A Dama de Ferro e a Garota de Aço

Capítulo 4 - Esquadrão Açor


— Kara —

Não importava o quanto eu tentasse minha cabeça sempre voltava para Lena, eu não podia chamar o que estava sentindo de atração, preferia dar o nome de curiosidade. E de alguma forma, eu sabia que Kate Kane estar na cidade e Batwoman também não era um coincidência.

— Winn... — Me esgueirei até a mesa do meu fiel escudeiro, ele poderia me ajudar.

— Eu conheço essa expressão, você vai me pedir algo que vai colocar nós dois em problemas. — Assenti em sinal de afirmativo. Winn olhou em volta, como um cachorrinho assustado.

— Por favor, Winn. — Me debrucei sobre sua mesa.

— Tudo bem, o que você quer? — Ele começou a sussurrar.

— Eu preciso que você pesquise sobre os anos de Lena no exército. — A expressão de Winn foi de medo para curiosidade em alguns segundos.

Seus dedos mexiam hábeis no teclado, alguns minutos de pesquisa e Winn parecia confuso. Ele não encontrava nada a respeito do que pedi em lugar algum. O vi entrar em um arquivo que só era usado em casos extremos.

— Isso é estranho... — Ele olhou para mim e apontou para o monitor. Existia uma foto de Lena em uma foto oficial, mas todo o arquivo estava censurado. Apenas era visível o sobrenome Kane, Luthor e Sawyer. — Aparentemente elas eram conhecidas como Esquadrão Açor ou Godkiller — Olhei novamente para a foto. Winn olhou para a tela. — Aparentemente elas lidavam com ameaças vindas do Olimpo. — Meus olhos e de Winn se arregalaram ao mesmo tempo, o que aquilo queria dizer?

— Isso explica o sumiço de Lena entre os... Quer dizer até agora. Porque até três anos atrás não existiam vestígios dela. — Winn estalou os dedos em minha frente. — Kara, você está bem? — Balancei a cabeça em afirmativo, mas não eu não estava bem. Quem era Lena Luthor, afinal?

Meu dia acabou por se tornar um completo desastre. National City estava um caos. Os números de violência subiram de forma incomum, pessoas consideradas pacificas estavam cometendo crimes, desde delitos graves até crimes de maior impacto.

— Supergirl, você pode me ouvir? Essa é uma linha segura. Repito, essa é uma linha segura. — A voz de Winn ecoou em minha cabeça.

— Agente Schott?

— Depois de vasculhar um pouco, eu descobri que o Esquadrão Açor foi reativado ontem. E adivinha? Elas estão em National City nesse momento em um depósito Wayne no centro industrial. — Winn estava me dando à chance de ter as respostas que eu necessitava.

— Entendido. — Desliguei o comunicador e voei em direção à localização.

Eu sabia as perguntas que tinha, mas não sabia se as respostas que encontraria seriam agradáveis. Eu confiava em Lena, confiava plenamente, no entanto algo começava desmoronar e uma duvida imensa surgia dentro de mim. Cheguei até o local que me foi indicado. Qual seria a ligação das empresas Wayne com aquele esquadrão? Posicionei-me, era possível ver Lena e Batwoman, aparentemente minha visitante não havia deixado à cidade.

— Quem vai fazer as honras? — Maggie apontou para um homem preso em uma cadeira.

— É sua especialidade, Lena. — A morcega virou-se para Lena. Eu deveria me intrometer? Não, eu gostaria de saber mais.

— Aqui vamos nós... — Lena pronunciou as palavras com cansaço na voz.

Na medida em que ela se aproximava do homem ele se encolhia na cadeira, era como se estivesse diante da própria morte. Lena parou a poucos passos de onde o prisioneiro estava. Ela mexeu os ombros alongando-se. Maggie e Batwoman deram alguns passos para trás. Vi olhos de Lena ganharem uma entonação negra. Com um único movimento de mão ela fez o homem vir até ela, deixando cordas e cadeiras para trás.

