60 Minutos de Paixão

O Passado e o Futuro


CAPÍTULO IX - O PASSADO E O FUTURO

...{♕}...

Quase dois meses se passaram desde que a mentira sobre meu namoro falso com Daniel havia começado e nossos objetivos não poderiam estar indo melhor. Desde que fomos apresentados como namorados, Melissa e Ian começaram a sair. Minha melhor amiga parece ter acreditado que eu realmente havia desistido de meu melhor amigo e seguido em frente. A família de Daniel também não havia mais citado o casamento arranjado o que nos levava a crer que a avó do rapaz havia acreditado no neto. Desde então o garoto parecia muito mais tranquilo, ainda que continuasse se sentindo culpado por mentir.

Por falar em Daniel, nós havíamos nos tornado grandes amigos. Assim como Max havia dito, seu primo é um garoto incrível. Gentil, inteligente e responsável, é impossível não o admirar. De certo modo, passei a entender o motivo de Max querer tanto defender o primo. Ele realmente era uma pessoa maravilhosa e que se preocupava muito mais com a felicidade dos outros do que com a própria.

E é por isso que eu me dirigia para o ginásio, onde Max e eu havíamos marcado de nos encontrar para ir comprar os preparativos para a festa de aniversário surpresa de Daniel. Apesar de Max insistir em comprar tudo pela internet, eu sabia que muitos olhos desconfiados ainda estão sobre nós, em especial, os de Moira Queen. Por isso, organizar a festa de aniversário de meu namorado é algo que eu tinha que fazer pessoalmente e com a ajuda da pessoa que mais conhece Daniel.

Eu não havia visto Max no último horário, então estava um pouco preocupada também. Apesar de ser muito bom nos esportes, o rapaz nunca falta as aulas e é bastante inteligente, então provavelmente algo havia acontecido. Daniel não havia ido as aulas por ter que resolver alguns problemas na empresa da família que pelo visto levariam o dia inteiro para se resolverem, então era o único dia que Max e eu teríamos para comprar os enfeites para a comemoração sem que ele desconfiasse.

Suspiro, pensando no quanto meu irmão me incomodaria por estar saindo sozinha com Max. Mas eu não tinha culpa. Júlia e Josh foram em um encontro assim que as aulas acabaram. Eles estão brigando bastante ultimamente e meu irmão resolveu tentar fazer as pazes levando-a em um encontro romântico na praia. Ian e Melissa também estão ocupados. Assim como minha cunhada e irmão, quando o sinal tocou anunciando o término das aulas, eles saíram correndo para ir a um festival de fotografia e só voltam ao fim do dia.

Para não atrapalhar os planos de meus melhores amigos, preferi não contar sobre meus planos. Conhecendo meu irmão, ele com certeza desmarcaria com Júlia apenas para garantir que eu não ficasse sozinha com o primo de meu suposto namorado, e ainda viria junto para nos incomodar e intimidar Max. Sem dúvidas, isso está fora de cogitação. Ele só atrapalharia nas compras e me tiraria do sério.

Não demoro muito a chegar ao local onde Max e eu havíamos marcado. Eu havia mandado mensagem para ele, mas o rapaz não havia me respondido, então supus que ele já estivesse no ginásio. E eu estava certa. Eu só não esperava encontrá-lo aos beijos com Natalie, uma das líderes de torcida da escola.

A cena me deixou tão surpresa que demorou alguns instantes até que eu realmente entendesse o que estava acontecendo. E aquilo me incomodou. Eu não sabia bem o motivo da surpresa e de meu desconforto, afinal, Max Queen era um galinha de marca maior e não era segredo para ninguém que ele tinha todas as garotas da escola aos seus pés e se aproveitava disso, mas ainda assim, eu não gostei muito do que vi.

E antes que eu controlasse minhas emoções, forço uma tosse e cruzo os braços, encarando o casal com um sorriso irônico no rosto. Assustados, eles se afastam e me encaram preocupados, mas logos suas feições se suavizam ao notarem que eles não haviam sido pegos por um dos professores. Max solta a cintura de Natalie e sorri sem graça. Ergo uma de minhas sobrancelhas e meu olhar parece deixá-lo intimidado.

Natalie ainda sorria largamente e parecia estar nas nuvens. Quando solta, ela parece perder um pouco do equilíbrio e se senta no banco da arquibancada para se recuperar. Seus lábios estavam inchados, as roupas amassadas e os cabelos, que sempre estão alinhados, agora estavam desgrenhados. Pelo visto, o beijo havia sido bastante intenso. Ela então suspira e encara Max com cara de apaixonada.

E então entendo o que havia acontecido. Max havia faltado o último horário de aula para ficar aos beijos com Natalie. E isso explicava também o meu incomodo. É claro! Eu estava decepcionada por ele ter faltado aula por algo tão banal e por ter pego os dois em um momento tão intenso como aquele. Eu estava chateada porque eu me preocupei à toa. Ele podia ter mandado uma mensagem avisando que estava bem e que estaria com Natalie.

— Oi Jenny. Você já chegou? – Comenta Max, tentando amenizar o clima tenso que havia se acomodado no lugar.

— Sim. Assim como você disse, eu vim assim que as aulas acabaram. Eu te mandei mensagem, mas você não me respondeu. Imaginei que você poderia estar aqui, já que não te vi na última aula. Agora eu entendi o motivo. – Sussurro a última parte para mim mesma. Eu jamais deixaria transparecer o meu incomodo por ter chegado em um momento tão íntimo deles.

