60 Minutos de Paixão

Procura-se: Fernanda!


CAPÍTULO III - PROCURA-SE: FERNANDA!

...{♕}...

As luzes e a música alta se misturavam aos gritos e rostos desconhecidos ao meu redor. Eu não sabia exatamente o que estava fazendo. Apenas seguia o ritmo das batidas da melodia e dançava sem me importar com nada. Algumas pessoas me abraçavam e riam sem sentido algum. E eu acompanhava, inspirado pela ‘vibe’ daquelas pessoas estranhas.

Algumas garotas bonitas sorriam e me encaravam, gritando desejo em seus olhos. Era divertido entrar naquele jogo de sedução, esperando quem seria o primeiro a ceder. Instantes depois, eu me via aos beijos com uma garota que nem mesmo sabia o nome e tampouco reconheceria sua face no dia seguinte.

Meu corpo se mexia no ritmo da música que tocava ao fundo. Minhas mãos deslizavam pelas curvas de uma outra garota. Tudo era diversão. Tudo cheirava a emoção e promiscuidade. Nossas línguas se misturavam, curtindo o momento sem nos importarmos com o amanhã.

A bebida descia pela minha garganta, aquecendo meu corpo e me levando para longe da realidade. E então eu vejo uma linda garota se aproximar. Longos cabelos cacheados, batom vermelho vivo, vestido curto e colado, pele morena como o mais belo e doce pecado. Em cima de um salto alto, ela desfilava pela multidão com toda a sensualidade que nenhuma outra garota daquele lugar sequer conseguiria chegar perto.

Ao notar meu olhar sobre si, ela sorri. Os olhos verdes pareciam transparecer todos os pensamentos pecaminosos que rondavam minha mente. As curvas de seu corpo me atraiam a cada passo dado em minha direção. E de repente, eu estava envolvido pelos encantos da bela desconhecida.

Quando chega perto o bastante para que eu sentisse o calor de sua pele, o perfume afrodisíaco invade minhas narinas e me hipnotizam. Ela diz alguma coisa que não consigo entender. Uma mordida em minha orelha e um sorriso malicioso é o bastante para me convencer a segui-la.

Minha mente confusa e embriagada não sabia bem o que estava fazendo, então eu me deixava ser conduzido pela linda garota. De repente estamos no quarto. Roupas jogadas para o lado. Corpos suados e entregues. Eu me sentia em êxtase, envolvido por toda a luxuria do momento. Eu já não conseguia mais definir o que era realidade e o que era imaginação. Tudo era intenso. Insano demais.

E então eu escuto gritos. Algo havia acontecido. Eu estava confuso. Eu não conseguia entender nada. Eu não sabia quanto tempo havia se passado. Minha mente estava nublada. O mundo girava rápido demais para que eu conseguisse acompanhar.

— Você é o culpado, Max! Você o matou!

Eu não sabia o que estava acontecendo. Flashes da garota com quem eu havia passado a noite se misturam aos gritos que vinham em minha direção.

— Você o matou! Assassino!

As vozes continuavam a me acusar, mas eu não fazia ideia do que estavam falando. Tento me defender, mas eu estava fraco demais. Enjoado demais. Minha cabeça parecia uma bomba relógio que a qualquer instante explodiria.

— Assassino! Você o matou! Você matou um inocente! Você é o culpado, Max!

— Max!

Não. Eu não havia matado ninguém. Eu não era um assassino. Eu não havia feito nada. Por que haviam tantos olhos sobre mim? Por que me acusavam de algo que eu não havia feito? Por que me chamavam de assassino?

— Assassino! Assassino! Assassino!

— Max! Acorda!

E todos continuavam a me acusar. As vozes se misturavam e todos me chamavam de assassino. Olho para minhas mãos e há sangue. Mas eu não havia matado ninguém. Por que há uma faca ao meu lado? Onde está a garota com quem eu havia dormido? Por que estou sujo de sangue? Eu realmente matei alguém?

— Max! – Um grito alto acompanhado de algo macio sendo jogado na minha cara me desperta de um pesadelo. Levanto assustado, tirando o travesseiro que havia acertado o meu rosto. – Acorda, Max! Nós vamos nos atrasar!

