Cada parte de meu próprio corpo protestou a se mover e obedecer meus comandos.

O pior não foi sair do estado de transe e me deparar com o que eu tinha feito e sim sair de meu estado de transe e me deparar com a expressão de Alice. Alice estava com medo. Medo de mim.

- Eu não faço idéia... – Tentei falar em meio ao choque – Do que... Acabou de acontecer.

Alice não conseguiu encontrar palavras para me acalmar. Ao invés disso, ela suspirou e caminho até o meu encontro. Não entendi de início o que é que ela estava fazendo, até que tirou um lenço de dentro do bolso e o passou em meus dedos, onde estavam sujos com sangue.

- Não estou assustada com o que você é capaz de fazer. – Alice terminou de limpar meus dedos e pousou o lenço, agora ensopado, em cima da mesa ao meu lado – E, sim, com o que aquelas coisas são capazes de fazer.

- É horrível mesmo – Concordei em meio ao torpor, e olhei para o rosto de Alice.

Vamos combinar que não foi horrível o que elas fizeram, foi mágico. Foi incrível. Pena que o pobre do ratinho não... Foi então que entendi.

- Você teme que as rosas possam fazer a mesma coisa comigo, não é? – Deduzi, com um aperto no peito.

- Não vamos deixar isso acontecer. Eu e Jasper vamos dar um jeito. Já liguei para ele. Agora está vigiando Nessie.

- Nessie está bem, não está?

- Claro que sim – Garantiu – Ela e Jasper estão muito unidos ultimamente. Ele se sente muito paternal quando se trata dela, sabe?

- Vocês não podem ter filhos? – Perguntei repentinamente, arrependendo-me instantaneamente quando as palavras saíram de minha boca.

- Não iríamos ter tempo de cuidar... – Alice engoliu em seco, virando as costas para mim enquanto saía do cômodo.

É claro que não teriam tempo. Não com tantas coisas acontecendo com eles nas últimas... décadas? Bem, não era nada confortável saber que a vida de outras pessoas estavam acabadas por que tinham que tomar conta do seu ‘’conto de fadas’’. E seria eu egoísta o suficiente para escolher a Nessie em vez de Edward, acabando com tudo para aqueles dois que me ajudaram tanto?

Deveria existir um jeito de tudo isso acabar bem para todos os lados. Deve haver um jeito.

Refizemos todo o caminho e voltamos para biblioteca. Alice havia acabado de fechar a entrada quando me lembrei que prometi ir até a cozinha trazer café.

- O café! - Murmurei, saindo às pressas dali.

Me surpreendi quando cheguei à cozinha por conta própria e fiquei contente ao saber que já havia uma chaleira em cima do grande fogão. Às pressas,enchi a chaleira de água e liguei a boca do fogão, pousando a chaleira acima do fogo.

Já à procura do pó de café, percebi que na linda janela da cozinha estava pousado um bilhete. Um bilhete que mesmo de longe pude reconhecer a caligrafia. Já com as mãos trêmulas, me aproximei da janela e peguei o bilhete.

Quero um pouco de diversão:

Conte para Rosalie ou contarei!

Atordoada demais, amassei o bilhete e o joguei no fogo que estava aquecendo a chaleira. Enquanto o bilhete virava cinzas, me apoiei na mesa, minha visão ficando completamente turva.

Pronto. O maldito filho da mãe estava tentando acabar com minha amizade com a irmã de Edward. Sem falar no escândalo que causaria dentro da família.

A chaleira começou a apitar e foi o suficiente para me despertar dos meus devaneios. Fui em direção ao fogão, só que parei na metade do caminho quando Jacob apareceu na cozinha e se colocou no meio de meu caminho.

- O que está fazendo aqui? – Perguntei, olhando para cima, encontrando seus olhos.

- Não quero Rosalie, não mais. – Disse simplesmente, avançando em minha direção.

- O quê?! – Foi minha vez de perguntar e quase gritei, dando um passo para trás.

- Quero você. Aquele beijo significou tudo para mim. Você é tão... – Ele foi encontrando as palavras certas, enquanto se aproximava de mim e ao mesmo tempo eu dava dois passos para trás – Bela.

