60 Minutos de Paixão

O Início do Namoro


CAPÍTULO VIII - INÍCIO DO NAMORO

...{♕}...

A atenção da escola estava sobre nós, enquanto seguíamos em direção aos nossos armários. Eu me sentia nervoso. Não por ter tantos olhares sobre mim, afinal, sendo primo de Max Queen e membro de uma das famílias mais ricas e envolvida em escândalos do país, eu estava mais do que acostumado com o interesse desnecessário das pessoas. Por outro lado, as mãos de Jenny tremiam intensamente, enquanto apertava a minha. Ela era de longe a pessoa mais incomodada.

— Está tudo bem? – Sussurro, preocupado com o estado da garota. A evidente timidez deixava seu rosto incrivelmente vermelho e ela parecia intimidada demais para olhar para outro lugar que não fosse o chão. – Tem certeza de que quer continuar com isso? Se quiser, podemos apenas fingir que nada aconteceu.

— Eu estou bem. – Garante, respirando fundo antes de me encarar. – Eu apenas não estou acostumada a ser o centro das atenções.

— Se quiser, eu posso ajudar. – Comenta Max, sorrindo perigosamente.

— Obrigada, mas acho melhor que você fique quieto. Não confio na sua forma de ajudar. – Responde Jenny e Max revira os olhos.

— Que maldade! Isso é jeito de tratar seu cunhado? – Questiona Max, colocando a mão no peito, fingindo-se de ofendido. – Você deve tratar bem a família do namorado, caso você não saiba. Eu posso ser muito cruel com você. Tipo a sogra malvada que faz de tudo para separar o filho da nora, ou seja, eu posso ser a megera da minha avó.

— Você é um idiota. – Responde Jenny, rindo um pouco.

— Essa é uma das minhas inúmeras qualidades. – Brinca Max, fazendo a garota ri ainda mais. – É sério. Pode perguntar para o Dan. Eu tenho um senso de humor incrível. Ninguém consegue me superar.

— Isso é verdade. – Concordo, entrando na brincadeira.

— Então você não será a sogra malvada dos filmes comigo? – Questiona Jenny, encarando meu primo em desafio.

— Eu deveria ser, por sua atitude nada amável comigo, mas eu sou uma boa pessoa e deixarei isso passar em respeito ao meu amado filho Dan. Digo, ao meu querido primo. – Responde Max, fazendo Jenny ri ainda mais.

— Obrigada. Eu acho. – Agradece a loira, com os olhos cor de chocolate brilhando em divertimento.

— Enfim, o que eu quero dizer é que se você foi capaz de enfrentar Moira Queen, a versão feminina e humana do capeta, tenho certeza de que você pode suportar algumas horas de atenção desse bando de desocupados. – Afirma Max, sorrindo gentil, algo bem incomum para meu estranho primo.

— Obrigada, Max. – Agradece Jenny e sinto que ela fica bem mais calma. Sua mão já não tremia tanto e ela já conseguia andar olhando para frente.

Observo aos dois, estranhando seus comportamentos. Desde que fomos deixar Jenny em casa no dia em que ocorreu o almoço em família, eles pareciam... diferentes. Era difícil dizer o que havia de estranho neles, mas eu sentia que eu havia perdido um ponto importante naquele dia que eles guardavam apenas para si.

E então chegamos de frente a nossa sala. A tensão volta a se instalar sobre nós. Até mesmo Max parecia um pouco nervoso. Ansioso, abro a porta e entro, segurando a mão de Jenny com ainda mais firmeza. Eu não fazia ideia de como deveria reagir e nem o que esperar. O fato é que nossa presença parece ter desencadeado no silêncio da sala e a atenção de todos sobre nós, e isso incluía os amigos e o irmão gêmeo de Jenny que não parecia nada contente ao me ver de mãos dadas com a garota.

— Poderia me explicar o que é isso? – Questiona Josh, aproximando-se de nós.

No mesmo instante, Júlia e os outros amigos se apressam em acompanhar o rapaz, provavelmente temendo que ele fizesse uma bobagem. Preciso fazer uma grande força para não me deixar intimidar pela presença intimidante do capitão do time de basquete da escola. Sinto o aperto de Jenny se tornar ainda mais intenso.

— Daniel e eu estamos namorando. Isso é tudo. – Responde Jenny e todos parecem ainda mais surpresos com a sentença da garota.

