Uma chance de definitiva de cruzar armas com Noxus em uma batalha total.

Quinn tinha os dedos doendo. Havia tirado flechas demais, assim como todo o resto de seu pelotão. Agora descansava um pouco, enquanto assistia o ariete se chocando contra o portão principal. Valor pousou em seu ombro, completamente silencioso. - Quase lá, Val... Quase lá.

Lux usava toda sua magia para tentar manter o portão coeso. Mas era difícil. A cada novo golpe sentia sua concentração vacilando. Ela percebeu, naquele momento, que sua cidade amada realmente seria invadida.

Fiora podia ouvir o som das pancadas. Uma a uma. Sentiu uma vontade incontrolável de se levantar. Mas não podia. Pensou em Lirael, naquele momento. Em Nidalee. Em Vayne. O Hospital estava completamente silencioso, naquele momento, os médicos todos atentos ao redor da possível batalha, prontos para socorrer os primeiros feridos. Fiora também chorou em silêncio.

Vayne tinha olheiras. Fazia mais de 24 horas que não dormia. E o sono era algo que estava tão distante de si quanto possível. Ela se ajoelhou e fez uma prece silenciosa. Pediu força para os deuses da noite.

Yasuo e Riven deram um passo a frente. Eles eram os dois primeiros guerreiros, logo após o portão. Com todo o exército demaciano em suas costas. Naquela momento, ambos, inexplicavelmente, se sentiram completamente parte daquele lugar.

— Riven... - O moreno sussurrou, olhando para ela.

A loira se virou para encará-lo. Seu semblante era duro. Não era o tipo de mulher que gostava de ser desconcentrada, à véspera de um combate.

— Quando a luta começar... - Ele desviou o olhar, voltando a fitar o portão. - Não se afaste muito de mim.

Ela assentiu, baixinho, embora preferisse esquecer aquilo. Yasuo a havia salvado, naquele mesmo dia. Mas Riven era uma guerreira incrível. Não queria ser tratada como uma espécie de bebezinha vulnerável.

— Apenas se concentre na batalha, Yasuo. Vão haver perdas de ambos os lados. - Ela sussurrou, observando as primeiras rachaduras no portão. O som rouco ia entrando por seu ouvido, lentamente. - Me ajude a garantir que as deles serão maiores do que as nossas.

Yasuo assentiu e suspirou.

— Boa sorte, Riven. - Ele sacou a espada, e deu um bom gole em sua garrafa de sakê. Derrubou um pouco da bebida por sobre a lâmina, antes de voltar a prender a garrafa em seu cinto.

— Boa sorte. - Ela respondeu, seca, e a Lâmina do Exílio atingiu o tamanho máximo em suas mãos.

*******

O primeiro a entrar foi Sion. O gigante arremeteu contra as linhas demacianas com fúria, correndo como uma espécie de trem desgovernado. Uma aura rubra o envolvia e Riven não teve escolha a não ser pular para o lado para desviar. O colosso arremeteu contra o organizado exército de Jarvan, forçando-os a se dividir, e esmagando quem era lento demais ou ficava pelo caminho.

"Sion!", Riven não tinha dúvidas de que era ela. "Mas você está morto!"

Não teve muito tempo para se preocupar com aquilo. As chances de Demácia já eram pequenas, protegendo o portão. Mas agora? Haviam se tornado mínimas. O exército havia sido forçado a se afastar, para não sucumbir à investida da linha de frente noxiana. E como consequência, um flanco imenso foi exposto. O exército de Noxus atacou por ali.

— Yasuo! - Riven gritou, sendo empurrada pela multidão de gente para um lado oposto que o de seu companheiro. Naquele momento, percebeu que entendia o sentimento de Yasuo.

Riven havia se tornado uma combatente invejável por jamais sentir qualquer dúvida ou receio durante o combate. Mas naquele momento não era somente ela. Yasuo era parte de si. Não podia perdê-lo. E com esse incentivo, muito mais poderoso do que a calma total, ela se lançou em combate.

