5 Anos

Cheeseburguer


Pepper acordou quando os primeiros raios de sol entraram no quarto. Tateou o colchão à procura do marido, mas ele não estava ao seu lado. Então olhou para o relógio na mesa de cabeceira: Era seu aniversário. O homem devia estar tentando fazer uma surpresa para ela.

Então enrolou por mais alguns minutos na cama, para dar tempo o suficiente para ele.

Quando levantou, sentiu uma leve tontura. Sua pressão deveria estar baixa, após tanto tempo sem comer. Então vestiu seu robe de seda branco e seguiu o cheiro de comida até a sala de jantar, onde Tony havia preparado uma farta mesa de café da manhã.

— Bom dia, flor do dia! — Tony sorriu ao vê-la, e se aproximou para beijá-la lenta e carinhosamente. — Feliz aniversário.

— Obrigada meu amor… — ela o abraçou, cheirando seu pescoço. O perfume dele estava forte demais. Mas ela não estragaria o momento dizendo isso. — Eu te amo…

— Também te amo. — ele sorriu. — Vamos comer? — a levou até a mesa e puxou a cadeira para que pudesse sentar. — Pode ficar tranquila, que tudo isso é comprado e o café foi feito pela cafeteira. A única coisa que eu fiz foi… isso. — ele virou o bolo na direção dela, para que pudesse ler o “Feliz níver Pep” escrito com cobertura para bolo. — Eu ia escrever “Feliz aniversário Pepper”, mas ficaria comprido demais.

— Oh, Tony… — a mulher teve vontade de chorar. — É lindo, eu amei. Obrigada… — ela o puxou para um beijo.

— Não agradeça tão cedo; o gosto provavelmente está uma droga. — ele serviu uma fatia aos dois, enquanto Pepper bebia um gole de café. Então ambos provaram o doce ao mesmo tempo. — Viu? Está uma merda! — Tony riu, e usou um guardanapo para cuspir o pedaço de bolo. Então se serviu com o suco de laranja. — Sabe o que deveríamos ter na horta? Laranjas! Amor, por que ainda está comendo isso?

— Por que está ótimo!

— Não, não está.

— Sim, está. — Pepper se serviu de mais uma fatia, só então percebendo o quanto estava faminta. — E sim, deveríamos ter laranjeiras! Amo o cheiro delas pela manhã.

— Então vamos comprar umas laranjeiras! — Tony disse animado, antes de morder uma maçã.

— Eu vou com você.

— Por que?

— Por que na última vez você voltou com uma alpaca. — Pepper levou mais uma garfada de bolo até a boca.

— Admita, Gerald é uma alpaca adorável. — uma notificação chegou no relógio de Tony. — Ok, nosso jantar com sua família está confirmado para 20:30, e ainda dá tempo de você mudar de ideia e fazermos uma festa de arromba mais tarde.

— Não. — ela disse apenas.

— Ok… E então, o que quer fazer? Você que manda.

Então o casal foi a um museu pela manhã. Pepper passou horas passeando pelo local, totalmente fascinada, e Tony a seguiu, fascinado pela fascinação dela.

Em seguida almoçaram em um restaurante chique, onde o homem pediu que os garçons cantassem parabéns, carregando um bolo - de acordo com ele - mais decente que o dele. Pepper não concordou, e enquanto comia aquele bolo com gosto estranho, desejou estar comendo o feito pelo marido.

Na volta para casa, Pepper não se sentiu bem. Pensou ser por causa das pessoas, ruas, prédios e veículos passando rápido demais pela sua janela, já que Tony estava correndo demais. Então fechou os olhos.

— Pep? Tá tudo bem?

— Você pode só parar de correr, por favor? — ela pediu com a voz baixa e olhos ainda fechados.

— Ok… — Tony reduziu a velocidade. — Melhor? — ele perguntou preocupado. E então Pepper sentiu o que estava por vir.

— Pare o carro. — ela mandou, e abriu o porta-luvas desesperada. E quando Tony conseguiu parar o carro e olhar para ela, a mulher já estava com um saco de papel na boca, botando nele tudo o que havia comido ao longo do dia.

