Capítulo 3

Todos os corredores pareciam agora uma enorme nuvem que se espalhava mais a cada momento; as pessoas pareciam pequenas formigas e eu parecia uma doida a correr pelos corredores da Universidade, indo contra várias pessoas sem me importar.

Cheguei ao meu destino e abri a porta de repente, sem me lembrar de bater antes, colocando metade do meu corpo dentro da sala e o resto escondido atrás da porta. Olhei a sala por um segundo e vi que apenas se encontravam lá umas sete pessoas.

- Professor Sanders, peço imensa desculpa pelo atraso, é que e…- fui interrompida pelo professor, que se ria do meu nervosismo e rapidez de conversa.

Ninguém se importou com a minha presença, nem tão pouco com a minha ligeira loucura com os atrasos; limitaram-se a continuar o que estavam a fazer.

- Valery tem calma, nós começámos há uns cinco minutos!

– riu-se de forma gutural, como sempre fazia, e apontou-me uma cadeira bem na frente para que me sentasse.

Não era grande fã de me sentar mesmo na frente, mas decidi não contrariar a sua vontade. Sentei-me e tirei o caderno da mala, colocando-o em cima da mesa e olhando o quadro; estávamos apenas há uns dias na escola e por esta altura já conhecia todos os professores. Para minha grande felicidade, quase nenhum se parecia importar com os meus ataques de riso e da minha personalidade forte.

Dava-me bem com todos, mas tinha desenvoldido uma relação de irmãos com o Professor Sanders e com o Professor Phoenix; eram os mais divertidos comigo e já estavam habituados à minha boa disposição, ainda que muitas vezes não estivesse tão alegre como parecia.

O único que me dava dores de cabeça, era o Professor Chester. As aulas de Espanhol, que esperava serem as mais relaxadas e interessantes, tornaram-se uma dor constante; Chester tinha um ego do tamanho do planeta Terra, e isso refletia-se na sua postura e na maneira como ensinava. Naturalmente, sendo ele como era, não podia deixar de tentar mandar charme a todas as alunas que faziam parte da turma. E, tragicamente, isso incluía-me a mim.

Sem querer parecer convencida, porque não o era, espantava-me quando o Professor me piscava o olho ou dizia um piropo desconfortável. Sem dúvida, desejava nunca me ter inscrito na disciplina.

**

- É hoje, Val! - ouvi Ceci exclamar com ar de quem estava a aprontar alguma coisa. Estávamos as duas sentadas no chão da faculdade, junto à porta da sala de Desenho, onde o professor Shinoda dava aulas.

A nossa próxima aula era Desenho, e tanto eu e Ceci amavámos a aula, ainda que fosse por razões diferentes uma da outra.

- Hoje o quê, Ceci? - perguntei-lhe ainda que soubesse a resposta.

Não se via quase ninguém naquele corredor, excepto alguns novatos que não sabiam onde teriam a sua primeira aula. Continuava a rabiscar muito feliz no meu caderno de couro, que me tinha sido oferecido pelo meu querido irmão antes de vir para cá; adorava desenhar, mas quem era mais talentosa era a Ceci.

- Ora, que vou lançar o meu charme ao Professor Shinoda! - olhei-a de repente, contendo o riso. - Ele é tão fofinho, e eu sei que podíamos fazer um casal interessante, já que ambos somos artistas.

Soltei um riso estranho assim que acabou de falar, vendo o seu ar sonhador e corajoso; sabia que não faria nada demais, porque a Ceci podia ser doida mas era ponderada, mas ainda assim estava curiosa para saber o que vinha aí.

- Eu acho que ele não te vai resistir. - gozei-a, ouvindo o passo acelerado de centenas de alunos, sabendo que estava na hora de levantar e esperar que o Professor Shinoda aparecesse.

Apenas mais duas ou três pessoas apareceram para assistir à aula também, o que para mim era bom; não gostava de ter muitas pessoas na sala de aula, fazendo-me sentir intimidada.

Dois minutos depois, chegou o Professor Shinoda. Trazia, como habitual, uma camisa xadrez e umas calças de ganga que lhe assentavam perfeitamente, em conjunto com umas all star que tinha sido ele mesmo a personalizar. A barba, essa, estava por fazer como era usual.

- Bom-dia! - falou para todos, sorrindo muito feliz.

Ceci ficou completamente focada nos olhos dele, quando ambos focaram os olhos um no outro. Sendo eu uma eterna sonhadora, poderia jurar que ambos conseguiriam facilmente ser um casal adorável; ainda assim, nunca lhe diria isso.

**

- Valery! - ouvi uma voz que conhecia muito bem perto de mim, e virei-me, vendo o Professor Seward a correr até mim com um ar de louco, como era habitual.

Johnny Seward era o mais recente professor de Química da escola, disciplina maravilhosa essa que eu tinha decidido frequentar durante o ano. Aparentemente, era a única que a frequentava para além de uma outra miúda estranha que quase nunca aparecia.

- Professor Seward! - sorri assim que chegou perto de mim, muito cansado.

- Ainda bem que te encontrei, estava à tua procura! - sorriu também. - Estava a pensar se querias ajuda a química, notei que andas com dificuldades.

Sim, era verdade. Tinha perdido tempo a inscrever-me na disciplina quando sabia que seria bem difícil para mim habituar-me e até conseguir bons resultados. Era uma boa ideia umas aulas extra.

- Sim, era óptimo! - sorri. - Marcamos algum dia uma aula extra?

Ele assentiu com a cabeça.

- Amanhã à tarde, pode ser? - a Universidade estava agora a ficar vazia, e Ceci estava já em casa

a minha espera. - Talvez aí por volta das três...

Coloquei a minha mala no meu ombro e tirei o IPod de dentro dela a sorrir, preparando-me para ir embora.

- Sim, estou cá por volta das três.

Sorrindo, despedi-me do Professor depressa enquanto via o Professor Haner a dirigir-se até onde nos encontrávamos, sempre com um sorriso matreiro nos lábios.