— Ainda não acredito que você fez isso. Mas estou feliz que tenha feito. — Rhodes abriu mais uma garrafa de cerveja e brindou com Tony. — Você merece isso, sabe. — ele olhou ao seu redor: o sol se escondendo no horizonte do lago com águas calmas; o canto dos pássaros nas árvores; o cheiro de natureza, misturado com o de comida que vinha da cozinha... — Essa paz. — ele bebeu um gole. — E então, como vai essa história de tentar ter um bebê?

— Estamos na melhor parte, se é que me entende… — Tony bebeu um pouco da sua cerveja, olhando diretamente para o lago à sua frente.

— Está assustado?

— Não no momento. Talvez porque ainda não seja uma realidade.

— Você vai ser um bom pai. — Rhodes segurou o ombro do amigo.

— É. Tudo que preciso fazer é o exato oposto do que meu pai fez comigo. — Tony bufou, e então bebeu mais um gole.

— Sabe o que vocês poderiam fazer? Ter um bicho de estimação pra praticar.

— Essa na verdade é uma boa ideia. — Tony apontou para o amigo com a garrafa.

— Eu sugiro um cachorro. Ou um gato. Um de verdade, não um robô.

— Cachorro ou gato. Ok. — Tony bebeu o resto de sua cerveja em um só gole e levantou da espreguiçadeira, sendo seguido pelo amigo.

— Olá rapazes… — Pepper os cumprimentou, quando entraram pela porta dos fundos. — Eu já ia chamá-los. O jantar está quase pronto… — ela se perdeu por um momento, quando Tony a abraçou por trás e depositou um beijo em seus lábios, depois em seus cabelos.

— Então isso virou rotina agora? — Rhodes perguntou, ao notar que quem estava preparando o jantar era a ruiva.

— Estamos levando esse negócio de vida normal muito à sério. Nada de cozinheiros. Chega a ser relaxante, na verdade. Happy, quando terminar de cortar os tomates, misture tudo com o molho e finalize com as castanhas. — ela deu as instruções para o homem de avental ao seu lado.

— Por que Happy pode te ajudar e eu não?

— Por que você é um desastre. — ela foi direta, fazendo os amigos rirem.

— Não é verdade! Eu faço uma omelete maravilhosa! — Tony retrucou, mas sabia que não era verdade. — O que é isso aqui? — perguntou, revirando uma sacola de uma loja de jardinagem.

— Sementes e mudas que vamos plantar amanhã.

— Legal! Ops… — ele esbarrou na nova caixa de ferramentas de jardinagem que estava no chão, fazendo um barulhão. — Eu vou…me arrumar pro jantar.

— Ótima ideia. Quer ajudar? Arrume a mesa. Rhodey, vai nos acompanhar?

— Claro. — ele respondeu, antes de finalizar sua cerveja.

— Então mesa para quatro. E a louça é sua após o jantar.

— Sim senhora. — Tony roubou um tomate cereja e logo tratou de obedecer.

Na manhã seguinte, o casal acordou cedo e plantou as sementes e mudas compradas no dia anterior. Em pouco tempo eles estariam colhendo tomates, cenouras, batatas e diversos temperos.

— Devíamos ter algumas galinhas. — Pepper sugeriu. — Umas três ou quatro. Podemos montar um espaço para elas aqui nos fundos. — ela apontou para a área e limpou o suor da testa com o braço.

— Posso fazer isso. — Tony disse, entregando-a um copo d’água bem gelado. — Tem umas madeiras lá na garagem que sobraram da reforma da cozinha. Acho que dá pra transformar num galinheiro.

— Bem lembrado. — a mulher bebeu um gole de sua água.

— Sabe; ontem a noite eu estava vendo coisas na internet como “Escolha imagens aleatórias e diremos que tipo de castanha você é”. Então encontrei uma enquete sobre que posição sexual faz os bebês mais bonitos.

— E qual é? — Pepper perguntou com um sorriso, se perguntando por que o homem estava lendo aquilo tipo de notícia.

— Eu não sei, não cheguei a entrar no link. Mas acho que deveríamos perguntar aos seus pais. — ele respondeu, e a mulher riu alto.

