A Bela Não Está Adormecida

O Primeiro passo de muitos.


Aurora olhou novamente para ter certeza se estava vendo a coisa certa, e a mulher no espelho a fitava intensamente.

Bela… - um tom calmo, sereno e ao mesmo tempo ameaçador - Vim aqui para te dizer algo importante.

– Q-Quem é você ? O que v-ocê quer comigo ? - Ela não podia conter as lágrimas que caiam de seu rosto, ela estava simplesmente desesperada. O que diabos era aquilo que estava acontecendo ?

– Isso não importa. – A mulher semi-cerrou os olhos como se estivesse lamentando. – Você sabe que dentro de você...Há algo não sabe ?

– Não há nada dentro de mim. E-Eu...E-Eu. – Ela só queria sumir– Eu só queria ser normal, mas...eu não sou. Eu tento ser uma boa garota...tento sorrir...

– Eu sei. – a mulher sorriu – Você é como eu Bela. Seus pais te tratam assim porque nunca te quiseram. Todos te veem como um monstro dentro desse castelo bela, você sabe.

– Mas...Eu não sou um monstro. - protestou enquanto escorregava pela porta, sentando-se no chão.

– Você sabe que é. Vamos querida, não se faça de tola. - A mulher estaa sentada em uma cadeira, e apoiou as mãos no queixo em sinal de tédio - Eles te tratam como um animal feroz, você não pode nem sequer comer junto a eles, não pode andar pelo castelo durante o dia sem receber um olhar de desprezo até mesmo dos funcionários. Olhe para si mesma...Você está se deixando levar pelos outros.

– Mas o que eu posso fazer para isso passar ? - Ela estava com a cabeça enterrada entre os joelhos, aquela mulher realmente tinha razão.

– Mate. – Disse a mulher ainda sorrindo, como se aquela fosse a solução para tudo. – A vontade que você tem é de matar. Mate, e tudo isso que está acontecendo com você irá passar, minha querida.

– Matar ? - Os olhos de Aurora praticamente brilharam, e ela voltou a olhar para o espelho fazendo a mulher sorrir vitoriosa - Você quer dizer fazer a pessoa dormir ?

– Sim querida. Você pode faze-las dormir eternamente se quiser, você sabe.

– Eu Posso ?

– É claro que pode... Já fez isso uma vez, lembra ? - Malévola estava se referindo a um assassinato que havia acontecido dois anos atrás, um horrível crime onde a vítima foi encontrada esquartejada na área de serviço do castelo, lugar próximo ao quarto de Aurora.

– Mas eu sou pequena. - falou enquanto enterrava a cabeça entre os joelhos novamente

– Você é pequena e o Mundo é grande. E se você quer ser como ele, e eu sei que quer, cresça. Eu sei que você não tem essa mentalidade que aparenta ter...Você não pensa como uma criança de oito anos, vamos convir.

– Mas eu...eu.. – A garota era dominada por algo, algo estranho.

Algo que a fazia querer gritar como se fosse uma dor estranha dentro de si. Era como se uma outra ela estivesse nascendo naquele momento, como se alguma coisa dentro de sua mente pedisse insistentemente para ser libertada.

Aurora colocava as mãos nos cabelos, puxando-os de forma violenta, sem nem sequer sentir a dor que isso estava lhe causando Malévola estava observando através do espelho, e tinha sua varinha em mãos.
Ela estava de joelhos no chão, e a cada segundo que se passava tinha impressão que sua cabeça iria explodir. Seus olhos já estavam turvos devido a tanta dor, ela sentia que iria desmaiar, não tinha mais forças para aguentar aquilo.
A dor sumiu, como se nunca tivesse existido. Aurora olhava para o chão com a respiração ofegante, sua mente estava muito desorganizada, seus pensamentos atuais não passavam de velhos vislumbres de um passado.

– Como se sente ? – Malévola perguntou com um olhar curioso, como se esperasse algo vindo da garota.

Aurora riu, um riso que era estridente e tomado de um sarcasmo e convencimento. – Então...Isso é a tal psicose ? - Perguntou enquanto sentava-se de maneira desleixada, com as costas encostadas na porta e os cabelos loiros caindo sob os olhos.

– É exatamente isso, Aurora. - Malévola afirmou sorrindo vitoriosa, seu plano havia dado certo.

– Meu nome é agora é bela. - sussurrou divertida, jogando as mãos para o lado.

– Como quiser.

– Quem é você ?

– Alguém. - preferiu deixar o mistério - Alguém na qual você não precisa conhecer agora. Mais você logo saberá, criança. Cresça, e esmague o mundo ao seu redor.

– E o que acha que vou fazer ? - rebateu divertida, ela com certeza estava fora de si.

A garota estava com um olhar diferente de antes, algo um tanto macabro. Seu sorriso era largo e sarcástico, um sorriso de escárnio.
Ela se levantou, deu alguns passos até seu corpo se acostumar a andar. Era como se uma nova Aurora tivesse nascido, nascido para matar.