— Dan? – Balbucio, atordoado. Ele me olha da porta do quarto com uma expressão confusa e preocupada.

— Está tudo bem? Você está pálido e suando como se tivesse corrido uma maratona. Está doente?

— Estou... Foi apenas uma pesadelo. Só um pesadelo.

Murmuro, tentando fazer minha mente acreditar em minhas palavras. Meu coração batia forte e minha respiração estava pesada. Novamente aquele maldito pesadelo havia voltado a me assombrar. Eu não sabia dizer até que ponto aquele sonho retratava o dia onde minha vida se tornou um inferno e o que era apenas parte do pesadelo. Mas, de toda forma, aquelas imagens conseguiam mexer e muito com o meu psicológico.

— Certo. – Sussurra Daniel, ainda sem acreditar em mim. No entanto, ele sabia que eu não falaria mais do que isso. – De qualquer forma, você precisa se arrumar logo. Nós iremos chegar atrasado!

Olho confuso para ele e meu primo revira os olhos, levantando a minha mochila escolar, onde colocava os meus livros e outros materiais didáticos. Somente nesse momento, relembro que o inferno acadêmico começaria novamente.

— Ah, a escola. – Digo, bocejando em seguida. Aos poucos, eu começava a me acalmar e a prender minha atenção em algo que não fosse o meu maldito sonho.

— Ah, a escola. – Repete Daniel com ironia. – Anda logo, Max. Você sempre faz a gente se perder, então vamos acabar chegando atrasados.

— Isso não é verdade! – Retruco e ele me encara com o seu olhar julgador. – Ok. Talvez eu me perca um pouco, mas dessa vez será diferente. Nós não iremos chegar atrasados a escola, eu prometo.

[...]

— “Dessa vez será diferente, Daniel”. “Nós não iremos nos atrasar, Daniel. Eu prometo”. – Resmunga Daniel, assim que finalmente chegamos ao colégio. Raramente algo consegue tirar meu primo do sério, mas atrasos sempre o deixam mal-humorado. – Não sei por que eu ainda acredito em você.

— Eu já pedi desculpas. – Digo, pegando minha mochila no banco de trás do carro. – Além disso, é apenas o primeiro dia de muitos que virão. Nunca tem nada no primeiro dia de aula. Então não sei o motivo dessa preocupação toda para chegar no horário.

Fecho o carro e coloco minha mochila nas costas. Eu realmente não me importava em estar atrasado, mas logo percebo que meu primo não pensava o mesmo que eu, quando recebo um olhar repreendendo dele.

— Eu odeio atrasos, Max. Você sabe disso. Cumprir horário é questão de comprometimento. Mas é claro que você não entende isso. Você nunca consegue chegar no horário. – Repreende o outro, ajeitando a mochila nas costas, enquanto anda apressado em direção a entrada da escola.

— Ei! Eu consigo chegar no horário. – Respondo, ofendido pela acusação de meu primo. Ele para de andar e me encara com deboche. – O quê?

— Ah, é mesmo? Então me diga uma única vez em que você chegou no horário. Eu só estou pedindo um dia.

Daniel cruza os braços e me encara com um sorriso presunçoso. Abro e fecho a boca algumas vezes, enquanto penso por algum instante em algum momento em que eu tivesse chegado no horário marcado, mas nada vinha a minha mente. Um sorriso divertido se forma nos lábios de meu primo e eu bufo irritado.

— Eu não lembro de nada no momento, mas eu sei que já cheguei no horário alguma vez na vida.

— Claro, claro. – Responde Daniel, rindo, enquanto procura algo dentro de sua mochila. – Achei!

— O quê? – Questiono sem verdadeiro interesse.

— O mapa da nossa sala. Como eu não posso contar com seu senso de direção e imaginava que chegaríamos atrasados, pedi que a secretária da escola fizesse um mapa que nos levasse daqui até nossa sala no dia em que nos matriculamos nessa escola. – Encaro-o, sentindo-me um pouco mal-humorado com sua resposta. – Você sabe que não está em posição de retrucar.

— Eu não ia dizer nada.

— Tanto faz! Vamos, logo que já estamos atrasados. – Daniel me apressa, guiando-se pelo mapa em suas mãos.

