Jeff bateu a porta atrás de si, deixando seu irmão confuso para trás. Poxa, Liu era seu irmão! E mesmo tentando convencê-lo de todas as formas, mostrando alguns hematomas – embora poucos – da luta contra Lord e a manga do moletom rasgada, o mais velho ainda pensava que tudo não passava de falsa acusação. Jurou para si mesmo que passaria um bom tempo sem falar com o outro, apenas de birra. Praguejava em voz alta enquanto andava batendo o pé pelos corredores. Na escadaria, acabara se distraindo demais, e como resultado tropeçara nos degraus da escadaria, rolando.

— Ai, ai, ai, ai, ai! — Exclamara segurando seu braço com força no local onde doía por ter servido várias vezes como amortecedor. Sequer conseguia mexê-lo pela intensidade exagerada da dor. — Caralho, meu...!

Escutou um familiar grunhido e percebeu que uma sombra o cobria. Levantou os olhos para dar-se de cara com Eyeless Jack, que lhe estendeu a mão para ajudá-lo a se levantar. Percebeu que Ellen, Randal e Skull Jack o acompanhavam.

— Você tá bem? — A garota indagou para Jeff, que já estava de pé pela ajuda do amigo.

— Ele caiu que nem estrume lá de cima! — Explodia de risada Randal. Fora a vez do assassino de moletom branco grunhir, brandindo sua faca em direção ao mais novo. — Opa, calma aí. Só estava zoando.

— Aponta isso pro outro lado ou acabo com a tua faca. — Ameaçou Skull Jack, em defesa do irmão.

Jeff abaixou sua arma de contragosto e encarou o chão mostrando-se irritadiço.

— Qual o problema? — Eyeless quisera saber, pronunciando as palavras baixa e roucamente.

O outro cogitou em contar-lhes tudo o que havia sucedido no dia anterior com o maldito Edgar e rezou para que eles acreditassem nele diferentemente de Liu. Pegara fôlego para falar quando viu o citado atravessando o hall enquanto devorava um pacote de batatinhas fritas molhadas em um pote de nutela. O ser estranho de cicatriz sorriu de canto para Jeff, passando a língua por um fio de chocolate que caíra em seus lábios. O assassino do sorriso esculpido pôde se lembrar das palavras de Edgar: “Você não conta nada disso pra ninguém (Primeiro porque o caso é só nosso) e a gente não faz mais do que o necessário. Como, por exemplo... Machucar pessoas que você ama”.

Sacudiu a cabeça para varrer a memória e então o outro não estava mais no hall.

— Jeff? — Randal balançava a mão em seu rosto, trazendo-o de volta ao grupinho de colegas.

— Hã?

— Queríamos saber qual é o teu problema — Ellen respondera.

— Ah, tá — De repente ele parecia mais calmo. — É que estava sem nada pra fazer e queria realmente matar o tédio hoje. Podíamos arranjar algo, não é mesmo?

...

Edgar se divertia demais brincando com Jeff daquela forma. Não entendia como assassinos psicopatas como ele conseguiam se preocupar com outras pessoas que não fosse apenas ele próprio. Aliás, o outro era quase um demônio, não é mesmo? Não deveria nutrir afeto por mais ninguém, nem mesmo pelo irmão.

Mas o que mais gostava mesmo depois de ter arranjado aquele corte na metade da cara era tirar Mason Hevitth do sério. Ah... Aquele sim valia seu tempo. O legal do incubbo era que já era nervoso por natureza e as suas provocações eram o suficiente para vê-lo explodir, o que consequentemente acabava com o tédio de Edgar. Corria o risco de morrer? Corria. Mas quem disse que ligava?

Adentrou a ala norte do casarão, terminando de comer a última batatinha e amassando o saco de plástico em uma bola, tacando no chão. Um rapaz que Edgar demorou a reconhecer, como se tivesse super audição, virou-se por cima do ombro segurando de má vontade uma vassoura. Fuzilou o menor com o olhar flamejante do tipo cata-isso-já-ou-você-morre. O de cicatriz deu de ombros, abrindo uma caixinha de Pocky e colocando o palitinho crocante de chocolate entre os lábios. Aquele ar assassino e a áurea negra que rondava em torno do homem de aparência naturalmente sedutora por causa de sua linhagem eram inconfundíveis.

