A Brilhante Forma do Amor

Cap 18 - A Mágoa de Konoka


Setsuna caminhara até o quarto da maga arrasada, sentira-se uma traidora, que não merecia perdão. Konoka não teria lhe feito nada. Pelo menos, nada ruim. Só decidira viajar por medo de enfrentar os seus sentimentos, e por duvidar da veracidade dos dela. Konoka estaria confusa, era óbvio. A proximidade das duas sempre transcendeu qualquer lógica difusa, impossível de ser compreendida a olho nu, por quem não a tivesse acompanhando ativamente por todos esses anos.

Após subir a escadaria em direção aos dormitórios, passara por um corredor que dava acesso à casa de banho. Distraiu-se, de repente, pelos ruídos que ouvira. Silenciosamente, entrara na casa de banho, observando o arminho com olhos arregalados, sorriso assanhado e patas dianteiras posicionadas em forma de "reza", absurdamente excitado pelo que estaria observando. A espadachim olhara, disfarçadamente, para a localização que o arminho estaria encarando, e avistara dez jovens tomando banho, e conversando animadamente sobre as provas de Técnicas da Magia que teriam feito.

Contrariada com o assanhamento da bola de pêlos, Setsuna se comportara como Asuna, para variar, puxando-o por apenas um segundo, e prendendo-o em suas mãos.

– O... O... O... - tentara falar, inutilmente, enquanto sentia sua boca presa pelas mãos de uma espadachim irritada.

– Quando você irá aprender a respeitar a privacidade dos outros?

O arminho ficara se esticando nas mãos da guerreira, tentando se esquivar, para respondê-la, e para fugir ao seu "posto de guarda" (obviamente).

– É uma pergunta retórica - concluiu, irritada, ao perceber que ele não teria jeito mesmo.

Continuara o caminho até o quarto da maga, quando a avistara adiante com passos largos e apressada. Ela até lembrara de tudo que teria dizer, e pensara em começar o discurso, mas fora interrompida pelo furacão Konoka, que logo adiantou-se, aos prantos, jogando-se nela em um enorme abraço.

Ouviram um grito, e afastaram-se rapidamente.
Era Kamo que havia sido "amassado" durante o abraço, e agora tinha sido finalmente liberado pelas mãos assustadas e preocupadas de Setsuna, e observado pelos olhares confusos da Konoka, também preocupada, que olhara a espadachim na procura de explicação para o que acontecera.

– Ele estava olhando as meninas tomarem banho. - respondera, enquanto ainda massageando as costas do arminho que não parava de tossir, após a "colisão".

Konoka não pôde evitar rir um pouco. Kamo sempre pregava essas peças, e sempre acabava sofrendo no final. Embora isso, geralmente, fosse papel de Asuna.

Após Kamo finalmente voltar ao normal, elas seguiram seus passos em direção ao quarto de Konoka, que seria o mais próximo dali. Lá elas poderiam conversar tranquilamente, e Asuna poderia dar um jeito na bola de pêlos tarada.

Ao entrar no quarto, Kamo saíra correndo das mãos de Setsuna, que finalmente o soltara. Impedido de sair do quarto, fora até a cama. Asuna, percebendo a movimentação estranha, perguntou à dupla:

– O que houve?

– Ele estava observando umas garotas tomando banho.

Isso já fora o suficiente para Asuna fuzilar Kamo com os olhos.

– Seu tarado!! - disse, agarrando-o em suas mãos, e atirando-o para o outro lado da sala.

O arminho ficara no chão, imobilizado, contando as estrelas que vira [em provável alucinação após a batida] girando em cima dele.

– E vocês...? - perguntara Asuna, receosa.

– Ainda não. Vamos conversar agora. - respondeu Konoka, calmamente.

– Então eu vou sair daqui para deixá-las a sós...

Passou a passos largos, adiantando-se até a porta, mas voltara lembrando-se do arminho tarado que provavelmente iria adorar ouvir a conversa. Em apenas alguns segundos, puxou ele pelas patas traseiras, e jogou-o sobre seu ombro, de modo que o arminho, ainda vendo estrelas, ficara totalmente seguro no ombro da ruiva.

Asuna saíra, deixando Konoka e Setsuna que se entreolhavam, nervosas, para trás.

– Eu ...

Setsuna tentou dizer algo, mas fora impedida pela maga.

– Como você pôde fazer isso comigo?

Os olhos de Konoka lacrimejaram, e a outra sentiu-se ainda mais culpada pelo seu egoísmo.

– Desculpa, Kono-chan.

Nem a expressão que ela tanto gostava de ouvir, aliviou a dor que sentia no peito. Ela estava magoada, e não conseguia perdoar Setsuna pelo que iria fazer.

– Por que? - chorando, dissera quase em sussurro.

– Não sei.

A verdade não conseguia sair de Setsuna, que agora se considerava cada vez mais desmerecedora do amor de Konoka. Não tinha desculpa para seu comportamento, então nem tentaria explicar.

– Desculpa. - repetiu, sem sentido.

– Não consigo. - disse, partindo o coração da espadachim em um instante.

– Entendo.

Konoka a olhara, e sua expressão transpareceu apenas tristeza e mágoa. Após um minuto de silêncio, perguntou:

– Você vai embora?

Setsuna a olhou, envergonhada. Não teria palavras para negar um pedido dela agora, embora ela não estivesse pedindo nada. Talvez ela até quisesse a guerreira longe, depois de saber que teria sido traída.

– Você quer que eu fique? - disse, transformando-se em um tomate pisado, tal quanto a sua expressão estava abatida. Controlava-se para não chorar, embora seu coração estivesse em cacos.

– Eu nunca quis que você fosse. - argumentou, aborrecida.

Setsuna parou por alguns minutos, em minutos. As duas mal se olhavam. Depois de muito pensar, ela decidira.

– Não posso ir embora e te deixar assim comigo. Me odiarei eternamente, se eu nunca mais for perdoada.

Setsuna chorara. Konoka, confusa, decidira manter-se em silêncio. Pensara em acalmá-la dizendo que algum dia conseguiria lhe perdoar, mas a mágoa não lhe permitira. Naquele instante, o emudecimento lhe parecera mais urgente. Precisava pensar.

– Eu preciso pensar... Você pode me deixar sozinha?

Arrasada, Setsuna saíra do local.
Apenas imaginava se algum dia conseguiria o perdão da maga. Teria sido egoísta,e não teria pensado em seu sofrimento. Teria decidido pela vida da outra, sem nem ao menos lhe dar a chance de recusar à nova realidade. Era culpada, e nem ao menos entrara em defesa pelo comportamento. Mas também, o que poderia dizer? De fato, ela se acorvadara diante de Konoka, por se achar desmerecedora de seu amor. Traíra a confiança da maga, e a magoara... E, com sua atitude, acabara provando para si mesma, e até mesmo para Konoka, que não seria merecedora do seu afeto - ou ao menos, fora o que pensara.

Embora triste pelo que aconteceu, Setsuna decidira. Seja o que fosse, respeitaria o silêncio da maga, e continuaria ao lado dela, protegendo-a de todos os males. E talvez algum dia se tornasse merecedora do perdão da sua adorada protegida.