A Coisa Mais Importante

Capítulo 3: A Luz do Outro Lado da Baia


Katara apenas sentia pena das crianças que nem sabia porque haviam deixado a casa que amavam na ilha do Templo do Ar e porque o papai não havia vindo junto. Claro que doía deixar o homem que amava para trás, mas era adulta e precisava tomar decisões difíceis por ela e pelas crianças e lidar com elas.

— Você não deveria ter saído daquela casa — resmungava Toph de um lado para o outro, os pés descalços contra o piso de pedra feito especialmente para ela.

“Uma consideração pelos anos amizade” Sokka disse quando apresentou a casa, ele havia sido o primeiro a fazer isso e foi seguido por todos os outros. Só o quarto não possuía a cobertura de pedra para o caso de Toph aparecer de surpresa na madrugada. Katara não se atreveu a se perguntar o que Toph faria ali de madrugada, mas parecia mesmo uma piada interna dos dois.

A irmã apenas assumia que era uma forma de manter a linha clara entre eles. Sokka havia jurado que nunca mais namoraria alguém do grupo de amigos e Toph que já havia superado há anos a paixonite que tinha por ele. Mas a semelhança de Meilyn com a sua antiga professora de dobra de metal era assustadora e inegável.

Não importava, Katara havia parado de se meter nesses assuntos há muito tempo.

— Ela também é sua e das crianças. — a voz sumiu quando entrou na cozinha e então voltou de repente — Se sábios querem ele se esfregando nas acólitas do ar, podem ao menos ter a decência de mandá-lo fazer isso longe da família.

Se fosse 5 anos mais nova e não tivesse os filhos, com certeza faria, mas agora as crianças eram sua prioridade. Kya estava sentada aos seus pés desenhando alguma coisa que ela não conseguia ver direito e perguntaria sobre Aang na hora de ir deitar, Bumi estava lá fora, brandindo um bastão o dia inteiro. Ela imagina o porque e isso só fazia o seu coração apertar. O melhor havia sido sair da ilha.

— A minha prioridade são as crianças agora, Toph — respondeu, acariciando os fios lisos de sua menininha — Você vai entender quando for mãe.

Do lado de fora, Sokka havia se aproximado de Bumi e os dois pareciam conversar sobre algo que ela não escutava. Isso era bom, o irmão podia entender seu filho melhor do que ninguém.

— Você não precisa me amaldiçoar também — respondeu, erguendo as mãos antes de Bumi correr para perto dela.

Apesar do discurso anti-filhos, Toph o puxou para cima das pernas e o manteve em seu colo.

— Tia Toph, é verdade que o Tio Sokka já te salvou antes?

Ela fez um rosto pensativo com as mãos no queixo, claramente uma atuação, mas o pequeno Bumi não pareceu notar.

— De qual vez estamos falando, do dirigível? Ou aquela da perseguição há alguns meses? — O menino pareceu gratamente surpreso quando saltou do colo dela e saiu gritando que era o novo “menino bumerangue” — De nada.

— Você falando assim até parece que não tem medo de ter um filho não dominador. — respondeu Sokka se sentando ao lado dela, por um impulso, uma das pernas de Toph subiu para o colo dele que a ajeitou de forma confortável antes de começar a remexer nos papéis do caso em que ele não deveria estar se envolvendo.

Só ganhava carta branca para essas coisas porque a chefe de polícia era cega e exigia alguém de confiança ao seu lado. Que, casualmente, era sempre Sokka.

— Se a praga da sua irmã pegar — ela fez uma pausa, um limpando a orelha enquanto comentava de forma casual — Eu realmente prefiro que seja um não-dobrador porque posso passar tudo para você com a desculpa de que vai ser um cuidador melhor.

— Sério que vai me dar toda essa responsabilidade? — ele parecia ultrajado, mesmo que por baixo pudessem notar o início da risada com a piada de Toph, a dobradora de terra podia parecer durona, mas todos sabiam que jamais deixaria uma criança desamparada — E nem vai me dar um colar de noivado?