— Eu saí atrasado de casa hoje e acabei esquecendo meu celular. Desculpa não ter te avisado. E bem, eu acabei me encontrando com Natalie por acaso e...

— Não precisa se explicar. – Interrompo, negando saber mais sobre as intimidades de Max com outras garotas.

— Certo. – Sussurra, sem graça. Ele então se vira para Natalie, que ainda se encontrava com cara de idiota apaixonada encarando o rapaz. – Bom, Natalie. Eu preciso ir agora. Foi um prazer.

— Pode ter certeza que o prazer foi todo meu. – Responde a garota, maliciosa.

Reviro os olhos e saio do ginásio. Eu realmente não estava a fim de ficar no meio da troca de flertes daqueles dois. Olho para o céu e vejo que nuvens carregadas começavam a se formar. Provavelmente seria mais um dia intenso de chuva. Pego meu celular para olhar as horas e bufo, frustrada. Ele não demoraria a descarregar. Eu sabia que deveria ter trago o carregador.

— Jenny! – Chama Max, assim que me alcança. Diminuo os passos, mas não o encaro. – Ei, Jenny!

— O que foi? – Digo, suspirando, finalmente parando de andar para encará-lo.

— Desculpe por... enfim... – Ele fala, suspirando. – Eu realmente não esperava me encontrar com a Natalie. Eu recebi uma ligação do meu pai e acabei ficando sem cabeça para assistir as aulas e acabei indo direto para o ginásio. A Natalie apareceu do nada, a gente começou a conversar e quando eu vi, a gente estava se beijando.

— Você não me deve explicações, Max. – Respondo, um pouco mais calma. – Está tudo bem. Apenas fiquei chateada, porque estava preocupada que você havia desaparecido do nada no último horário. Imaginei que algo de ruim tivesse acontecido e quando cheguei e vi que estava ficando com Natalie, pensei que você tinha faltado aula apenas para ficar de amassos com uma líder de torcida.

— Certo. Não foi minha intenção te deixar preocupada. Prometo que não esquecerei mais meu celular e não vou mais faltar aula para ficar de amassos com líderes de torcidas. – Ele fala e sorri, estendendo a mão. – Amigos de novo?

Encaro-o por um tempo. Ao mesmo tempo em que gosto do sorriso sincero de Max, eu o odeio. Não consigo ficar chateada com ele por muito tempo. Suspiro e sorrio, pegando em sua mão em concordância.

— Amigos. – Respondo, dado de ombros. Puxo minha mão e o empurro para que começássemos a andar. – Agora vamos, porque não temos muito tempo até essa tempestade cair e temos muito o que comprar. E já perdemos um tempo precioso por causa desse seu fogo insaciável. É impressionante como você não pode ver um rabo de saia que já sai correndo balançando o rabo igual a um cachorro no cio.

Max ri e começa a andar, encarando-me com um brilho divertido em seus olhos. Ele realmente estava se divertindo com a minha bronca.

— Agora você falou igual a minha mãe. – Comenta, sorrindo provocador.

— Cala a boca, idiota. – Resmungo, dando um soco em seu braço, mas não demoro muito a começar a rir.

E com o clima mais leve entre nós, seguimos em direção as compras. Por mais que eu odeie admitir, é divertido estar com Max, ainda que a gente mais discuta e se provoque do que tudo. Os sorrisos cínicos e os comentários irônicos do rapaz sempre conseguem me arrancar risadas fáceis.

Quando enfim compramos tudo que julgamos necessário para realizar a festa de aniversário surpresa de Daniel, decidimos levar tudo para a minha casa. Por Dan estar constantemente no quarto de Max, ele acabaria descobrindo tudo se levássemos as compras para a casa dos Queen. E assim que entramos no carro de Max, a chuva começou a cair. Suspiro aliviada por termos terminado tudo antes que a tempestade nos pegasse.

Com o som da rádio ao fundo, eu observava a chuva cair aos risos com os comentários estúpidos de Max sobre uma das atendentes que nos atendeu na última loja e que além de ter dado um super desconto para nós, ainda fez questão de dar o seu número de celular. O único detalhe é que ela não percebeu que Max tinha idade para ser filho dela. E apesar de me sentir culpada por estar rindo da mulher que nos atendeu, eu não conseguia não rir das piadas sem graça de Max.

- Mas, mudando de assunto, seu irmão não vai ficar bravo por eu chegar com você na sua casa? – Pergunta Max, encarando a pista.

— Ele nem mesmo está em casa. Josh me avisou que passaria o dia na praia com Júlia e com essa chuva, é bem possível que ele dê um jeito de dormir por lá. Meu pai está na empresa e só deve chegar tarde da noite, minha mãe viajou em uma turnê e Regina, a moça que cuida da nossa casa, pediu o dia de folga para ir em uma consulta médica. – Respondo, dando de ombros.

— Em outras palavras, você está sozinha em casa e ninguém vai saber que eu estive lá. – Simplifica Max, pensativo.

— Exatamente. – Concordo, desanimada. Eu odeio ficar em casa sozinha. Vejo então um riso malicioso nos lábios de Max e tenho certeza de que algum pensamento pervertido passou em sua mente. – O que foi?

