4:00 Am
Capítulo 4
Coloquei os headfones nos ouvidos e caminhei lentamente para
fora do campus, movendo os lábios com a letra da música que estava a ouvir.
Tudo parecia demasiado calmo; poucas pessoas se encontravam na rua, o que era
estranho.
Iridescent começou a tocar e a voz que cantava ao meu
ouvido, carregada de dor e emoção, soava estranhamente familiar. Enquanto caminhava,
ainda mais deavagar do que anteriormente, tentava conjugar a voz com alguém que
conhecesse. Foi aí que, subitamente, descobri de quem se tratava.
“Não pode...”
murmurei para mim mesma, parando de andar de repente.
Virei-me para trás e corri de novo até ao campus, que estava
perto o suficiente para eu não ter de correr até muito longe. Os alunos estavam
a sair de dentro do edifício principal, visto que a maioria das aulas acabava à
uma da tarde; entrei de rompante, empurrando algum dos alunos mais velhos que
me insultaram em todas as línguas possíveis, e subi as escadas que me levariam
às salas de aulas de letras.
Encontrei a sala que queria e, sem nem ao menos bater à porta,
entrei pela sala dentro e passei os olhos por todo o local.
“Precisa de alguma
coisa, Miss Valery?” de novo a voz relaxada do Professor Bennington soou
perto de mim, ao mesmo tempo em que a música estava quase a acabar de tocar no
meu Ipod.
Uma vez mais se encontrava ele, sentado na cadeira junto à
sua secretária, com os pés em cima da secretária exibindo as suas Doc Martens
vermelhas e encostado à cadeira com uma Rolling Stone na mão.
“Eu sabia que o
conhecia de algum lado, sempre soube; de onde, não fazia ideia, mas sabia que
era familiar! E agora sei!” exclamei, apercebendo-me que provavelmente
parecia uma doida já que estava a falar mais para do que para ele.
Erguendo o sobrolho, Chester tirou os pés da secretária e
endireitou um pouco o corpo na cadeira.
“Talvez me tenhas
visto pela rua?” riu-se da minha cara de otária espantada, ainda que
conseguisse ver nos seus olhos uma pontada de nervosismo.
Neguei com um aceno de cabeça e fui até perto dele, depois
de fechar a porta para que ninguém ouvisse a conversa; se estivesse errada, não
queria ser acusada de ser completamente lunática. Peguei no Ipod e tornei a
colocar Iridescent a tocar, colocando um headfone no ouvido dele.
“É você que canta
isto, por isso é que eu sabia que o conhecia! Porque raio um membro dos Linkin
Park estaria a dar aulas?” perguntei enquanto via a cara dele ficar em
choque.
Tudo isto confirmava a minha teoria, e mil e uma coisas
passavam pela minha cabeça, tentando dar uma razão para encontrar Chester
Bennington a dar aulas na Universidade dos meus sonhos. Recordei a conversa que
tinha tido com Ceci; ela já sabia e ainda não me tinha contado!
“Valery, o que dizes
é um absurdo...” um riso forçado saiu dos seus lábios enquanto me encarava
e retirava o headfone do seu ouvido; podia jurar que os seus olhos começavam a
ser tapados por uma cortina de lágrimas, querendo sair.
Desliguei o aparelho e olhei-o nos olhos.
“Não me minta, é
você!” tornei a acusar, e Chester apenas suspirou.
Dando-se por vencido, ergueu-se da cadeira e encarou-me. Sabia
que vinha aí uma explicação e mal podia esperar por ela.
“Sim, sou eu. E não
sou o único a estar aqui a dar aulas, os outros membros também estão aqui a dar
aulas. Tal como o professor de Inglês e o de Escrita Criativa são membros dos
Avenged Sevenfold.” Suspirou de novo e olhou a porta para verificar se
estava mesmo fechada. Encostou-se à secretária e apontou para uma cadeira. “É melhor sentares-te, Valery. Vai demorar.”
**
Assim que saí da sala de Espanhol, caminhei a passo largo
até à sala de Química onde o Professor Seward me esperava. Passavam alguns
minutos da hora combinada, mas sabia que se existia pessoa no mundo que não se
importaria com um ligeiro atraso seria ele.
Abri a porta e entrei lentamente.
“Desculpe o atraso,
Professor Seward. Estava ocupada, e perdi a noção das horas.” Ia a entrar
quando notei a presença do Professor Baker junto a ele.
Ambos estavam a rir e a partilhar algumas memórias, parando
de repente assim que entrei. Sorri-lhes de forma tímida e acenei com a mão ao
Professor Baker. Ele olhava-me de uma forma que não entendia bem o que
significava, mas de certa forma parecia estar a olhar para a minha alma.
“Bem, já que estás
bem acompanhado agora, vou andando. Vemo-nos no bar do Johnny mais logo?”
Baker levantou-se e ajeitou a sua camisa de ganga, passando a mão pelo seu
cabelo perfeitamente penteado com a ajuda de gel.
O Professor Seward acenou afirmativamente com a cabeça e eu
não pude deixar de imaginá-los aos dois em palco, a sentir cada acorde de uma
das suas músicas que também tocava no meu Ipod desde os meus onze anos. Sentia-me
otária por não ter reparado inicialmente; ainda que tivesse uma ligeiramente
impressão de que eram muito parecidos aos artistas que mais me tinham marcado,
convenci-me a mim mesma que era estupidez. Afinal, não era.
Passando por mim, o Professor Baker sorriu e piscou-me o
olho, fazendo as minhas bochechas tomarem um tom escarlate. Retirei do ombro a
minha mala e caminhei até à secretária onde o Professor Seward se encontrava,
puxando uma cadeira.
“Bem, vamos a isto?”
sorriu-me e eu assenti, tirando o caderno da mala e o lápis também.
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