E novamente as mãos da loira tremem. Meu corpo se torna tenso ao observar o rosto incrédulo de Josh se tornar furioso. Obviamente, aquela não havia sido a melhor forma de contar ao irmão da garota que estávamos namorando.

— Isso é tudo? – Repete Josh, rindo incrédulo. – Jenny, você mal conhece esse cara e simplesmente estão namorando? Isso é ridículo! Você nem mesmo gosta dele!

— Quem disse? – Pergunta Jenny, parecendo irritada pela reação do irmão. – O fato é que estamos namorando e eu gostaria que você parasse de fazer escândalos por bobagens, Josh. Eu não sou mais uma garotinha indefesa. Será que dá para confiar em mim pelo menos uma vez na sua vida?

— Eu confio em você. Não confio é em alguém que acabei de conhecer! – Exclama Josh, apontando para mim.

— Já chega, Josh. Gritar com a sua irmã não é a melhor forma de você conseguir o que quer. – Repreende Júlia, puxando o braço do namorado. – Vamos nos sentar e assistir as aulas, no intervalo nós conversamos melhor.

— Intervalo? Vocês...

— Escuta a sua namorada, Josh. – Intervém Ian, olhando para nós com seriedade. – Eu também estou louco para saber que história é essa de namoro.

— Mas...

— Josh! – Insiste Júlia, fazendo o namorado bufar, irritado.

— Tudo bem. Mas do intervalo não passa! Vocês vão ter que me explicar direitinho que história é essa de namoro. – Responde Josh, encarando a nós com um tom nítido de ameaça. Sinto um frio na espinha, como se estivesse a enfrentar algo perigoso.

— Parece que alguém está querendo competir com a megera para saber quem é mais assustador. – Comenta Max para que apenas Jenny e eu ouvíssemos.

— O que disse, Max? – Questiona Josh, lançando um olhar intimidante ao meu primo, que o encara com um falso sorriso amigável. Eu o conhecia bem o bastante para saber que esse é o mesmo sorriso que ele dá para os convidados irritantes das festas dadas pela nossa avó e que somos obrigados a comparecer.

— Disse que Dan deve ser honesto com você e mostrar as verdadeiras intenções dele com Jenny. – Responde Max, sem se intimidar.

Josh nos lança um olhar desconfiado antes de voltar para sua cadeira com a namorada e os dois amigos. Ele havia acreditado nas palavras de Max, como era de se esperar. Poucas pessoas conseguem saber quando meu primo está mentindo, o que se resume aos pais do garoto e a mim.

— Cínico. – Sussurra Jenny, revirando os olhos.

— Queria que eu fizesse o quê? – Comenta meu primo, dando de ombros. – De qualquer forma, acho bom vocês se prepararem. Obviamente, seu irmão não aceitou tão bem o namoro de vocês.

— Ele não aceitaria de qualquer maneira. – Resmunga Jenny, indo para o lugar dela, após sussurrar um pedido de desculpas, envergonhada pelo o irmão.

Suspiro, cansado. O dia mal havia começado e eu já me sentia esgotado. Essa situação toda de mentiras era desconfortável. Eu sabia que não havia alternativas, dada as circunstâncias em que me encontro, mas eu ainda não me sentia bem sabendo que estou enganando tantas pessoas. Max coloca a mão sobre meu ombro e sorri em consolo.

— Não se preocupe. Eu não vou sair de perto de você e não vou deixar que ele te machuque. Eu prometo. – Garante Max com convicção.

— Não é com isso que eu estou preocupado, mas obrigado. – Agradeço, sentindo-me um pouco mais confortado. – É melhor irmos para os nossos lugares. A aula já vai começar.

Max suspira, concordando. Sob o olhar ameaçador e atento de Josh, seguimos para nossos lugares. Os olhares dos alunos ainda continuavam sobre nós. Eu não duvidava que a notícia sobre meu suposto com Jenny já estivesse sendo espalhado nesse momento por toda a escola. E eu sabia que deveria estar feliz por isso, afinal, nesse momento, minha avó provavelmente colocou pessoas para nos espionar e garantir que eu não estava mentindo. Por outro lado, eu sentia que não era certo e muito menos justo mentir para as pessoas que amamos.

— Qual o problema, Dan? – Pergunta meu primo, encarando-me com intensidade. Eu nunca conseguia esconder nada dele.