Ao longe, pela janela do corredor da entrada da escola, vejo duas garotas conversando. A garotas de longos cabelos negros chorava, enquanto era abraçada pela loira que estava virada de costas para mim. Por algum motivo, aquela cena chama a minha atenção. Observo por algum tempo até que ouço o grito de Daniel.

— Max! Vem logo!

Suspiro cansado e sigo meu primo, que praticamente corria no corredor. Surpreendentemente, conseguimos chegar na sala antes do professor. Escolhemos nossos lugares ao fundo sob o olhar atento de nossos colegas de classe. Observo as garotas da sala que se aproximavam de nós, curiosas para saber quem eram os novatos do ano e fico satisfeito com o que via. Talvez não fosse tão ruim assim estudar em Miami novamente.

Um pouco depois do sinal do início das aulas tocar, vejo as duas garotas que conversavam no lado de fora da escola na entrada da sala. Elas encaram dois garotos e uma garota que estavam sentados na frente ao lado da janela. Ignoro uma garota qualquer que conversava comigo e passo a encarar a loira.

O cabelo preso em um rabo de cavalos, os óculos de grau de grossas armações e o uniforme perfeitamente alinhados davam a aparência exata de uma nerd. Apesar de tudo, ela não era feia. Quer dizer, ela não era tão exuberante quanto as outras garotas da sala, mas os olhos castanhos eram tão brilhantes que eu conseguia deslumbrá-los de onde eu estava. E mesmo que boa parte do corpo estivesse escondido por baixo do uniforme, ela parecia ter curvas proporcionais. Com algumas mudanças, ela se tornaria muito bonita.

— Max? – Ouço uma das garotas me chamar. Viro apenas para ver o que ela queria, mas ao notar que ela somente desejava a minha atenção, desvio o olhar novamente para a porta e as duas garotas já não estavam mais lá.

Ao passar os olhos por toda a sala de forma discreta, encontro a loira e a amiga sentadas próximas ao trio que encaravam instantes antes. Analiso a loira, sem entender a minha curiosidade sobre ela. Para a minha infelicidade, o professor não demora muito a chegar. As garotas que estavam a nossa volta, retornam para seus lugares e ouço Daniel suspirar, aliviado.

— Relaxa, Dan. O ano está apenas começando. – Brinco e ele ri, desanimado.

— Nem me fale. – Comenta, pegando os materiais dentro da mochila, antes de começar a prestar atenção na apresentação do professor.

Minha mente então viaja para o sonho que eu havia tido mais cedo. Às vezes na vida, nós nos deparamos com mudanças que não planejávamos e muito menos desejávamos. Estar de volta a Miami após cinco anos longe, depois de todos os problemas que enfrentei nos últimos meses, não era exatamente o que eu chamaria de recomeçar com o pé direito. Por outro lado, eu sabia que não poderia reclamar da chance que havia recebido de meus pais para esquecer o passado e seguir em frente.

Não havia sido fácil para os dois terem que lidar com a imprensa e todas as mentiras e acusações que faziam contra eles e a mim. Apenas por carregarmos o sobrenome Queen em nossos nomes, o mundo parecia sempre nos dar uma atenção especial e quando tiveram a chance de nos destruir, a mídia não perdeu tempo em noticiar informações que nem mesmo sabiam. E quando eu menos esperei, estava sendo acusado de um assassinato.

A minha situação se tornou ainda pior quando inúmeras provas apontavam para mim como assassino. Eu não me lembrava de nada. Naquela noite, eu havia bebido demais para me lembrar, sequer, do nome da garota com quem eu havia dormido. De repente, eu estava envolvido em uma bola de neve e não havia nada que eu pudesse fazer para comprovar a minha inocência.

As únicas pessoas que acreditavam em mim eram meus pais e Daniel, que mesmo sem saber ao certo o que tinha acontecido, permaneceu ao meu lado e me apoio a todo momento. Meu primo foi o único amigo que não desistiu de mim e me defendia de todas as acusações, mesmo quando isso resultava em ser espancado por algum dos malditos que me ofendiam na escola. E eu nem mesmo podia retrucar ou defende-lo, porque todos me encaravam com medo e diziam que eu os mataria. Era assustador. Tudo indicava que eu acabaria pagando por um crime que eu não cometi.

