Edgar tinha o corte sendo limpo naquela hora. Apesar da dor que parecia ser ter aquela imensa ferida limpa com gaze encharcada de água oxigenada, o rapaz não demonstrava grandes expressões se não algumas rápidas e quase imperceptíveis caretas.

As irmãs ruivas e Kyara se mantinham na enfermaria, preocupadas com o novato. Viam Larks, o Shadow People que se encarregava de ferimentos graves, cuidar caprichosamente do paciente.

— Foi realmente um corte feio — Comentou certa hora — Teve sorte de não perder o olho.

— Só espero que não queira dar o troco depois. — Disse Julie.

— Claro que não. Admito que a culpa seja minha, afinal, quem começou a provocá-lo fora eu.

— Nossa — Kyara ergueu uma sobrancelha — Admirável sua humildade.

Edgar riu pelo nariz.

— Só digo as verdades.

Um tempo depois, o corte levou alguns pontos e o rapaz já podia sair da enfermaria se estivesse se sentindo bem, sem contar a comprida palestra médica dada por Larks sobre como cuidar do ferimento. Bem, Edgar não prestou atenção naquilo nem por um segundo.

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— Thompson, eu preciso falar com você — A seriedade de BEN estava mais forte do que nunca, fazendo o puro-sangue estremecer.

— O que foi senhor BEN? — Indagou receoso, tirando o objeto que lhe prendia o nariz.

— Não se finja de lesado — Esbravejou o menor, de modo que o outro se assustasse — Todo mundo sabe que você anda de olho na Jasmine, idiota. E vem me irritando todo santo dia desde que começamos a namorar.

— Mas, eu não faço por mal. Juro — Thom mostrou as mãos em sinal de paz. O clima. É, deveria ser isso mesmo. O clima pesado que persistia na sala devia estar mexendo com BEN, aquela energia negativa deixaria qualquer um perdido. — Mas, espere um pouco — Pediu o maior — Estou de olho em quem?

BEN não acreditava que seu colega de quarto pudesse ser tão lerdo aquele ponto.

— Jasmine. Preciso desenhar?

— E quem é que disse que eu gosto daquele ser?! — Thompson se exaltou, agora assustando ao outro.

— Oras, mas não tá na cara? — Naquele instante o esverdeado percebeu que o lerdo ali não era Thompson e sim ele mesmo. Mas por via das dúvidas continuou nas perguntas, corando bravamente ao se dar conta da provável realidade.

— Tá na cara que eu gosto de você! — Soltou Thom com tudo. — Ou acha mesmo que sou do tipo que provoca os outros por causa de mulher?

O menor ficou paralisado, olhando para o outro como se este fosse um alienígena. O vampiro bufou, tentando manter a paciência de sempre. Era por esse motivo e outros que detestava a ideia de revelar as coisas para o colega. Os olhos de BEN se encontravam arregalados, quase em choque apenas em fitá-lo. Como desejou ter um botão de replay na vida... Nem que fosse só para usar uma vez, usaria naquele instante, arrancando a sua última fala.

Depois de uma longa discussão dentro de si mesmo, Thom respirou fundo. Mais tarde o peso da sua declaração cairia sobre si, e então o arrependimento seria maior. Resolveu aproveitar aquele último segundinho do congelamento do menor.

BEN não entendeu direito o que acontecera. Apenas só se deu conta depois de que tudo estivera feito. Thompson depositara um leve e rápido beijo em seu rosto, saindo sala logo em seguida, não ficando para saber qual seria a reação final do esverdeado.

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— Espera um minuto — Slender tentou recapitular — Quer dizer que você quase matou uma Creepy porque a criatura estava do seu lado?

Ninguém respondeu, deixando o escritório num silêncio pesado.

Mason estava sentado na cadeira bem a frente da vasta mesa onde Slenderman passava boa parte do tempo (Ao lado da irmã Mackenzie). Na poltrona logo ao seu lado contrário, Elizabeth se encontrava sentada, afinal, o sem-rosto lhe cedeu o lugar, tentando parecer cavalheiro, se posicionando logo ao lado da loira.

Os Skull Brothers não sabiam bem o que fazer. Se ficavam dentro da sala ou se saíam e deixavam o dono do casarão falando em paz com o incubbu.