— Eu vou perguntar uma vez, onde está Ares? — Suas mãos envolviam o pescoço do homem com força, ela tinha dificuldades para se controlar. Era visível. Eu reconhecia alguém com força descomunal que enfrentava dificuldades.

— Você não sabe? Que péssima amazona você é. — Lena revirou os olhos. O homem foi arremessado contra a parede.

— Mostre-me sua verdadeira aparência. — Ela apontou o punho serrado em direção ao homem e ele apenas o fez. Ao se revelar não era tão homem assim, era uma criatura de aparência um tanto assustadora. — Olá demônio. — Mais uma vez movendo as mãos ela arremessou a criatura contra a parede. Mas dessa vez ela o manteve lá pressionado contra a parede. O que era Lena?

— Eu não sei onde ele está... — A criatura sussurrou.

— Sim, você sabe. — Ela gritou com ele. Em suas mãos surgiu uma espécie de lança. Sua ponta era um verde brilhante, tão brilhante que chegou a me ofuscar. Ela fincou a arma na mão da criatura. O ouvi gritar de forma estridente.

— Tudo bem, tudo bem... Da última vez que soube algo, ele estava a caminho da Grécia. A procura de velhos amigos. — Ele falava desesperadamente.

— Viu? Não foi tão difícil. — Lena falou com uma voz pacifica que chegou a me assustar.

— Você vai me deixar ir?

— Claro! — Ela retirou a lança e o deixou cair ao chão. Em seguida vi a criatura correr. Lena manuseava a lança em suas mãos. Ela o olhava com um caçador aprecia a caça antes de abatela. A lança partiu de suas mãos e o acertou nas costas o atravessando por completo. — Eu não gosto quando eles morrem tristes. — Ela falou de forma tranquila enquanto olhava para suas companheiras. A lança voltou a suas mãos.

— Você pode sair agora, Barbie kriptoniana. — Batwoman falou. Como ela me notou? Apresentei-me. Lena largou a lança e seus olhos voltaram ao tom natural.

— Merda! — Maggie sussurrou. Ela sabia que estava encrencada com Alex.

— O que isso significa? — Indaguei olhando para Lena.

— Isso não faz parte da sua jurisdição. Você não deveria estar aqui, dê meia volta, Supergirl. — Ela não me olhava nos olhos. Andei em direção a ela. — O que é você? — Fiz a pergunta tentando não ofendê-la.

— Como eu disse, isso está além da sua jurisdição. — Ela tocou meu braço por míseros instantes e senti como se meu corpo inteiro fosse tomado por kriptonita.

— Lena, basta! — Maggie a puxou pelo braço.

— Por favor, fique de fora. — Batwoman falou enquanto Maggie conduzia Lena para longe. — Ela não quis te machucar. Em certos momento é difícil manter o controle. — A morcega parecia perceber a ligação que existia entre nós. Assenti.

As três se foram me deixando para trás. Acabei por ficar naquele galpão até a noite cair. Quando ela chegou me rendi ao impulso de ir até Lena. Fui até o apartamento de Lena, eu precisava confronta-la. Fiquei de pé no corredor de seu prédio a esperando entrar. Quando a figura esguia saiu do elevador cambaleando eu estremeci por dentro. Ela abriu a porta sem nem mesmo olhar para mim. Conclui que deixa-la aberta, era um convite para minha entrada.

— Você é uma general de alta patente e trabalha para o governo em trabalhos que ninguém mais gostaria de fazer.

— Uau! Essas informações já estão disponíveis no Google? — Seu tom foi altamente rude. Ela jogou sua bolsa no sofá e ficou de pé me encarando. Estava difícil para ela se manter de pé, pois a vi segurar-se no sofá.

— O que foi isso entre nós? Você não me deixou te conhecer, nós somos praticamente estranhas, Lena. — Ela balançou os braços no ar.

