Sabe quando você não sabe se come ou se conversa? Pois é, era exatamente assim que estava o clima no refeitório. O falatório estava maior que o normal; e Slender não era exceção com Lady Elizabeth, já que havia um tempo que os dois não se desgrudavam.

Entre murmúrios, um grupo (Aparentemente grande) já começava a organizar mais uma festa sem-restrições, daquelas capazes de botar o casarão na lista das maiores ruinas do mundo.

Mason, o recém-chegado, não saia de perto da irmã, e sempre que alguém tentava se aproximar dele, o novato soltava falas doloridas para quem escutava. Era do tipo bem sincero, sem medir o peso das palavras. Já sua irmã parecia ser um pouco mais sociável, conversava de tudo, porém não parecia ter muitas palavras. Bem, podia ser uma garota amável.

Alicy não parava quieta nem por um instante, fazendo Eyeless Jack ficar tendo de fazê-la sentar toda hora.

Scout conheceu Jasmine, e os dois pareciam se darem muito bem. Jeff the Killer não ficava fora dessas. Os três riam entre si com suas conversas.

Já Filipa e as gêmeas ruivas preferiam sentar próximas aos Proxies, e não tinha uma hora que algum deles ficavam de boca fechada.

Julia e Kyara não passavam um ar muito bom, trocavam olhares, porém não sabiam a quem culpar. Kyra ainda estava confusa com tudo que acontecia, afinal, ninguém havia dado uma pista sequer do que dera em Jeff.

Thompson parecia um stalker da vida real, seguindo BEN sem parar, deixando o baixinho irritadíssimo. O puro-sangue chegou a se esquecer de quantos copos de Coca-Cola levou no rosto aquela manhã.

Edgar era uma exceção no requisito “conversa”. Preferia se manter longe de tudo e de todos, comendo serenamente alguma coisa qualquer, dando uma olhada ou outra para o resto do grupo de Jeff.

Não havia muito do que falar sobre o restante. Continuavam batendo papos aleatórios.

O almoço foi mais demorado do que de costume. Talvez só houvesse uma hora que este fora interrompido.

A porta foi aberta ruidosamente, chamando os olhares da maioria das Creepypastas. Uma garota, nem muito alta, nem muito baixa. De expressões frias, com olhos azuis penetrantes, longos cabelos castanhos-acinzentados, que lhe descia até o meio das costas em cachos grandes. Essa era a descrição da jovem tão sedutora.

— Quem é essa? — Era uma das perguntas mais feitas na hora. Não precisou de resposta uma vez que Offender se pôs de pé, chegando próxima à garota e a conduzindo até a frente do refeitório.

— Slendy — Começou o alto de chapéu, se voltando ao irmão — Está é a minha querida filha Myure.

Alguns cuspiram o que comiam ou bebiam. Slenderman se mostrou surpreso com a revelação.

— Como assim “filha”? — Indagou pausadamente.

— Você sabe. Detesto falar sobre meus relacionamentos fracassados.

— É um prazer poder te conhecer pessoalmente, tio — Myure disse, abaixando a cabeça.

Jane se curvou para poder falar com Dick.

— Isso a torna sua...

— Prima — Ele completou. Nunca havia lhe passado pela cabeça a possibilidade de ter outro parente se não fosse seus tios e o pai — Ou uma coisa parecida.

— Ela passará a morar aqui — O sempre presente sorriso de Offenderman se esticou — Queria que fosse uma surpresa.

E de fato fora.

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Mason não estava acostumado com o clima que rondava entorno do casarão. Uma hora fervia de calor, outra, parecia que não pararia de chover. Era de tarde, grande parte da turminha bagunceira do popular Jeff the Killer estava aprontando do lado de fora, de divertindo com a água que caía do céu. O incubbu observava tudo do lado de dentro, olhando pela janela. Sequer acreditava que a irmã estivesse lá, sentada em um canto qualquer, casualmente dizendo algo para os novos “amigos”. É, admitia que tinha um ciúme danado por Mackenzie.

Todos, absolutamente todos os novatos prefeririam ficar do lado externo. Mason conseguia nomear alguns, mas vezes ou outras se embaralhava com a grande quantidade de nomes.

