A tela do computador iluminava o quarto escuro.

Mergulhado em seu próprio mundo, lá estava ela. Deslizando seus dedos pelas teclas ligeiramente, deixando suas mãos escreverem o que sua mente pensava.

Transcrevendo suas ideias e seus devaneios para uma página em branco no computador.

Várias coisas a fazer, mas era apenas ela e suas palavras naquele momento.

Não ligava para festas, roupas, joias e pessoas. Interessava-se apenas por seus textos.

Precisava deles para viver. Escrevia para poder esquecer o mundo, as tragédias e as desilusões. Acordada á noite toda, ela sorria enquanto escrevia.

A pressão do dia se esvaía assim que se sentava em frente ao computador e teclava, palavra por palavra, até formar uma frase. E esta, que se transformaria em um texto mais tarde, lhe dava a alegria de que ela precisava.

Pegou o copo de vinho e tomou um gole, voltando a escrever novamente. Fazia bem para ela, escrever, beber seu vinho.

Mesmo sendo proibido ela tomar álcool com tão pouca idade. Sua mãe não se importaria, nem notaria o sumiço da garrafa de vidro.

Finalmente, colocando um ponto final, acabou.

Espreguiçou-se em seu lugar e releu o documento. Seu sorriso foi se abrindo e transformando-se num bocejo. Estava tarde e ela precisava descansar.

Necessitava de uma boa e longa noite de sono para se recompor e continuar sua escrita durante o dia. Não podia correr o risco de sua mãe acordar e vê-la ali, toda molhada, banhada em água da chuva.

Correu até o banheiro na ponta dos pés e entrou sem fazer barulho. Trancou a porta e jogou a roupa encharcada na pia.

Soltou os cabelos negros e deixou-os pingar no chão gelado. As gotas que caíam explodiam ao entrar em contato com o chão. Eram suicidas, se arremessavam sem paraquedas.

Cambaleou e começou a rir de si mesma e seu estado bêbado.

Ligou o chuveiro e deixou a água morna lhe limpar. Banhou-se devagar, sentindo cada músculo relaxar ao sentir o quente.

Suspirou e se sentiu relaxada.

Saiu após alguns minutos, embrulhada em uma toalha vermelha e velha. Do mesmo jeito que chegou, andou nas pontas dos pés até seu quarto.

Entrou nele e trancou a porta para não correr o risco de ser descoberta.

Já era a terceira noite que saía escondida, sem a permissão de seus pais.

Saía para sentir a chuva, para esquecer-se de seus problemas. Saía para descobrir a cidade e ver as luzes neon brilharem em todos os lugares.

Entrava de bar em bar, observando as pessoas. Vendo-as recebendo e oferecendo amor por apenas uma noite.

Algo superficial que todos apreciavam.

Imaginava o que as induzia até ali. O que as fazia querer se sentir desejada por um tempo para depois voltar ás suas vidas vazias.

Voltava tarde, ás escondias. Esgueirava-se pela penumbra que era o apartamento e passava horas em frente ao computador, escrevendo sobre o que viu. Sobre as pessoas, as histórias, as bebedeiras.

Então adormecia, pensando em como seria a próxima noite.