2ª Temp. O Diário das Creepypastas - Interativa

#15 Noite de Assassinatos Part. 1: Masoquista Filho da Puta


O jantar estava servido exalando o costumeiro odor de agradar a todos. Era segunda-feira, porém dias da semana não faziam diferença alguma dentro do Casarão Creepypasta. A mesa horizontal já estava ocupada com os superiores e uma das melhores cadeiras se encontrava vazia, naquela qual Zalgo deveria se sentar. Em compensação, Slender e seus irmãos observavam o movimento de outras Creepypastas, que se (des)organizavam em filas barulhentas que quase saiam do refeitório. Slenderman ainda pensava no que dizer para abrir oficialmente a noite do terror, que daria a todos o direito de se “divertirem” no mundo humano. E tinha a leve (Juro, nada demais...) sensação de que não ia dar certo.

Jane estava sentada na segunda mesa, vendo os poucos lugares vagos sendo tomados pelos bisonhos, tirando o espaço até mesmo de uma mosca. Mas o que mais chamava a atenção da assassina, com certeza era o fato de a maioria estar conversando em casaizinhos. Jeff, Scout e Jasmine eram uma exceção. Contudo, mesmo assim, não pôde deixar de notar a empolgação de Nickky ao falar com BEN, Aria com um Rellik meio desanimado, e etc.

Aurora e Eyeless estavam ao seu lado, e o sem-olhos viu a falta de apetite da assassina, rosnando uma coisa sem significado para acordá-la.

— Hã? Oi? — Foi o que ela soltou ao se virar para o assassino que tinha entre as mãos um copo de whisky.

— Você tá meio morta, Janny — Aurora comentara. Sim, já haviam feito amizade. — Problem?

— Ah, nada não. Não se preocupe.

Seguiram-se de uma pausa antes que a mais nova abrisse a boca novamente.

— Soube que foi o filho do senhor Slenderman quem escolheu o prato principal.

— O quê? — Jane encarou-a com certo espanto — Mas o Dick odeia carne.

— Bem, explique isso para ele porque já é o terceiro prato em quinze minutos.

...

Dicky voltara a se sentar no meio de Liu e Bryan, fazendo com que o mais velho entre os três questionasse:

— Por que você não está sentado com a Jane hoje?

O outro suspirou longamente, dando mais uma garfada no prato.

— Na verdade, terminamos.

— O quê?! — Liu parecia perplexo — Como assim? Vocês dois estavam indo tão bem, cara.

— E vamos admitir — Bryan complementou — Você não tá com cara de quem acabou de terminar um relacionamento, não.

Dick abaixou os talheres na mesa.

— A Jane disse algo como “você não é o mesmo”...? Ah, sei lá. Uma coisa assim. Disse que não estava dando certo. E eu fiquei arrasado pra caramba. — A próxima parte sussurrou — E ainda estou um pouco... — Deu de ombros e voltou a encher um garfo — Mas sabem como são essas paradas com mulheres inclusas né? Não deu, não deu. Fazer o que. Não vou chorar vinte e quatro horas por causa de uma garota.

Liu se limitou a assentir e virar-se para a outra mesa, procurando Jane no meio da multidão. Ao visto, ela não pensava da mesma forma. Sorria esquisito para os amigos ao seu redor.

— Mas olha quem fala — O filho de Slenderman continuou — Você mesmo não está lá com o Jeff, não é verdade, Bryan?

O de olhos violetas concordou.

— Vocês dois eram os típicos irmãos-que-estão-juntos-para-a-vida-toda.

Foi a vez de Liu suspirar.

— ‘Cês sabem como é o Jeff né? Cabeça dura, teimoso, orgulhoso, treteiro... Ele simplesmente estava estranho e então fui até o seu quarto para conversar, e assim, do nada ele começou a xingar aquele bisonho... Edgar, né?

— Edgar da entrada dos fundos? — Dick levantou uma sobrancelha.

— O único Edgar do casarão — Respondeu com ironia.