— Nada. É só que... – Max começa a rir e balança a cabeça, negando. – É que acho que essa é a primeira vez que vou a casa de uma garota quando não tem ninguém em casa e... deixa para lá.

— E você não vai dormir com ela? – Complemento e ele ri, concordando. Eu realmente não estava surpresa por isso. – Eu realmente não entendo.

— O que você não entende? – Pergunta Max, confuso.

— É tão divertido assim ficar com várias pessoas por quem você não sente nada? Talvez por ser garota ou por não ter muitas experiências amorosas, isso me parece tão...solitário. – Comento, observando o garoto com atenção.

— Solitário? – Repete, surpreso.

— É. Quer dizer, você nunca se apaixonou? Nunca quis ficar ao lado de uma única pessoa? – Pergunto com curiosidade.

— Não. – Max responde, pensativo. – Eu nunca me apaixonei, mas essa história de ficar preso a somente uma pessoa me parece ser um pouco complexo e perigoso demais para mim. Não sei se seria capaz disso.

— Complexo e perigoso? – Questiono, confusa com sua sentença.

— Bem... sim. O maior exemplo de amor que vejo são os meus pais. Eles realmente se amam. Fariam qualquer coisa um pelo outro, inclusive arriscar suas vidas, como já fizeram algumas vezes apenas para garantir a segurança do outro. Eu não sei se seria capaz de amar alguém assim. De sentir algo tão puro e bonito. – Confessa, surpreendendo-me.

Diferente de qualquer mulherengo que conheci, Max acredita no amor e até mesmo o admira. Talvez seja por ter pais que o mostram diariamente que o amor existe e é poderoso, assim como meus pais. No entanto, ele se acha incapaz de sentir algo tão forte e, ao mesmo tempo, tão delicado quanto esse sentimento. E de certa forma, eu consigo entender o que ele quer dizer sobre o amor ser complexo e perigoso.

— Oh, droga! – Ouço Max sussurrar, olhando para o visor do carro.

— O que foi? – Pergunto, preocupada.

— O carro está perdendo a força. Acho que é a bateria. – Responde, tenso. Ele então vai com o carro para o acostamento e o desliga. Quando tenta ligar de novo, o carro não dá sinal de vida. – Droga!

— E agora? – Questiono, observando a frustração do rapaz.

— Pode me emprestar seu celular? Eu vou ligar para um guincho e vou pedir um táxi para você. Pelo visto, essa belezinha não vai andar tão cedo. – Pede, sorrindo envergonhado.

— Claro. – Digo, procurando meu celular na minha bolsa. Quando eu o encontro, bufo frustrada ao notar que ele estava desligado. Eu havia esquecido que a bateria estava fraca. Claro que com a minha sorte, isso ia acabar acontecendo.

— O que houve?

— Descarregou. – Respondo, mostrando o celular desligado.

— Droga! Belo dia para eu esquecer o celular em casa. – Resmunga Max, batendo no volante do carro. Ele então limpa a janela do seu lado e olha para fora do carro. – E pelo visto, essa chuva não tem qualquer intenção de parar. Que maravilha! Será se tem alguma casa por aqui onde podemos pedir para usar o telefone?

— Não. – Nego, reconhecendo o lugar onde nós estávamos. – Essa parte é a mais afastada da cidade. Meus pais escolheram essa região justamente por ser mais segura e ter poucas casas na região. O lado positivo é que estamos perto da minha casa. Podemos ir a pé e chegamos no máximo em dez minutos. Lá, podemos ligar para o guincho vir buscar seu carro e comer alguma coisa. Eu estou morrendo de fome.

— Eu também. - Confessa Max, colocando a mão na barriga. – Se você não tiver problemas em pegar chuva, porque eu não tenho nenhum guarda-chuva comigo. A menos que você tenha um com você.

— Não tenho. – Respondo, suspirando. – Bom, nós estamos perto, então acho que um pouco de banho de chuva não vai fazer mal a ninguém.

— Tudo bem. Vamos deixar essas coisas aqui. Depois eu levo para a sua casa. Apenas pegue o que é necessário e que não tem problema molhar. – Orienta Max, pegando a chave do carro. Balanço a cabeça, concordando e pego apenas meu celular e a chave de casa. Resolvo deixar minha bolsa no carro. Não a usaria e não tinha nada de importante dentro dela, mas não queria molhar meus cadernos e livros da escola. – Então vamos.

E assim, Max sai do carro e fecha a porta rapidamente. Faço o mesmo e ele tranca o carro. Pego no pulso do garoto e o guio na direção de minha casa. Assim como sempre, não havia ninguém na rua e não passava carro. Nós corríamos e em algum momento, estávamos rindo, enquanto a forte chuva nos atingia. Era realmente divertido correr na chuva e a risada de Max era contagiante.

Meus óculos estavam cada vez mais embaçados, então paro de correr para guardá-los no bolso de minha calça e recuperar um pouco o fôlego. Max ainda sorria e respirava com dificuldade. Ele me observa guardar os óculos e o vejo me encarar intensamente. Seu rosto de repente estava sério e eu me questionava o que se passava em sua mente que o fizera ficar tão quieto e pensativo.

Encaro com atenção seu rosto e prendo o ar ao perceber o quanto ele parecia bonito debaixo daquela chuva. Ele usava uma jaqueta de couro, uma camisa preta e calça jeans apertada, mas ele realmente parecia incrivelmente sexy com o cabelo molhado e bagunçado por corrermos. Inconscientemente, ele mordia o lábio inferior e eu passo a encarar sua boca. Essa era a primeira vez que eu me sentia tão atraída assim por alguém.