A Lâmina do Exílio subiu e descia em arcos precisos, com angulações que desafiavam as leis da física. A cada novo corte, dois ou três guerreiros inimigos eram mortos na hora. A loira havia entrado em uma espécie de frenesi.

Quando os olhos deles se cruzaram... O infernou pareceu congelar.

Darius fez uma cara de ódio.

— Então é verdade!? - Ele ergueu o machado de um cadáver demaciano. - Você se atreveu a se juntar a essa escória?

— Não é a melhor nação do mundo. - Riven respondeu, preparando a Lâmina do Exílio. - Mas também... não faço mais parte da pior.

Darius não toleraria insultos à Noxus. Não de alguém como Riven. Então avançou. O machado desceu com violência, sendo aparado pela espada. Os olhos dos duelistas se cruzaram mais uma vez. Ódio nos de Darius, desafio nos de Riven. Ela odiava aquele homem, acima de tudo. Ele era a personificação do espírito noxiano. E a loira sabia que, uma vez morto, a força de seu exército, de modo geral, cairia. Era sua obrigação fazer aquilo.

Dois golpes. Três. Darius não atacava com perícia. Mas os golpes eram extremamente fortes e ameaçavam arrancar a lâmina das mãos de Riven. Ela entendeu naquele momento que o combate seria decidido na força. Os dois usavam armas pesadas e de pouca mobilidade. Era inútil tentar adiar o inevitável.

— Prepare-se, Darius... Isso acaba agora. - Ela disse, reunindo toda a energia rúnica em sua espada.

— Você não sabe o que te espera, boneca. - Ele riu, saltando. Riven conhecia a técnica. Era a habilidade máxima de Darius. Ela não se lembrava do nome, mas tinha uma boa noção, no fundo de sua mente, de quanta destruição era capaz de causar.

Mas não tinha escolha.

Quando a Lâmina do Exílio estava completamente energizada, subiu, em um golpe poderoso de baixo para cima. Até se chocar com o machado.

O encontro das armas fez uma explosão.

— Ahhh!- Riven gemeu, enquanto sentia a pressão absoluta sendo colocada por Darius.

— Está vendo..? Cadela! Você não é páreo para mim... - O machado ia ganhando terreno, se aproximando de Riven cada vez mais.

Ela mordeu o lábio inferior, tentando controlar a respiração. A energia vermelha que saia da arma dele era potente demais, e subjugava completamente os feixes verdes, da sua.

— Morra, Riven! - O machado ia se aproximando cada vez mais do pescoço dela.

Riven entendeu naquele momento que ela iria morrer. Ela iria mesmo morrer.

A menos que...

Ela engoliu em seco. Precisava tentar. Era agora ou nunca.

Quando percebeu que a força de Darius iria finalmente lhe superar, ativou a Runa que regulava o tamanha do espada. A Lâmina do Exílio desapareceu, imediatamente. Ao menos, mais da metade dela, restando apenas a pequena base. O machado de Darius, então, perdeu o contato com qualquer superfície, e desceu rapidamente.

Mas, sem a pressão de atacante, Riven estava livre para se mover.

Ela conseguiu desviar. Podia sentir a lâmina passando centímetros de sua pele. No vazio.

O machado de Darius se chocou com violência contra o chão.

— Morra! - A espada de Riven voltou a crescer durante seu giro de corpo. O mesmo movimento que ela fez para desviar da Guilhotina, com um giro de 360º sobre seu próprio corpo, foi o responsável por finalizar o homem. "Gulhotina! Sim! Era esse o nome técnica." Ela quase riu, ao decapitar o pescoço de Darius.

Todos olharam ao redor, demacianos ou noxianos. Os primeiros, com um brilho de admiração no olhar, os seguintes, com surpresa e incredulidade.

Riven ergueu a espada ensanguentada e deu um grito. Havia matado o espírito de Noxus. Talvez eles realmente tivessem uma chance.