— Eu apenas estou preocupado de estarmos envolvendo Jenny nos nossos conflitos familiares. – Sussurro, temendo que mais alguém ouvisse nossa conversa. Aparentemente, as pessoas estavam mais interessadas em fofocar sobre o mais novo casal da escola do que sobre o que nós dois conversávamos. – Antes falaríamos isso apenas para nossa família, mas agora... a família dela e os amigos também estão começando a se envolver. Temo que isso tragar muitos problemas no futuro.

— Não tem como voltarmos atrás agora e isso foi algo que ela escolheu. – Responde Max, também com o tom de voz baixo. – Eu também não fico feliz por ter mais pessoas envolvidas nessa história, mas ela precisa de ajuda. De alguma forma, ela está fazendo isso para o bem dos amigos.

— E se algo der errado? – Questiono, preocupado. – Eles parecem ser muito unidos. Eu não quero destruir a amizade deles.

— Bom, tudo que nos resta é fazer o nosso melhor para não deixar que algo dê errado. – Afirma o outro, sorrindo levemente.

O professor não demora muito a aparecer e agradeço mentalmente por ser artes. Talvez estudar um pouco da minha matéria preferida me ajudasse a esquecer esses sentimentos conflitantes ou pelo menos a organizar a minha mente confusa. Se for para enfrentar o irmão ciumento e desconfiado de Jenny, eu precisava mostrar segurança em minhas palavras. Eu não posso contar para sempre com Max para lidar com situações complicadas como essa.

Antes que o professor começasse a dar a matéria do dia, batidas na porta chamam a atenção da turma. Após a permissão do Sr. Hansen, vemos a coordenadora da escola entrar na sala acompanhada de uma garota muito bonita. Todos a observam, curiosos para saber quem era a garota ruiva de olhos verdes e sorriso gentil.

— Desculpa atrapalhar sua aula, Sr. Hansen, mas temos uma aluna nova e eu gostaria de apresentá-la a turma. – Explica a coordenadora, sorrindo levemente.

— Claro, Sra. Kiefer. – Concorda o professor, indo para sua mesa.

— Bom dia a todos. – Após a resposta da classe, ela sorri e coloca a mão sobre o ombro da ruiva, incentivando-a a se aproximar. – Essa é a nova colega de classe de vocês, Alexia Griffin. Ela acabou de se mudar para Miami, portanto, sejam receptivos.

— Eu tenho a impressão que conheço essa garota de algum lugar. – Sussurro para Max, que a encarava como se estivesse tentando lembrar quem era ela.

— Eu também. – Responde meu primo, pensativo. – Mas eu não consigo me lembrar de onde eu a conheço.

— Alexia, por que não escolhe um lugar livre? No intervalo, tenho certeza de que seus colegas de classe vão adorar mostrar a escola para você. – Orienta o professor, aproximando-se da garota.

— Tudo bem. – Ela concorda, sorrindo. Alexia começa a vir em nossa direção e então encara Max intensamente. – Olá.

— Oi. – Responde meu primo, ainda parecendo tentar reconhecer Alexia. – A gente se conhece?

Alexia se senta na cadeira livre a nossa frente e se vira um pouco apenas para nos encarar. Havia algo de sombrio em seus olhos quando ela observa discretamente meu primo, antes de colocar a bolsa no encosto da cadeira, pegar seu caderno e seus estojo. Por um momento sinto meu corpo inteiro em alerta e acabo colocando a mão sobre o braço de Max. Ele me encara confuso e a expressão da aluna transferida se suaviza.

— Não. Com certeza eu me lembraria se nos conhecêssemos. – Afirma Alexia, sorrindo gentil, mas havia algo que me incomodava na forma como ela encarava meu primo. Diferente das outras garotas, que estavam sempre dispostas a se jogar para cima de Max, o olhos verdes da garota parecia expressar uma frieza inexplicável, ainda que sua expressão fosse amigável.

— Certo. – Sussurra Max, ainda desconfiado. Meu primo se vira para mim. – O que foi Dan? Você está tão estranho.

— Seja bem-vinda, Alexia. Nós também somos alunos transferidos, então se tiver algum problema, é só falar com a gente. Não sabemos muito sobre a escola, mas acho que podemos nos ajudar. – Digo, ignorando a pergunta do meu primo. A garota desvia o olhar intenso sobre Max e finalmente me encara.

— Obrigada. Eu espero que possamos nos dar muito bem. É estranho mudar de escola no último ano do ensino médio, então é muito bom saber que eu não sou a única aqui assim. – Responde Alexia, sorrindo.

