Era mais uma calma quinta-feira naquela semana tranquila de minha estranha vida escolar. Após as entediantes lições de sempre era hora de assumir meu segundo turno no dia. Uma atividade extracurricular tão insana e prejudicial que acabou consumindo meu cérebro e tornou-se parte de minha rotina diária. É claro que estou falando da Brigada SOS. Esse clube bastante peculiar é formado basicamente por uma alienígena calada e devoradora de livros, uma viajante do tempo linda e tímida, um esper falastrão e filósofo, uma líder autoritária, insana e excêntrica e por fim, eu, uma pessoa 100% normal segundo o senso comum.

Aquele era mais um dia em que nossa líder reclamava sonoramente da falta de coisas interessantes pra se fazer. Eu mais uma vez jogava uma partida de xadrez com Koizumi, tomando o maravilhoso chá de Asahina-san, enquanto tentava ignorar a chateação de Haruhi.

“Você sabe como não é bom que Suzumiya-san fique irritada e entediada desta forma.” – falou Koizumi com seus maneirismos exagerados de sempre.

“E o que você tem em mente para melhorar isso?” – perguntei sem o menor interesse de pensar profundamente em alguma solução.

Koizumi colocou o dedo no queixo e mais uma vez me preparei para um discurso que tiraria a cor do meu dia. De repente ele deu uma de suas risadinhas nojentas e começou com sua gesticulação de sempre.

“Eu acho que você deveria chamar Suzumiya-san pra sair e fazer algumas coisas que pessoas da idade de vocês fazem. Tipo que tal um cinema ou um passeio em um parque?”

De novo essa história, até quando você vai ficar tentando me forçar a ter um encontro com a Haruhi?

“Eu sei que você não gosta dessa idéia e já rejeitou meus conselhos quanto a isso mais de uma vez, mas acredito que você não vá se arrepender se o fizer. Eu particularmente acho que você e Suzumiya-san têm muito em comum, além disso, ela é uma pessoa bem dócil lá no fundo, não seria interessante descobrir isto?”

“Eu passo” – Depois disso a desanimada chefe da brigada levantou-se de sua cadeira soltando um grande suspiro.

“Estão todos dispensados por hoje” – Falou Haruhi em seu mal humor tão comum.

Logo ela juntou suas coisas e saiu pela porta do clube parecendo bastante irritada, mas com o toque melancólico de sempre. Todos seguiram a líder, e eu mal esperava para chegar em casa e dormir. Koizumi atrasou seu passo e seguiu ao meu lado. Colocando seu sorriso padrão no rosto ele começou...

“Eu tenho uma proposta para você relativa à nossa conversa de agora a pouco” – Hoje você está insistente meu caro e eu não estou com humor.

“Seu rosto está perto do meu, o que você quer?” – Falei com certa impaciência.

“Que tal uma aposta?”

“Uhm...sobre o que exatamente?” – perguntei despreocupadamente

“Bem já ponderamos algumas vezes sobre o “por que” de Suzumiya-san ter escolhido você para integrar sua brigada, mas eu nunca fui tão direto por não querer assustar você com minha opinião mais provável sobre isso. Eu dei algumas dicas sobre qual seria ela, mas você continua fugindo da minha resposta, o que eu acho totalmente compreensível de alguma forma. Entretanto, para apostarmos, você precisa saber minha opinião sobre por que você foi escolhido por Suzumiya-san. Você quer saber?”

Ele estava certo sobre eu fugir dessa opinião, mas já que ele tocou no assunto tão diretamente e estou curioso sobre a aposta decidi que vou ouvir essa besteira dessa vez.

“Acredito que devo prosseguir então” – Ele colocou um olhar mais sério e contemplativo no rosto, acho que não dá pra quantificar os problemas mentais que essa cara tem – “Eu acredito que Suzumiya-san esteja apaixonada por você.”

Tentei não mudar minha expressão, mas aquilo me atingiu de alguma forma, na verdade eu achei que essa era mais uma de suas piadas ridículas e me coloquei a rir de forma sarcástica. Haruhi apaixonada por mim, vamos lá Koizumi, acho que você já foi melhor em teorizar.