— O que você esperava? Uma apresentação formal? Olá, me chamo Lena Luthor ou Nix, se preferir, é como as amazonas me chamam. Eu sou uma bastarda nascida na Ilha Paraíso fruto de uma romance entre uma amazona e um humano. — Ela desequilibrou-se um pouco. — Ah! E eu sou uma ótima assassina, você quer meu cartão? — Aquela era a Lena que ela tentava esconder a todo custo. A real Lena era triste e atormentada.

— Você está bem? — Lena apenas fez uma careta, como se não se importasse.

— A única pessoa que me chamava de Nix era minha mãe, as outras apenas me chamavam de bastarda. — Ela cerrou seu punho esquerdo. — Depois que ela foi assassinada por um morador do Olimpo, notaram meu dom para matar deuses. Eu tinha doze anos, quando rastreei o assassino de minha mãe e o matei com minhas próprias mãos. Em resumo, general é só uma palavra chique para assassina. — Lena me olhava em misto de raiva e confusão.

— Luthor’s realmente não são bons com a verdade. — A ataquei por conta de uma raiva momentânea.

— Diz à garota que se esconde atrás de um emprego medíocre. — Ela retrucou imediatamente

— Eu só estou surpresa com o seu dom natural de mentir e matar — Acabei por gritar com ela.

— Eu cresci mentindo e matando, Kara. Não queria, eu precisei. Por isso sou ótima nisso. É uma habilidade que eu trocaria com prazer por uma vida normal. — Ela aproximou-se de mim. Lena não queria que eu a visse pelo que ela era, eu sabia disso.

— Eu não preciso que você seja normal, eu preciso que você seja sincera. Assim como eu vou ser agora. — Abrir os dois primeiros botões de minha camiseta. Lena afastou-se. Assim que “S” em meu peito foi revelado ela voltou a aproximar-se.

— Eu sabia. — Suas duas mãos pousaram sobre o símbolo. Meus óculos foram retirados por ela.

— Meu nome é Kara Zor-... — Lena me interrompeu.

— Eu não quero saber do seu maldito nome. — A senti segurar meu rosto e em seguida fui beijada. Um beijo avassalador, como eu nunca tinha ganhado antes. Logo meu corpo estava sendo encostado contra a parede e meu casaco sendo arrancado.

Comecei a abrir os botões de sua blusa instintivamente, pareciam infinitos botões naquele momento. Quando finalmente cheguei ao ultimo pude passar minhas mãos por suas costas, eu sentia cada cicatriz e cada pedaço de pele livre delas. Puxei seu corpo para mais junto ao meu possível. Nosso beijo se tornava cada vez mais feroz.

— Espera... — Lena empurrou-me com as duas mãos de repente. Achei por um minuto que a havia a machucado. Ela estava ofegante e descabelada.

— O quê? Eu machuquei você? — Segurei seu rosto.

— Eu não, eu não quero que seja assim com você. Desculpe-me. — Seus braços foram envoltos em seu corpo.

— Assim como? — Indaguei confusa.

— Dessa forma passional e desajeitada. Eu quero poder te pagar um jantar, te levar a minha casa, eu quero conhecer você, Kara. — Segurei sua mão. Ela caminhou até mim e abraçou-me.

— Pague-me um jantar amanhã, que tal? — Seus braços que me envolviam em um abraço me apertaram levemente. — O sorriso em seu rosto sumiu em um instante.

— Eu não posso. — Ela afastou-se de mim, como se estivesse lembrando-se de algo letal.

— O quê? — Indaguei confusa.

— É melhor você ir, por favor. — Ela andou até a porta rapidamente. — Por favor... — Ela sussurrou uma segunda vez.

Sai pela porta sem ao menos dizer uma palavra. O que diabos tinha acabado de acontecer? Lena Luthor era um quebra-cabeça indecifrável. Mas após aquele beijo eu tinha certeza de que um dia eu iria soluciona-lo.