O programa terminou bem na hora deu sair para o treinamento. Kiara estava terminando de se arrumar, pelo jeito ficou o tempo inteiro conversando com Gale. Faltando 15 minutos para o horário marcado, Ronnie entra na sala e me encara.

-Você já foi estilista em outros anos. – Falo para ela, sério. Ela confirma com a cabeça.

- Você... - Olho para o lado- Poderia me dar algumas dicas?

Ela olha para mim e se senta no meu lado.

- Me de sua mão – Rápidamente ela segura minha mão e começa a ver os traços nela – Você não é muito de lutar certo? Nem de se esforçar, fisicamente. –Aquilo foi uma afirmação – Não há nenhum traço de desgaste em sua mão - e então ela me solta. – Sua única chance é formar um grupo.

-Nunca iriam me aceitar. – Falo rindo. Mas de certa forma, eu sabia que era verdade.

-Talvez... Bax, qual foi à impressão que você queria dar no desfile?

-Humildade. –Falo sem pensar. O que, de certa forma, era verdade. – Não de que eu sou uma pessoa simples. Uma humildade ao fato de que eu vivo na Capital, mas não fui afetada por ela, a ponto de ser antissocial. Não queria demonstrar coisas assim.

- E você conseguiu. – Ela finaliza, pensando. – É esse seu maior poder Bax. Você não vai lutar você vai convencer as pessoas a lutarem por você e talvez até- Ela adiciona uma informação que eu sei que consigo fazer – morrerem por você.

Penso um pouco, mas nós dois já sabíamos que esse era o melhor, e único, jeito. Porque, de certa forma, eu já fiz isso uma vez.

-Isso seria horrível. – Kiara tinha acabado de sair do quarto e ouvir a conversa. – Você nunca vai conseguir enganar ninguém Bax.

Dou de ombros e falo: “Isso que nós vamos ver”

Gale aparece e nos conduz até o elevador.

-Vocês vão sozinhos a partir daqui. Desde agora, vocês vão se mostrar fortes. – Quando a porta estava se fechando ele fala – Boa sorte, Kiara.

Ele não queria que eu vencesse. Essa era a verdade. Quais eram as minhas chances de me juntar a alguém? Quem iria querer uma pessoa como eu no grupo? Mas quando a porta do elevador se abriu, mudei de ideia na hora. Sim, ia ter uma pessoa que me iria querer no grupo.

- Evolet. – Falo em um sussurro. Mas a menina de cabelos ruivos e olhos de cobra me encarava.

Evolet é a neta do presidente Snow. Agora me lembro vagamente, ela foi a primeira a ser sorteada e obviamente, já era para ela estar nos Jogos no momento em que os rebeldes o decidiram.

-Bax! – Ela vem correndo em minha direção, agora sobre os olhos de todos. – Preciso falar com você- Ela disse baixinho – Estou como tributo 12 com Kier. Você se lembra dele certo? – Claro que sim; Kier é meu melhor amigo desde sempre. Ele tem cabelos curtos bem raspados e usa lentes vermelhas escuras nos olhos, o tipo de cara viciado em armas como arco-e-flechas e facas. Viciado em lutas. Em tudo o que, de certa forma, pode ser considerado violento. Se ele pudesse, seria um tributo nos Jogos Vorazes, ele sempre dizia isso para mim. Resumindo, é o tipo de cara que você vai querer ter como amigo, não inimigo. Então confirmo com a cabeça e ela continua a falar – Eu, você, ele, Fynn e Reelly. Há não ser que você queira Kiara no grupo também – Ela levanta as sobrancelhas e eu olho para Kiara. Ela está distraída jogando algumas facas que, surpreendentemente, alcançam bem perto do alvo.

– Não. Mas é melhor a mantermos por perto. Diferente do que ela diz sobre como não tem nenhuma chance, ela tem alguns truques na manga. – Falo. – Além do mais, a maior estratégia de um tributo é se fazendo de fraco. Isso acontece em todos os outros Jogos, e este não vai ser diferente.

-Você tem razão. Agora – Evolet vai indo para uma estação de arco-e-flechas – Treine.

Vou direto para as armas. Não tenho nada a perder mesmo. Já estou no melhor grupo, pelo que estou vendo, e não posso me dar o luxo de perder minha vaga. Vou a uma estação de espadas que não há ninguém. A maioria dos tributos estão nas estações de sobrevivência. Aprendendo coisas como fazer fogo, localizar água, entre outros. Eu me esqueci de comentar com Gale a respeito disso, mas eu sei sobreviver em florestas. Mesmo que a maioria duvide meu pai é dono de um pequeno bosque ao lado de nossa cidade na Capital e ele pagou um instrutor para me dar uma semana de aula de sobrevivência em florestas. Foi horrível e nojento. Dormir uma semana em um lugar sujo e sem cama. Não falei com meu pai um mês depois daquilo, o que me rendeu a uma sala de jogos só para ele voltar a falar comigo. Compensou eternamente aquela birra, mas agora eu vejo que eu tenho algumas coisas a acertar com ele, como o fato de eu poder sobreviver na floresta por causa daquele curso.

-Bom, primeiro, vamos começar na forma de segurar uma espada. – O instrutor pegou uma espada que visivelmente era a menor dali – Assim, está vendo?

Fiquei até o resto do dia naquela estação, e o resultado foi melhor do que eu esperava. Consegui desarmar alguns ajudantes que ficavam naquela estação como duelistas e o instrutor me assegurou que ele próprio iria lutar comigo se eu voltasse pra aprender mais no dia seguinte.

-Tem algumas crianças excepcionais na Capital, Bax. E você certamente é uma delas. Incrível, parece até que você não foi criado aqui.

Foi ai que percebi o que Ronnie quis disser sobre o fato deu conseguir convencer as pessoas para elas pensarem sobre mim do jeito que eu quero. Porque eu sou uma criança totalmente influenciada pela Capital. Até eu reconheço.

No dia seguinte aprendi um pouco de sobrevivência também, mas ficava principalmente na estação de espada. Eu descobri que eu tinha uma afinidade muito grande com ela. Era como se eu desde sempre lutasse. Uma tal de Cherry se juntou a nós. Ela tinha os olhos azuis e cabelos curtos preto, igual a mim; Era melhor do que eu em relação as esquivas, mais hesitava um pouco em dar golpes fortes.

-Hey, Clock - Ela me chamava assim pelo fato de que meu pai era um grande fabricador de relógios e ela já havia me visto em festas da marca. Eu achei incrivelmente tosco o apelido mas ela me chamando de Bax ( agora que já me acostumei com Clock) ficaria muito estranho– Vou acabar com você na arena – Ela tinha o incrível dom de deixar as coisas bem mais fáceis e melhores do que elas são – Cuidado – Falou rindo.

-Eu nunca machucaria minha companheira – Falei fazendo uma cara de inocente.

- Bom até os melhores relógios enguisam um dia. Certo Clock? – E foi embora. Essa provavelmente seria a última conversa que eu teria com ela.

-Parabéns, Bax. Acho que você consegue se virar bem melhor do que antes - Falou o treinador que tinha acabado de ensinar a Roy (Um menino que eu só conhecia de vista e pelo jeito que Evolet falou ele seria extremamente perigoso e precisávamos ficar de olho nele. Ele era enorme e tinha cabelos espetados loiros e olhos pretos) a como segurar uma espada.

Eu agradeço e volto para meu dormitório. O dia seguinte os Idealizadores nos observariam. Faltavam três etapas agora. O treino com os idealizadores , o treino privado e a entrevista.