— Sob que acusação? — Bryan se mostrou interessado.

— Nem prestei atenção, na verdade. Já disse: Meu maninho é meio treteiro. Gosta de arranjar confusão.

Nessa hora Slender se pôs de pé, chamando a atenção de várias Creepypastas. Todos ergueram os olhos para o dono do casarão. E o sorriso de Offender logo ao seu lado pareceu ter crescido mais que o costume.

— Atenção todos vocês — Começara — Depois de muitas hesitações... — Ele parecia nervoso e cauteloso — Decidimos que liberaremos uma noite para matança livre. — Todos comemoraram ruidosamente, fazendo o chão vibrar. Slender só sabia pensar no quanto queria não ter dito aquilo.

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Atravessaram o portal com muito entusiasmo, se separando em grupos de dez, cinco, dois ou até mesmo resolveram ir sozinhos. As instruções foram as mesmas de sempre, o clichê de: “Não sejam vistos”, “fiquem nas sombras”, “não aprontem”, “cheguem antes do amanhecer”.

Houveram muitos que apenas queriam se divertir, mas também haviam aqueles que decidiram descontar os problemas e raivas que guardavam.

Jane era uma dessas, adentrando uma casa na companhia de Aurora e Filipa. Residiam ali uma família composta de cinco pessoas, e todas já estavam mortas. A assassina de olhos negros não entendia mais nada. Por que seus golpes pareciam tão frustrados?

Um pouco mais distante, Nicole andava com o grupo de Proxies, sem deixar a irmã de fora. Estava na hora de entender na prática o que era ser um Proxy de Slender.

— Como assim não vou matar? — A gêmea de máscara indagou espantada.

— Nosso trabalho aqui é outro. Temos que cumprir as ordens do chefe — Explicara Masky. Hoodie não soltava a filmadora. Ticci Toby estava entediado e Julie não sabia bem o que fazer. — E hoje o que temos a fazer é mandar um recadinho para o tal Alex.

— Aquele cara... — Resmungou Toby — Nunca desiste de brincar com o que não deve.

— Ele e aquele amiguinho já me nocautearam uma vez... — Hoodie comentou.

— A mim conseguiram arrancar a máscara — Masky rosnou.

— De qualquer forma — O de óculos laranja disse — A casa da nossa vítima fica há alguns metros daqui. Temos que ser rápidos.

Dick e seu grupinho de amigos do incidente “Flor de Lótus” não estavam muito longe do portal de Herobrine quando o filho de Slenderman decidiu se separar deles.

— Algum problema? — Randal quisera saber.

— Não é nada — Dicky sorriu — Só é um pouco difícil pra mim ainda esse negócio de assassinato. Nos encontraremos mais tarde perto do portal.

Ao acenar, o pequeno sorriso do filho de Slender desvaneceu, e sua expressão se tornou séria. Olhou ao redor e sabia que a pouco mais de um quilometro poderia chegar a uma boa clareira de um solitário caçador. Como? Não sabia como. Apenas tinha a sensação.

Caminhou apressadamente até lá, vendo que de fato existia uma pequena clareira ali. Da janela escapulindo alguns feixes de luz amareladas. Dick suspirou longamente. Não sabia se conseguiria matar como da última vez. E se perdesse o controle e quando recobrasse a consciência, já tivesse passado uma semana e mais de cinquenta vítimas houvessem sido feitas?

Balançou a cabeça, varrendo os pensamentos. Era melhor não pensar de tal forma.

Cautelosamente se aproximou da porta e tentou escutar algo, porém a pequena estrutura parecia estar mergulhada em um profundo silêncio. Agarrou a maçaneta e contou até três:

1...2...

— 3!! — Deixou escapar pela boca, praticamente derrubando a porta da frente com sua faca em punho. Mas logo seus ombros se relaxaram ao perceber que o cubículo estava vazio. — Que pena.