Porém, o demônio não era o único na sala de estar.

— Você é o tipo tradicional, não é? — Uma despreocupada voz masculina se fez presente. Mason nem teve interesse de olhar para saber quem era.

— Como assim? — Indagou, mesmo se mostrando irritado por ter sido tirado de sua paz pelo outro.

Edgar sorria de uma maneira quase cínica.

— Você sabe. Aquele tipo que não se solta nem mesmo ao lado da tua própria espécie — O moreno desembrulhou um pirulito e pôs o doce na boca.

— Essa gente não é da minha espécie. Só minha irmã.

— Já pensou em ser mais legal?

— Já pensou em cuidar da própria vida?

Ao contrário do que Mason queria Edgar só aumentou o sorriso desgraçado.

— Ai. Okay. Não está mais aqui quem falou.

Ficaram em silêncio por uns segundos, olhando pela janela. À medida que os segundos passavam, Mason perdia uma parte de sua paciência.

— Vai ficar aí para sempre? — Indagou impaciente para Edgar.

— Você reclama muito. Nem estou encostando em você.

Mason sinceramente não estava entendendo o motivo pelo qual aquele cara se mantinha ali. Era tão teimoso quanto ele, realmente, mas a vontade de tacá-lo para longe era tanta que se pôs de pé, esticando o braço para o lado e entre os dedos de sua mão surgiu uma foice que ultrapassava seu tamanho.

— Você está me tirando do sério — Rosnou ele, exalando um ar demoníaco que era sua verdadeira natureza.

Edgar também se levantou, com uma expressão desafiadora no rosto.

— Abaixe isso. Crianças impulsivas não devem brincar com foices assim — Mordeu o que restava do pirulito e tacou o palitinho branco que sobrara em direção ao outro, que quando viu seu peito ser atingido pelo pedaço de plástico, chegou ao seu limite.

Desferiu o primeiro golpe de horizontal, mas a tentativa foi perdida quando o moreno desviou fazendo pouco caso com a ameaça do incubbu.

O pouco tempo de luta fora parada assim que as Creepys de fora correram para dentro, vendo que Mason não invocava sua foice para brincadeira. Acertara em cheio o rosto de Edgar com a lâmina, fazendo o menor cair no chão, ficando vulnerável a qualquer ataque do outro.

Mackenzie tentou parar o irmão com palavras, porém de nada adiantava. O jeito foi Myure surgir do meio da multidão curiosa e tirar a foice da mão de Mason com suas correntes quem tinham na ponta cones pontiagudos, substituindo os tentáculos.

A arma sumiu magicamente do meio do ferro, todavia não voltou a aparecer nas mãos do incubbu enfurecido. Quando tentou atacar fisicamente o rapaz caído no chão que tinha os cabelos escondendo mais da metade do rosto e a mão prensando o local do corte, algo segurou-o pelos pés.

Abaixou os olhos ao chão frustrado. Isso até seus olhos focarem em dois braços que saía do piso de madeira e o impedia de se locomover.

Skull Jack e Randal se adiantaram para segurar o incubbu. Mackenzie também se aproximou para tentar acalmar o irmão mais uma vez, agora com sucesso.

— Cara, você vai me perdoar — Começou Thompson que se aproximara também. Na verdade, havia quase uma legião de assassinos e monstros aglomerados em volta de Mason — Mas vou ter que pedir para te levarem para o senhor Slender.

Com isso, foi conduzido por alguns até o escritório. Mas para o ódio do loiro, viu um sorriso de canto estampado no rosto ainda meio escondido de Edgar.

Do solo de madeira, um rapaz saiu, assim, como se fosse uma planta ou algo do tipo. Este tinha longos cabelos brancos que quase batiam ao fim de suas costas, presos em um baixo rabo de cavalo e olhos azuis-ciano.

— Vejam só, cheguei a tempo, não? — Riu um pouco.

Thom ajudou Edgar a se levantar.

— Você está bem? — Perguntou o puro-sangue.

