Ele segurou a minha garganta forte o suficiente para impedir que eu respirasse normalmente. Meu coração acelerava enquanto ele me levava para dentro da caverna.

Vários móveis estavam espalhados pela abertura. Estantes, poltronas, mesas, cadeiras. Muitos frascos, a maioria com conteúdos não-identificados, encontravam-se espalhados pelas mesas e estantes. Mas não era isso que havia me chamado a atenção.

Jesse estava preso na parede, utilizando algemas nas mãos e nos pés, as quais estavam brilhando de cor verde fluorescente. Magia, eu supus. Meu coração ficou apertado. Me fazia muito mal ver Jesse daquela maneira. Transformando minha dor em ódio, golpeei Victor da melhor maneira que consegui, deixando-o atordoado o suficiente para que afrouxasse o braço envolto em meu pescoço, possibilitando minha fuga. Corri até Jesse e ajoelhei-me ao seu lado, assustada. Muitas marcas roxas espalhavam-se pelo seu corpo. Cortes em seus braços e pernas, seus pulsos e tornozelos estavam machucados sendo o indício da força que Jesse fazia na tentativa de escapar. Suas roupas estavam rasgadas e sujas. Coloquei a mão em seu rosto, e ele lentamente abriu seus olhos.

- Jesse – Murmurei com os olhos já enchendo-se de lágrimas – O que ele fez com você... – Murmurei. Acariciava seu rosto quando ele lentamente ergueu o braço e tocou minha face.

- Mi hermosa – Suspirou ele, com uma voz muito fraca – Você me encontrou... – Sua voz falhou – Eu lhe coloquei em perigo.

- Não seu preocupe. Eu ... – Estava a inclinar-me mais perto de Jesse quando Victor segurou meus braços fortemente e me arremessou para o outro lado da sala.

- Isso não é coisa que se faça com uma dama – Gritou Jesse, furioso, arremessando-se contra Victor, sem conseguir alcançá-lo. Com o impacto em uma das prateleiras e o pé de uma mesa, alguns frascos haviam quebrado com o impacto ao chão e um deles pelo impacto do meu, provocando cortes em minha perna esquerda. O sangue escorria livremente, enquanto eu gemia de dor. Victor caminhava em minha direção com um sorriso macabro no rosto.

- Não sabe como foi difícil para escapar daquele livro maldito – Disse entre dentes – Principalmente depois do que você me fez – Fez uma pausa, aproximou-se de mim. Instintivamente recuei até estar ao encontro da parede, sem saída. Victor sussurrou em meu ouvido – Mas não se preocupe, você pagará pelos seus erros, juntamente com Jesse.

Arregalei os olhos. Não, ele não poderia machucar mais Jesse, porque eu o impediria. Atirei-me para cima de Victor, tentando sufocá-lo com as duas mãos, mas não foi o suficiente. Eu estava fraca devido a ausência de sangue e ele facilmente conseguiu soltar minhas mãos de seu pescoço, invertendo a situação. Agora era eu que estava prestes a ser sufocada. Arranhava suas mãos e braços, em busca do retorno do ar, mas era inútil. Victor me levou até as proximidades de Jesse.

- Veja a dor que ela sente, e tudo isso é culpa sua! – Gritou Victor. Jesse parecia torturar-se por dentro. Eu podia sentir isto em seu olhar triste e doloroso.

- N-não – Gemi. Eu sabia que Victor só queria torturar Jesse, mais do que ele já estava. E eu não podia permitir.

- Deixe-a em paz, ela de nada tem culpa – Disse Jesse – É a mim que você quer, deixe-a ir embora.

Senti as mãos de Victor relaxarem. Ele caminhou até um local próximo que parecia um cômodo separado porém muito pequeno, e me jogou ali. Quando se afastou, barras de ferro subiram ao teto, e eu estava trancada.

- Sábias palavras – Aprovou Victor. Podia ver a dor dos olhos de Jesse. Victor estava torturando-o. Lágrimas começavam a correr. Sentia meus olhos incharem e meu nariz ficar vermelho. Eu não sabia o que fazer, só queria estar longe dali. Meu único desejo era que Victor simplesmente fosse vaporizado da face da Terra. E Jesse... O que ele havia feito? Porque Victor o odiava tanto? Como ele havia sobrevivido ao ataque que lhe fiz, mais de meses atrás? E o mais importante, quem exatamente são Jesse e Victor?