Já do lado de fora, com os ouvidos presos à porta, um grupo de assassinos tentava captar cada palavra.

— Este lugar realmente nunca irá ter um segundo de paz — Lamentou Slender, passando a mão pela cabeça. Então se voltou para a mulher ao seu lado — Eliza, o que acha que devo fazer com esse garoto?

— Eu deixaria passar, Slendy. — Todos estranhavam aquela grande intimidade dos dois — Afinal, já fizemos isso antes, não?

— Eu não posso simplesmente deixar isso impune. Desta vez, alguém foi realmente ferido.

— Com sua licença — Mackenzie se levantou — Mas não deveriam ouvir o lado do meu irmão da história? Tenho certeza de que Edgar tem culpa nisso também.

— Sente-se Kenzie — Mason foi quem respondeu para a surpresa da irmã — Quem levou um grande corte no rosto foi ele. Acha mesmo que faria diferença se ele tivesse um pingo de culpa nesta história?

Slender suspirou.

— Certo, só para não dizer que não fiz nada, vou deixá-lo encarregado de cuidar da ala norte do casarão por uma semana.

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Noite, sem estrelas. Apesar de a chuva ter finalmente dado uma trégua, o céu estava mais escuro do que nunca, graças às nuvens que se estendiam sobre ele, prevenindo a dimensão de qualquer fonte de luz natural.

Naquela hora, quem deveria receber os últimos moradores eram Kyara, Julia, Jeff e Liu novamente. E para variar, o clima não estava muito bom.

Julia evitava contato físico com o assassino moreno, pois já havia percebido que as coisas entre ele e a colega Kyara ainda não haviam sido resolvidas, e a loira começava a se sentir uma espécie de arma sendo usada para ciúme. Aquilo não agradava nada.

Os novos residentes deveriam estar atrasados pelo visto. Deveriam ter aparecido em meia hora, porém, não havia nenhum sinal de vida do lado de fora sem serem os fantasmas que sempre rondavam por ali.

Certa hora, Kyara já havia cansado de ver os gracejos de Jeff para Julia, e resolveu agir.

— Você sabe o que houve com o Jeff? — Indagou ela para Liu, de canto. Este por sua vez, hesitou em se deveria mesmo responder.

— Bem — Acabou cedendo, respondendo baixo — Ele disse algo como... Você e o James.

James. O nome que a mais nova nunca pensou que voltaria a ouvir. O garoto com feições felinas havia se sacrificado por ela e por Jasmine quando problemas no portal de Herobrine as levaram para uma cidade hostil. Ainda se lembrava das maneiras de conquista do garoto.

— Eu e James? — Perguntou, não conseguindo esconder o abalo. Sentia-se culpada por ter perdido o amigo. Embora apenas ela e Jas soubessem do ocorrido, preferia não contar — Mas nós nunca tivemos nada!

— Explique isso para o meu irmão. Acho que ele entendeu as coisas erradas.

Kyara suspirou receosa em se deveria mesmo voltar a falar com o moreno. Francamente não queria ser ignorada mais uma vez por ele. Contudo, se viu puxando o pulso de Jeff até um cantinho mais afastado dos outros dois, deixando uma Julia confusa.

— Precisamos conversar. — Disse ela.

— Não tenho nada para conversar com você. — Respondeu friamente o maior.

— É sobre tudo isso que você anda fazendo — Ignorou ela, continuando — Acho que você está enganado sobre algumas coisas e... Tenho que revelar uns trecos também...

— Ah, tá. Obrigado, mas não ‘tô a fim de ouvir você dizendo que o que nós tínhamos era algo totalmente sem compromissos e que James lhe parecia melhor que a mim.

— Quê? Não! Nada disso. Eu só-...

— Eu vi tá legal? Aquele seu beijo escroto com aquele fura olho — Jeff realmente estava irritado, trocando o peso do corpo de um joelho para o outro. — Saca só, da hora. Quer dizer que você pode sair beijando outras bocas por aí e eu ficar na seca? Ciúmes passa minha querida. Então me deixa ser feliz, okay?

