Ainda chorando e sentada no chão, não percebi que Alice havia aparecido na cozinha e corrido para o meu lado.

- Está tudo bem? - Perguntou preocupada, enquanto passava os braços gentilmente ao redor dos meus.

- Sim – Menti, engolindo em seco toda a humilhação.

Em um gesto rápido e vergonhoso, limpei as lágrimas de meus olhos e contive a vontade de pousar a cabeça no ombro de Alice e chorar. Eu não podia mais me dar ao luxo de chorar. Porque diabos eu não conseguia sorrir e fingir que tudo estava bem?

- Ele vai se desculpar. – Prometeu Alice, ajudando-me a levantar.

Não falei nada em troca. Eu sabia, no fundo, que ele iria se desculpar. Afinal, essa história era sobre a Fera que sempre machucava a Bela, não era? Se bem que seria burrice deixar as palavras de Edward passarem em branco por conta disto.

Enquanto me levantava, olhei para o rosto de Alice e me imaginei no lugar dela. Sempre tendo que lidar com a mesma coisa, viver a mercê disso. Essa era a última chance, se não desse certo, o que aconteceria com ela? E se desse certo, eles ficaram livres? Ela e Jasper poderiam viver felizes para sempre?

Ao invés de tirar todas as minhas dúvidas, deixei que Alice me guiasse até o segundo andar, totalmente entorpecida, e me ajudasse a subir as escadas para me levar até o quarto. Durante todo o caminho, nós duas ficamos em silêncio.

Assim que cheguei ao quarto, corri para o espelho para olhar o estado de meu braço. E lá estava, um grande hematoma já arroxeado. O rosto de Alice refletiu no espelho assim que ela se colocou a trás de mim.

- Minha nossa! Temos até amanhã para isso sumir. – Ela murmurou a contra gosto, entortando a boca. É claro que eu tinha que estar em perfeito estado para os parentes de Edward no Alasca.

- Como irá esconder isso? – Perguntei incrédula, balançando a cabeça em dúvida.

- Sou uma fada. Esqueceu-se disso? – Como se eu pudesse esquecer! - Vou pegar alguns cremes, você fica aqui.

Alice saiu do quarto pulando, mas era óbvio que não era de felicidade e sim para controlar sua frustração.

Olhei para a linda e educada menina do espelho e senti uma grande repulsa. Eu não era assim, tão delicada e ingênua, era?!

Dei de costas para minha imagem e retirei o vestido, jogando-o na cama. Fui até meu guarda roupa e por incrível que pareça, encontrei uma calça de moletom e uma camiseta branca.

Vesti as peças de roupas o mais rápido que consegui e optei por amarrar meus cabelos em um rabo de cavalo.

Assim que Alice chegou ao quarto, deixou cair todos os cremes das mãos.

- Ah, não! – Reprovou, me fuzilando com o olhar – Não vai usar isso bem de baixo do meu nariz.

- Então não fique perto de mim – Desafiei, dando de ombros.

- Assim que eu tiver a oportunidade, colocarei esta roupa no fogo – Ela prometeu, pegando todos os cremes que haviam caído no chão – Só vou passar os cremes em seu braço, e prometo não falar com você enquanto estiver usando isso que chama de roupa. Sente na cama, agora!

Alice tinha mesmo ficado furiosa comigo. Ignorei toda dor que senti assim que ela começou a aplicar os cremes em minha pele e principalmente quando ela começou a massagear o local que já começava a latejar. Eu não havia notado o quanto estava dolorido.

Depois de ter ficado mais de meia hora aplicando o creme em minha pele, Alice recolheu os cremes e deixou o quarto sem ao menos se despedir de mim.

Ótimo. Agora até minhas roupas eram controladas.

Suspirando, saí do quarto e desci até a sala indo em direção da sala, a espera de Nessie.

O dia foi monótono e incrivelmente estranho.

Assim que Nessie chegou da escola, fomos almoçar. Todos se sentaram à mesa, menos Edward. Eu estava sem fome, e mal senti o gosto da comida. Depois, decidi com minha irmã que ficaríamos a tarde inteira assistindo televisão deitadas no sofá, o que seria praticamente um sacrifício, já que nenhum desenho animado me chamaria atenção.