Por causa disso, minha mãe se viu obrigada a procurar a última pessoa do mundo a quem ela queria. Moira Queen podia ser uma megera, mas ela tinha o poder que meus pais não tinham e mesmo não conseguindo comprovar minha inocência por completo, ela ao menos havia impedido que eu permanecesse preso. Eu não sei que artimanhas minha avó havia usado, mas em troca de nos mudarmos para Miami e meu pai assumisse a presidência das corporações, eu consegui a minha liberdade.

E foi assim, perdido em pensamentos, que as aulas passaram e finalmente chegou o intervalo. Daniel me olha com um sorriso preocupado em seu rosto e eu sabia o que se passava em sua mente. Era agora que nós começaríamos a nossa busca pela Fernanda, a namorada falsa.

— Nós vamos conseguir. – Garanto, dando um sorriso confiante a meu primo.

— Assim espero. – Responde, suspirando.

Olho em volta, procurando a garota que eu havia visto antes, mas não havia nenhum sinal dela e nem de seus amigos em nossa sala. Sob o olhar confuso de Daniel, eu me levanto, pego meus materiais e sigo em direção a saída da sala. Sorrio algumas vezes para algumas garotas que me encaravam, não deixando de aproveitar. Se fosse para procurar a namorada perfeita de Daniel, que fosse de forma divertida.

— Max! Espera!

— Vamos, Dan. Temos muito por onde procurar pela Fernanda.

Daniel suspira e assim que me alcança, passa a olhar em volta em busca da garota perfeita, assim como eu. Infelizmente, nós teríamos que abrir mão da comida, mas pelo menos conseguiríamos tirar o meu primo do perigo de se casar apenas pelo desejo da megera de nossa avó.

Parecendo ouvir meus pensamentos, o mais novo tira algo de dentro de sua mochila e estende um saco pardo em minha direção. Ao notar o meu olhar confuso, ele ri e insiste que eu pegue.

— Sanduíches. Fiz ontem à noite. Eu sei que seu estômago é um saco sem fundo, então pensei em pelo menos te recompensar por estar me ajudando. – Responde o rapaz, ajeitando os livros que havia pego. Provavelmente temia se atrasar para a aula, então preferia ficar andando com eles em mãos. Ignoro esse detalhe por um momento, enquanto abro o saco que ele havia me estendido.

— Você me conhece tão bem.

Sorrio agradecido e como o sanduíche no mesmo instante. Era por pequenos detalhes como esse que eu me tornava grato pela minha avó ter unido meus tios e os forçado a se casar. Daniel é a melhor parte dos Queen. Como minha mãe não se considera uma Queen, apesar de possuir o sobrenome do meu pai, Daniel é o único que se salva, nessa família, para ser sincero. Meu primo é como um irmão para mim. E eu o amo demais para permitir que alguém o machuque ou que ele seja obrigado a viver a vida que não quer. Ele merece muito mais do que ser apenas o neto de Moira Queen, que se casou apenas para formar uma aliança lucrativa.

E assim, de estômagos cheios e ainda mais inspirado a encontrar a garota de mais cedo, ao lado de meu primo, continuo as buscas pela imensa escola. Eu realmente não entendia a necessidade de um lugar possuir tantos corredores e salas. E por que tudo tinha que ser tão parecido? Por que eles não colocam placas indicando onde ficam as salas?

Com o passo do tempo, nós começamos a ficar nervosos. E lembra quando eu disse que amava muito meu primo? Esquece o que eu disse. Quer dizer, eu ainda amo o Daniel, mas isso não significa que eu não gostaria de enfiar minha mochila em sua boca e fazê-lo parar de resmungar em meu ouvido, como eu sentia naquele momento.

Olho ao meu redor, tentando recordar o caminho que havíamos feito mais cedo, mas tudo que consigo fazer é pensar em formas de calar a boca do garoto ao meu lado. Eu já estou cansado e frustrado por não encontrar a garota, então por que ele simplesmente não ficava quieto ao invés de reclamar?

