A Dama de Ferro e a Garota de Aço

Capítulo 3 - A Visitante de Gotham


Lena

Katherine era a representação de uma época da minha vida que eu queria esquecer. Aquele presságio que apenas trás dor, duvida e traição. Mas apesar disso tudo, ela também esteve em momentos críticos, momentos em que tive que lutar pela minha sanidade.

— Você vai me dizer o que tem de errado? — Indaguei de forma mais ríspida do que o necessário, mas ela causava aquilo em mim.

— Nós temos um problema com as amazonas. — Apoiei meus cotovelos em minha mesa e levei minhas mãos à cabeça. Aquilo só podia ser uma piada.

— Você sabe que eu não posso voltar a Themyscira, nem agora e nem nunca. — Respondi a Kate ainda com minhas mãos na cabeça.

— Sua mãe era uma amazona e você faz tanto por elas quanto Diana. Aliás, nós fizemos. — Eu havia acabado de me estabelecer em National City e começar uma rotina normal. Aparentemente, ela seria tirada de mim.

— Minha mãe era uma amazona, mas uma amazona que foi banida. Esqueceu? Lá eu sou tão bastarda quanto aqui. — Várias lembranças vieram a minha cabeça naquele momento. Eu vivia em uma corda bamba. Nem Luthor e nem amazona, eu nunca seria o suficiente para nenhuma das partes.

— Eu vou tentar especificar o problema. Ares escapou. Nós o prendemos uma vez e vamos prendê-lo de novo. — Era pior do que eu imaginava, nós realmente estávamos e uma situação terrível.

— Merda! Eu odeio minha família. — Eu precisaria de mais de um drink para digerir aquilo.

— As amazonas não irão se envolver, ou seja isso fica conosco. — Kate me olhava determinada, mas ela estava aterrorizada. Ela lembrava o quanto havíamos perdido da última vez que enfrentamos Ares.

— Ótimo, agora só precisamos de Maggie.

— Ela está com um convidado nosso nesse endereço. Apareça lá amanhã. Você é a melhor de nós quando se trata de interrogatório. — Kate deslizou o papel que continha o endereço do local pela mesa.

— Aonde você vai? — Sua mão estava prestes a tocar a maçaneta quando perguntei.

— Para um hotel.

— Você pode ficar na minha casa. — Sugeri.

— Não, você sabe que não funcionaria. — Seu tom de voz foi passivo.

— Katherine? — Ela virou-se devagar.

— Comporte-se na sua estádia em National City. — A adverti com cautela.

— Eu não posso prometer. — Ela sorriu e saiu em seguida.

Não importava o quanto eu corresse, meu passado sempre me alcaçaria. Fosse na forma de uma bela ruiva ou de um Deus genocida.

Kara

Sair para sobrevoar a cidade sempre me ajudava, mas não aquela noite. Dois ou três bandidos presos eu havia conseguido. No entanto relaxar não. Voltei para meu apartamento. Ao chegar lá senti algo fora do lugar, existia um elemento a mais ali. Atentei meus sentidos, mas não conseguia ouvir nada.

— Kara Zor-El ou você prefere Danvers? — O susto da situação me fez ficar paralisada. Eu conhecia aquele morcego estampado naquele uniforme.

— Quem é você? E porque você está na minha cozinha tomando meu vinho favorito? — Andei até a mulher mascarada e tomei a garrafa de sua mão.

— Ei, eu vim em paz. Eu estava começando a ficar preocupada e me perguntar quando você iria aparecer. — Ela tomou a garrafa de volta. Só uma palavra podia resumir a presença de Batwoman ali: problema.

— Seja qual for sua oferta, eu não tenho interesse. Agora é melhor você ir. — A peguei pelo braço. Ela livrou de mim como se minha força não significasse nada, como ela fez aquilo? Ela era mais forte que um humano normal, bem mais forte.

— Oferta? Que tipo de esquisita você pensa que eu sou?! — A mulher sentou-se no meu balcão.

— Como você conseguiu se desvencilhar de mim? Achei que você fosse uma humana normal, como o Batman. — Um sorriso surgiu em sua boca. Apenas uma linha.

— Você tem um conceito engraçado de normal. — Ela deu um gole no vinho diretamente da garrafa.

— Isto não é nada engraçado. Como você se atreve a invadir minha casa desse jeito? — Não pensei duas vezes antes de agarra-la e voar apartamento a fora.