- Você só pode estar maluco – Conclui, até que minhas costas encontraram a parede e fiquei sem saída.

- Sim, eu estou maluco! – Concordou ele, colocando seus braços enormes em minha cintura, me deixando sem saída - Maluco por você.

- Jacob... – Falei no tom de voz mais ameaçador que consegui, enquanto ele aproximava seus lábios dos meus. Em uma tentativa inútil de afastá-lo de mim, levei minha mão até seus lábios e afastei seu rosto do meu – Você é marido de Rosalie. Edward é meu noivo. Saia dessa, não sinto absolutamente nada por você.

- Claro que sente. Posso ver o quanto você olha pra mim e para meu corpo... Você me deseja, Bella.

Um barulho estranho veio da janela e meus olhos se desviaram para ela. Arregalei-os ao encontrar um monte de rosas se movendo como cobras, enquanto tentavam passar pela brecha da janela. Chegava a ser óbvio que se as rosas não conseguissem passar pelas brechas, iriam quebrar o vidro.

Ah, não. Isso não podia estar acontecendo. Se as rosas começassem a agir ao meu favor, alguém chegaria ali e seria impossível inventar uma desculpa.

Os batimentos de meu coração começaram a ficar descontrolados e minha respiração se dissipou.

Alice. Eu tinha que chamar por Alice.

- Se afasta de mim, Jacob! Se afaste de mim agora! – Berrei a última palavra e estava pronta para chamar por Alice.

Foi quando um vulto branco passou voando pela minha frente e atingiu Jacob.

Meus olhos seguiram o corpo de Jacob cair no chão e desviei meus olhos de seu corpo, agora olhando para frente, encontrando Edward.

Senti um alívio imenso quando encontrei seus olhos dourados fitando a mim e todo o meu corpo. Edward arfava rapidamente, assim como seus músculos rígidos pulsavam. Ele estava em posição de luta, parecendo um deus da guerra.

- Você está bem? – Perguntou, agora encarando raivosamente Jacob, que se levantava do chão.

- Sim. – Respondi rapidamente e olhei por cima dos ombros de Edward, a procura das rosas. Senti um alívio enorme quando as vi desistindo de lutar contra a janela, agora desaparecendo de vista.

- O que está acontecendo? – Perguntou Alice e assim que viu a cena, ficou paralisada. Seus olhos passavam de Jacob a Edward, até que encontraram os meus. Ela me olhou como se eu fosse uma criança que havia feito uma besteira.

Hm... Alice não ia ficar feliz ao saber que eu tinha beijado Jacob.

Tentei controlar meus batimentos cardíacos enquanto encarava a cena em minha frente.

- Seu filho da... - Jacob começou a xingar e não esperou muito para avançar até Edward.

A briga ia começar, aquilo era mais que óbvio. Enquanto Jacob avançava para frente, notei que Edward encheu o peito de ar e estava pronto para começar a brigar; em um gesto rápido e impulsivo, me coloquei no meio dos dois. Rosalie não podia se deparar com tal cena.

Pensei que ao invés de atingir Edward, as mãos de Jacob iam vir de encontro com minha cara, deixando um belo hematoma. Alice iria me matar. Só que aconteceu totalmente o contrário: Jacob parou na minha frente, com o corpo tremendo de raiva, enquanto Edward empurrava o peito em meu braço, pronto para avançar.

- Parem os dois! – Gritei, olhando um pouco para cada um – Vocês estão em uma casa... De família!

- É minha casa – Edward falou entre dentes, avançando.

- Cale a boca! – Exigi, batendo com meu dedo no peito largo de Edward – Sou sua noiva, então trate de calar a boca e me ouvir – Agora olhei para Jacob e apontei o dedo para sua cara - E da próxima vez que você tentar me beijar de novo Jacob, vou deixar meu noivo arrancar sua cabeça, entendeu?

Eu estava pronta para mandar Jacob para casa, só que me calei no momento em que Rosalie entrou no cômodo.