— Nós estamos perdidos. – Afirma Dan, bufando pela milésima vez no dia, enquanto nós andávamos por um dos inúmeros corredores daquele lugar que eu iria começar a de chamar de inferno interessante.

— Oi. - Cumprimento uma garota bonita que passa por nós. Analiso seu corpo de cima à baixo e sorrio com malícia, satisfeito pela visão. Ela acena, sorrindo, e segue o caminho que fazia junto com as amigas, aos risos. – E nós não estamos perdidos. – Repito o mesmo que havia dito nas outras centenas de vezes que Daniel havia dito aquela mesma frase.

— Por que você é tão teimoso? Por que não admite de uma vez que tem um péssimo senso de direção. Nós podíamos simplesmente pedir a ajuda de alguém ao invés de ficarmos andando em círculos. – Encaro-o com insatisfação. – Não adianta me olhar assim. Você que se achou o gostosão e não deixou que eu pegasse o mapa da escola na hora que passamos pela secretaria. Eu já devia saber que você ia fazer a gente se perder.

— Eu não me acho o gostosão. Eu sou um gostosão. – Brinco e ele revira os olhos, como se já esperasse por aquele comentário. – Escuta, nós não estamos perdidos. Eu apenas estou procurando pela garota perfeita.

Ele me olha com desdém e eu sei que ele sabe que estou mentindo, ainda que em partes. Suspiro frustrado, dando de ombros. Daniel, no entanto, continua olhando ao redor, como se tivesse lembrado o que havia nos feito andar durante o intervalo todo e acabar nos perdendo – ainda que eu jamais fosse admitir isso em voz alta.

— Eu estou realmente ferrado, não é? Nós nunca vamos encontrar a Fernanda. – Daniel comenta tristemente. – Eu vou acabar tendo que me casar...

— Você não vai se casar com a Mariana. – Nego no mesmo instante.

— Michelle. O nome dela é Michelle. – Corrige, balançando a cabeça negativamente. Dou de ombros, sem me importar de fato com o nome da princesinha com quem minha avó acha que Daniel irá se casar.

— Seja mais otimista. Nós iremos encontrar a garota que se encaixa no perfil que passamos para a bruxa.

— Não adianta, Max. Nós já rodamos essa escola inteira e não tivemos nenhum sinal de uma garota loira, que usa óculos e que aparenta ser tão nerd quanto eu. É melhor eu aceitar logo o meu destino e parar de tentar lutar contra a vovó. Ela iria acabar descobrindo de qualquer forma.

Eu nunca havia visto Daniel tão desolado e triste. Eu sabia o quanto já era difícil para si lutar contra a própria rejeição quando ele finalmente aceitou que jamais se sentiria atraído por uma garota. Meu primo se importava demais com o que nossa família – em especial, o pai e a avó -, pensava sobre si e perceber que poderia ser considerado a vergonha da família foi algo que o destruiu. Infelizmente, nós dois sabíamos que ele dificilmente teria o apoio deles.

Olho em volta e finalmente vejo dois dos quatro amigos da garota de mais cedo. Assim que percebo que eles vinham em nossa direção, eu fico atento. E como eu imaginava, não demora muito para que a loira virasse no corredor junto com os amigos. Aproveito o momento e jogo meu primo contra ela, sabendo que aquele poderia ser um jeito interessante de chamar sua atenção.

Eu já havia estado com muitas garotas em minha vida. A loira de mais cedo, com certeza, faz o tipo de garota romântica e ingênua. Ela deve sonhar com um amor de contos de fadas e achar que o príncipe encantado aparecerá em um cavalo branco para resgatá-la. Com seu jeito educado de ser, eu sabia que meu primo agiria exatamente como deveria para encantá-la no possível início de uma história de amor semelhante à de filmes água com açúcar. Isso facilitaria e muito o nosso trabalho em tentar convencê-la a pelo menos nos ouvir.

De repente, os dois estão no chão, com os livros ao seu redor. Os amigos da garota nos encaram confuso e eu passo a observar a cena, curioso para saber como a loirinha iria reagir diante dos encantos principescos de meu primo.