— Você...! — Rosnou Mason.

— Se eu ganhasse um dólar a cada vez que me chamam dessa maneira, eu seria rico hoje. — Debochara Edgar, jogando-lhe um sorriso irônico.

— Apenas ignore Meyz — A irmã do incubbo aconselhou. — Encrencas agora resultarão em um prolongamento de seu castigo.

— Ah, não. Não se preocupem. — Edgar se aproximara — Não precisamos brigar novamente, não é? — Com isso apontou para seu rosto — Ganhar mais uma dessas não será legal.

Mason bufou e caminhou até o pedaço de plástico que o outro jogara, o recolhendo e voltando para seu lugar inicial onde se encontrava uma sacola preta onde jogou o lixo.

— Espero que você fique com uma diabete grave — Praguejou o maior.

— Ah, então pra não pesar muito me ajude a acabar com isto.

Edgar aproximou seu Pocky da boca de Mason que selou os lábios imediatamente, encarando o doce como se estivesse envenenado. O menor riu.

— Estou brincando. Não fique tão sério.

Normalmente era requisitada muita paciência para se lidar com Mason, mas quando o assunto era o serzinho masoquista de olhos azuis... Bem, as coisas se tornavam complicadas. Nem o diabo aguentaria Edgar no inferno.

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Myure andava na companhia de seu pai Offender e de Jana que por sua vez arrastava um Bryan mal-humorado. A única coisa que prendia o garoto de decapitar a de mechas azuis era que Nina também vinha cantarolando ao seu lado. Os cinco iam até o irmão de Offenderman na expectativa de conseguir um passe para o mundo humano onde pudesse fazer algumas vítimas. Aliás, já havia um tempo.

— Por que mesmo o senhor Slenderman não deixa as Creepys irem toda hora matar? — Big S perguntara certa hora.

— Slendy é um cara organizado. — Offender respondera — Se liberasse desse jeito, perderia o controle dentro deste casarão. Sem contar os riscos que passamos naquela dimensão.

— Ele nos trata como crianças. — Comentou Jana, com os olhos fixos à frente.

— Eu consigo andar sozinho, sabia? — Bryan resmungou, tentando soltar seu braço das mãos da outra — Então pode me largar.

— Ao menos ele está dando uma boa vida para assassinos que ninguém pensaria em ajudar. — Myure também dissera. — As pessoas nos desprezam e meu tio nos acolhe.

— Sim, sim. — Nina concordara, sorrindo — Foi uma das melhores coisas que já me aconteceram.

Bateram na luxuosa porta do escritório de Slender e foram recompensados com um “entre” firme. Assim o fizeram e o sem-rosto de terno pareceu ter se assustado ao ver um grupo inteiro adentrando sua sala.

— O que querem? — Ele quisera saber.

Myure deu um aceno para Dick que estava sentado no sofá ao lado da mesa de Slenderman junto com Lady Elizabeth, na tentativa de resolver o um cubo mágico. O garoto acenou de volta, dando um ligeiro sorriso para a prima e voltando sua concentração no quebra-cabeça.

— Slendy — Começara Offender — Estávamos querendo poder dar uma escapulida para o mundo humano. Sabe? Para eu matar a saudade das mulheres...

Slender reviraria os olhos se ele os tivesse. Estava prestes a responder um “não” quando Elizabeth abriu a boca.

— Acho que uma noite não matará ninguém. Podíamos liberar apenas uma noite, não é mesmo, Slendy? — A mulher sorriu docemente para o de terno, um sorriso que o deixava mole.

— Mas Eliza... Imagine o caos. E para saber se todos realmente voltaram?

— Ora, você se preocupa demais. Todos eles já estiveram na dimensão dos humanos antes, se recorda? E vamos combinar que matar é algo que não fazemos há um tempo.

Slender permaneceu pensativo. Incerto se deveria mesmo dar tamanha liberdade para o casarão inteiro. Mas os olhos implorativos de todos sobre si causava uma tamanha pressão que parecia ser proposital. Era como se o Titanic houvesse sido posto sobre suas costas. Poxa, até seu filho o encarava atrás de uma resposta!

— Certo... — Começara Slenderman — Se algo de errado acontecer, nunca mais, já fiquem avisados. — Ele deu um suspiro. — Uma noite.

O modo de comemoração estremeceu o casarão inteiro.