— Puta merda! — ele se assustou com a visão, e seu primeiro instinto foi segurar os cabelos dela e acariciar suas costas. Não muito tempo depois, a mulher se reergueu, e usou um papel para limpar os lábios.

— Não acredito que vou dizer isso, mas ainda bem que seu antigo kit ressaca continua no carro.

— Sabia que algum dia ele voltaria a ser útil. — o homem brincou, fazendo a mulher rir fraco. — Está melhor? — perguntou, oferecendo o pacote de chiclete de menta que estava no bolso do seu terno.

— Estou ótima. — ela aceitou o chiclete, sentindo-se como se nunca tivesse passado mal.

— Precisa de alguma coisa?

Então Pepper ficou em silêncio por alguns segundos, não acreditando no que estava prestes a dizer:

— Preciso de um cheeseburguer.

Então Tony olhou para a mulher tenso, ligando os pontos que ela também havia ligado.

— Ok, eu vou te levar para o médico. — ele rapidamente voltou a assumir o volante e deu meia-volta.

— Por favor. Mas amor? Eu realmente preciso do cheeseburger primeiro.

Então Tony traçou o caminho mais rápido até o Burguer King mais próximo.

...

— Bem… — o médico de Pepper sentou na cadeira dele com os resultados do exame de sangue recém impressos. — Antes de tudo eu devo dizer que se por um acaso der negativo, não devem se desanimar. É completamente normal para casais nessa idade. Vocês poderão continuar tentando.

— Ela pediu cheeseburger. Não vai dar negativo. — Tony disse sério, apoiando o queixo no polegar. Sua perna tremia descontroladamente, e só parou quando Pepper pôs a mão nela.

— Bom, vamos ver… — o doutor pôs os óculos e logo tratou de ler o papel. — Oh! Hoje é seu aniversário, Virginia?

— Sim. — ela sorriu, mas por dentro estava tensa como o marido.

— Bem… Então neste caso eu devo dizer feliz aniversário, mamãe. Meus parabéns, você está grávida.

Então Pepper pegou o papel e leu por si mesma a palavra “positivo”.

— Tony... — ela o entregou o papel, e o homem fez o mesmo. Então os dois se olharam e começaram a rir emocionados.

No caminho para casa, Tony não correu. E ao chegar em casa, fez questão de carregar as coisas da esposa para fora do carro.

— Tony, eu estou grávida, não doente. — ela disse, sentando no sofá e tirando os saltos.

— Eu sei, mas precisamos ter cuidado. Esse primeiro trimestre é o mais frágil e não queremos perdê-lo. — ele disse, pegando os saltos para guardá-los no lugar.

— E eu não quero te perder para um AVC, então relaxe. — ela pediu, se levantando do sofá.

— Ok… — ele respirou fundo.

— Melhor?

— Aham.

— Ótimo. — ela pegou os saltos de volta. — Vou tomar banho. — disse e andou em direção as escadas.

Após o banho, Pepper ficou um tempo encarando seu reflexo semi nu no espelho do closet. Acariciou sua barriga, ainda lisa, imaginando como estaria em algumas semanas. Então sorriu, ansiosa por aquele momento; e mais ansiosa ainda pelo momento que poderia ter em suas mãos o serzinho que carregava dentro de si.

— Pep?

— Aqui no closet! — ela disse, procurando por uma calça moletom.

— Eu fiz chá gelado. Bem, a máquina fez o chá. Eu só coloquei o gelo. —

ele apareceu no local. — Está se sentindo mal?

— Muito pelo contrário. — Pepper sorriu, vestindo a calça. Então Tony se aproximou e se ajoelhou diante dela.

Delicado como uma pluma, depositou um beijo na barriga dela. Então se levantou e a olhou nos olhos, com as mãos na cintura dela.

— Eu prometo ser o melhor pai que puder.

— Você já é. — a mulher fez carinho nos cabelos dele.

— Nós somos. Quero dizer, Gerald, as plantas e as galinhas estão vivos. Estamos nos saindo bem. Eu estou me saindo bem, você está se saindo ótima. Falando no bebê: Podemos chamá-lo de Morgan, como no meu sonho? Afinal, Morgan serve para ambos os sexos. Temos seu tio Morgan e a Morgan daquele filme lá, e… — Tony continuou tagarelando, enquanto Pepper terminava de se vestir.