Max engole em seco e desvia o olhar. E é somente nesse momento que eu percebo que havia me aproximado. Afasto-me no mesmo instante e passo a encarar o lado contrário a Max. Eu precisava recuperar a razão. Repreendo-me por estar agindo pelos meus instintos. É claro que tenho consciência de que Max é incrivelmente bonito, mas isso não significa que eu precise ficar babando nele.

E então vejo uma caixa debaixo de uma árvore próxima de mim. Presto mais atenção e ouço um miado baixo. Devagar, aproximo-me da caixa e arfo ao ver um gatinho branco todo encolhido e completamente encharcado. Ele tremia de frio e miava em um choro sofrido. Por estar chovendo forte, o bichinho não demoraria a perder sua casa improvisada, que já começava a se desmanchar.

Com cuidado, pego o gatinho no colo e o trago para perto de mim. Miando ainda mais alto, acaricio seu pelo branco e murmuro para tentar acalmar o animal. Sua respiração estava acelerada e ele estava inquieto, provavelmente temia que eu o machucasse. Aos poucos, o pequeno gato vai se acalmando e eu uso meu corpo para protegê-lo da chuva e do frio que fazia.

De repente, sinto um peso sobre mim e noto que era a jaqueta de couro de Max. Ela era quente e impedia que eu e o gatinho nos molhasse ainda mais. Olho para o rapaz e ele tinha um sorriso gentil nos lábios. Max então se abaixa e acaricia o gatinho, que ronrona com o toque dele.

— Obrigada. – Agradeço, espantada com o gesto gentil do rapaz.

— Pobrezinho. Quem foi o monstro que foi capaz de abandoná-lo no meio de uma chuva como essa? – Sussurra Max, ajudando-me a levantar e a ajeitar a blusa que havia ficado enorme em mim. Ele estava muito próximo. Seus olhos me encaravam com um brilho diferente, que eu não soube identificar. – Que tal o levarmos para a sua casa e lá decidimos o que fazer com ele? Você disse que não tem ninguém em casa e não acho que seja bom para nós ficarmos mais tempo debaixo dessa chuva.

— Você tem razão. – Respondo, afastando-me do rapaz. – É melhor nós irmos.

E sem ter coragem de encarar Max, envergonhada demais pelas reações de meu corpo, ando ainda mais rápido em direção a minha casa. Atordoada demais, nem mesmo noto quando chegamos. Com cuidado para não deixar o gatinho cair, abro a porta de casa e dou espaço para que Max também entrassem.

— Segure o gatinho, enquanto eu vou atrás de algumas toalhas para nos secarmos. – Digo, entregando o pequeno filhote a Max. Ele o pega com cuidado e, antes que dissesse alguma coisa, eu saio em busca das toalhas.

Eu ainda não conseguia encarar os olhos do rapaz. Não quando minha mente continuava a me torturar com lembranças da boca e dos olhos de Max, da forma como ele me encarava ou ajeitava sua blusa em meu corpo. Respiro fundo, tentando controlar o caos que há dentro de mim e volto para a entrada da casa com duas toalhas.

— Você está bem? – Pergunta Max, quebrando o silêncio, enquanto envolve o gatinho em uma das toalhas.

— Sim. Por que a pergunta? – Questiono, fazendo questão de secar meu rosto em seguida para ter uma desculpa para não o encarar.

— Jenny? – Chama e ao ver que eu não o olharia, ele puxa a minha toalha, obrigando-me a encará-lo. – O que houve?

— Nada. Só estou pensando no que eu devo fazer com esse gatinho. – Respondo, finalmente o encarando, mas não demoro a desviar o olhar.

— Você mente muito mal. – Resmunga, revirando os olhos. Ele então volta a encarar o filhote que estava em seu braço. – E é uma fêmea.

— Como você sabe? – Pergunto, curiosa, ignorando o fato de que ele realmente sabia que havia algo a mais me incomodando.

— Minha avó materna se casou com um veterinário e ele me deixava ajudar na clínica dele algumas vezes. Ele me ensinou que as fêmeas têm o ânus localizado debaixo da cauda, é muito fácil de reconhecer, e ao contrário do gato macho, a vulva tem uma ranhura de forma vertical. A distância entre estes dois será sempre a menor possível, cerca de 1 centímetro, como essa gatinha. – Explica Max, mostrando as genitais da gatinha.

— Impressionante. Não sabia que você sabia tanto sobre animais. – Respondo com sinceridade. Ele ri e balança a cabeça, concordando, enquanto me entrega a gatinha para se secar. Pego a bichana e acaricio seu pelo branco como a neve.

— Gosto de animais em geral, então eu sempre procurava saber mais com o marido de minha avó. Eu queria ter um gato, mas Daniel é extremamente alérgico a eles, então nunca pude. E depois da morte de Zeus, eu nunca mais tive vontade de adotar um cachorro. Acho que fiquei traumatizado com a perda. – Conta, tirando os tênis que estavam completamente encharcados.

— Então você é uma gatinha. – Sussurro, erguendo a gata para observá-la melhor. Ela mia alto e se balança, impaciente. Assim que Max, terminou de se secar, faço sinal para que ele me siga. – Acho que ela está com fome. Devo dar leite para ela?