As palavras de Edward ficavam se repetindo em minha mente, torturando-me a cada segundo, a cada momento.

Ele me jogara na cara que eu tinha praticamente perdido minha família inteira, e só me restava Nessie. Mal sabia que suas palavras só me fizeram-me agarrar ainda mais na decisão de escolher a minha irmã a ele.

O problema era que não dependia só de mim. Alice e Jasper mereciam uma eternidade sem compromissos. Nessie tinha uma vida inteira pela frente. Edward era praticamente o amor da minha vida, e no fundo eu sabia que era a única capaz de despertar o que havia restado de sua humanidade.

Maldição.

- Bella? – Nessie perguntou com a cabeça apoiada em meu colo, focada em seu desenho.

- Sim?

- Foi você quem deixou um bilhete em minha mochila desejando-me boa aula?

- Bilhete? – Foi minha vez de perguntar com a voz aguda.

Desvie meus olhos da tela da TV.

- É. Jasper viu e jogou no lixo, dizendo que era você. Só que depois ficou todo estranho... Olhando para os lados, muito cuidadoso. – Sua voz era doce e ao mesmo tempo curiosa.

- Claro que fui eu – Menti, já sabendo de quem deveria ser o bilhete. Ao invés de ficar nervosa e começar a tremer, disfarcei o máximo que consegui.

Comecei a acariciar seus cabelos, fingindo que estava prestando atenção no desenho animado.

- Jasper está sendo muito cauteloso ultimamente. – Conclui aliviada. Se não fosse por Jasper ou Alice, não sei o que faria. Eu sabia que poderia confiar minha vida a eles, sempre. - Ninguém vai machucar você, não mais. – Prometi para minha irmã.

Tentando manter a mente de minha irmã distraída das ameaças que ela mal fazia noção que estava recebendo, optei por começar um assunto totalmente diferente:

- Pronta para ir ao Alasca? – Perguntei, encolhendo-me nas cobertas.

- Sim! – Respondeu com empolgação – Vai ser muuuito divertido!

Soltei uma gargalhada ao ouvir toda a empolgação na voz de minha irmã.

A campainha tocou e não esperei por Alice, ela deveria estar aproveitado o momento a sós com seu parceiro. Rapidamente, pedi licença para minha irmã e levantei do sofá, indo atender quem quer que fosse. Não me importei pelo fato de estar toda descabelada ou coisa parecida, se fosse alguém importante ou não, teria que se contentar com minha aparência.

Assim que abri a porta, não encontrei ninguém. Meus olhos vagaram por todo lugar até chegar aos meus pés, onde localizaram uma caixa embrulhada. Estranhando tal ato, peguei a caixa e fechei a porta.

- Quem é? – Perguntou Nessie, focada demais em seu desenho.

- Não sei. – Respondi.

Aquela caixa poderia ser para qualquer um da casa. Observei cada canto da capa de embrulho e não encontrei nenhum bilhete, nenhuma descrição, absolutamente nada. Afinal, qual eram as probabilidades de alguém entregar um presente sem nem ao menos colocar o nosso da pessoa presenteada?! E se fosse para Edward? E se alguma vadia tivesse mandado aquilo para ele? Ah não, isso eu não ia admitir.

Decidi abrir o presente.

Aproveitando a distração de minha irmã, rasguei todo o embrulho da caixa e assim que o papel colorido estava todo rasgado no chão, notei que era uma simples caixa de sapato.

Curiosa, abri a tampa da caixa e se não fosse por Nessie, eu teria gritado como uma menininha assustada.

Dentro da caixa, havia um rato. Um rato morto.

Sua cabeça estava separada no corpo, e em sua pele branca, estava escrito em sangue a palavra ‘’você’’.

Minha mente começou a dar voltas e demorei alguns minutos até voltar ao meu estado normal. Ignorando o cheiro do sangue, fechei rapidamente a caixa e peguei o embrulho que estava caído no chão.

- Vou até a cozinha, já volto – Disse a ela e corri até a cozinha, onde larguei a caixa e o embrulho dentro do lixo.

