A Brilhante Forma do Amor

Cap 19 - Flashbacks: O início de Tudo


Desde a discussão que tiveram, Konoka passara a evitar ativamente a espadachim, que respeitara a sua vontade, acatando em silêncio a punição que estaria recebendo.

A maga, magoada, inventara mil atividades para fazer, na tentativa de esquecer seus sentimentos por Setsuna. Asuna ainda tentou ajudá-la nas tarefas que a amiga inventava, mas a preguiça sempre falava mais alto.

Uma semana se passara.

Era uma quarta feira, às 10h da manhã. Konoka não tinha tido aula por ser comemoração do "Dia Internacional da Magia".


Enquanto Asuna ainda dormia profundamente, com os pés em cima de uma bolinha de pêlos que até roncava, Konoka passara toda a manhã tentando transformar uma caneta em uma rosa. E fracassara, todas as vezes. Em sua primeira tentativa, a caneta teria sumido, depois congelado, em seguida, explodido, e após uma infinidade de tentativas, a caneta simplesmente criara asas e saíra voando pelo salão, desgovernada, colidindo em todos os objetos que encontrara pelo caminho.


Negi, que passava próximo do Clube de Artes Plásticas de Mahora, fora atraído pelos ruídos que vinham de lá, e decidira verificar o que estaria acontecendo.

– O que está acontecendo aqui? - Questionou Negi, em choque, ao avistar uma pilha de papéis e milhões de cacos de vidros espalhados pelo chão da sala, além de vários objetos derrubados ou quebrados.

– Só estou tentando concluir o meu feitiço de Transfiguração!! - respondera, impaciente, enquanto procurava pela caneta voadora, que finalmente teria perdido uma das asas durante a batida, e caído em algum lugar da sala principal.

– Bom, acho que já sei porque você não tá conseguindo. - brincara, referindo-se a raiva incontida que a voz de Konoka transparecia.

– Por causa do meu humor? - Konoka tentou sorrir, mas foi impossível.

Negi retirou os óculos para limpar as lentes, assustado pela visão que acabara de ter ao observar a maga, abaixada atrás de uma pilha de papéis que ocupavam o centro da sala. Konoka tinha vestes amarrotadas, olheiras profundas, e cabelo levemente despenteados. Nunca tinha a visto assim.

Dada às características que analisara na maga, ele chutou:

– Você tem dormido direito?

Konoka finalmente levantara do chão, com a caneta voadora - agora com uma asa a menos - na mão. Colocou o objeto de volta ao local de origem, e pressionara o botão de auto-imunidade que ficava no canto esquerdo da sala, atrás dos armários.

O botão de auto-imunidade era uma mão na roda para professores e alunos que, por algum motivo, errassem feitiços de modo que prejudicassem à segurança, organização e limpeza local. Já teria apertado esse botão várias vezes hoje, e todos os acidentes, explosões, e objetos destruídos retornavam a exata forma em que estavam antes do último feitiço proferido. Só que para isso, precisava do objeto enfeitiçado - daí a sua insistente procura pela "caneta voadora".

Pensara na pergunta de Negi. Criança ou não, ele era seu professor, e acima de tudo, era seu amigo. Não quis mentir pra ele.

– Não muito. - disse, impaciente, esperando o botão fazer efeito.

Após 3 segundos de espera, os objetos retornaram às suas devidas posições, e tudo que estaria quebrado ou bagunçado, voltara ao normal. Konoka deu um sorriso de canto, finalmente, em alívio. Em seguida, colocou a caneta novamente na mesa, e se sentou na cadeira, disposta a continuar a "destruição" local com mais encantamentos.

Negi, preocupado, se aproximou da mesa, e tomou a caneta das suas mãos.

– Enquanto você estiver assim, irritada, não conseguirá proferir corretamente o feitiço. E ainda poderá se machucar. Então não posso deixar você continuar com isso.

Konoka sabia de tudo isso, mas precisava de algo para desviar sua atenção de Setsuna. Embora não conseguisse perdoar a espadachim, não conseguia tirar a situação da cabeça.


– O que está acontecendo, Kono-san?