— É melhor não. – Responde Max, observando os detalhes de minha casa. Essa era primeira vez que ele entrava nela. Assim que chegamos à cozinha, sento-me com a gatinha em meu colo. – Gatos possuem o estômago sensível e tomar leite de vaca pode fazê-la acabar passando mal. O melhor seria dar a ração ou um leite próprio para filhotes de gato.

— Mas eu não tenho nada disso em casa. – Resmungo, pensativa. Eu nunca realmente tive vontade de trazer um gato para casa e Josh também nunca falou em gatos. Eu não sei nada sobre esses animais. – O que faremos?

— Você tem atum, frango ou carne? – Pergunta, pensativo.

— Acho que sim. – Digo, colocando a gatinha sobre a mesa. Levanto-me e vou ao congelador, enquanto Max cuida da bichana. Encontro uma bacia com carne e mostro para Max. – Não sei que carne é essa, mas é carne e está congelada.

— Temperada?

— Não. – Respondo, estendendo a bacia para que ele veja.

— Ótimo. Deve dar para fazer algo gostoso para ela comer. Isso deve saciar a fome dela até poder comprar o que ela deve realmente comer. – Fala Max, pegando a bacia de carne. Ele me entrega a gata e vai para a pia da cozinha. – Posso usar sua cozinha?

— Fique à vontade. Os talheres estão na primeira gaveta dentro desse armário atrás de você. Os pratos estão na parte de cima dele e as panelas estão naquele armário no canto esquerdo. Os temperos estão na geladeira e na despesa, que é essa porta há sua direita. – Oriento e ele balança a cabeça, concordando.

— Obrigado. Por que não vai trocar essa roupa por algo mais quente enquanto eu preparo a comida da gatinha e algo para a gente comer? – Sugere Max, sorrindo gentil.

— E você sabe cozinhar? – Questiono, desconfiada.

— Eu tenho bastante confiança nas minhas habilidades culinárias. – Responde Max com um sorriso desafiador em seus lábios.

— Tudo bem. Eu já volto. – Decido não discuti e vou para meu quarto com a gatinha. Ela poderia acabar aprontando e eu ainda não confio em Max na cozinha.

Deixo a gatinha sobre o tapete ao lado de minha cama e vou tomar um rápido banho. E é debaixo da água que consigo pensar com mais clareza em tudo que havia acontecido. Eu não consigo entender o que se passa comigo. Por que eu tenho tantas reações com Max? Por que eu me sinto tão atraída por ele? Por que não consigo controlar minhas ações quando ele me encara tão intensamente?

E por mais que eu pensasse, eu não conseguia chegar a uma resposta. Resolvo sair do banho e ver o que Max havia preparado para comermos. Visto um short jeans e uma blusa qualquer e vou atrás da gatinha. Encontro-a lutando contra minha colcha de cama. Rio de sua frustração ao tentar se livrar do tecido, mas a unha de sua patinha havia se prendido no pano.

— Você é uma gatinha muito agitada. – Resmungo, tentando soltá-la, mas ela se mexia cada vez mais. Quando enfim consigo desprender sua unha da colcha, ela corre e esbarra na minha estante de livros, que já estava um pouco em falsa. Corro para segurar o móvel, mas não consigo evitar que um dos livros caia.

A gata corre para debaixo de minha cama. Suspiro e recolho o livro. Vejo que que era um dos meus livros de colorir preferidos de quando eu era criança. Havia inúmeras páginas de desenhos para colorir do filme Rei Leão 2. Sorrio nostálgica ao ver Kiara, a leoa princesa que é teimosa e curiosa.

— Você parece a Kiara, gatinha. – Digo, vendo-a sair debaixo da cama, ainda desconfiada. Guardo meu livro e sorrio, pegando-a no colo quando ela se aproxima de mim. – Vou te chamar de Kiara. É um nome de uma princesa e ele significa clara, brilhante, assim como seu pelo. É um nome perfeito!

Assim que termino de pentear meu cabelo, volto para a cozinha, onde um aroma delicioso havia se espalhado. Max mexia em um bacia e assoprava o que imaginei ser a comida de Kiara. Ele estava tão concentrado, que parece nem mesmo ter notado minha presença. Aproximo-me de Max devagar e com um sorriso travesso em meus lábios. Quando enfim estou próxima o suficiente, empurro o rapaz de leve.

— Então você é mesmo um cozinheiro?

— Jenny! – Exclama surpreso, deixando a bacia cair na pia. Um pouco da comida espirra em sua blusa e ele me encarar mal-humorado, com a mão no peito. – Você quer me matar do coração?

— Desculpa. – Lamento aos risos. – Você estava tão concentrado que eu acabei não resistindo. Me desculpa.

— Haha. Muito engraçado. – Ironiza, voltando a esfriar a comida de Kiara. – Enfim, a comida da gatinha está pronta.

— Kiara. – Digo e ele me encara confuso. – O nome dela é Kiara?

— Você deu o nome de Kiara para ela? – Pergunta Max, rindo.

— O quê? É um nome bonito e ela é parecida com a Kiara de Rei Leão 2. – Justifico, dando de ombros. – É um nome perfeito para ela.

— A Kiara é uma leoa. – Retruca Max, ainda rindo, enquanto coloca a bacia no chão para que a gatinha comesse. – Além disso, você vai mesmo dar um nome a ela?