— Acho que agora não teremos nenhuma novidade, então abram seus livros na página oitenta e cinco. O tema da nossa aula hoje é a Arte Efêmera. – Avisa o professor, chamando a atenção da turma, que ainda estava sobre a aluna transferida.

— Eu ainda não tenho meus livros. Vocês se importam de dividir o livro comigo? – Questiona Alexia, sorrindo sem graça.

— Claro. – Concorda Max, abrindo o livro na página que o professor havia solicitado. A garota sorri agradecida.

— Obrigada... – Alexia encara meu primo, esperando que ele se apresentasse.

— Max e esse é o meu primo Daniel. – Apresenta meu primo, sorrindo simpático. – Seja bem-vinda, Alexia.

— É um prazer conhecê-los. – Responde a ruiva, sentando-se na cadeira livre ao lado de Max. Ela então nos encara com um sorriso em seus lábios. – E obrigada, Max. Eu tenho certeza de que esse ano será bastante interessante.

Por algum motivo, sinto um arrepio em minha espinha ao ouvir as palavras daquela garota e a sensação de perigo. Observo meu primo, que apenas concorda e passa a prestar atenção na aula, sem dar importância as palavras de Alexia. A garota então me olha por um tempo e após dar um novo sorriso, passa a anotar a matéria que o professor passava no quadro.

Respiro fundo e tento afastar aquela sensação estranha que eu havia sentido. Desvio o olhar para frente e vejo o olhar curioso de Jenny sobre nós. Aceno discretamente e ela sorri, tensa. Talvez ainda estivesse preocupada com a conversa que teríamos com seu irmão no intervalo. Tento sorri o mais confiante possível, antes de ambos voltarem a prestar atenção na aula.

Com o pensamento distante, as aulas passaram mais rápido que o esperado. Quando eu menos percebi, o sinal anunciando o intervalo. Os olhos do grupo de Jenny se voltam para nós e a tensão novamente se torna presente. Max coloca a mão em meu ombro e sorri em consolo. Eu me sentia mais seguro com a presenta de meu primo. Alheia ao que acontecia, Alexia se vira para nós e sorri.

— Posso lanchar com vocês? – Questiona a ruiva, sorrindo envergonhada.

— Eu não sei se hoje é uma boa ideia. – Confessa Max, vendo o irmão e os amigos de Jenny vindo em nossa direção.

— Aconteceu alguma coisa? Vocês estão tão tensos. – Comenta a garota, preocupada. No mesmo instante, lembro da expressão perigosa de Alexia e não consigo me convencer que sua preocupação era verdadeira.

— Daniel. – Chama Josh, chamando nossa atenção.

— Sem escândalos, Josh. – Repreende Jenny, aproximando-se de nós. Ela então encara a ruiva que estava ao lado de Max. – Oi, Alexia. Eu sou a Jenny. Seja bem-vinda a Marino High School.

— Obrigada, Jenny. – Agradece a ruiva, sorrindo. – Eu estou muito feliz de ter vindo para essa escola. Pelo visto, as pessoas são bem gentis.

— Se precisar de alguma ajuda pode falar com a gente, Alexia. – Afirma Melissa, sorrindo gentil. – À propósito, eu me chamo Melissa, mas pode me chamar de Mel. Esses são Ian, Júlia e Josh, que é irmão gêmeo da Jenny e namorado da Juh.

— Prazer em conhecê-la, Mel. Oi pessoal. – Cumprimenta Alexia, sorrindo a todos que foram apresentados. Josh é o único que apenas balança a cabeça, sem esconder seu mau-humor.

— Vamos. – Fala Josh diretamente para mim.

Suspiro. Não tinha como evitar essa conversa. Eu nem mesmo sabia o que ele queria dizer e o que esperava de nós. Levanto-me junto com Max, pronto para seguir o irmão de Jenny. Alexia observava a tudo com curiosidade.

— Pelo visto, algo de grave aconteceu. Eu vou tentar encontrar a lanchonete. Vejo vocês na próxima aula. – Despede-se Alexia, pegando sua bolsa. – Boa sorte!

— Até mais. – Despeço-me, seguindo Josh, que já se dirigia para fora da sala.

Jenny não demora a se aproximar de mim e pegar em minha mão. Ela estava tensa e preocupada. Um silêncio incômodo se faz presente entre nós, enquanto avançávamos pelos corredores. Ian também estava sério e desconfiado, enquanto Melissa e Juliana buscavam dar apoio a Jenny o máximo possível. Max estava logo atrás de mim e, milagrosamente, estava quieto e pensativo.

