A Brilhante Forma do Amor

Cap 01 - A Falta que Você Me Faz


Era um dia de quinta feira, e Konoka saira mais cedo do Clube de Artes Plásticas de Mahora aonde fazia seus treinamentos de magia matinais. Ela não conseguira se concentrar, seus pensamentos estavam confusos.

"Hoje o treino foi pesado".

A garota apenas imaginava-se solitária, sem ao menos entender ao certo o por que, sentindo falta de alguém que nem ao menos poderia lhe dizer palavras de cuidado... não naquele momento.

"Eu estou sozinha"

Durante o treinamento a todo momento, Konoka se pegara olhando para a porta do salão. Ela imaginara alguém chegando, e sendo recebida com um enorme sorriso, e um forte abraço. A saudade era demais... Ela já não surportava mais.

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Há 3 dias atrás, Setsuna havia sido enviada por seu avô a uma missão de reconhecimento. Konoka pensou em protestar, mas sempre que via o olhar decidido de sua protetora, que tinha como único objetivo de vida "proteger e ver a felicidade nos rostos de sua Ojou-sama", simplesmente acatou.

Mas seu coração, secretamente perturbado, trouxe-lhe uma vontade desesperada de puxá-la para perto de si, o máximo que conseguisse, o que adiaria ao máximo a sua partida. Ela estremecera por imaginar-se sozinha, sem a sua melhor amiga. Aquela visão, estranhamente, lhe parecera mais assustadora do que a lembrança dos magos que viviam apenas planejando formas de como sequestrá-la, para usar a fonte de poder que havia no seu corpo.

Konoka era filha do mestre das Associações Mágicas de Kensei, e sua linhagem era pura, vinda de um casal de bruxos extremamente forte e poderoso. Assim, sua filha não apenas herdou os poderes, como também os aliou em si, se tornando quem sabe, o ser mais poderoso do universo. Esse poder se tornara uma faca de dois gumes. A existência da moça criava dois tipos de sentimentos - admiração e inveja. E, por causa desse segundo, a garota acabara se tornando alvo de magos do mal que esperavam apenas pelo momento de usá-la em seu favor.

Ao despedir-se de Setsuna, Konoka estava congelada, embora não afastasse o braço da moça que entrelaçara no seu. Setsuna percebera o nervosismo da moça, e sentira o mesmo. "Os dias sem ela serão dolorosos..." Setsuna se preocupava com o que poderia acontecer na sua ausência, mas tentou se acalmar pensando no avô de Konoka, o dono do Instituto Educacional de Mahora, e presidente das Associações Mágicas de Kensei. "Ele não a deixará desprotegida"

Em seus olhos haviam pequenas lágrimas que tentavam a todo modo sair, mas sua consciência era forte o suficiente para segurá-las. "Não posso chorar na frente de Ojou-sama. Iria assustá-la" Seus pensamentos se perderam na imensidão de um abraço repentino de Konoka. Setsuna daria tudo para permanecer ao seu lado sempre, não suportava vê-la tão assustada, ou triste.

– Eu não vou demorar. Te prometo.

Konoka passara a se preocupar com a missão de Setsuna, temera que fosse algo perigoso. Imaginar, por alguns segundos, algo acontecendo à garota fez com que seu coração apertasse. Seus olhos se renderam finalmente à tentação de chorar, e ela partiu para mais um abraço consolador da amiga.

Konoka apertara o corpo de Setsuna contra o dela, como nunca fizera. Queria se sentir protegida. Precisava disso. Setsuna não entendeu o real motivo de Konoka, pensando ser apenas o medo de ficar sozinha.

– Você não vai estar sozinha. Seu avô vai...

As palavras de Setsuna foram cortadas pelo soluço baixinho da garota próximo ao seu ouvido. Ela não teve tempo de pensar, apenas pegou em seu rosto, trazendo-o de frente a ela. Olhou-a nos olhos gentilmente, a garota pareceu corar-se. Seus olhos estavam vermelhos, e Setsuna não sabia mais o que fazer para acalmá-la. Pegou timidamente em seus cabelos, e disse.

– Por que você não vai treinando aquela magia do coelho? Quando eu retornar você pode me mostrar...

Setsuna forçou um pequeno sorriso, e sentiu-se feliz ao perceber que obtivera resultado. O olhar triste de Konoka permaneceu, mas aliado a ele, um sorriso entre as lágrimas surgiu, com sinceridade.

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Konoka lembrara de um dia no Clube de Artes Plásticas quando estivera a sós com Setsuna tentando lhe mostrar os seus avanços na magia. Disse para a outra que escolhesse qualquer um dos testes do primeiro capítulo do livro de artes mágicas - Capítulo para iniciantes, "Como fazer magias básicas? - Saiba como usar o seu poder", que ela saberia fazer com perfeição. Setsuna sorriu debochada, e escolheu.

Konoka deveria transformar uma bola de papel em um origami. Konoka, animadamente, escolheu o formato de um coelho para o origami, por saber que é o animal preferido da amiga. Com tudo pronto, alegremente, ela leu o feitiço... e nada aconteceu. Novamente, Setsuna já sorrindo com o mesmo risinho debochado, brincara com Konoka deixando-a brevemente irritada. Repetindo a fórmula, Konoka transmitira a sensação de desafio e irritação na voz, e logo ao terminar de ler o encanto, ouviram um estrondo. Ao observarem o local onde estava o papel, perceberam que este havia explodido, sobrando apenas faíscas. _______

– Eu vou sentir sua falta.

Disse Konoka de repente, interrompendo as lembranças de Setsuna, que a encarou corada. Konoka adorava a maneira que Setsuna ficava sem graça. O seu rosto ficava pálido, e ela timidamente desviava o olhar; e, sem nem conseguir sorrir direito, sempre se perdia na conversa, gaguejando sem parar.

"A expressão de Set-chan envergonhada é tão fofa!!!"

Assim, o hobby preferido de Konoka era deixá-la sem graça. Estava tão triste pelo fato da garota estar partindo que havia esquecido disso, porém, lembrar do seu cômico fracasso daquela noite a fez retornar a seu estado normal, pelo menos por esse breve momento.

– E-e-eu t-tam...bém, Ojou-sama.

Setsuna estava verdadeiramente sem graça. Seu coração pulara ao saber que Konoka sentiria sua falta. "Claro, eu sou a segurança dela", tentara se convencer imediatamente, controlando a respiração para conter a vergonha, porém algo nas palavras da amiga demonstraram o seu real significado.

"Ela vai sentir minha falta!!"

Exclamou a garota em seu pensamento. Setsuna sentiu-se feliz, e não pôde evitar um sorriso sincero. Agora ela partiria feliz, e guardaria fielmente o seu sorriso para quando retornasse. A missão não seria longa, o presidente lhe explicou. Ela teria de fazer isso. Tinha que proteger Konoka. Essa era a sua eterna e verdadeira missão.