- Oi, pessoal! – Ela foi falando feliz, até que ficou paralisada ao me ver no meio dos dois – O que diabos está acontecendo aqui ... Ai meu Deus, seu rosto! – Ela gritou e correu até Jacob, não se importando de me tirar de seu caminho assim que chegou perto o suficiente e tocou no rosto de seu marido.

- Jacob estava me devendo em uma aposta de jogo– Edward foi falando habilmente, enquanto me puxava para perto de si – Não quis contar na sua frente. Esperei para vim até aqui e pedi o dinheiro gentilmente, só que seu marido não quis me dar o dinheiro. Então parti para a grosseria, não é, Jacob Black?

Jacob não concordou. Ao invés disso ficou encarando Edward com toda a raiva possível, enquanto Rosalie olhava apavorada para o rosto do marido.

- Não é, Jacob? – Edward disse mais uma vez ameaçadoramente.

- Claro que é, Cullen – Jacob finalmente concordou, tirando os braços grosseiramente de Rosalie de seu rosto – E graças a Bella que impediu que o seu irmãozinho acabasse com meu rosto. Não quero ficar mais nem um minuto nessa casa. – Depois de dizer tais palavras, Jacob saiu violentamente da cozinha, a passos largos e furiosos.

- Eu... Desculpa! Eu ligo mais tarde, oh. Me desculpem! – Rosalie foi se desculpando gentilmente, enquanto saia da cozinha, atrás de Jacob.

- Alice, os acompanhe até a porta. – Exigiu Edward, ainda furioso.

- Claro – Alice respondeu e desligou a boca do fogão antes de sair da cozinha.

Pensei que Edward iria começar a perguntar se tudo estava bem comigo ou coisa parecida, mas ele me surpreendeu quando me empurrou grosseiramente para longe dele.

A surpresa fez todo meu corpo ficar paralisado com tamanha grosseria. Ao invés de dar-lhe um merecido tapa na cara, considerando que Edward estava a uma longa distância de mim, encarei seus olhos dourados, chocada.

- Você é uma vadia! – Ele gritou grosseiramente, cuspindo as palavras em minha cara – Se não houvesse beijado o Black na festa passada nada disso teria acontecido!

- Você está me culpando pelo o que aconteceu no dia da festa?! – Perguntei gritando no mesmo tom de voz, assustada e ao mesmo tempo indignada – Foi você quem estava deixando uma vadia chupar você, só lhe dei o troco!

- Eu sou o dono dessa casa e seu dono também! – Ele foi se aproximando perigosamente de mim. Minhas pernas não conseguiam responder aos meus comandos de se mexerem e correr dali, ou até mesmo dar alguns passos para trás. Ao invés disso, fiquei paralisada – Você não tinha o direito de fazer aquilo, entendeu?

- Está me dizendo que agora pensa que eu sua escrava, é isso? – Meus olhos começaram a arder e lutei contra a vontade de chorar – Eu sinceramente pensei que você tinha mudado, mas só esta provando que existe um monstro em você, e não um homem!

- Ah, agora eu sou um monstro? – Edward se aproximou de mim, nossos corpos quase colados – Você é a vadia que esta beijando todo mundo por aí, e eu sou o monstro? Faça mil favores, você perdeu seu pai. Perdeu também a mãe quando pequena. Se não casar comigo e me obedecer perde a irmã, é isso que quer?

As palavras foram cruéis. Perfuram meu peito e cutucaram a ferida ainda não fechada por culpa da morte de meu pai. Jurei que nunca tinha sentido tamanha dor e humilhação.

Em um movimento rápido demais, Edward agarrou meu braço e me jogou no chão.

Meu corpo caiu no piso frio, só que não doeu nem um pouco. Não comparado a dor que eu sentia dentro de meu peito. Meu cabelo tapava todo meu rosto, e quando percebi, as lagrimas já estavam transbordando de meus olhos.

Levantei minha cabeça e olhei para Edward.

Assim que seus olhos dourados encontraram os meus, algo mudou dentro dele. Suas feições aliviaram e suas sobrancelhas se uniram. Eu me sentia humilhada, chorando ali por sua culpa.

Sem dizer uma palavra, Edward me deu às costas e saiu da cozinha.

E aquela foi a primeira vez que chorei por Edward Cullen.