Assim que parece entender o que havia acontecido, a garota abre os olhos e encara Daniel por alguns instantes. Meu primo, conhecendo-me melhor do que ninguém, não demora a perceber o que tinha feito e me lança um olhar duro, repreendendo-me, antes de se voltar para a garota novamente.

— Você está bem? Se machucou?

Pergunta Daniel, ajudando a recolher os livros da garota e os dele. Por estar sendo encarado por muito tempo sem resposta, meu primo passa a ficar envergonhado e sorri sem graça. Logo consigo ver as bochechas dele rosadas. Então, para evitar mais constrangimentos, ele se levanta com os livros recolhidos e estende a mão para ajudar a garota que ainda parecia em choque.

— Eu sinto muito. Eu estava distraído e acabei batendo em você sem que percebesse. Você se machucou?

— Eu estou bem. – Ela responde, envergonhada. Confesso que ela ficava... fofa com as bochechas coradas. – Eu também estava distraída, então não se preocupe. Eu não me machuquei.

— Vocês são da nossa sala, certo? – Pergunto, chamando a atenção de todos que estavam presentes. Ao ter o olhar da garota sobre mim, não consigo evitar não lançar um sorriso. Era divertido ver suas reações.

— Sim. Nós somos. E vocês são os alunos novos, certo? – Responde um dos garotos que supus ser amigo da garota. Ele pega o livro das mãos de Daniel e dá uma cotovelada na garota, como se tentasse fazer ela retornar à realidade.

— Sim. Eu sou o Daniel. Esse é o meu primo, Max. – Apresenta Daniel com um sorriso simpático no rosto, apontando para mim. – É um prazer conhecer vocês. Lamento por ter esbarrado em você. Como somos novos e essa escola é gigantesca, nós acabamos nos perdemos e estávamos procurando a nossa sala.

— Eu sou o Josh. Essa estranha em quem você esbarrou é a minha irmã, Jenny. Ian, Melissa e minha namorada, Júlia. – Responde o garoto, que descobri ser o irmão da loira. Jenny. É um nome bem interessante. – Sejam bem-vindos ao Marino High School. Não é exatamente a melhor escola do mundo, mas vocês se acostumam.

— Na verdade, eu estou achando a escola bem interessante. – Comento, enquanto observo Jenny. Pelo perfil, ela provavelmente ficaria ainda mais vermelha e desviaria o olhar, envergonhada demais para fixá-lo em mim.

No entanto, surpreendo-me a ter seus lindos olhos me encarando tão intensamente. Ela parecia me estudar e diante dos brilhosos chocolates, eu começo a me sentir exposto. Eu não sabia o que se passava em sua mente. Sempre fui muito bom em ler as pessoas, mas eu não conseguia fazer o mesmo com ela. Aquela garota possuía algo de diferente. Como um oceano de pensamentos únicos que rondavam sua mente e me impossibilitava de ler.

E então o sinal do intervalo toca, fazendo-nos voltar para o inferno interessante. Ouço Josh e o segundo rapaz que acompanhava as três garotas, suspirarem desanimados. A garota que chorava mais cedo chama pelo nome de Jenny, enquanto ela continuava a encarar Daniel e eu. Por fim, ela parece um pouco nervosa e força um sorriso, após um breve suspiro.

— Vamos com a gente. Nós ensinamos a vocês o caminho para a sala de aula. – Responde. Daniel e eu damos uma rápida troca de olhares e damos de ombros, concordando. Eu sabia que se eu rejeitasse a oferta, meu primo me mataria.

Então sendo guiados por Josh e seu amigo, Daniel e eu começamos a andar em direção a nossa sala de aula. Sinto um olhar diferente sobre mim e, pelo canto do olho, percebo que Jenny encarava minha bunda de forma descarada. Discretamente, eu me viro para encará-la e assim que tenho seu olhar sobre mim, faço questão de lançar uma piscadela alertando que eu havia notado sua secada e continuo o caminho como se nada tivesse acontecido.

Eu não sabia bem o que esperar desse ano e nem se meu caso teria enfim uma solução. Mas diante dos olhos curiosos das pessoas ao meu redor e o sorriso confiante de meu primo, talvez Miami não seja assim um lugar tão ruim. Quem sabe eu não encontro finalmente o que tenho procurado durante esses anos?

...{♕}...