Estava prestes a voltar quando um novo grito lhe chamou atenção. Não muito longe, chegou até os ouvidos de Dick.

— Este é o... Jeff? — Murmurou para si mesmo, logo se pondo a correr em socorro do amigo. Afinal, o vira decidindo ir matar sozinho.

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— Haey, por que quê você está fugindo de mim desde que nos falamos? — Aria Makara apressava os passos ao lado de Rellik, afinal, não queria se deixada para trás como da última vez.

— Não estou fugindo de você — O mais velho revirou os olhos.

— Oho, ho. Não, eu estou — Empregou o sarcasmo nas palavras — Vamos lá. Qual é? Quando te vi pela primeira vez estava pregando peças no Hoodie e no Masky.

Os olhos de Rellik finalmente pareceram se desviar do chão e por um breve instante correram pela face da garota. Contudo, o rapaz voltou a abaixá-los rapidamente. Aria se animou, apontando para o rosto dele.

— Ahá! Eu vi hein! Eu sei que você gosta de zoar com a cara dos outros.

— Ah, vá. Mas agora não é hora para brincadeiras.

A garota de chifres mandou Aquele Olhar para o outro. Rellik só sentiu seus cabelos presos sendo puxados para trás.

Ai, ai! — Rosnou ele, lançando um olhar irritado para Aria.

— Você é daqueles bipolares, não é mesmo? — Ela indagou. O maior levantou uma sobrancelha, questionando — Sabe, mais de 50% daquele casarão tem mais de uma personalidade. É comum quando se é um assassino.

Rellik se convenceu, suspirando.

— Não tenho culpa. Simplesmente acordo assim — E continuou a caminhar.

— Ora. Eu fui criada em um circo numa parte da minha vida, sabia?

— É... Eu já ouvi uma coisa assim.

—... Então é chato ver pessoas sem senso de humor por aí.

Nesse ponto os passos do de cabelos brancos novamente pararam, o fazendo encarar a face de Aria.

— Sem senso de humor? — Desta vez um sorriso surgira nos lábios dele. — Vou te mostrar quem não tem senso de humor.

E correu sendo seguido pela garota satisfeita:

— Eu gosto assim.

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Jeff the Killer estava muito ansioso para estraçalhar alguém, contudo, enquanto andava, algo saltara para cima dele, o derrubando. Quando sua visão se ajustou, percebeu quem é que estava rindo sobre ele.

— Você de novo?! — Bradou o assassino de moletom, preparando a faca para atacar.

— Opa! Calma aê, calma aê! — Edgar se levantou, puxando o outro pela touca para que fizesse o mesmo — Somos amigos, lembra?

— Amigos o escambau! — Um corvo grande voou bem próximo, pousando sobre um galho de árvore. Provavelmente fosse Lord. — Aquele traste — Jeff apontou para a ave que corvejou — era Proxy de Daemon. O que demônios ele está fazendo contigo agora?

— Ele era de quem? — Edgar indagou, fingindo-se de desentendido. O mais novo cerrou os punhos.

— O QUE AQUELE TRASTE ESTÁ FAZENDO COM VOCÊ SE ANTES ERA DO MALDITO DAEMON?! — Berrou próximo ao ouvido do de olhos azuis. Todavia este sequer se mexeu, mantendo a mesma expressão de sempre.

— Ahh... — Edgar fez parecer ter lembrado. — O que é um Daemon? É um novo tipo de sobremesa grega? Porque eu sinceramente estou com fome.

Jeff rosnou e tentou um soco. O outro virou de lado, desviando calmamente dele.

— O que eu fiz agora? — Indagou.

O mais novo respirou fundo, tentando se conter. Não se lembrava de quando ficara tão irritado daquele jeito com alguém... Claro que também houvera aquela discussão com Kyara, mas aquilo era outro caso.

— Sua simples presença me enoja — Cuspiu Jeff.

— Eu não entendo... — Edgar falara coçando a cabeça — O que quê eu fiz para ser tão odiado assim, meu Zalgo?