“Sei que você não acredita no que estou falando e por isto desejo apostar sobre isso” –Falou ele voltando a entalhar aquele sorriso enganador no rosto – “Além disso, eu acredito que ela não seja a única na brigada que tenha problemas em lidar com esse tipo de sentimento.”

Não compreendi, ou não quis compreender, esta última proposição. Por isso, ignorando-a, perguntei sobre a aposta e como conseguiríamos definir um vencedor.

“É muito simples” – disse ele começando a exagerar sua expressão novamente – “Você sai com Suzumiya-san e se não acontecer nada demais que mude sua opinião, você vence, do contrário eu venço.”

Devo dizer que isto está meio indefinido, o que exatamente você está tentando provar.

“Sendo direto eu quero comprovar que minha dedução sobre Suzumiya-san estar apaixonada por você está correta e uma outra coisa a mais também. Para você vencer basta que não aconteça nada demais nessa saída. Basta que tudo se pareça com mais um desses passeios triviais entre amigos” – Disse ele colocando um sorriso esquisito no rosto – “Claro que como em toda aposta deverá haver um prêmio para o vencedor. No meu caso eu me proponho a realizar todo o trabalho braçal que você realiza na brigada e pagar as contas financeiras pelas penalidades que você eventualmente receba por 1 mês”

Este prêmio não é nada mal, eu posso ficar até mal acostumado a ver meu dinheiro não se esvair da forma que anda acontecendo atualmente, mesmo que por um mês. Mas caso você vença...

“Caso eu vença você apenas terá que continuar realizando o trabalho de manter Suzumiya-san estável, e continuar participando do clube. Apesar de que caso eu vença, isso não será problema pra você.”

Bem, esta aposta não está nada razoável pra você, mesmo assim você parece bastante tranquilo. De qualquer forma sua hipótese será rejeitada com louvor. Percebi que uma parte bem distante de mim reclamou dessa última frase mas deve ser algo fruto da fome e do cansaço em que me encontro.

“Como faremos então?” – Perguntei me sentindo um adulto tirando o doce de uma criança.

“Eu tenho aqui esses dois ingressos para um show de música que vai ter na cidade este fim de semana. A banda se chama Spitz” – Conheço essa banda, ela é bastante popular por aqui, mas tocam músicas bastante melodiosas e por vezes com letras melosas e poéticas. Essa deve ser uma das fontes da confiança dele. – “De qualquer forma, você terá que convidar a Suzumiya-san e no dia do show eu estarei posicionado para não deixar escapar qualquer coisa que você não venha a querer me contar.”

Devo dizer que você tem uns hobbies bastante esquisitos, o que me enoja profundamente, mas esses ingressos estavam custando uma fortuna, afinal de contas não é normal uma banda desta popularidade vir a uma cidade pequena dessas.

“A Agência cuidou de conseguir os ingressos, mas isso não importa no fim das contas.”

Peguei os ingressos das mãos daquele bastardo que agora se colocava a sorrir mais largamente e fui para casa conseguir meu tão almejado tempo de descanso.

No dia seguinte encarei a conhecida escalada matinal para a escola com pouco entusiasmo. Apesar disso, o dia teve um ponto positivo no início, eu consegui escapar da azucrinação irritante do Taniguchi. Com isso, tive tempo e me coloquei a pensar sobre como convidar Haruhi para aquele show. Eu quero dizer, Haruhi é extremamente não receptiva a esse tipo de coisa. Além disso, seu mal humor matinal devia estar no nível máximo com a irritação de não ter nada para fazer.

“Yo” – Falei para ela com um sorriso um pouco nervoso no rosto.

“Oi” – Como esperado, nenhuma abertura.

Haruhi contemplava a visão fora da janela com a melancolia tradicional de quando ela realmente não tem nada para fazer.

Após algumas ponderações internas decidi que a melhor forma de fazer aquilo seria na hora do almoço. O tempo por alguma razão passou demasiadamente rápido hoje.

“Eu preciso falar uma coisa com você” – Falei antes dela fazer sua saída veloz durante almoço e tentei esconder o nervosismo que me tomava.