— Podia estar melhor. — Brincou o moreno, que ao ficar de pé, viu seus dedos encharcados do próprio sangue, que pingava no chão graças a grande quantidade. O corte pegou parte de sua testa, descendo até o meio da bochecha. Os olhos multicoloridos de Thompson ficaram vidrados assim que viram o líquido vermelho escuro, quase negro. — E você, meu amigo? Não me parece bem não.

BEN tinha acabado de conseguir se aproximar o suficiente, depois de ter dado várias cotoveladas nos outros. Mal parara quando viu o irritante colega de quarto fitando Edgar como se este fosse o último pedaço de carne restante no universo. O loirinho voou para cima do puro-sangue, tampando lhe os olhos e o nariz com as mãos.

— Alguém leve esse infeliz para a enfermaria?! — Gritou BEN para quem quisesse ouvir.

— Okay, eu levo! — Nicole e Julie se ofereceram ao mesmo tempo, Kyara não ficou longe dessa, também colaborou.

O Marionetista prendeu o nariz de Thompson com um prendedor, assim que BEN conseguiu colocá-lo sentado no sofá.

— Já deu para ter uma breve ideia de como é este lugar — O de compridos cabelos brancos comentou — Deve haver treta vinte e quatro horas pelo visto. Hey, seu amiguinho aí é algum tipo de vampiro, sei lá? Porque, tipo, nunca imaginei que sanguessugas realmente existissem. Para mim eram apenas lendas e...

— Cala a boca por um instante?! — Um grupo exclamou, ao ver que a nova carne do pedaço falava pelos cotovelos.

— Tá. Tá. Só queria puxar assunto. Parecer um pouco mais sociável — E começou a falar um monte novamente.

— ‘Cê tá legal? — Jasmine indagou para o puro-sangue. Também depois de uma grande caminhada no meio do mar de assassinos.

Thompson conseguiu sorrir, ainda um pouco instável.

— Estou bem sim. Desculpem por isso.

— Você não teve culpa.

— SAIAM DA FRENTE SE NÃO QUISEREM LEVAR FACADAS NAS COSTAS! — Anunciou Alicy no meio da multidão, conseguindo ganhar caminho facilmente até o centro da sala, trazendo Dick e Liu consigo.

— Tá todo mundo legal? — Perguntou Liu preocupado.

— Claro, tirando o fato que temos um vampiro morrendo de sede, um carinha raivoso e um outro rapaz com um gigante corte no rosto, tá tudo bem sim — Ironizou mais uma vez o de cabelos brancos.

— Posso saber quem é você, espertinho? — Alicy indagou, levantando uma sobrancelha.

— Rellik Laires.

— Bem, valeu por ter segurado Mason naquela hora — Agradeceu Dick.

— Eu nem ia, sabe? Só fiquei com dó do outro coitado.

De qualquer forma — Acrescentou BEN — Obrigado.

Rellik deu de ombros.

— Acabou a festa pessoal — Jasmine bateu palmas para a persistente multidão intrometida — Circulando! Circulando!

E aos poucos a sala e o hall foram se esvaziando novamente.

— Caaaaaara — Jeff veio até os colegas, com os braços atrás da cabeça. Scout ao seu lado, com a mania de rodar o taco de baseball em uma das mãos — Essa foi umas das melhores tretas da história deste casarão. Podíamos ter gravado pro YouTube, né?

— Você acha que alguém iria se importar em gravar enquanto tudo aquilo acontecia? — Perguntou Myure inexpressivamente.

— Com certeza vai dar o que falar naquele inútil blog que você resolveu criar — Comentou Liu.

— Hey, quero ver os sermões que o Mason vai levar — Jeff esticou mais ainda aquele sorriso sádico de sua face.

— Não parece má ideia — Concordou Christopher, agora apoiando o seu taco de metal sobre o ombro.

— Podem ir, dou conta desse idiota aqui — Resmungou BEN, se referindo a Thompson. Afinal, não estava com cabeça para ver os sermões de Slender, e ter de cuidar do colega de quarto parecia a opção menos pior. Sem contar que queria conversar sobre alguns assuntos com o puro-sangue.