— Primeiro que leões são felinos, então são da mesma família, portanto, não tem problema dar o nome de Kiara a gatinha. E qual o problema de dar um nome a ela? – Pergunto, colocando Kiara no chão, que não demora a correr em direção a bacia de comida. E depois de muito cheirar e experimentar, a gatinha começa a comer afoitamente.

— Problema nenhum, se você for ficar com ela. – Responde Max, acariciando o pelo branco de Kiara. – Caso contrário, você irá sofrer muito se ela for embora. Dar um nome a um animal de estimação significa adotá-lo.

— Eu... – Penso em uma forma de argumentar, mas ele tinha razão. Suspiro e encaro a gatinha que comia como se estivesse há dias sem comer. – Eu vou ficar com ela. Alguém a abandonou, então acho que não tem família. E se eu implorar, tenho certeza de que meus pais deixam eu ficar com ela.

— Claro que deixam. Você é a princesinha da família. – Provoca Max, rindo. Lanço um olhar repreendedor ao outro, que apenas aumenta seus sorriso.

— Você é tão irritante. – Resmungo, sentando a mesa. Meu estômago ronca alto e no mesmo instante, minhas bochechas coram violentamente.

— Parece que alguém está com fome. – Comenta Max, rindo. Ele pega um prato com panquecas e coloca a minha frente. Minha boca começa a salivar apenas com a beleza do prato. Ele coloca dois pratos limpos, mel, manteiga e geleia de morango sobre a mesa e sorri. – Bom apetite.

Faminta, coloco três panquecas sobre meu prato e molho com uma grande quantidade de mel. Assim como meu pai, eu sou completamente apaixonada por panquecas. É o meu prato favorito. E aquelas estavam incrivelmente deliciosas. Não consigo deixar um gemido de prazer pelo sabor escapar de meus lábios.

— Isso está incrível, Max! – Afirmo, vendo-o sorri satisfeito.

— Fico feliz que tenha gostado. – Responde com sinceridade. Ele coloca um pouco de suco de laranja em um copo e me estende. Por estar comendo apressada, eu acabo me engasgando. Tomo um pouco de suco e sorrio sem graça. – Coma devagar. As panquecas não irão fugir e ainda há muitas.

— Desculpa. – Digo, rindo envergonhada. – É que eu estava com muita fome e essas panquecas estão muito gostosas. Eu amo panquecas. É o meu prato favorito.

— Isso é mesmo a sua cara. – Ele comenta, rindo, enquanto come um pedaço de panqueca.

— Por quê? – Pergunto, confusa.

— Você gosta de coisas doces, ama contos de fadas, gosta de animais, de estudar. Você é realmente como uma garota doce, tímida e inocente, que sempre espera o melhor das outras pessoas. – Responde, dando de ombros.

— Eu não sou tão inocente assim. – Afirmo, frustrada, porque já estava cansada de ouvir isso de meu irmão e todos os homens que me cercam.

— Não estou dizendo que isso é ruim, portanto, não precisa ficar na defensiva. Mas de certa forma, eu entendo o seu irmão. – Explica, encarando-me com seriedade. – Sinto muito por ter causado problemas a você também. Eu não tive oportunidade de agradecer e de me desculpar naquele dia em que contou ao seu irmão que estava namorando Dan. Eu não sou muito bom com isso, mas eu realmente sou grato por não ter desistido do plano e ter acreditado em mim, mesmo me conhecendo há tão pouco tempo.

— Não precisa me agradecer. É verdade que eu não te conheço há tanto tempo, mas eu já vi o suficiente para saber que você não mataria uma pessoa, Max. E meu irmão também não deveria ter te atacado sem antes saber da verdade. Júlia me contou que ele pesquisou sobre você e Dan, por isso acabou descobrindo sobre o que aconteceu. – Conto, sorrindo envergonhada. – Me desculpe pelas coisas horríveis que ele te disse.

— Eu imaginei que isso tivesse acontecido. Por mais que minha família tenha feito de tudo para abafar o caso, eu ainda faço parte de uma família bastante influente, então é claro que a mídia cairia em cima de mim. Eu estou surpreso que as pessoas dessa escola ainda não descobriram a verdade. – Comenta, dando de ombros.

— Bom, vocês nunca usam o sobrenome e nunca dão as redes sociais de vocês, então acho que as pessoas acabam não reconhecendo vocês. – Suponho e ele balança a cabeça, concordando. – Josh e eu também não usamos nossos sobrenomes na escola e não temos redes sociais públicas.

— Também não querem ser reconhecidos como filhos de seus pais? – Questiona Max, terminando de comer.

— Sim, mas não é somente isso. – Conto, brincando com um pedaço de panqueca que havia em meu prato. – Sabe, meu irmão e Ian não são super protetores por nada. Acontece que quando eu tinha dez anos, eu fui sequestrada e fiquei na mão de bandidos por três dias. Meus pais quase enlouqueceram e Josh se culpou muito por não ter conseguido impedir que eu fosse levada. Mas o que uma criança de dez anos poderia fazer contra três homens armados?

— Isso é sério? – Questiona Max, surpreso.

— Sim. Josh e eu brincávamos de pique esconde com Ian em frente a nossa casa, quando tudo aconteceu. Em um momento, Ian disse que precisava ir ao banheiro e então nós ficamos no lado de fora, sozinhos. Foi então que um carro em alta velocidade apareceu. Dois homens armados desceram e um terceiro me pegou. Eles me colocaram no carro e fugiram. Josh tentou ir atrás de mim, mas não conseguiu.

