4:00 Am

Capítulo 2


Para minha grande felicidade, fomos dispensados depois das apresentações; Ceci tinha ficado entusiasmada com o visual do professor de Desporto, e tinha ficado no pavilhão para conversar com ele. Tinha mil e uma piadas para fazer em relação a isso, mas acabei por permanecer calada e sair dali.

Ainda conhecia pouco do recinto todo da Universidade, mas confiava nas minhas capacidades para me desenvencilhar sozinha no meio daquela confusão de pessoas cheias de hormonas aos saltos e poucas emoções a transparecer. Saí de perto do pavilhão de Desporto, que tanto me aterrorizava, e caminhei até ao meu favorito: Letras.

Sabia que a minha primeira aula ali seria Espanhol, então limitei-me a procurar a sala 14B no meio de tanta confusão. Desconhecia o segredo para distinguir os professores dos alunos, já que metade dos professores que descobria aparentavam ter saído da Universidade no máximo há dois anos.

- Novata, a sala 14B é ali mesmo. – Uma rapariga morena, com uns olhos azuis que cativariam qualquer pessoa, apontou para uma sala mesmo à minha frente com um ar muito entediado. O seu ar superior era notado a milhas.

- Obrigada. – Limitei-me a dizer ao que ela respondeu com um suspiro irritante, saindo da minha frente e correndo atrás de um rapaz alto e loiro, que também não parecia encantado com a presença da rapariga.

Ri-me ao ver a cena, que parecia ter sido tirada de um filme cliché, e caminhei até à sala, descobrindo que o professor já se encontrava lá dentro. Faltavam cerca de cinco minutos para a aula começar, quando bati à porta.

- Com licença, posso entrar? – Perguntei com o meu melhor sotaque Inglês, encarando o homem ligeiramente musculado que se encontrava junto da secretária escura, mexendo em alguns papéis guardados numa mochila não muito diferente da do professor de Desporto.

Estava concentrado, mas mal ouviu a minha voz parecia ter despertado de um transe qualquer, virando a sua cara de imediato para mim. Mais uma vez, uma estranha sensação de que o conhecia de algum lado surgiu, tal como com Phoenix, mas desisti de tentar perceber o porquê.

- Sim, claro. És aluna de Espanhol? – Perguntou-me enquanto eu entrava na sala, que mais parecia um auditório, e pousava a mala numa das cadeiras do canto.

Coloquei uma mecha de cabelo, recentemente pintado de roxo, atrás da orelha e encarei-o antes de tirar os meus óculos da mala.

- Sou sim. Chamo-me Valery Andrade. – Esclareci sentando-me na cadeira e colocando os óculos para ver melhor o que me rodeava, cruzando uma perna sobre a outra e batendo com o pé no chão.

Era impaciente, assim como Ceci era, o que se tornava chato para a maior parte das pessoas. Trazia calçadas umas vans azuis, para combinar com a camisola e umas jeggings. Os acessórios, esses, nunca faltavam; o meu irmão várias vezes me gozava a dizer que eram a minha imagem de marca.

O professor deu-me um sorriso enquanto ele colocava também os seus óculos e se sentava na cadeira junto à sua secretária, descansando depois os pés em cima da mesma; começava já a gostar dele e da sua postura.

- Então, seja bem-vinda menina Andrade, eu sou o professor Chester. Garanto que vou fazer desta disciplina a sua favorita. – Dito isto, piscou-me o olho e desviou depois a sua atenção para uma revista, que me era muito conhecida, que tinha deixado em cima da mesa anteriormente.

**

- O que andaste a fazer com o professor até agora, para teres faltado a Espanhol? – A minha pergunta, assim como a minha voz, estavam repletas de segundas intenções.

Tinha de a torturar um pouco, tendo em conta que as aulas duravam quase duas horas cada uma e, quando saí de Espanhol, Ceci ainda não tinha saído do pavilhão de Desporto.

- Nada do que estás aí a magicar, sua perversa! – Acusou-me. – Estive só a conversar com ele porque eu sentia que o conhecia; agora já sei de onde.

Senti-me feliz por não ser a única a achar que as caras dos professores que tínhamos conhecido até agora eram familiares, ainda que ela não tivesse conhecido o Chester.

- E de onde é, então? – Apertei com ela para saber a verdade.

- Logo verás. – Riu-se e continuou a andar, como se não tivéssemos falado de nada anteriormente.

Chegámos à sala de escrita criativa e era incrível como ninguém se encontrava por perto nem dentro da sala. Ceci não tinha essa cadeira comigo, pois nessa hora tinha Matemática. Entrei na sala, visto que a porta estava aberta.

- Bom-dia mundo! – Falei dirigindo-me às cadeiras vazias, sem me aperceber que alguém estava junto ao quadro onde eram projectadas as aulas.

Ouvi alguém rir-se e virei-me para descobrir de onde vinha o som.

- Bom-dia então, menina…? – O seu tom interrogativo levou-me a aperceber-me que queria saber o meu nome.

Começava a ficar cansada de ter de me apresentar a tantas pessoas em tão pouco tempo; odiava os dias de apresentações e não gostava de ter todos os olhos postos em mim, ainda que fosse impossível acontecer o contrário já que eu, por onde quer que passasse, espalhava alegria.

- Andrade, vou Valery Andrade. E o senhor, é…? – Perguntei da mesma forma e fazendo uma careta encorajadora, ao que ele se limitou a rir.

- Baker. Zachary Baker. – Respondeu, com uma pose de James Bond e um tom jocoso, acenando-me.

Ele era gordinho e tinha uns olhos verdes que deixavam qualquer pessoa presa e hipnotizada; sorri-lhe, controlando um riso mais alto, e sentei-me. Apercebi-me que teria sorte; a minha disciplina favorita seria mais interessante com um professor tão bonito.