A Brilhante Forma do Amor

Cap 02 - [Assustada?] Uma Noite de Trovoadas


Novamente, a distante Setsuna acordou de seus devaneios, ao sentir os lábios quentes e doces de Konoka tocando em seu rosto. Suando frio, a garota não teve sequer reação. Não poderia se mecher, pois caso fizesse, poderia acabar esbarrando em seus lábios. "Não que isso seria uma má idéia mas..." Setsuna imediatamente corou diante da possibilidade e punira-se ativamente contra o seu desejo súbito de beijá-la.

Os lábios de Konoka demoraram a se afastar, e Setsuna praticamente havia perdido a consciência. Havia perdido a fala, e apenas enlaçou a garota em seu braço, puxando-a um pouco mais para perto de seu corpo, em um carinhoso abraço. Sua respiração começara a voltar ao normal, quando finalmente sentiu o rosto de Konoka apoiado em seu ombro. O beijo havia terminado, mas algo dentro dela, pedia desesperadamente que continuasse.

– Set-chan...

Sussurrou Konoka, ainda apoiada no ombro de Setsuna. O som tão próximo de seu ouvido, fez com que sua protetora se arrepiasse de repente. Estranhamente, Setsuna sentiu que seu coração precisava confirmar algo.

– Você vai mesmo sentir a minha falta, Ojou-sama?

Era perceptível a pontinha de incredulidade em sua voz. Konoka apenas sorrira para essa atitude. Setsuna teria sido sempre assim, sentindo-se inferior a ela. Konoka simplesmente cansara de lutar contra esse jeito dela, se acostumando e até gostando da forma platônica como era vista pela melhor amiga. Era percebida quase como uma deusa. Algo inatingível. Mas ela estava ali, com Setsuna, e isso a espadachim não podia negar. Ela tinha Konoka em seus ombros, e acabara de receber um beijo da garota. Talvez ela não fosse tão inatingível assim, mas a outra ainda sentia que deveria permanecer em seu lugar.

– Você sabe que sim... não sabe?

Konoka lhe perguntou se agarrando ainda mais a garota, que sentia como se houvesse esperado toda a sua vida por essa carícia. Ela estava tão carinhosa que a mente apaixonada da sua protetora não pôde deixar de pensar que seria bom viajar mais vezes. Realmente Konoka estivera mais carinhosa nas últimas semanas, sempre a abraçando e segurando em suas mãos. Estavam cada vez mais próximas.

– Sei... Sei sim. Desculpe a pergunta...

Konoka desculpou-a dando-lhe um suave beijo no pescoço. Setsuna sentiu seu sangue ferver com a proximidade da pele da moça, e sua respiração tocando-lhe o corpo. Konoka também sentira algo ao beijá-la, mas forçou-se imediatamente, a esquecer aquele pensamento. As duas se afastaram. Estavam evidentemente envergonhadas, e um pouco nervosas.

Setsuna se aproximou dela por uma última vez, após pegar sua mala do chão. Konoka não pôde mais pensar em nada, quando Setsuna beijou-lhe a testa, suavemente, em última despedida. Seu coração havia se excitado de forma que seu rosto corou violentemente. A sua consciência lhe enganara "Eu estou triste por que ela vai partir... é isso... Por isso eu to sentindo isso...", enquanto seu corpo a traía se estremecendo ao toque da garota.

Elas se afastaram, e Setsuna partiu, mostrando um triste sorriso no rosto, enquanto os olhos de Konoka voltaram realmente às lágrimas.
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Desde que Setsuna partiu, Konoka sentia-se diferente, estava sozinha. De todos seus amigos, Setsuna era a base de sua pirâmide, seu apoio, seu espelho. Amigas desde a infância, Setsuna sempre esteve ao seu lado. Há poucos anos ela entrara num surto enlouquecido de pensar que seria melhor protegê-la à distância porém, com as investidas insistentes da maga, que se sentira sem uma parte do seu coração com essa atitude da amiga, a espadachim acabou se rendendo ao sentimento profundo que nutria pela sua protegida.

Konoka riu, lembrando da despedida, sem entender sua própria reação. Em seguida, se puniu mentalmente. Como poderia estar feliz com a partida de Setsuna? Mas algo, lá no fundo, lhe dizia que ela gostara mesmo do carinho que elas compartilharam, e não da sua partida. Konoka pensara alto por um instante...