Sabendo que não ia ser forte o suficiente dessa vez, corri o mais rápido que pude para perto da pia e vomitei ali mesmo, sentindo-me enojada com o cheiro de sangue. Demorou algum tempo para o enjoo finalmente passar, meus olhos já estavam lagrimejando de tamanha a força que fiz para vomitar. Limpando a boca com a palma das mãos, abri a torneira e deixei que a água levasse todo o conteúdo nojento de dentro da pia.

Correr para Alice e Jasper e contar toda a verdade seria a opção mais fácil. Só que eu sabia que se alguns deles soubessem de algo, não iria demorar muito para o assassino matar Nessie ou invadir a casa e transformá-la em uma carnificina. Sem falar que algo dentro de mim alertava-me para manter tudo em segredo, pelo menos até achar uma forma de resolver tudo por minha conta.

Afinal, o que eu tinha ao meu favor?

“As rosas”. Minha mente pareceu falar comigo, pois a ideia simplesmente surgiu em minha cabeça. Só alguém estúpida como eu iria me dar conta disto agora. As rosas estavam o tempo todo me alertando, aparecendo nos momentos em que eu estava em perigo. E se eu treinasse por mim mesma os poderes que elas poderiam me oferecer? Talvez, todo o poder das rosas poderiam ser o suficiente para matar o assassino.

- Bella? – Alice apareceu na cozinha, tirando-me de meus devaneios.

- Oi, Alice. – Respondi e rapidamente desliguei a torneira, ficando feliz por saber que todo o conteúdo nojento havia descido pelo ralo. Também lembrei que ela estava magoada comigo e foi impossível deixar de perguntar: - Você ainda está brava?

- Já passou. Não se preocupe, esse pouco tempo que tive, foi bem usado... Joguei todas as roupas que não me agradavam fora, a que você está usando será a próxima! – Ela tagarelava feliz, até que para minha infelicidade reparou que algo não estava certo - O que está acontecendo?

- Nada, não. – Menti e senti uma pontada no peito, sabendo que estava mentindo para uma das pessoas que estavam fazendo de tudo para me ver feliz. Nem mesmo me importei pelo fato de as roupas confortáveis para mim estavam na lixeira nesse exato momento. Brigar com Alice estava fora de questão. – E Jasper? – Perguntei para distrair.

- Ele esta na sala ajeitando as coisas. Acabamos de passar por lá e encontramos Nessie sentada no sofá. Ela estava dormindo.

- Nessie é acostumada a pegar no sono quando está assistindo seus desenhos animados. – Confirmei e foi impossível não me sentir uma criminosa quando Jasper apareceu sorrindo ali na cozinha e me abraçou fortemente, rodopiando-me no ar. Mentir parecia errado.

- Como está se sentindo, minha dama? – Ele perguntou, me colocando no chão.

- B-Bem – Respondi nervosa assim que ele se colocou ao lado de Alice. Os dois estavam pertos demais da lixeira, e se sentissem o cheiro?

- Não parece bem. – Jasper observou cauteloso.

- Edward foi um crápula com ela a algumas horas, mas já vai passar. Ele vai se arrepender, não é? – Alice também se preocupou, analisando-me.

- Claro que vai. É da natureza dele sempre perder a cabeça. – Jasper concordou, passando os braços pela cintura de Alice. Como eles podiam ser tão perfeitos juntos?

- Está tudo bem. – Tentei soar convencida – E onde ele está?

- Trancado no quarto. – Alice parecia cautelosa, como se cada vez que falasse dele para mim tivesse medo que eu me sentisse mal – Tenho que te dar um aviso, para não ser pega de surpresa.

- O que é? – Perguntei já sentindo pânico.

- Amanhã as papeladas do casamento vão chegar, para vocês confirmarem a data...

- Eu sei.

-... E Edward marcou o casamento para depois que chegarmos do Alasca.

- O quê?! – Gritei, sendo totalmente pega de surpresa.

- Ordens dele. – Alice avisou relaxada. Era óbvio que já havia se preparado para minha reação.

- É muito rápido. – Concluí, tentando controlar minha respiração.

Primeiro ele briga comigo e me chama de vagabunda. Depois, marca a data do casamento para em menos de um mês. Ele estava insano, louco.