“Como me deixaram sedada a maior parte do tempo, eu não lembro de nada do que aconteceu durante esses três dias. Eu só lembro de estar presa em um quarto rosa bebê e de uma janela que tinha vista para o mar. Eles me davam água algumas vezes e acho que comi pão também. O fato é que no terceiro dia, a polícia apareceu, houve troca de tiros e os três sequestradores foram mortos.

Soube que eles descobriram que eu era filha de Ally Dawson e Austin Moon, por isso pediram uma quantia enorme caso meus pais quisessem que eu permanecesse viva. Eles não me machucaram, nem me torturaram psicologicamente e como eu passei a maior parte do tempo dormindo por causa dos remédios que eles me davam para não dar trabalho, eu não fiquei realmente traumatizada, mas não posso dizer o mesmo da minha família e amigos.

Desde então todos se tornaram super protetores comigo. Até entrar no ensino médio, eu só podia sair se tivesse seguranças comigo. Nossa casa tem câmeras até mesmo no banheiro. Foi difícil convencer meus pais de que eu não precisava dessa segurança toda. Eu tive que abrir mão de postar fotos minhas com meus pais nas redes sociais, nunca revelar que sou filha deles e ser o mais discreta possível para não aparecer na mídia.

Para todos os efeitos, minha família não é nada demais e eu sou apenas uma bolsista por notas e Josh por bolsa atleta. E claro, todo o caso sobre meu sequestro foi abafado pela mídia para preservar minha identidade e a de meu irmão. Para nossa sorte, naquela época a internet não era tão presente na vida das pessoas e meus pais sempre buscaram nos deixar longe dos holofotes. Inclusive, para eu não correr ainda mais risco, a investigação de meu paradeiro foi feita em sigilo.

Eu consegui ter uma certa liberdade depois de muitas brigas, mas Ian e meu irmão se sentem na obrigação de me proteger. Por isso, não leve para o lado pessoal o que eles te falaram. Eu odeio isso, mas eles só querem garantir que ninguém me machuque”. – Narro o que vivi quando criança.

— Eu sinto muito. – Lamenta o rapaz, pegando em minha mão. Aquele gesto realmente me consolou. Seus olhos não demonstravam pena, algo que eu recebia de todos que ouviam a história. Ele parecia na verdade admirado. – Você foi realmente forte.

— Obrigada. – Agradeço, envergonhada.

Max então solta a minha mão e suspira, olhando a chuva cair pela janela da cozinha. Observo seu semblante pensativo. Eu queria saber mais sobre seu passado também, mas não queria forçá-lo. Parecia invasivo demais questionar sobre a acusação de assassinato, porque eu vi a dor que ele sentia ao falar sobre o caso.

— Naquele dia do almoço na casa da minha família, quando fomos te deixar em casa, você me perguntou o porquê da minha família e eu termos voltado para Miami e eu acabei sendo um babaca com você, mas a verdade é que eu não gosto de falar sobre isso, porque as pessoas nunca acreditam em mim. E eu não tiro a razão delas. Eu sou impulsivo, tenho tendência a ser violento quando mexem com a minha família e minha personalidade é difícil de lidar. Mas, eu não queria que você também achasse que eu era um assassino, que descontasse em Daniel algo que não é culpa dele. Eu já machuquei demais ele e meus pais. – Começa Max e a dor e a culpa se faz presente em seus belos olhos azuis. Ele toma um gole de seu suco e vejo que era difícil para ele falar.

— Não precisa me contar se não quiser, Max. – Digo com sinceridade. Apesar de querer muito saber, eu preferia não descobrir a vê-lo sofrer tanto.

— Não. Eu quero te contar. Eu sinto que tenho que te contar. – Revela e vejo sinceridade em suas palavras. Suspiro e balanço a cabeça, concordando e buscando mostrar que eu estava disposta a ouvir sua versão da história. – Lembra-se quando eu disse que na única vez que saí sem Daniel, tudo deu errado?

— Sim. Estávamos no seu quarto e você me contou sobre o dia em que seu cachorro morreu. – Relembro e ele assente.

— Nessa vez, eu fui convidado para uma festa em Star City por uma galera barra pesada. Daniel implorou para que eu não fosse, porque ele não confiava nessas pessoas. Eu queria que ele fosse comigo, assim como sempre fizemos, mas meu primo não queria ir de forma alguma e pediu diversas vezes que eu não fosse, porque as pessoas que estavam nessa festa não tinham um histórico bom. Como o idiota que eu sou, acabei indo escondido de Daniel e de meus pais. Eu queria ir à festa, conhecer algumas garotas, beber um pouco e voltar. Eu tinha o plano de voltar cedo, mas é claro que não foi bem assim que aconteceu. Nathan, que era um dos meus amigos da escola, foi o que mais insistiu para eu ir com ele e o que mais me deu bebida naquela noite.

“Em determinado horário da festa, eu conheci uma garota de olhos verdes, pele amorenada e longos cabelos cacheados. Ela me levou para o quarto da casa onde estava tendo a festa. E eu não lembro de mais nada depois disso. Eu só sei que acordei com uma faca ensanguentada em minhas mãos, uma cama vazia e o corpo sem vida de Nathan Piers, a mesma pessoa que havia me levado para aquela festa. Ninguém viu nada, não havia provas de que outras pessoas estiveram no quarto e logo eu fui acusado como o assassino de Nathan.