Vou abrir uma brecha aqui para dizer que este nervosismo deve ser normal para qualquer cara que vai chamar uma garota para sair. Não é como seu estivesse com pensamentos românticos ou algo do tipo.

“O que é? É algum segredo que você não pode me contar aqui? Qualquer coisa vamos até a escada que dá para saída do terraço” – Bingo, eu sempre fico impressionado com a intuição dessa garota, mas esse não é o momento para ponderar sobre isso.

“É mais ou menos isso, você pode ir até lá comigo agora?” – Falei tentando ser trivial.

Ela concordou e não pude deixar de reparar o quão animada ela ficou apenas por essa conversa. Essa garota é realmente simplória quando se trata de coloca-la pra cima. Essa é uma das características positivas que eu consigo ressaltar em Haruhi. Mas novamente, não é a hora pra ficar juntando pontos positivos e negativos sobre a personalidade desta pessoa.

“Haruhi, na verdade eu tenho esses ingressos e e-eu queria saber...” – Que coisa irritante, por que estou gaguejando igual a um idiota? – “...se v-você quer ir comigo nesse show no sábado.” – Ufa, saiu, agora é esperar pela reação de vossa majestade. Se ela me der uma negativa agora, já ganhei a aposta do Koizumi.

Um silêncio ansioso tomou conta daquele lugar já quieto. Por algum motivo eu estava com meu estômago revirando constantemente. Será que eu estava com tanta vontade que ela não aceitasse? Ou o pior, será que eu estava com medo dela não aceitar? Neste momento eu não quis dialogar com meus pensamentos pra descobrir qual era a realidade. Ao invés disso eu decidi analisar a expressão de Haruhi após entregar os ingressos nas mãos dela.

Sinceramente não sei se minhas novas ponderações eram tão fáceis de se filosofar quanto as anteriores. Haruhi apresentou no rosto um misto de sorriso realmente alegre com surpresa total e suaves toques de desconfiança e incredulidade. Minhas mãos suavam um pouco agora. Ela decidiu quebrar o silêncio.

“Kyon, isto não é uma brincadeira sua né?” – O que? Eu convido você para um show dessa magnitude quase passando mal e recebo essa resposta. – “Afinal de contas, por que você não convidou a Mikuru-chan em quem você parece ser tão vidrado?” – Senti um certo amargor nestas palavras. Respondi...

“Não é brincadeira, eu queria ir com você, a menos que você não goste dessa banda. Eu posso chamar outra pessoa.” – Que diabos de reação é essa...“eu queria ir com você”...acho que fiquei um pouco ressentido com a reação inicial dela e levei a questão para o lado pessoal.

“T-Tudo bem se é assim eu vou com você, mas não f-fique se achando só porque conseguiu um encontro com a sua chefe” – Ela falou essas palavras com um nervosismo parecido com o meu, e “encontro”, achei que ela abominasse essa idéia. Não pude deixar de notar que Haruhi estava um pouco corada e desconcertada com aquilo, ela estava tão, tão, tão, está bem, “linda”, não existiu eufemismo que conseguisse me impedir de usar esta palavra.

“Ok, depois podemos marcar o local para se encontrar” – Falei de maneira descompromissada como se um milhão de toneladas de ferro saíssem de cima de mim.

Logo nos despedimos daquela situação e voltei a minha rotina de chateação na sala de aula. Haruhi definitivamente tinha mudado de humor, ela estava extremamente enérgica e cantarolava algumas músicas durante os intervalos das aulas. Além disso, algo me preocupou, vez ou outra eu sentia ela me fitando com um estranho sorriso. Pior que isso era a briga interna em que eu estava ao tentar me convencer de que estava arrependido de ter aceitado aquela aposta.

É engraçado como as coisas mudam, ontem o tempo passou igual a um foguete, hoje tudo se arrastava em uma lentidão imensa. Após aproximadamente 200 horas de aula, segundo meu relógio interior, fugi para o refúgio onde minha mente e alma estavam presos, a sala do clube de literatura aka Brigada SOS.