Sem falar nada, saí o mais rápido que pude da cozinha e fui na direção das escadas, subindo degrau por degrau a caminho do quarto de Edward. Assim que cheguei lá, encontrei a porta semi aberta e a empurrei com toda a força possível, pronta para pedir explicações a ele.

A lareira estava acesa. O quarto estava vazio e a cama desarrumada. Algo que realmente me chamou a atenção além de outra porta que havia no quarto que estava fechada foi um pequeno caderno em cima da cama, aberto.

Aproximei-me da cama e peguei o caderno, só que quando meus olhos conseguiram visualizar melhor o conteúdo, soube que não era um caderno e, sim, um diário.

Sua capa era toda cinza e já desgastada, a caligrafia era incrivelmente elegante e foi impossível me conter, pois quando vi, já estava lendo na pagina que estava aberta:

8 de agosto

As coisas estão ficando complicadas.

Pela primeira vez em um muito tempo, finalmente pareço sentir algo dentro de mim, como se fosse um ponto luminoso no meio de tanta escuridão que me cerca. Só que existe um pequeno problema, que tem nome: Isabella Swan.

Todos os dias, quando me vejo no mesmo cômodo, sinto-me tentado a fazer coisas absurdas. Coisas das quais possam ser consideradas dignas de um pecador, o que na verdade sou. Nunca imaginei que eu pudesse ter tanta criatividade! Enfim, todo dia, é como uma tortura para mim.

Acho que tentando e seduzido é as palavras que mais descrevem o que sinto.

Posso ter qualquer mulher, menos uma. E isso está me deixando louco, insano. Pareço que não controlo minhas atitudes.

O pior de tudo, é que escondo um segredo. Segredo do qual não posso compartilhar com ninguém.

Havia mais algumas palavras escritas, só que eram indistinguíveis já que foram riscadas a caneta. Meus olhos foram até o final da pagina e encontraram um pequeno parágrafo, perfeitamente visível.

Hoje, fiz algo do qual não me orgulho. Algo que me fez sentir... arrependimento? Enfim, tenho que fazer algo que me distraia. Nunca me vi escrevendo tanto e talvez seja por isso que estou pensando seriamente que pela primeira vez encontrei alguém que é capaz de mexer comigo.

É possível que eu sinta qualquer coisa dentro de mim a não ser o mais completo vazio?

E lá estava eu, segurando a única coisa que poderia me dar todas as informações necessárias sobre meu misterioso futuro marido. Tudo sobre ele, em minhas mãos. Eu estava pronta para folhar as folhas do final, só que o diário escapou de minhas mãos ao ouvir a voz de Edward.

- Isabella? – Ele chamou.

- Sim? – Respondi no mesmo tom de voz e levantei minha cabeça, agora encarando seus olhos dourados.

Encontrei Edward sem camisa. Sua pele estava toda manchada de tinta e ele estava ao lado da outra porta aberta que havia no quarto.

Ele estava manchado de tinta. De onde havia vindo a tinta?

Antes que eu pudesse me conter e desviando meus olhos com certa dificuldade de seu peito largo, em um gesto completamente curioso e impulsivo atravessei o espaço entre nós e encarei o pequeno cômodo que havia por de trás da porta que ele acabará de sair.

Dentro do cômodo, havia várias telas, só que meus olhos não eram capazes de enxergar os desenhos pintados por culpa da escuridão. O choque atravessou todo meu corpo.

Com um movimento rápido e que não fui capaz de impedir, Edward fechou a porta rapidamente e minhas costas bateram na madeira, deixando-me totalmente sem saída ao ver que os braços de Edward estavam ao meu redor.

- O que está fazendo aqui? – Gritou ferozmente. Os músculos de seus braços pulsavam e senti certo medo.

Fechando os olhos, engoli todo o medo e quando os abri novamente, encarei seus olhos dourados. Não gritei, nem bati nele. Apenas fiz uma única pergunta, a única que me interessava. A única que rondava a minha cabeça assim que Alice falou que ele havia marcado o casamento para breve. A única que tive na primeira vez que ele me pediu em casamento.

- Porque quer casar comigo? – Aproveitando a oportunidade, abusei - Você me ama?

Assim que vi sua expressão, soube que ele não esperava por aquelas palavras.