Assim que chegamos a uma parte mais isolada da escola, atrás do ginásio, o grupo para de andar e a tensão se torna ainda maior. Josh então me encara com intensidade e se aproxima aos poucos de mim. Max se coloca ao meu lado junto com Jenny, parecendo prontos para tomar uma atitude se fosse necessário.

— E então? Podem me explicar que história é essa de namoro? – Questiona Josh, quebrando o silêncio.

— Não há o que explicar. Nós saímos, conversamos, ficamos interessados e estamos namorando. É isso. – Jenny toma a frente, encarando o irmão duramente.

— Isso não é explicação, Jenny. – Retruca Josh, contrariado. – Essa história não faz o menor sentido. Vocês se conheceram semana passada. Saíram apenas uma vez e já estão namorando? Você não é assim...

— Eu sei que estão preocupados e querem me proteger, mas eu já tenho dezessete anos. Essa discussão sobre quem eu estou namorando não faz o menor sentido. – Interrompendo o irmão, Jenny se aproxima de mim e sorri, pegando a minha mão. – Daniel é uma pessoa incrível. Ele é divertido, inteligente e amável. Eu gosto dele.

— Você não o conhece! – Josh exclama, alterado. – Você nem sabe o que é gostar de alguém!

— Josh! – Júlia repreende o namorado, que a encara mal-humorado.

— Você acha mesmo que eu sou tão patética que nem mesmo sei o que é gostar de alguém, Josh? – Questiona Jenny, visivelmente magoada.

— Não foi isso que eu quis dizer...

— Mas foi o que você disse! Você fala que eu nem o conheço, mas está julgando Daniel sem nem mesmo dar uma chance para ele.

— Eu só estou tentando te proteger, Jenny. Você sabe que a nossa família é... diferente das outras. – Começa Josh, com um tom um pouco mais suave, enquanto me encara com desprezo. Max e eu nos encaramos rapidamente. A gente já havia visto aquele olhar diversas vezes. Eu sabia exatamente aonde essa conversa ia parar. – Eles são da família Queen. Não podemos...

— Eu não acredito. – Jenny ri, incrédula. – Você vai mesmo ser tão hipócrita assim de usar a família deles para julgar seu caráter?

— Jenny, seu irmão só está preocupado com...

— Você também não, Ian! – Jenny interrompe o amigo, que se encolhe diante do olhar decepcionado da loira. – Josh, você sabe que nós passamos a vida toda tendo que nos esconder justamente por causa do nome da nossa família, que fomos julgados diversas vezes sem nem mesmo termos condições de nos defender. Não é nossa culpa! Não é culpa deles o envolvimento da família com os escândalos.

— Você não entende! – Exclama Josh, furioso.

— Não, Josh! Você que não entende. – Afirma Jenny, aproximando-se do irmão. – Meu namoro com Daniel não está em discussão. Eu sou madura o suficiente para decidir com quem eu namoro ou deixo de namorar e você não vai interferir nisso. É a minha vida. Minha decisão. E por mais que a opinião de vocês seja muito importante para mim e que essa situação esteja me matando por dentro, eu vou priorizar o que eu quero e o que eu sinto, ainda que você não aprove.

— Ele é um assassino! – Grita Josh, apontando para Max. – Você acha mesmo que eu vou permitir que você se envolva com alguém que é primo de um desgraçado que foi capaz de tirar a vida de outro ser humano?

Nesse instante, todos se calam e encaram meu primo com surpresa. Meu coração se aperta e uma grande fúria toma conta do meu corpo. Antes que eu pudesse pensar, empurro o corpo de Josh contra a parede do ginásio e o pressiono, possesso. Eu não me importo com o que as pessoas falam do nome da minha família ou o que falam sobre mim, mas nunca fui capaz de engolir acusações e julgamentos contra Max.

— Você não sabe de nada! Você não conhece meu primo, não sabe o que nós passamos e o que aconteceu. Você quer proteger sua irmã? Ótimo. Eu entendo e respeito seus sentimentos, mas não vou permitir que fale sobre Max como se realmente soubesse de alguma coisa. – Digo, sentindo meu corpo inteiro tremer. Josh me encara surpreso e sem reação, assim como aos outros que observavam a cena, em choque.

— Já chega, Dan. – Fala meu primo. Ao notar que eu não largaria Josh tão cedo, Max me puxa e me vira para ele. – Está tudo bem.