— Não sei — Ironizou o outro — Será que foi porque você deixou aquele ser — Mais uma vez apontou para o corvo — quase me matar, me deu um soco no meio do estômago e ainda por cima ameaçou meu irmão?!

— Ah, é mesmo. — Edgar franziu os lábios — Sempre me esqueço dessas coisinhas sem detalhe.

Ao ouvir que para ele a vida de seu irmão não era importante, Jeff voltou a se enfurecer, jogando o corpo do mais velho contra uma árvore e apontando a ponta da lâmina de sua arma no meio do rosto de Edgar. Lord se inquietou, preparando-se para atacar, porém foi repreendido por um gesto deste.

— Pode deixar — E soltou uma risadinha, voltando-se para Jeff. — Você vai tentar me matar agora?

— Só vou dar uma liçãozinha — O punho dele se fechou contra a cara de Edgar, que sentiu a dor se espalhar até a ponta de seus dedos. O assassino de sorriso esculpido não ficou nada feliz ao ver que as risadas do outro apenas se intensificaram — Você gosta, não é?, seu masoquista filho da puta!! — Berrou tão alto que sentiu que sua fala ecoara por toda a floresta.

O corvo não parava de corvejar, contudo sempre que pensava em partir para cima de Jeffrey, lembrava-se que seu dono não queria que seu caso tivesse interferência.

Desta vez, o mais novo usou sua faca, encorajado a tal a partir do momento em que viu que socos apenas pareciam cocegas para Edgar. E a lâmina foi o suficiente para prender a mão do mais velho no tronco da árvore, manchando a madeira com sangue escuro. E enfim ele deixou um grunhido de dor escapar, mas que logo se camuflou entre os risos deste. Jeff o encarou com desprezo.

— Você é doente, cara — Disse simplesmente, começando a não sentir apenas ódio, mas sim pena do outro por tamanha loucura.

— O que você fez Jeff?! — Uma terceira voz fez com que o citado virasse o pescoço para dar-se de cara com um Dick abismado.

— D- Dick? — Murmurou assustado, percebendo a gravidade da situação. Aliás, aparentemente a vítima ali era Edgar.

O filho de Slender se adiantou para perto do que tinha a mão pregada na árvore, empurrando de leve Jeff para que saísse da frente.

— Meu Zalgo — Exclamou Dicky — Você não sente dor?

Dor eu sinto muita — Riu agora de canto o de olhos azuis.

— O que deu em você?! — O mais alto dentre os três perguntou para o de moletom, sem saber muito bem o que fazer com aquela faca atravessando a palma da mão de Edgar.

— Eu... Ele... — Tentou explicar, mas estava totalmente sem palavras. Desviou os olhos para cima, na procura de Lord, contudo este não estava mais ali.

— Droga Jeff! — Exclamou o amigo — Eu vou ter que relatar isso para o meu pai.

— O quê?! — Se desesperou — O ‘véio vai me matar!

Edgar foi se recompondo aos poucos das risadinhas e segurou firme no cabo da faca de Jeff, preparando-se mentalmente para tirá-la dali. No primeiro puxão a lâmina sequer se mexera, e apenas serviu para abrir um pouco mais o corte em sua carne. Os outros dois apenas observaram boquiabertos.

Na segunda tentativa, a faca saiu um pouco, mas mesmo assim não o suficiente para livrar o rapaz. Quando se preparou para a terceira, Dick o impediu.

— Pare com isso, seu doido. Está abrindo cada vez mais.

— Qual é? — Respondeu debochando — Eu não quero ficar aqui para sempre, sabia?

E então a lâmina finalmente se soltou do tronco, fazendo com que Edgar cambaleasse alguns passos. Afinal, os socos raivosos de Jeff contribuíram para tal.

O sangue não parava de escorrer quando ele devolveu a arma para o assassino de moletom branco.

— Da próxima vez — Sussurrou o mais velho — Tenta atingir um lugar que dói mais...