— Sério? Você faz alguma ideia de quanto janelas custam? — Eu a segurava pelo pescoço, ela não parecia aterrorizada por estar sendo segura a metros do chão.

— Sua culpa por ter entrada sem ser convidada. — Talvez eu estivesse sendo um pouco agressiva, mas tudo que eu menos precisava era uma lunática associada ao Batman me perseguindo.

— Eu queria conversar sensatamente, mas se você insiste em fazer do jeito difícil. — Batwoman era rápido e tinha algo que outros adversários meus não tinham: conhecimento de combate. Ele conseguiu livrar-se da minha mão em seu pescoço e caiu pelos ares. Ela era maluca ou algo próximo. Voei em sua direção para pega-la, mas ela foi ágil o bastante Para conseguir uma forma de cair em segurança no telhado de um prédio. A vi sacar uma arma, aquilo não me machucaria. Pensamento errado. O disparo da arma contra mim me fez sentir como se meu corpo inteiro estivesse queimando.

— Eu odeio essa família morcego. — Resmunguei pousando no prédio.

— Agora que tenho sua atenção... — Ela baixou sua arma e a guardou.

— Na verdade aquilo doeu. — Eu ainda podia sentir o calor que o disparo causou ao chegar a meu corpo.

— O que é precisamente pelo que eu vim aqui. Alguém tem fornecido armas alienígenas a gangues de Gotham. Eu confisquei essa belezinha a cinco quadras daqui. — Ela girou a arma em seus dedos. — Seu primo bonitão acabou com um comércio alienígena de armas não muito atrás, talvez eles tenham voltado. — A mulher a bordo do uniforme preto andou até a borda do prédio. — Então, a não ser que você queira uma destas nas mãos de cada trombadinha da cidade. Que tal me ajudar a acabar com a fonte deles? — Eu não conhecia o modo de abordagem de Batwoman, mas conhecia muito bem o de Batman e eu não o aprovava.

— Era só isso? — Você não podia ter se aproximado de uma maneira menos ameaçadora? — Ela deu de ombros e voltou a mirar a cidade.

— Eu tenho uma reputação a zelar.

— Porque pedir ajuda para mim e não para o Batman? — Indaguei curiosa.

— Batman não é a prova de balas. E eu não o quero me dando ordens como se fosse meu irmão mais velho.

— Certo. E isto não é para esconder do Batman, o que está deixando você tão forte? — Eu não sabia dizer o quê, mas havia alguma coisa estranha na corrente sanguínea de Batwoman.

— Pensei que eu deveria ser a detetive aqui. — Ela se colocou de pé a beirada do prédio e saltou. — Vamos lá, Supergirl. Hora do show. — Todos os integrantes do time Batman tinham um parafuso a menos, eu podia dizer com certeza agora.

Ela tinha me levado exatamente para o local de encontro da gangue. Fiquei observando suas ações. Aquela me parecia uma queda muito alta, até mesmo para alguém treinada pelo Batman. O que ela estava planejando?

— Aquela é a Batwoman? — Um dos capangas gritou.

— Boa noite, seus idiotas. Eu agradeceria muito se vocês parassem de contrabandear armas alienígenas até Gotham. — Ela era rápida e também elegante. — Você vai ficar ai só olhando. Faça alguma coisa sua alienígena preguiçosa. — Ela já tinha nocauteado três homens, e na verdade eu estava gostando de assistir.

— Você me parece estar indo muito bem sozinha. — Usei minha visão de calor para parar dois dos capangas que estavam prestes a fugir. — Não tão rápido, rapazes. Nós queremos conversas com vocês. — Os dois caíram ao chão. Batwoman andou até um deles e o segurou pelo pescoço contra a parede.

— Você tem cinco segundos para me dizer onde comprou aquelas armas, ou eu vou matar você! — Ela apertava o pescoço do homem com força, não precisaria muito para mata-lo.

— Eu não tenho medo de você. Vocês do time do morcego não matam. — O homem se esforçou para proferir as palavras. E foram as erradas. Ela a jogou a distancia como se ele fosse um saco de lixo.

— O Batman não mata, já eu. Vamos lá. Quatro, três, dois... — Ela andava em direção ao homem enquanto contava. Eu estava prestes a interromper.

— Espera! É um armazém na zona morta da cidade. Antigo arsenal da marinha. Eu vou mostrar pra vocês, tá bom?! Eu vou mostrar! — Ela era assustadora. Se o Batman amedronta, ela faz algo similar ou superior.