— Não! Não está tudo bem, Max! Ele...

— Tudo bem. Fique calmo. Não se preocupe com isso. – Afirma Max, sorrindo gentil. – Está tudo bem.

— Você... você... – Balbucia Jenny, encarando Max por um tempo.

Meu primo suspira. A conversa havia tomado um rumo que nenhum de nós dois esperava. Eu sabia que seria difícil convencer Josh sobre meu namoro com Jenny, mas jamais imaginei que o rapaz descobriria sobre as acusações de assassinato que meu primo sofreu alguns meses atrás.

— Eu não o matei. – Responde Max, encarando Jenny com tristeza. Ele provavelmente esperava que ela não acreditasse nele, assim como todos têm feito.

— A polícia encontrou provas o suficiente...

— Cala a boca, Josh. – Jenny interrompe o irmão, sem desviar o olhar de Max. – Você realmente não matou ninguém.

— Eu juro. – Responde meu primo e vejo a dor presente em seus olhos.

— Tudo bem. Eu acredito em você. – Jenny sorri com sinceridade e é inevitável que todos a encarassem surpresos. Nem mesmo meu primo parecia acreditar nas palavras da garota. – Eu sei que pode parecer estranho, mas você é sincero, Max. Irritantemente sincero. Então, de alguma forma, eu sinto que você não está mentindo.

— Jenny, isso é loucura! O cara foi sentenciado! – Afirma Josh, exasperado.

— Josh, você se lembra da vez que você ganhou o campeonato de basquete na nossa escola e alguém disse que foi injusto? – Pergunta Jenny, virando-se para o irmão, que a observava. – Nós tínhamos dez anos e acho que era a primeira vez que você participava de um campeonato como titular na escolinha de basquete que você estava. Na final, vocês ganharam com uma vantagem muito grande. Alguém na época descobriu que éramos filhos de Ally Dawson e Austin Moon e depois disso passou a espalhar em todos os lugares que nossos pais haviam comprado o treinador do time adversário ao seu e o juiz da partida, por isso seu time havia ganhado.

— Por que está falando sobre isso logo agora? – Questiona Josh, parecendo um pouco mais calmo.

— Porque eu quero que se lembre o quanto foi doloroso ver que ninguém acreditava em nós. Claro que não dá para comparar a compra de um resultado de um jogo de basquete infantil a um assassinato, mas... – Jenny suspira e encara o irmão. – Eu sei que não conheço tão bem esses dois e que é loucura acreditar apenas em palavras quando tudo aponta para que ele seja o culpado, mas isso apenas não parece algo que Max faria.

— E você quer que a gente acredite nisso?

Jenny volta a encarar Max, que sorri agradecido para a garota. Meu primo parecia a ponto de chorar, por ver que outra pessoa além dos pais e eu acreditasse que ele realmente não havia matado o amigo.

— Sim. A família de Max é uma das mais conhecidas no mundo dos negócios. Moira Queen governa as corporações com punhos de ferro. Então é possível que tenha inúmeros inimigos. Quem não garante que isso foi uma armação para atingir a família Queen e acabar com sua reputação. Nós já sofremos isso várias vezes, Josh. Júlia também, por causa da profissão do pai. – Argumenta Jenny, encarando os amigos. – E se forem muito difícil para vocês acreditarem no Max e no Daniel, então confiem em mim.

— Se a Jenny acredita no Max, eu também vou acreditar. – Afirma Melissa, suspirando. Ela encara meu primo e sorri ainda tensa. – Eu confesso que ainda estou em choque com a acusação e que tenho medo de que eu esteja confiando em um assassino, mas vocês não parecem estar mentindo. E acho também que é loucura isso, mas se você for capaz de fazer a minha melhor amiga feliz, eu vou apoiar o namoro de vocês, Daniel.

— Mel... – Fala Jenny, abraçando-a, feliz por ter o apoio da melhor amiga. – Obrigada! Obrigada por confiar em mim.

— Você é a minha melhor amiga, Jenny. Eu conheço você bem o suficiente para saber que você não vai desistir deles. Que tipo de amiga eu seria se não ficasse ao seu lado, por mais insana que seja a sua decisão? Eu prefiro estar por perto para impedir que você faça uma loucura ainda maior ou te dizer que eu avisei. – Responde Melissa, fazendo Jenny ri e abraça a amiga mais uma vez antes de se afastar.