Ele estava prestes a voltar da onde estava, porém Kyara o segurou pela manga do moletom.

— Pare de ser tão orgulhoso! — Quase gritou — Eu e James não temos nada e nunca tivemos!

— É difícil de acreditar. Tipo o anúncio do homem que pisou na lua. Mesmo com matérias de jornais ou programas de TV, eu não consigo acreditar.

— Quer dizer que você não acredita em mim? — Os olhos claros dela estavam marejados.

— Não é questão de não acreditar, Kyara Boulter — Jeff puxou seu braço de volta para si — É questão de eu ser testemunha e vítima aqui! Acha que não doeu em mim quando vi sua boca grudada na daquele traste?!

— Você não tem direito de chamá-lo de traste, seu imbecil! — Jeff revirou os olhos, dando as costas e voltando para o restante — Ele pelo menos me tratava bem!

O moreno parou no mesmo instante.

— ‘Cuméquié? — Se virou para encarar furiosamente a garota. Nesse instante, o lado psicopata de Jeff veio à tona, o fazendo brandir sua faca e prensar Kyara na parede mais próxima, com a lâmina fria perigosamente perto de seu pescoço fino.

— JEFF! — Liu e Julia se puseram em alerta, o chamando na esperança de que o moreno não machucasse a garota.

— Tá dizendo então que eu não te tratava bem? — Sua voz estava rouca, e saia entredentes — Me diz aqui Boulter: quantas vezes eu não fiquei do teu lado? Quantas vezes eu não me preocupei em te fazer sorrir? Hein?! Tudo para ver aquela cena de traição...

— Você não entende! — Uma pequena lágrima solitária rolou de um de seus olhos, mas se manteve forte para não despejar o resto que implorava para sair. Até mesmo a garganta já começava a arder — Você nunca entenderia! Se quer despejar a culpa em alguém, despeje em mim! E DEIXE O JAMES EM PAZ, CARAMBA!

— COMO VOU ACEITAR O QUE ELE FEZ NUMA BOA?!

— DEVERIA PORQUE ELE ESTÁ M--...

— Parem com essa gritaria! — Uma terceira voz interrompeu Kyara de dizer o que ela vinha escondendo. Logo na entrada, um sujeito surgiu pendurado pelos pés e de ponta-cabeça na porta — Estou tentando dormir aqui em cima, okay?

Joe Goldert, mais conhecido como Joker, bocejou longamente. Raramente passava mais de uma hora na dimensão Creepypasta, e quando passava, costumava dormir no telhado do casarão.

— Nem com fones de ouvido consegui abafar esses seus gritos histéricos. — Reclamou o de cabelos brancos-prateado. E este era mais um que Jeff não ia com a cara.

O assassino moreno largou Kyara, tentando se mostrar calmo novamente. O corpo da garota desabou, caindo sentado no chão, derrotado.

— Esse é um dos milhares motivos pelo qual não entro nesse lugar. — Soltou Joker, voltando ao telhado.

— Onde você está indo Jeff? — Liu indagou, ao ver o irmão tomando rumo ao segundo andar.

— Não interessa — Respondeu seco, sumindo nos degraus.

— Droga... — Resmungou o mais velho, se aproximando de Kyara juntamente com Julia — Kyra, você está bem?

— ‘Tô... — Respondeu baixinho, aceitando a ajuda do outro para levantar.

— Olha, você está braba comigo? — Julia indagou receosa.

— Não — Respondeu mais uma vez da mesma forma.

— Desculpa o meu irmão — Pediu Liu embaraçado — Ele... Ele... Eu não sei o que está acontecendo com aquele babaca. Não é o feitio dele, querer machucar alguém com quem convive. As coisas estão ruins para ele também, Kyra. Tente... Não se abalar muito com os gestos dele.

— Estou bem mesmo, Liu. Obrigada — Kyara forçou um sorriso em meio à cara triste — Foi só uma discussãozinha, nada demais. Isso acontece.

— Seu rosto não parece de alguém que aceitou numa boa essa “discussãozinha”. — Uma nova voz feminina soltou, fazendo todos os olhos pararem na garota de chifres e pele cinza. Trazia junto consigo mais duas garotas e um garoto. — Chegamos!