- Não! – Eu gritava o mais alto que podia – Pare com isso! Pare de torturá-lo, ele não te fez nada!! – Eu gritava, soluçava e implorava para que Victor parasse de torturar Jesse. Ele pareceu surpreso com minha atitude, pelo menos eu achei que estava, pois parou abruptamente e virou-se na minha direção.

- Vejo que você está muito desatualizada, minha querida Monique.

Permaneci no mesmo lugar, com o rosto todo molhado e provavelmente estampado na cara algo como um ponto de interrogação gigante.

- Esse homem – Gritou Victor, apontando para Jesse caído ao chão – É um assassino.

Meus olhos começavam a lacrimejar novamente.

- Não acredite no que ele lhe fala – Murmurou Jesse com a voz falhando.

Meu corpo tremia intensamente. Eu estava muito nervosa, não sabia o que fazer, mas preferia acreditar em Jesse à acreditar em Victor.

- Acha que eu acredito que Jesse é um assassino se é você que quase está matando ele?!? – Explodi – E você por acaso sabe algo sobre ele?

- Ah sei – Suspirou ele – Sei muito mais sobre ele do que desejaria saber, e acho que você também deveria saber, já que é tão amiga dele, pois não?

Ele parou e pareceu esperar por uma resposta minha, e como nenhuma atitude de minha parte foi observada por ele, ele prosseguiu.

- Entenderei isto como um desejo por saber mais – E pronunciando algumas palavras que não reconheci, criou diante de mim um cenário totalmente diferente.

- Conhece este lugar? – Perguntou-me ele.

Olhando em volta. Parecia ser um lugar muito antigo. Um deserto estendia-se até onde seus olhos alcançavam e uma cidade localizava-se um pouco adiante. Parecia um cenário do velho oeste.

- Uns 150 anos atrás, concorda? – Pronunciou como se estivesse lendo meus pensamentos.

- Acredito que sim – Murmurei – Mas o que...

- Ouça com atenção – Interrompeu-me Victor – Esta foi a época de Jesse, um dos anos no qual ele realmente esteve vivo no planeta.

- O que você quer dizer com isso? – Reclamei. Ele me deu um tapa.

- Eu disse para ficar calada, e apenas ouvir o que tenho a dizer – Gritou furioso. Tremi e lentamente assenti.

- Ótimo – Aprovou ele – Jesse, apesar de viver no velho oeste como um cidadão qualquer comum daquela época, ele era diferente – Dizia Victor enquanto mostrava-me a ilusão da cidade – Jesse também era um Volturi, mas de um grupo diferente do nosso. Eu e você, Monique, somos de um grupo que por nós foi denominado Candor. Brilho, em latim. Porém Jesse era diferente, tinha sempre as piores intenções. – Fez uma breve pausa enquanto olhava ao redor. A paisagem se movia lentamente, de acordo com o desejo de Victor. Mesmo assim, não conseguia acreditar que o que ele dizia era realmente verdade.

- E o pior – Concluiu ele – Jesse e todos de seu grupo, o qual chamavam de Nocturno, tinham sempre ótima aparência, facilmente sendo confundidos com bons cidadãos.

Preferia continuar na indecisão. Ele já me enganou uma vez, porque não o faria novamente? Estava tão distraída com meus pensamentos que sequer percebi que Victor estava falando comigo.

- Está me ouvindo? - Gritou ele.

- Estou. – Menti – Prossiga.

- Como eu estava dizendo, eles tinham muita inveja dos Candor, pois estávamos a desmascará-los para os cidadãos da cidade. Eles ficavam furiosos, e como tínhamos menos desenvolvimento por parte de nossas habilidades, os Nocturno aproveitaram-se de nossa desvantagem e começaram um massacre. Extinguiram todos os Candor que encontravam. Nossa raça foi quase extinta. Nossa sorte foi terem deixado para mim todos os segredos de nossos antepassados, confiando em mim para reestabelecer nosso grupo, prometendo vingança contra os Nocturno.

Ele finalmente parou para recuperar seu fôlego, porém eu ainda continuava confusa.

- Mas porque Jesse? O que ele tem haver com isto? Você não disse que muitos dos dele sobreviveram, porque não encontra outros para torturar? Deixe Jesse em paz!

Victor fez um gesto de desaprovação.

- Não confias em mim, e ainda não conseguiste compreender – Ele segurou meu rosto e virou-o na direção de Jesse – Vê aquele sentado ali ao canto? É ele, ele é o líder dos Nocturno, o responsável por tudo que aconteceu!