Chegando lá fui recepcionado pelo chá quente de Asahina-san, o sorriso imbecil do Koizumi e o “nada” de Nagato. Koizumi pulou rapidamente em cima de mim questionando...

“Conseguiu passar da primeira fase?” – Bastardo cínico. Apenas balancei a cabeça em afirmação.

“Então agora não há nada o que fazer a não ser esperar, estou curioso para ver o humor de Suzumiya-san quando ela se apresentar hoje” – Qual o problema desse cara?

Eu estava bem desconcentrado naquele momento. O chá de Asahina-san tão indicado para o meu aquecimento pessoal estava insípido e de maneira alguma conseguiu me afetar da maneira que eu desejava.

Logo Haruhi apareceu batendo a porta como sempre. Ela estava radiante, por isso, comecei a me preocupar com minha segurança pessoal. Mas, contrariando minhas expectativas ela foi direto para a cadeira da mesa onde se sentava a chefe da brigada. Percebi que ela estava querendo falar algo, uma vez que, invariavelmente, ela me olhava tentando disfarçar.

“Estão todos dispensados hoje, com exceção do Kyon. Preciso falar uma coisa com você.” – Koizumi soltou uma risadinha doentia enquanto se despedia e saia junto com Asahina-san e Nagato.

Eu fiquei automaticamente nervoso, mas me perguntava por que? Quem não deve não teme não é?

“Kyon, n-na verdade eu queria pedir desculpas pela minha reação hoje quando você me convidou pra sair.” – O que? Haruhi pedindo desculpas! O mundo deve estar girando no sentido anti-horário neste exato momento. Eu apenas balancei a cabeça sem saber o que responder.

“Eu não esperava que você fizesse algo assim, então eu fiquei um preocupada de você achar que estou me obrigando a ir com você a esse show. Então te encontro amanhã na estação. Chegue cedo para comermos algo e não esqueça que atrasos ainda serão passíveis de punição” – Bem quando eu começava a murmurar alguns pedaços de sons parecidos com palavras, Haruhi se aproximou subitamente de mim e eu apenas senti uma sensação leve e macia na minha bochecha direita. Eu estava oficialmente chocado e juntava o quebra-cabeças para digerir que eu acabara de receber um beijo de Haruhi. Com a velocidade de um trovão ela correu porta a fora enquanto gritava para eu não esquecer de trancar a porta do clube quando saísse. Tambores rufavam dentro de mim.

A verdade é que não tive reação nenhuma. Não falei, não gesticulei, eu apenas divagava sobre o que tinha acontecido. A volta pra casa deveria arejar meus pensamentos.

O fato é que eu não consegui tirar Haruhi da cabeça durante o caminho inteiro para casa. Isso já seria ruim o suficiente, mas eu simplesmente pensei nela o jantar inteiro, na hora de tomar banho e até quando fui escovar os dentes. Quando deitei para dormir disse para mim mesmo que já bastava daquilo.

Naquela noite eu estava muito agitado e meu sono não estava tão intenso, dessa forma tive alguns sonhos e lembro-me de três pois nestes eu acordei em seguida. Adivinhem com quem sonhei...

1º Sonho: Eu estava andando num lugar parecido com a escola e via Haruhi em frente ao portão me esperando, eu acho, então quando eu me aproximava ela começava a correr e eu a seguia até um beco onde não havia ninguém. Ela então fechava os olhos e me dizia que eu podia fazer aquilo por que ela gostava de mim. Ela queria um beijo e eu realizava seu desejo.

Acordei pensando o quanto estava tudo errado nesse sonho, mas o ignorei rapidamente e voltei a tentar dormir.

2º Sonho: Dessa vez estávamos naquelas famosas buscas de mistérios pela cidade. Haruhi pela 1ª vez foi sorteada junto comigo e eu ficava ridiculamente feliz com isso. Empolgadamente saímos e encontramos uma estranha nave num lugar afastado da cidade. Haruhi estava com um vestido rodado e tão linda e brilhante que parecia o próprio sol. Ela me dizia que estava muito feliz e que seu maior desejo era compartilhar algo assim comigo. Eu ficava um pouco abobado e novamente beijava Haruhi.