— Você deveria parar de ler essas coisas. — ela bebeu mais água, tentando parar de rir.

— Eu sei… Eu deveria arrumar um hobby. — então Pepper ficou imediatamente séria.

— De novo essa história de hobby?

— Não se preocupe, não serão 42 armaduras outra vez. Estava pensando em algo comum... Como isso. — ele se referiu à jardinagem.

— Bom, nesse caso eu concordo. — Pepper se levantou, ouvindo o alarme do seu celular tocar em seu bolso. — Minha videoconferência é em trinta minutos. Tenho que tomar banho.

— Pode ir, eu guardo as ferramentas. Vou aproveitar e dar uma olhada nas madeiras na garagem.

— Obrigada… — ela o beijou. — Te amo.

— Também te amo. — ele disse, e deu um tapa na bunda da mulher quando ela se levantou.

— Sexta-Feira, me mostre os lugares mais próximos onde se vende galinhas. — Tony disse, guardando a caixa de ferramentas. Então começou a verificar os tamanhos das madeiras abandonadas em um canto, para ver o que seria possível fazer com elas.

— Aqui estão os resultados, chefe. — então foram exibidos hologramas com informações de diversas fazendas próximas.

— Trace um plano de viagem até este aqui. — ele apontou para o terceiro da lista, após dar uma breve analisada.

— Plano traçado, chefe.

— Ótimo. Agora onde está a carretinha do carro?

E então, pouco tempo depois, lá estava o poderoso Tony Stark: gênio, playboy, bilionário e filantropo; com roupas sujas de terra e uma carretinha acoplada ao seu carro de luxo, dirigindo até uma fazenda próxima para comprar galinhas.

Chegando lá, encontrou um senhor de idade sentado numa cadeira de balanço embaixo de uma árvore e lendo um jornal, cuja capa tinha uma foto dele e de sua armadura lado a lado com o título “HERÓI APOSENTADO”.

— Bom dia, rapaz! Como posso ajudá-lo? — o senhor com sotaque forte o cumprimentou.

— Eu gostaria de comprar algumas de suas galinhas.

— São as mais saudáveis da região e produzem os melhores ovos que você vai provar em toda sua vida! Vamos lá, vou mostrá-las. — O senhor dobrou e largou o jornal, antes de seguir até o local em que as galinhas ficavam. — E então, quantas vai querer?

— Minha esposa disse três ou quatro.

— Seguindo ordens da mulher, hum? Continue assim! o segredo para um casamento feliz é sempre fazer o que elas mandam. — eles entraram no cercado. — E então, vão ser três ou quatro? Porque você já tem três bem aí… — o senhor apontou para baixo, e Tony viu que três galinhas haviam se aproximado de suas pernas. Uma delas bicou a bota dele.

— Essas três já estão de bom tamanho. Espere. — ele viu uma galinha completamente laranja se destacando entre a multidão, não muito longe deles. — Quero aquela laranja também.

— Perfeito! Eu te ajudo a levá-las até seu carro. — o senhor pegou três galinhas e esperou que Tony pegasse a última. — Vamos lá, garoto. Ela não vai te morder. Vem cá, eu te conheço de algum lugar? Você me parece familiar...

— Acho que não, senhor. — Tony pegou a última galinha. Então o fazendeiro olhou bem para o homem, que usava os mesmos óculos escuros, boné, e roupas sujas de terra e grama desde cedo.

— Deve ser porque você é da cidade. Vocês da cidade são todos iguais! Todos têm medo de pegar as galinhas! — ele disse. Então fizeram o caminho para fora do cercado.

Mas no meio do caminho Tony viu algo do outro lado da cerca que chamou sua atenção e parou.

— É seu?

— Sim. Seu nome é Gerald. Ganhei numa aposta, porque o cara não tinha grana. Minha mulher o odeia, porque vive comendo as uvas dela. Sonha com o dia que vai conseguir se livrar dele… — o senhor suspirou.

— Quanto quer por ele? — ele perguntou, disposto a pagar o que fosse necessário.