Batwoman empurrou o homem e fez sinal para que ele mostrasse o caminho. Não estávamos tão longe da zona morta da cidade, chegaríamos lá em menos de quinze minutos.

— Você realmente pensou que eu iria cortar a garganta dele, não foi? — Ela me olhou discretamente.

— Eu pude ouvir seu coração. Você não estava mentindo quando ameaçou ele.

— Foi por isso que ele acreditou em mim. — Ela respondeu como se aquilo fizesse algum sentindo.

— Você é imprudente, um dia irá matar alguém por acidente.

— Se eu fizer não será um acidente. — Eu me perguntava como Kal conseguia trabalhar com esse tipo de sociopata. Ela era incapaz de sentir o mínimo de empatia.

— Sabe, o Superman tem o bom senso de deixar o Batman fazer o lance dele, você podia seguir esse exemplo.

— Eu não sou meu primo. — Falei mais com certa irritação na voz

Permanecemos em silencio o restante do caminho inteiro, ela não fazia a menor questão de manter uma conversa, nem que fosse a mais estupida possível.

— Chegamos. Você quer fazer as honras. — Ela apontou para os homens que descarregavam caixotes com armas.

— Todo mundo! Joguem suas armas no chão e eu prometo que não sairão machucado. — Eles não gostaram da minha proposta. Fui atingida por vários projeteis no segundo em que eles me avistaram. Batwoman estava certa, tal poder de fogo não deveria se deixado nas mãos de criminosos. Olhei para o lado, onde diabos a morcega psicótica havia se metido? Eu estava sozinha na linha de frente. Quando menos esperei lá estava ela atrás do líder da negociação.

— Vocês perdedores nunca ouviram falar em isca? — Ela estava me usando como isca? Eu poderia realmente reconsiderar o "não matar" naquele momento. Eu estava começando a confiar naquela desequilibrada.

— É um grande erro enfurecer uma espécie superior. — O alienígena líder do grupo virou-se para Batwoman e proferiu as palavras. Eu estava pensando a mesma coisa. Resolvi por fim apagar os aliens que atiravam contra mim. O líder da gangue se preparava para mais de seu discurso de ser superior quando Batwoman o atacou sem dar chance para que ele nem ao menos se defendesse. Ela era rápida, muito rápida.

— Você tem que me dizer o que está te deixando tão forte. Nenhum humano é tão forte e rápido, pelo menos não um humano normal. — Ela virou-se de costas para mim novamente. — Certo, não me conte, mas assim que estes aqui forem entregues ás autoridades nós vamos falar sobre isso. — Olhei para o lado, ela havia sumido. Eu nem mesmo a conseguia detectar com minha audição. Como ela fazia aquilo?

Fiquei para trás com a bagunça e as armas, ela não era o que podia se chamar de boa parceira para se lutar contra o crime. O dia já estava quase raiando quando voltei para o meu apartamento, para a minha surpresa minha janela estava consertada, como eu não tivesse passado por ela a fora com Batwoman à tira colo.

— Você perdeu o juízo? — A voz de Alex surgiu do nada.

— Perdão?

— Não venha com essa. Você recebeu uma visita ontem à noite e vocês duas chamaram muita atenção. Francamente, Kara. Você não pode fazer isso. — Alex tinha aquele olhar reprovativo que eu não gostava.

— Foi só por essa noite, tudo bem? Ela já deve estar em Gotham a essa altura. — Seu olhar se amenizou.

— Você recebeu isso hoje cedo. — Ela apontou para um buquê de flores. Fui até o cartão.

— Lena está me convidando para um jantar na casa dela. — Alex olhou para mim de imediato.

— Você está com aquela cara. — Ela falou entre um sorriso.

— Que cara? — Indaguei tentando mudar de expressão.

— A de idiota, que você sempre faz quando ouve "Lena". — Ela imitou minha expressão

— Não tem graça. — Resmunguei envergonhada.

— É um jantar particular, só vocês duas? — Alex esticou o olhar tentando alcançar o bilhete.

— Cai fora. — A empurrei para o lado.

— Quero saber de tudo, você vai me contar tudo. — Ela olhou para seu relógio. — Mas agora eu tenho que ir ao DOE e você para CATCO. — Era verdade e eu já estava atrasada.

— Te vejo no DOE mais tarde. — Dei um beijinho em seu rosto e sai.

Um jantar com Lena, aquilo me causou uma reação estranha em meu corpo. Uma ansiedade gostosa, quase como se a espera fosse me conduzir para algo bom e satisfatório.