A Caçada Começa

Perguntas sem respostas


E eu finalmente estava mais confusa, coisa que pensei não ser possível. Eu gostava demais do Jesse, mas... O que será que ele pensa sobre mim? Jesse não é de falar muito, e muito menos de seus sentimentos. Minha única forma de tirar conclusões são através de suas reações. Se eu lhe perguntasse, provavelmente ele não responderia. E eu não poderia simplesmente chegar até Jesse e jogar tudo na cara dele. E se ele sequer gosta de mim? Seria muito constrangedor. Tudo bem, preciso tentar evitá-lo, não posso continuar com isso.

Murmurando e sussurrando um com o outro, assim se passou meu dia inteiro, ali nas águas termais, ao lado de Jesse. Fiquei recostada em seu peito até ele se mover, forçando-me a afastar dele. Ele se levantou e saiu da água. Só então percebi que já era de noite. Com um aceno, Jesse pediu que eu o seguisse. A casa era realmente uma graça. Tinha móveis novos e... Espera um minuto. Parei no meio do caminho, e arregalei os olhos. Jesse pareceu assustado, caminhou até o meu lado.

- O que houve?

Mas eu estava atordoada demais para responder. Porque Jesse faria um novo local para eu morar se não fosse pela intenção de ficar junto de mim? Lá em cima ele quase sempre dormia na cama e eu em algum canto que encontrasse (pelo menos era o que eu pensava que ele achava, pois eu não dormia), e com certeza não se sentia confortável em relação a isso. Dois quartos... Ele queria ficar. Mas porque?

- Nada, eu só... Deixa pra lá – Forcei um sorriso.

Ao passar pelos cômodos, notei apenas uma cama.

- Desta vez você dorme na cama – Disse Jesse, cortando meus pensamentos. Estava preste a protestar, mas ele pousou o dedo sobre meus lábios, negando com a cabeça, e solicitando para que eu nada mais dissesse.

Poderíamos acender uma fogueira sem problemas do lado de fora naquela noite. Lá na montanha sempre tinha vento, e facilmente apagava o fogo, mas na clareira era muito calmo, e só havia uma leve brisa de vez em quando, insuficiente para apagar o fogo. Afastei-me um pouco da fogueira e deitei no chão para olhar as estrelas. Podia vê-las muito melhor, sem o vento para jogar meus cabelos na frente dos meus olhos. Pouco tempo depois, notei Jesse deitando-se ao meu lado.

- São lindas – Murmurou ele.

- Hoje parecem ser em um número muito maior...

Eu sentia em paz estando ali, sem nada para me atrapalhar. E Jesse, bem, Jesse fazia com que eu me sentisse bem. Cautelosamente estiquei minha mão para o lado, tentando alcançar a sua. Porém, aténs de eu o fazê-lo, Jesse já havia encontrado a minha mão, segurando-a com firmeza. Não pude evitar sorrir, mas precisei evitar seu toque. Na verdade, tentei evitar, porque Jesse não soltou minha mão. Estava calmo demais, e já era bem tarde. Senti Jesse me pegando no colo e me levando até minha cama. Estava quase me soltando quando usei todas as minhas forças para me agarrar em sua camiseta.

- Monique – Murmurou ele, tentando soltar minhas mãos de sua roupa. Mas desta vez eu não soltaria. Ele tentava soltar meus dedos de sua camisa branca, porém eu só a segurava cada vez com mais força.

- Fique – Sussurrei. Após várias tentativas em vão, Jesse acabou desistindo e deitou-se ao meu lado. Claro que eu o abracei, e eu dormi ali, junto dele.

Estava começando a conseguir regular meu tempo de sono, dormindo agora aproximadamente o mesmo tempo que um ser humano qualquer. Apalpei a cama ao meu lado e não encontrei Jesse. Levantei rapidamente e procurei em volta.