E assim o poderoso Tony Stark: gênio, playboy, bilionário e filantropo; com roupas sujas de terra e uma carretinha acoplada ao seu carro de luxo, dirigiu de volta para casa com quatro galinhas e seu mais novo pet.

— Tony? Tony? Ah! Aí está você… — Pepper sorriu ao encontrar o marido no jardim. — O que está fazendo?

— O galinheiro! — ele respondeu, medindo um pedaço de madeira. A mulher caminhou até a mesa de picnic e viu a planta digital do novo projeto.

— Está perfeito…

— Espere até vê-lo pronto… — ele se aproximou dela mas não a tocou, para não sujar suas roupas. — Indo à algum lugar? — perguntou, vendo a bolsa no braço dela.

— Reunião de emergência. Vou almoçar com o pessoal, mas estarei de volta para o jantar.

— Ok.

— Você vai ficar bem?

— Sim. E você?

— Vou ficar bem. — ela sorriu e o beijou. — Não se esqueça que você tem consulta com o terapeuta as quatro.

— Terapeuta as quatro. Ok.

— Coma alguma coisa. Tem restos do jantar de ontem na geladeira.

— Terapeuta. Comer alguma coisa.

— E por favor, tome um banho.

— Está me chamando de porco?

— Não… na verdade estou te achando muito sensual desse jeito…

— Ah é, é… — Tony teve que se controlar para não tocar na roupa limpa da mulher.

— É… — Pepper aproximou o rosto do homem, mas não só não o beijou, como se afastou em seguida, fazendo-o reclamar com o olhar. — Mas não acho que seu terapeuta vá pensar o mesmo.

— Certo.

— Te ligo quando chegar lá. — ela o beijou rapidamente. — Tchau… — disse e deu meia volta, indo na direção do carro em que Happy a esperava.

Tony passou o dia trabalhando no galinheiro, esquecendo-se de comer, pra variar. Faltando menos de trinta minutos para seu terapeuta chegar, ele finalizou o projeto. Então tirou as galinhas da carretinha e as apresentou ao novo lar. Faria o mesmo com Gerald, mas havia o perdido de vista desde o momento em que o tirou do carro mais cedo. Ele devia estar reconhecendo a área. Não sabia. Mais tarde procuraria por ele.

Quando Pepper chegou em casa, no fim da tarde, Tony estava gritando à plenos pulmões pelo jardim. Ela respirou fundo, antes de sair do carro.

— GERALD! GERAAAALD!

— Tony, o que você está fazendo!?

— Pep! Hey, como foi seu dia? Nossa. Você está linda!

— O que aconteceu. — ela deixou bem claro que não estava para gracinhas.

— Bem, ontem o Rhodey me convenceu a ter um pet, pra gente praticar sabe.

— Tenho quase certeza que ele quis dizer um cão ou um gato. — Happy comentou, olhando para o bicho que trotava na direção deles.

— Sim, mas por que não algo diferente?

— Então você decidiu que teríamos uma alpaca. — Pepper completou. Então Tony sentiu alguma coisa puxando as folhas que segurava, e era Gerald.

— Basicamente, sim. Amor, esse é Gerald. Gerald, esses são Pepper e Happy. Aqui. Segura. — ele entregou as folhas para a esposa, e a alpaca veio logo atrás. — Não se preocupe, ele é manso. — disse, e todos observaram o animal comer as folhas que Pepper segurava. A mulher até ousou fazer carinho no topo da cabeça dele, sem receber reclamações.

— Ele até que é bonitinho. — Happy fez carinho na alpaca, quando a mesma terminou de comer.

Então Gerald olhou para o segurança e cuspiu na cara dele.

— Meu Deus! Happy! — Pepper se preocupou, enquanto Tony gargalhava alto.

— Eu retiro o que disse. — o segurança limpou a cara com o lenço que Pepper havia lhe entregado.

Após o episódio, Tony mostrou o galinheiro para Pepper, que teve certeza que a galinha laranja tinha sido escolhida - e muito provavelmente seria nomeada - em homenagem à ela. Mas pelo bem da própria pele, Tony não admitiu.

E no final, Gerald foi muito bem recebido, e logo passou a ser um membro importante da família.

Só faltava uma coisa para completá-la.