Freud-sensei riria de mim ao analisar um sonho desses. O terceiro e último sonho... bem...ele envolve algo típico da mente de homens da minha idade eu acho, então não vale a pena ficar contando esse tipo de coisa descuidadamente. Apenas para vocês não ficarem sem luz, eu revelo que era algo relativo a um banho, mas só vou dar esta informação.

O dia seguinte era o “dia” do encontro. Não preciso dizer que eu estava acabado após dormir tão mal daquela forma. Entretanto, alguma coisa me motivou e eu estava ficando ansioso para que a hora de sair chegasse.

Pra quem não se importava tanto com o que ia acontecer eu estava bem preocupado com minha aparência. Assim que me arrumei saí rapidamente com minha parceira de metal rumo ao ponto de encontro clássico da brigada.

Cheguei lá faltando aproximadamente 10 minutos para o horário marcado e não preciso mencionar que Haruhi já se encontrava no local. Ela estava, bem...diferente, vou usar esta palavra pois não necessito de mais problemas neste momento.

Após receber minha punição padrão, rumamos ao restaurante em que Haruhi queria comer. Dessa vez era sobre comida ocidental e meu bolso chorava tanto quanto meu estômago. Nesses tempos em que andamos e comemos juntos conversamos sobre diversos assuntos e eu estaria mentindo se dissesse que não estava apreciando aquilo. Alguns olhos me fitavam na rua com um certo fogo e embora eu tentasse não admitir eu sabia que eram caras com inveja e frustração de me ver com uma garota tão bonita quanto Haruhi.

Rapazes, vocês só estão vendo a casca dessa pessoa e não sabem em que me meti por ficar me intrometendo com essa garota. Repentinamente lembrei da primeira vez em que vi Haruhi e como simplesmente a achei estonteante. A personalidade dela suprimiu muito da minha primeira impressão, mas mesmo assim, por que eu me envolvi com essa garota? Não, eu não quero saber dessa resposta. Vou continuar aproveitando esse dia de calmaria como se nada estivesse acontecendo.

Enquanto eu recitava um mantra mentiroso sobre nada demais estar acontecendo ali, eu me dei conta da hora e chamei Haruhi para irmos ao estádio onde aconteceria o show.

Na fila, nós estávamos bem próximos e eu me encontrava bastante nervoso com a distância. Haruhi como num passe de mágica segurou minha mão enquanto conversávamos sobre eu não sei o que mais. Eu sentia uma tensão gigante e espero que ela esteja relacionada com o show e não com a mão que estava enrolada na minha.

Enquanto eu fingia estar em meu estado normal entramos no estádio em que seria realizado o show. Logo tudo ia acabar...sim ia acabar...

A banda adentrou o palco e começou a tocar músicas um pouco agitadas e eu fiquei um pouco mais leve. Haruhi estava se divertindo pulando e gritando. Quanta energia essa garota tem, eu mal podia acompanhar ela, mas me deixei levar um pouco pela ocasião.

Tudo estava indo bem quando o cantor anunciou que iriam tocar uma música um pouco mais antiga da banda. Essa se chamava Bunny Girl. Que coincidência, assim eu pensava. Haruhi por mais de uma vez usou uma fantasia dessas. Resolvi prestar um pouco de atenção na letra da música. Para minha surpresa começaram a surgir frase como...

“O amor existe por alguma razão, o amor acontece teimosamente”

“Eu irei ladeira abaixo com você, para ser pego pelos sacos de lixo”

“Eu nem mesmo sei o seu nome e ainda sim eu já gostei de você quando pulava por cima do vale sem fundo”

“Apenas você pode distorcer o mundo inteiro com sua boca, tudo se apaga para você”

Minha cabeça latejava com essas frases. O sujeito dessa música deve ser um masoquista idiota e essa mulher alguém realmente mandona e esquisita. Após me recompor a banda começou a tocar músicas lentas, mais românticas. Eu tentei ignorar a letra das músicas pois eu já estava ficando afetado de novo. Mas com o som a altura que estava era impossível para meu cérebro impedir o fluxo daquelas informações. Novas frases de outras músicas iam se misturando as que já rodavam na minha cabeça:

“Após dias sozinho, assistindo meu biscoito se desfazer, você expõe seus sentimentos pela primeira vez.”