- Jesse? – Chamei, mas ninguém respondeu. Levantei da cama e procurei-o pela casa. Nenhum sinal de vida. Procurei-o por toda a clareira e não encontrei. Comecei a ficar desesperada.

- Calma Monique – Murmurei para mim mesma – Ele apenas foi procurar comida, apenas isso – Respirei fundo e resolvi aproveitar a ausência de Jesse para correr um pouco e ir drenar o sangue de alguns alces. Lavei meu rosto e mãos ensanguentadas no riacho e procurei novamente por Jesse. Ele ainda não havia retornado. Tudo bem, eu estava ficando preocupada demais. Ele não tem a obrigação de ficar me dizendo aonde vai, certo? Assim como eu também não tenho tal obrigação. Precisava esfriar a cabeça, literalmente. Pensando em lugares agradáveis onde eu poderia ir, acabei lembrando das Cataratas do Niágara. Eu poderia atravessar facilmente o país em menos de uma hora. Mas... No meio do caminho eu teria de parar para restabelecer minhas energias, o que me custaria no mínimo o dobro do tempo. Não seria problema, de maneira alguma.

Me sentia desgastada facilmente, vi tudo dobrado algumas vezes. Eu estava ultrapassando os limites de minha capacidade. Poderia-se dizer que me tornei uma seriall killer, pois precisei tirar a vida de cinco pessoas inocentes. Sentia a culpa pesar, mas... Se eu seria um monstro o resto de minha vida, que diferença faria? Mais cedo ou mais tarde eu precisaria recompor as energias.

Pulei em um dos cinco grandes lagos logo que tive a oportunidade. Simplesmente deixei meu corpo flutuar junto com a correnteza enquanto observava as criaturas vivas do fundo. Posso dizer que aquilo era muito mais incrível do que admirar o lago do lado de fora d’água. A correnteza carregou-me calmamente até eu sentir que ela começava a ficar cada vez mais forte. Podia ouvir as quedas d’água ao longe. Posso dizer que foi um mergulho muito bom, e que tentei fazê-lo em uma região onde provavelmente ninguém poderia me ver. Quase trinta metros de altura, adrenalina fluindo do corpo, coração na garganta, a água batendo novamente no meu corpo, enquanto era levada para longe. Foi um mergulho muito bom, consegui deixar as preocupações de lado por alguns momentos. Consegui aliviar o stress.

Voltando para Yellowstone, agora mais calma e revigorada. Tudo estava perfeitamente bem, pulando por cima de prédios e casas enquanto admirava a paisagem. Então uma pontada de dor voltou a incomodar-me quando cheguei em minha casa. Mais de quatro horas haviam se passado desde que me ausentei. Procurei e não encontrei qualquer sinal de vida humana ou animal em toda a clareira. Meu coração começava a ficar novamente cada vez mais pesado no meu peito. Eu precisava saber onde Jesse estava, era muito estranho ele desaparecer sem dizer aonde ia. Mas como eu saberia onde Jesse estava? Me sentei na beira da cama e pensei durante várias horas. Levantava e caminhava de um lado para o outro, tentando descobrir uma forma de encontrar Jesse. Estava pensando nele intensamente quando...

- Monique – Ouvi alguém dizer. Assustada olhei em volta, procurando por quem havia me chamado, mas ninguém estava ali. Será que havia sido minha imaginação?

- Monique – Chamou novamente – Me ajude, mi hermosa – Parei, fechei os olhos e prestei atenção. A voz chamou por mim outras vezes mais, era a voz de Jesse. Concentrei-me em pensar nele. Ouvi barulho de correntes e de alguém gritando enquanto um outro gemia, provavelmente de dor. Permaneci várias horas, tentando visualizar em minha mente onde Jesse estava. Quase desistindo por falta de energia, e então eu finalmente consegui ver, consegui ver a Cordilheira dos Andes. Não sabia como, mas eu tinha certeza de que era lá. Eu precisava chegar lá o mais rápido possível, precisava encontrar Jesse.