Alicy ouvira um berro de alguém muito nervoso pelos corredores do segundo andar. Caminhou devagar, na procura da sua origem. Quanto mais se aproximava do quarto de Jeff the Killer, percebia que os sons de coisas quebrando e gritos histéricos aumentavam. Tomada por curiosidade e de sobrancelhas juntas, caminhou na ponta dos pés até a porta de madeira, tentando espiar pela fechadura. Infelizmente uma chave pendia do outro lado, de modo que dificultasse sua visão. Bufou, porém encostou o ouvido diretamente na madeira, escutando o que se sucedia ali.

Não, Liu! Você não entende! — A voz do moreno vibrava até mesmo a porta. — Cara, ‘cê é meu irmão! Ao menos tente acreditar ‘ni mim!

Isso foi apenas um sonho, mano. Tá certo que você não gosta dele, mas inventar mentiras... — O timbre calmo e suave de Liu era inconfundível.

É VERDADE, CACETE!

A garota deu um pulo para trás de modo que cambaleasse e caísse de traseiro no chão ao ver uma lâmina – provavelmente da faca de Jeff – perfurar a porta, perigosamente perto de seus olhos. Por sorte não tinha morrido ali.

Ainda fitava assustada àquele pedaço de aço preso ali quando ouviu um som diferente do seu lado. Alicy voltou seus olhos para um boneco no estilo clássico de marionete parado ao seu lado. Era de madeira escura e não continha pintura alguma que desenhasse roupas ou rosto. Apenas um bonequinho sem-graça.

— A garotinha não deveria estar ouvindo a conversa dos outros dessa maneira. — Ela levantou os olhos ao ouvir aquela voz forçada a ser cômica, daquele tipo que qualquer um usaria para uma criança durante a fala de um conto infantil. O homem agachado ao seu lado tinha cabelos pretos sob uma touca cinza e peculiares olhos preenchidos apenas com uma cor amarela vibrante. O Marionetista sorriu para ela e com um puff! o bonequinho de madeira evaporou numa nuvenzinha de poeira. — Você é uma daquelas que acabou de chegar, não é mesmo?

— Sou — Respondeu simplesmente.

O homem levantou-se, estendendo uma mão para Alicy para que esta fizesse o mesmo.

— Gosta? — Indagara, e como num gesto de mágica, lá estava a marionete de madeira sobre seu braço novamente.

— Não sei. Parece divertido. — O Marionetista estendeu o objeto para a garota que quando o tomou em seus braços percebeu como o boneco era mais pesado do que aparentava. — É a primeira vez que vejo um desses.

— Veja.

Alicy levantou os olhos para o maior, vendo que este observava Episódios Perdidos caminhando pelo corredor distraidamente. Dos dedos do moreno saíram cordas douradas, que voaram em direção ao gordinho. Um sorriso travesso dominava os lábios do Marionetista e de repente Episódios Perdidos encarava o próprio corpo de olhos arregalados.

— Mas que merda é essa? — O gordinho interrogara. O maior começara a mexer os dedos, consequentemente fazendo com que os membros do outro se mexessem, formando uma divertida dança russa. — Não consigo controlar meu corpo!

Alicy não pôde deixar de se divertir com aquilo. Logo estava rindo como uma criança.

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Nicole estava indo para o lado externo juntamente com sua irmã Julie. Masky fora claro ao dizer que logo pela manhã a de máscara deveria se apresentar para o teste básico para se tornar uma Proxy oficial de Slenderman. Não queria demonstrar, porém estava muito ansiosa. Julie prestava apoio, e disse querer acompanhá-la durante tudo.

Seus cães haviam se perdido dentro da correria dentro do casarão, mas elas não se preocupavam muito, já sabiam que o lugar era confiável.

Saindo pela porta, levaram os olhos até perto da floresta. O trio bem-conhecido estava ali, na espera. Ticci Toby com os braços cruzados e o olhar baixo para o chão, do modo que parecesse uma criança emburrada que acabara de levar uma bronca da mãe. Masky se posicionava no meio, com os braços atrás do corpo numa forma quase severa, como militares. E ao fim havia Hoodie, segurando uma filmadora com todo o cuidado.

— Da próxima vez tente ser um pouco mais pontual. — Dissera Masky para Nicole que já fechara a cara na hora por trás de sua máscara.

— Como ser pontual se você ao menos me disse que horas eu deveria estar aqui?