Konoka suspirou, lembrando de tudo que lhe acontecera nas últimas semanas.

Estava exausta. Há dias que quase não dormia, só descansava algumas horinhas quando finalmente não aguentava mais, e simplesmente desmaiava pelo cansaço.

Ela tentou todos esses dias se afastar do que sentia por Setsuna, mas não conseguira. E isso a mantinha acordada, em alerta por quase 20h, tentando não pensar, tentando não sentir, e tentando não lembrar...

Se não fosse por um pequeno detalhe, tudo estaria na mais completa normalidade, já que Setsuna ainda estava no Colégio, e não mais pretendia ir embora; e Konoka ainda tinha a sua protegida por perto, e não precisaria mais ficar longe dela. Porém, não era a mesma coisa.

Setsuna teria traído sua confiança, decidindo partir sem nem avisá-la. Teria voltado atrás na sua promessa de nunca abandoná-la - ao menos fora o que acreditara -, e de protegê-la para sempre. Teria sido egoísta e covarde decidindo, pelas suas costas, fugir do que a maga sentia... Ou talvez do que ela mesma sentia...? Konoka não tinha como saber. Setsuna teria tido a chance de admitir seus sentimentos e de tentar se explicar, mas nada fizera. Sentira-se culpada e ainda aceitara as consequências em silêncio.

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~Flashback~

Setsuna e Konoka se conheceram aos 2 anos de idade, e a aproximação das duas fora inevitável. Embora diferentes, as duas se encaixavam perfeitamente. Konoka sempre fora mais frágil, mais medrosa, mais sociável e mais espontânea, enquanto Setsuna era mais forte, corajosa, anti-social e tímida. Devido à diferença de temperamento, a maga sempre fora protegida pela amiga, que desde à infância, colocava-se na posição de protetora, temendo que a frágil amiga se machucasse. Setsuna admirava a gentileza e meiguisse de Konoka que, por sua vez, admirava a força e coragem de Setsuna. E assim, elas continuaram inseparáveis por toda a infância.

Aos 6 anos, elas estavam brincando na árvore do mundo, que tinha sido enfeitiçada pelo Diretor para que elas não escorregassem. Despreocupado por isso, ele se afastou para resolver alguns problemas do colégio, e as deixou lá. Cansadas da árvore, decidiram brincar de pega-pega e, Konoka, que teria dado a idéia, saíra correndo na frente. Se distanciando do lugar onde deveriam estar, elas entraram em uma gruta nas redondezas do bosque. Fugindo de Setsuna, que se aproximava dela, a maga tropeçara no tronco de um salgueiro que havia ali. Vendo que a amiga não poderia andar direito, por que havia fraturado algum osso na queda, Setsuna carregou a amiga em seus braços, e a levou no colo até onde o Diretor estava.

Aos 12 anos, Konoka fora sequestrada pela primeira vez, ao ser descoberto a verdade sobre o poder da moça. Seu avô contratara um exército de bruxos e magos do bem para resgatá-la. Setsuna, desesperada, prometera voluntariamente, com uma gota de seu próprio sangue, protegê-la eternamente, se ela voltasse sã e salva. Seus desejos se realizaram, e o exército trouxera Konoka em perfeito estado, até por que a fonte de poder da jovem só "despertaria" aos 16 anos; e até lá ela não poderia ser machucada.

Após o retorno da melhor amiga, Setsuna decidira cumprir sua promessa. Procurara o avô da jovem, que a ajudara em seus planos. Assim, Setsuna partira em uma reclusão sócio-espiritual de 3 anos, onde aprenderia todas as técnicas de Artes Marciais, e depois retornaria para cumprir a sua missão de protegê-la para sempre.

Entretanto, após o retorno de Setsuna aos 15 anos, a maga percebera o quanto ela voltara transformada. Ficara indiferente, fria e distante com Konoka, que permanecia do mesmo modo carinhoso de sempre. A jovem maga não entendia o que estava acontecendo, porque a outra insistia em ficar à metros de distância, e a evitava todo o tempo.