“Com o oceano refletido em seus olhos, você me convidou para me afastar daqueles dias nos quais eu estava preso a um limitado futuro.”

“Agora que você pode ser envolvida nessa quente felicidade você empilha engano após engano. Eu amo você? Isto é bobagem.”

“Antes de você se tornar uma lembrança, sorria para mim uma vez mais. Fingindo gentileza, faça-me me perder com seus olhos infantis”

“O amor é um medicamento de infelicidade que se bebe sem hesitação.”

Quando pareceu que não podia piorar, os músicos pareceram querer tocar a música mais lenta possível do seu repertório. Enquanto eu via alguns casais se aproximando para dançar, Haruhi se aproximou de mim e perguntou, sem me olhar nos olhos, se eu gostaria também. Como não consegui formular uma frase muito audível ela entendeu que sim. A próposito a música se chamava P e enquanto eu voava tentando me distrair com a letra para não me concentrar no que estava acontecendo ao me redor, eu descobri que não era tão melhor pensar nisso...

“Por causa de estarmos assim novamente, eu tentei sorrir, mas o que há de errado comigo? Agindo tão desajeitado. Agindo tão idiotamente. Vivendo tão pateticamente.”

Por que eu estava afetado? Eu continuava sem coragem de querer saber. Enquanto isso outra canção se iniciou e manteve um ritmo em que podíamos ficar grudados do jeito que já estávamos. Seu nome era Yuuyake (Pôr-do-Sol) O segundo coro da música começou:

“Eu quero pensar em estar com você. Desde que nasci não havia mais ninguém para mim. A sombra do tempo se aproxima da distância, permitindo que se esqueça a tristeza, transformando-a em um pôr-do-sol. “

Após essa frase durante um solo de guitarra começaram a sair alguns fogos de artifício do alto do palco. Nós nos soltamos e começamos a admirar aquele espetáculo no céu. Eu ainda tentava manter as aparências enchendo minha cabeça com um monte de mentiras enquanto focava a abóbada escura que agora parecia reluzir.

Mas não consegui me conter. Eu fitei Haruhi e não consegui tirar aquela visão da minha cabeça. Os olhos dela brilhavam com o resplandecer do céu e ela estava com seu sorriso de 10000W no rosto, mas um pouco diferente do habitual. Naquele momento Haruhi era para mim, a garota mais linda da Terra por um universo de distância da segunda colocada. Em seguida ela me percebeu e olhou fixamente nos meus olhos. Eu me senti automaticamente perdido enquanto ela se aproximava a uma distância fatal e tomava minha mão. Eu podia sentir sua respiração se misturar a minha e decidi não lutar mais com a vontade que eu escondia até de mim. Nossos lábios se uniram enquanto as últimas frases da canção ecoavam:

“Eu quero ficar ao seu lado desse jeito para sempre. Eu me pergunto se apenas desejar isso já é demasiadamente difícil. O fim ainda não está decidido, tudo bem que nos sujemos. A bela noite vai cobrir completamente até a tristeza.”

Nem os pensamentos de Koizumi rindo de mim me fizeram recuar. Após nos separarmos para recuperar o fôlego eu sussurrei para Haruhi.

“Eu acho que estou apaixonado por você” – Como que essa frase saiu eu não sei, mas como já tinha cansado de me enganar decidi colocar tudo pra fora.

“Eu também estou, e a muito tempo eu acredito” – Falou Haruhi com um grande sorriso no rosto. Eu apenas devolvi o sorriso como um bobo que não acreditava naquele desfecho. O que quero dizer é que a uma semana atrás isso era uma insanidade, mas agora eu não quero nem pensar mais nisso. Nós nos beijamos mais algumas vezes até o fim do show. Eu a levei até a casa dela e voltei extasiado. Como no verso de Yuuyake...

“Assim como vejo o por do sol ou um gato de rua não me incomoda rir sem entender o porquê.”

...Assim eu andava nas ruas de volta pra casa. Com um sorriso que mal cabia no meu rosto e um coração feliz.