— Obrigado. – Sussurro, agradecido pela confiança da garota. Ela sorri e balança a cabeça, negando. Talvez, assim como Jenny, ela apenas estivesse indo pela sua intuição feminina.

— Melissa? O quê...? – Balbucia Josh, sem acreditar.

— Eu concordo com a Mel. Já que a Jenny não vai desistir, eu não vou sair do lado dela. Antes de julgá-los, eu prefiro ter certeza de quem eles são e para isso, é preciso conviver com as pessoas. – Intervém Júlia, colocando a mão sobre o ombro da cunhada. Suas palavras fazem Josh a encarar com incredulidade. – E eu sei bem como as pessoas podem ser cruéis e maldosas o suficiente para armar um assassinato apenas para prejudicar um outra pessoa. Talvez todos estejamos sendo loucos por acreditar em Max e Daniel, mas se ele realmente for o culpado, a verdade vai aparecer. Não conheço muito sobre leis, mas a sentença para assassinato é a prisão. Se Max ainda não foi preso, significa que...

— O crime ainda está sendo investigado. Eu terei uma nova audiência em dois meses, onde algumas outras provas serão analisadas. Se o juiz achar que existe possibilidade de que eu sou inocente, a investigação irá continuar, caso contrário, eu serei condenado a prisão. – Responde Max e vejo seu corpo tenso. – Eu sei que vocês têm todos os motivos do mundo para acharem que eu sou o culpado, mas eu não matei ninguém.

— Então quem foi o culpado? – Questiona Ian, cético. – Porque até agora, tudo o que penso é que minha melhor amiga está envolvida com o primo de um cara que apenas fala que é inocente, mas até o momento não apresentou nenhuma prova disso.

— Ian! – Melissa repreende o amigo, que a encara com intensidade.

— Não dá, Mel. Eu concordo com o Josh que não devemos acreditar tão facilmente nesse cara. – Responde Ian, suspirando.

— Finalmente alguém sensato nesse lugar! – Exclama Josh, aproximando-se do melhor amigo. – Ele é um criminoso! Eu realmente não consigo acreditar que vocês estão tão calmas perto de alguém tão ruim a ponto de tirar a vida do próprio amigo.

— Você não tem certeza disso. – Intervém Jenny, indignada. – Se ele é mesmo um assassino, por que ele salvaria a vida de uma desconhecida? Por que ele se preocuparia tanto com o bem-estar das outras pessoas? Se ele é realmente uma pessoa ruim, porque ele simplesmente está calado ouvindo todas essas acusações?

— Talvez porque ele se sinta culpado por ter matado uma pessoa e o peso na consciência esteja o impedindo de agir. – Sugere o capitão do time de basquete.

— Mas se ele é uma má pessoa, por que ele se sentiria culpado por ter matado uma pessoa? Além disso, nós não sabemos o que pode levar uma pessoa a cometer um assassinato. Às vezes estamos em situação de perigo ou alguém que amamos pode morrer se não fizermos alguma coisa. O fato é que Max poderia muito bem usar essas desculpas para se defender, mas tudo que ele faz é afirma que ele não matou ninguém. E eu sinto que ele está dizendo a verdade. – Responde Jenny, fazendo o irmão ficar sem palavras. – Ele salvou a minha vida quando eu quase ia sendo atropelada e me acalmou quando eu fiquei desesperada. Apesar da personalidade meio narcisista, ele é uma boa pessoa. Eu não tenho dúvidas quanto a isso.

— Ele... ele realmente salvou a sua vida? – Pergunta Josh, parecendo finalmente entender o que Jenny havia ressaltado instantes antes.

— Você realmente não matou o seu amigo? – Questiona Ian, aproximando-se de Max. Meu primo não se intimida e faz questão de encarar o rapaz, como se tentasse transmitir toda a sinceridade possível através daquele singelo ato.

— Não. Eu não matei e farei de tudo para provar que eu sou inocente e que estou falando a verdade. – Afirma meu primo com convicção.

— Tudo bem. Eu vou acreditar em você por hora, apenas porque salvou a vida de Jenny, mas isso não significa que eu não ficarei de olho em você, Max. Até que se prove o contrário, você ainda pode ser alguém perigoso. – Responde Ian, dando-se por vencido. As garotas sorriem e suspiram aliviadas. – Josh?

O irmão gêmeo de Jenny levanta o rosto e encara o amigo. Ele realmente parecia travar uma luta entre o que deveria fazer. Por fim, ele encara a irmã, que continuava firme em sua decisão.