— Você sabe como essas coisas elegantes da tribo da água tão trabalho? — Katara ria involuntariamente, era havia escolhido bem sua casa de passagem no fim das contas. Toph e Sokka tinham uma interação que fluía de forma natural e sempre conseguiam afastá-la dos pensamentos ruins — Pode esquecer!

— Vamos Toph! — implorou, acariciando a panturrilha exposta — Quem melhor para entalhar um javali voador em um barquinho com ondas em uma pedra do que a maior dobradora de terra viva?

— Eu acho que deveria começar a me assustar com o quanto você anda pensando em colares de casamento — respondeu, mas não parecia realmente alarmada, nem com a ideia de entalhe, nem com o carinho nas pernas. Na verdade parecia quase satisfeita.

— Você sabe, eu sou um cara bem romântico à moda antiga. — ele completou dando de ombros sem tirar os olhos dos papéis — Mas fico feliz que tenha decidido honrar a minha família.

— Se a sua questão é honra — Toph retrucou no automático — Talvez você ainda consiga um lugar na cama do Senhor do Fogo.

Katara encarou o irmão esperando que ele ficasse tenso e irritado, mas em vez disso ele riu e respondeu.

— Eu tenho uma regra estrita sobre o número de pessoas com as quais eu durmo de uma vez — ele claramente já havia superado pelo jeito — E três é demais para mim dar conta, além do que o Zuko não faz muito o meu tipo.

Toph chegou a ensaiar uma resposta com um sorriso malicioso, mas Katara sabia que se deixasse passar a coisa iria acabar em um nível baixo demais para os ouvidos da pequena Kya

— Não sei se vocês se lembram, mas ainda temos uma criança na sala — Katara censurou.

Toph e Sokka ainda ficaram trabalhando até a hora do jantar quando Katara perguntou se a amiga aceitaria ficar para comer e ela apenas deu de ombros. Logo depois estava na cozinha apoiada no balcão.

— Eu não lembro quando foi a última vez que a gente comeu comida de verdade aqui — disse Toph que queria apenas sentir o cheiro de comida caseira de novo.

— Eu percebi que vocês têm hábitos bem saudáveis mesmo — Toph riu baixinho enquanto só ficava ali — Eu também percebi que estou atrapalhando um pouco a dinâmica de vocês dois.

Ela bufou, soprando a franja para longe dos olhos antes de responder.

— Sem problemas, antes você do que a Meimei.

— Então você não gosta da Meimei? — não era uma pergunta real, apenas uma sugestão que Katara não poderia deixar passar.

— Eu acho que você não está vendo as coisas da forma certa, Katara — ela retrucou, sentando na bancada — Meilyn é uma ótima dobradora e uma excelente policial, eu só não sei se é o melhor para o seu irmão.

— E o melhor pro meu irmão seria… - instigou, esperando que a mais jovem mordesse a isca, mas haviam passado por essa conversa vezes demais.

— Sei lá, Katara — ela nem sequer tentava esconder a irritação na voz — Talvez uma garota da Tribo d’Água com quem possa fazer uma família modelo para representar os sulistas em Cidade República, ou uma não-dominadora para mostrar como eles tem ganhado poder — deu de ombros — Sei lá, essas coisas políticas de representatividade.

— Eu acho que concordo.

A verdade é que, desde que parara de se envolver na vida amorosa do irmão, Katara não pensava em quem seria melhor para ele. Na verdade sempre imaginou que ele e Suki ficariam juntos para sempre, então foi uma surpresa quando ela simplesmente fez as malas e se mudou para a Nação do Fogo de forma definitiva.

Se despediu de Sokka e Toph logo depois do jantar, levando as crianças para a dormir. Bumi dormiu logo que caiu na cama, exausto depois do dia de brincadeiras, mas Kya perguntou sobre o pai. Katara desconversou até que conseguiu fazê-la dormir.

Mas não conseguira fazer isso consigo mesma. Descobrira que da sua janela podia ver as luzes da casa do templo e sua atenção se voltou completamente para lá. As luzes do quarto ainda estavam acesas e não conseguia parar de se perguntar se havia alguém em seu quarto, na sua cama, com seu marido. De tudo isso, a pior parte era imaginar alguém com Aang que não fosse ela.