Se não fosse a amizade de Asuna, uma jovem ruivinha espaçosa, divertida e impulsiva, com quem dividia o quarto, e compartilhava uma bela amizade há 5 anos, a jovem teria sofrido muito. Embora Setsuna ainda sentisse a mesma preocupação, e a amasse da mesma forma, ou mais ainda até, precisava lhe esconder a verdade - que estava ali para protegê-la -, porque só assim poderia usar o fator surpresa como vantagem para proteger Konoka. Assim, ficara observando-a por todo o ano, evitando aproximações mais intensas, embora a maga sempre tentasse iniciar assunto, e se reaproximar, o mínimo que fosse.

Aos 16 anos, durante a festa de comemoração pelo seu aniversário, houve uma segunda invasão à escola. Tentaram sequestrar Konoka na cerimônia do despertar de seus poderes - sua fonte de energia interna. O avô, como forma de proteção, a colocou para flutuar, imobilizada, durante o combate. E a espadachim Setsuna, o Bruxo-professor mirim recém chegado a escola chamado Negi, e a guerreira Asuna, destruíram a força do mal, expulsando-os do local.

Konoka estivera todo o tempo em transe, mas pôde observar tudo que acontecera, de pé, colada à maca - parte da cerimônia -, que flutuava pelo salão, radiando uma brilhante luz verde e branca. Os olhos da maga foram às lágrimas, quando ela finalmente compreendera o desaparecimento e o comportamento de Setsuna, por todo esse tempo. Ela estaria lhe protegendo, como prometera no passado, quando fora embora da cidade.

–------------------------- lembrança 1 -----------------------

– Kono-chan, eu vou ficar forte, para protegê-la. Não deixarei ninguém te fazer mal. Prometo.

Konoka chorava, e se jogava nos braços de Setsuna, que já estava de partida para a reclusão.

– Não vai. Eu não quero que você prometa nada. Só quero você aqui. Só quero você aqui comigo... Por favor!

– Eu preciso ir, Kono-chan. Preciso seguir a minha missão.

– Que missão?! - perguntara, confusa.

Porém, Setsuna não respondera, apenas a beijara na testa, e partira para a sua misteriosa jornada.

E Konoka nunca teria entendido às suas palavras, até então.


–------------------------- lembrança 2 -----------------------

Então, Konoka finalmente se lembrara de algo que havia conversado com o avô há alguns dias atrás.

– Eu não entendo porque Set-chan me trata assim. Não entendo! - desabafara, após o avô perguntar, displiscentemente, sobre a amizade delas.

– Talvez ela não te trate assim porque quer.

Agora entendia as palavras de seu avô. Ele sabia o tempo todo... mas por que não lhe contara? Por que lhe deixara sofrer todo esse tempo, angustiada por achar que havia perdido o amor de sua melhor amiga? Sentindo-se culpada pelo afastamento dela...

Continuara lembrando da conversa com o avô.

– Talvez esse afastamento seja preciso para que haja uma aproximação maior no futuro. Os relacionamentos verdadeiros sempre perduram, e se desenvolvem, independente dos obstáculos.

Finalmente compreendera o que o avô queria dizer.
Ainda em transe, Konoka chorara.
Mas chorara de emoção, de felicidade.
Setsuna não apenas ainda a amava, como teria feito tudo aquilo por ela. E a missão a qual ela se referia, era protegê-la... para sempre.

Assim que o combate acabou, e Konoka foi colocada no chão, recuperando os movimentos, a maga correu até a espadachim que ao vê-la se aproximando, ruborizou levemente, e procurou sair pelo outro lado do salão, porém, sendo impedida pelo braço de Konoka, que a segurou firmemente.

– Set-chan! Espere!

Embora envergonhada, Setsuna se virou para Konoka, e assumiu sua preocupação com a jovem.

– Você está bem, Ojou-sama??

Os olhos de Konoka marejaram novamente, e a maga se jogou nos braços da protetora, que corou violentamente. Não estava mais acostumada a tantos carinhos, ainda mais esses tão impulsivos.

E, assim, dias se passaram, e Setsuna começou a se permitir uma reaproximação com Konoka. E, como o avô profetizara, a relação delas se aprofundara, e se desenvolvera, tornando-se cada vez mais forte.