— Pelo visto, eu não tenho escolhas. – Responde Josh, desviando o olhar para a namorada, que continuava ao lado de Jenny. Ele então encara Max com seriedade. – Isso é uma péssima ideia. Eu não confio nele. Não gosto do fato de termos que confiar em um desconhecido e menos ainda por você esteja namorando alguém de uma família tão complicada.

— Mas...? – Insiste Jenny, esperando a sentença final do irmão.

— Mas nada. – Josh dá de ombros e se aproxima de mim. Seu olhar intimidante me deixa estático. – E você esteja ciente de que se você quebrar o coração da minha irmã, eu quebro todos os ossos do seu corpo. Literalmente.

— Eu não vou quebrar. Prometo que vou proteger a Jenny. – Digo com sinceridade. Depois de tudo, eu realmente faria de tudo para garantir que a garota fique bem e a salva das loucuras de minha família.

— Acho bom mesmo, porque estou de olho em vocês e se eu suspeitar que minha irmã está correndo perigo, eu mesmo farei questão de acabar com vocês. – Ameaça Josh, enquanto a namorada e Jenny reviram os olhos.

— Não seja estúpido. – Resmunga Jenny. – Eu sei me cuidar.

— Não. Não sabe. Se soubesse, nós não estaríamos tendo essa conversa. Você e Júlia são as pessoas mais ingênuas que eu conheço. – Responde o outro, irritado.

— Você é um idiota, Josh! Um verdadeiro estúpido insensível! – Exclama Júlia, saindo, sem nenhuma outra explicação. Ela realmente parecia furiosa com o namorado, que bufa frustrado antes de ir atrás da garota.

Observamos a tudo, tentando entender o que havia acabado de acontecer. Ao notar a confusão nos rostos de Jenny, Max e eu, Melissa sorri envergonhada.

— Não se preocupem com isso. Eles já estavam brigando antes mesmo de vocês anunciarem o namoro. Acho que Josh já havia dito algumas coisas que deixaram a Juju chateada e bem... ela é uma manteiga derretida. – Explica a oriental. Ela então se vira para Ian. – Será que... será que podemos conversar?

— Claro. – Concorda o rapaz.

— Nós nos vemos na aula. – Despede-se Melissa, sorrindo gentil. – Ah, e não se preocupem. Não diremos a ninguém sobre os problemas que você está passando, Max. Imagino que isso realmente seria complicado para você nesse momento.

— Obrigado, Melissa. – Agradece meu primo, aliviado.

Ela acena para a melhor amiga, que sorri agradecida, e sai junto com Ian. Instantaneamente, Max, Jenny e eu suspiramos aliviados. De forma caótica, havíamos superado o primeiro conflito, embora eu ainda ache que muitos outros irão acontecer em um futuro não muito distante.

— Dan... me... me desculpa. – Lamenta meu primo, sem esconder a sua frustração. – Eu sempre disse que te protegeria, mas por minha culpa, você está sofrendo acusações injusta e se envolveu em situações desnecessárias. Eu realmente sinto muito.

— Não tem motivos para pedir desculpas, Max. Antes de primos, você é o meu melhor amigo. Eu sei que você não fez nada e ainda que não queira me contar o que aconteceu para que eu não me envolva, eu vou continuar acreditando na sua inocência. Eu não me importo com o que as pessoas acham ou digam, eu sempre ficarei ao seu lado. – Afirmo, fazendo meu primo sorri.

— Obrigado. Eu prometo que farei de tudo para não prejudicar você e Jenny. – Garante, surpreendendo a loira, que apenas nos encarava sorrindo.

— Eu? – Questiona Jenny, confusa.

— Eu sei que meus problemas acabaram deixando a situação ainda mais complicada. Eu deveria ter te contado antes. – Sussurra Max a última parte, envergonhado. Era a primeira vez que eu via meu primo tão decepcionado consigo mesmo. Ele realmente estava arrependido.

— Eu meio que entendo. Quer dizer, eu fiquei assustada com o que Josh falou, mas eu não consegui acreditar que você realmente matou alguém. Quer dizer, você é irritante, cínico e tenho certeza que é um colecionador de corações partidos, mas eu sei que você não é uma má pessoa. Ninguém com um mau coração defenderia e cuidaria tão bem das pessoas ao seu redor. – Responde Jenny, sorrindo. – Eu acredito na sua inocência, Max, e sei que você será capaz de provar e descobrir quem foi o culpado.

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