– Já passou 3 dias... quanto mais ela irá demorar? Set-chan... Eu...

Konoka sentira a sensação eminente em seu corpo, e nem ao menos precisou concluir seu pensamento. Seu coração sabia muito bem o que ela iria dizer, e lhe enviou um humilde recado. Ela apenas sentiu, e calou-se.
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Os dias se passaram lentamente, e Konoka parou de ir ao Clube treinar, evitando ficar sozinha. A dor em sua alma era forte demais, ela não mais conseguia sufocá-la. Colara em Asuna, que como uma boa e observadora amiga, podia, ainda que silenciosamente, perceber os sentimentos confusos na garota. Ajudou-a, não a deixando sozinha. Elas saíam para fazer compras, ir ao cinema, jogar com amigos. Sempre juntas.

Em uma noite de trovões, Konoka estava estremecida em sua cama.

"Konoka tem medo de trovoada..."

Asuna Lembrara-se das palavras preocupadas de Setsuna, uma vez. Ela até então nunca havia percebido, Konoka sempre evitara demonstrar suas fraquezas. A única pessoa a quem confiava-as era Setsuna. Nesse dia, Asuna pôde admirar ainda mais Setsuna, por sentir o quão verdadeira e profunda era a sua preocupação e admiração por Konoka. E com o tempo ela pôde ir percebendo os verdadeiros sentimentos da espadachim.

"Konoka é tapada? Como ela não percebe!" - Asuna sempre pensava isso ao ver as duas juntas. Habitualmente, Setsuna demonstrara, mesmo que involuntariamente, a intensidade de seu sentimento. Asuna torcia pelas garotas, pois percebia o quanto Konoka era feliz ao lado dela, e sentia os reais sentimentos da mesma por Setsuna, mesmo que essa ainda não tivesse assumido-os para si mesma.

Asuna retornou de seus pensamentos. Ouvira um abafado gemido na cama abaixo da sua. Era Konoka. Ela estava verdadeiramente assustada. Asuna imediatamente se levantou, foi até o final do beliche e olhou para Konoka, que ao ver um rosto aparecendo na escuridão, olhara assustada.

– Você pode dormir comigo hoje? Eu estou um pouco assustada... sei lá... não gosto desses... trecos.

Asuna mentira um medo que não tinha. Sabia que Konoka não aceitaria se fosse de outra maneira. Conhecia muito bem a garota com quem dividia o quarto à cinco anos. Ela fingia ser uma pessoa forte, e decidida, que não tinha medo de nada.

Konoka a olhava quase que em desespero, mas fingira uma expressão de pena.

– C-claro que sim... Eu fico com você essa noite.

Asuna desceu, e deitou do lado de Konoka, apoiando-se na parede. Konoka estava suada, e Asuna pôde perceber em seus movimentos que estava sentindo frio. Cobriu a garota também com o lençol que acabara de trazer de sua cama, e para disfarçar, cobriu-se também. Na verdade não sentia tanto frio, mas não queria que Konoka ficasse envergonhada sabendo de sua preocupação. E, também, lá no fundo, ela própria se envergonhara com sua preocupação... "Um presente da Setsuna", pensara misturando levemente deboche e aborrecimento.

Sentindo Asuna ao seu lado, Konoka começou a relaxar. Sentiu o lençol de Asuna cobrindo-a também, e isso foi amornando seu corpo aos poucos. Mas o medo não passara. Mesmo tentando disfarçar ao máximo, Asuna percebia os movimentos no corpo da amiga. Parecia assustada ainda. Percebendo que não teria jeito, Asuna se limitou a trazer sua amiga para perto de si, abraçando-a por trás, carinhosamente.

Um pouco assustada pela reação súbita de Asuna, Konoka congelou, corando. Mas logo seus olhos suavizaram ao perceber a inocência que vinha por trás de sua atitude. Asuna apenas apoiou o rosto no ombro de Konoka, e fechou os olhos, tentando perceber a reação da amiga.

"Ela está realmente com medo", pensara Konoka que agora relaxava, pensando não ser a única com medo da trovoada.

Sentindo a respiração tranqüila de Konoka, Asuna foi se despreocupando também, e se deixando levar pelo seu cansaço. Mas permaneceu abraçada nela, lhe dando segurança, e as duas pegaram rapidamente no sono.