Eu estava bêbado, tinha registro de drogas no meu sangue e ninguém acreditava em mim. Eu juro que nunca usei drogas, então a nossa suspeita é que as bebidas que Nathan me deu estavam batizadas. Mas, ele morreu e até o momento não consegui provar minha inocência.” – Conta Max e eu nem mesmo sabia o que dizer. Era muitas informações para absorver. – Eu fiquei preso por dois dias, mas minha avó conseguiu um excelente advogado que conseguiu minha liberdade provisória até o próximo julgamento que ocorre na próxima semana.

“O grande problema de meus pais terem pedido a ajuda de minha avó é que eles acabaram ficando nas mãos dela. Nós tivemos que voltar para Miami, Dan foi obrigado a estagiar na empresa da família, meu pai assumiu a presidência e minha mãe e eu passamos a cuidar da tecnologia das Corporações Queen.

E sempre que pode, minha avó joga na cara dos meus pais que se não fosse por ela, eu ainda estaria preso. Ela também ameaça virar as costas para nós e me deixar ser condenado se eles não colaborarem. Então mesmo a contragosto, nós vivemos na mansão de minha avó e temos que aguentar suas interferências em nossas vidas.

Eu nunca contei a Dan o que aconteceu por medo dele sofrer ainda mais e me odiar. Eu pedi também que ele não procurasse ou lesse notícias do que aconteceu. Ele apenas sabe que eu fui acusado de assassinato, mas não sabe os detalhes.

Se eu não tivesse ido nessa festa, se eu tivesse ouvido Daniel, talvez nada disso teria acontecido. Nathan não estaria morto, Daniel não teria que mentir sobre um namoro e fingir ser quem ele não é para não ser obrigado a se casar, meus pais não seriam obrigados a suportar minha avó e minha mãe não choraria tanto por ter um péssimo filho como eu. Tudo é culpa minha, Jenny, e por mais que eu lute, dê tudo de mim, parece que é em vão. Eu serei condenado a pagar por um crime que não cometi e minha mãe jamais irá se perdoar por isso, porque eu a conheço muito bem para saber que ela iria até o inferno se fosse preciso apenas para garantir que Daniel e eu ficaremos bem.” – Explica Max e eu finalmente entendo o porquê de ser tão difícil para ele falar sobre isso. Ele se culpa por tudo o que aconteceu e a avó tem acabado ainda mais com seu psicológico.

— Max, você não tem culpa. – Afirmo, encarando com intensidade seus olhos. Ele tenta desviar o olhar, mas pego em sua mão e o faço me encarar. – Eu sei que você não matou Nathan e que você vai conseguir provar sua inocência.

— E como eu irei fazer isso, Jenny? A audiência é semana que vem e meu pai me disse hoje que as chances de conseguir provar minha inocência são baixas. Eu não quero ser preso. Não quero decepcionar meus pais e Dan. Não quero prejudicar a vida de mais ninguém. Mas não consigo parar de pensar que talvez, por causa das drogas em meu sangue eu possa ter...

— Você não matou ninguém, Max. – Insisto com tanta certeza que parece ter surpreendido o rapaz. Ele me olha tão desolado e isso me quebra por dentro. – E nós vamos provar isso. Não importa se faltam dias, horas ou minutos, nós vamos descobrir quem armou para você, Max. Eu prometo.

— Nós? – Sussurra, como uma criança perdida.

— Sim. Nós. Agora que você me contou o que aconteceu, eu também quero descobrir quem foi que armou para você. Nós somos amigos, certo, Max? – Pergunto e ele assente, incerto. Levanto-me e me coloco de frente para Max. – Amigos ajudam uns aos outros. Eu vou te ajudar. Eu ainda não sei como, mas tenho certeza de que vamos descobrir. Nenhum crime é perfeito. Quem fez isso com você não vai se safar. Eu prometo a você, Max, que eu não deixarei que você seja preso por algo que não fez.

E de repente, sinto os braços de Max envolta de meu corpo. Prendo minha respiração por alguns instantes, mas não demoro a corresponder ao abraço. Seu corpo quente me transmite sensações inexplicáveis. Era confortável e assustador. Seu cheiro era inebriante e perigoso demais para meus sentidos. Mas ainda que meu corpo estivesse passando por reações intensas e minha mente tivesse se tornado um caos, permaneço naquele toque que ele tanto precisava.

— Obrigado, Jenny. – Sussurra Max em meu ouvido. Arfo e preciso respirar fundo para não me deixar distrair pela forte atração que sinto por seu tom de voz rouco.

— Você não está sozinho, Max. – Sussurro de volta, apertando-o ainda mais. Ele se afasta apenas o suficiente para me olhar e eu coloco a mão em sua face. Max fecha os olhos e apoia seu rosto em minha mão. Acaricio a bochecha com a barba por fazer, sentindo meus poros se arrepiarem com as cocegas que sentia na palma de minha mão. – Nós vamos provar sua inocência. Confie em mim.

— Eu confio. – Responde, abrindo os olhos e há tantas coisas escritas em seus olhos que por alguns instantes, permaneço completamente perdida naquele mar de sentimentos. E é nesse momento que eu noto que talvez, apenas talvez, eu esteja envolvida demais com Max Queen e agora é tarde demais para voltar atrás.

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