A sua irmã a encarou com o olhar pedindo calma. Logo discutiam com troca de olhares.

Ué, é a verdade!

Como você quer ser aceita respondendo desse jeito, Nic?

Não vai me dizer que você não responderia a mesma coisa

Não. Não responderia”.

— Ah, cale a boca Masky — Ticci Toby resmungou, esfregando a parte de trás da cabeça. — Você mesmo se atrasou inúmeras vezes para o trabalho.

— O QUÊ?! — O mais velho exclamou, levantando o punho — E quem te deu permissão para falar isso?! — Toby viu sua hora de correr, sendo seguido pelo outro que praguejava de todas as maneiras. Hoodie não soube ao certo o que fazer, lhe restando apenas gravar com uma cara do tipo Poker Face debaixo do pano que lhe escondia o rosto.

As ruivas trocaram olhares mais uma vez, agora se perguntando o que elas deveriam fazer. No fim, acabaram tentando fazer Masky e Toby pararem.

Durante o corre-corre, um tropeçara no outro, fazendo com que todos caíssem como peças de dominó. E naquele montinho de gente enroscados no chão, um encarou ao outro em silêncio até não se aguentarem mais e caírem na gargalhada.

Do escritório, Slenderman meneava a cabeça em desaprovação, suspirando longamente. Não acreditava na incompetência de seus Proxies.

Bateram em sua grande porta negra com detalhes em verde, tirando-o da sua concentração. Sem tirar os olhos da janela, deu o comando:

— Entre.

Dick adentrou o recinto de cabeça baixa, fechando a porta logo depois de passar por ela. Elizabeth que se encontrava sentada no sofá, brincando com um cubo mágico sorriu docemente ao vê-lo. O garoto a retribuiu, porém aquele gesto pequenininho deixou claro que o que menos queria naquele momento era sorrir. A irmã de Mr. Creepypasta franziu o cenho quando ele passou por ela, preocupada.

— Pai — Dick começara já se sentando na cadeira de frente à sua mesa — Lost Silver disse que você queria falar comigo...

O sem-rosto virou-se para seu filho, também se sentando em sua poltrona. Esticou um de seus braços para tirar a touca da blusa sobre a cabeça de Dick, para poder “encará-lo” melhor.

— Pode falar, meu filho. — A fala deixou o garoto confuso.

— Pelo que sei vim aqui para escutar. — Respondeu-lhe.

— Na verdade, é só uma coisa que me vem incomodando ultimamente. Uma dúvida minha e de Lady Elizabeth.

Dick virou a cabeça, vendo a mulher elegante por cima do ombro. Ela lhe deu um aceno.

— Bem, é só dizer. — Voltara-se para o pai.

Filhos dão tanto trabalho”, pensava o maior. De fato, Dick já lhe custara vários e vários anos de preocupação. A fase da adolescência era a pior de todas. Houvera muita coisa pelo qual ambos passaram e atualmente o garoto parecia dar trabalho em questão de “humor”. Estava muito deprimido nos últimos dias, e procurado uma saída em drogas. Quem viu aquele garotinho até seus dez anos de idade, jamais acreditaria em tal coisa. Era ligeiramente irritante levando em consideração que sua casa habitava várias pessoas como ele.

— Conte para mim o que mudara sua personalidade assim, de repente.

Dick suspirou. Já estava cansado de se lembrar das mesmas cenas quase incessantemente. Estava cansado de responder aquela frase internamente milhares de vezes. Tudo era culpa de Daemon e parecia que nos últimos dias, as lembranças apenas pioraram, voltando com mais intensidade.

— Não sei do que o senhor está falando. — Respondera simplesmente, esquivando-se do assunto.

— Sabe. Eu sei que sabe. — Slenderman curvara-se sobre a mesa, de modo que ficasse mais perto do filho. — Se sente culpado por matar Daemon?

Os olhinhos castanhos de Dick se estreitaram e voltaram-se ao chão, tomados por desgosto do nome. Aquele canalha lhe fizera tão mal...

— Nem um pouco.

— Então o quê?

— Você me acha bipolar, pai? — A resposta viera em forma de outra pergunta.

— Por quê?

— É que tenho dois modos de pensar, dois lados para mostrar. Não sei exatamente o que isso significa ou como controlar, mas... Hm... Não sei explicar. Parece que eles brigam para saber quem deve predominar.

Seus cabelos foram alisados pelos dedos delicados e suaves de Elizabeth Ackerman.

— Meu querido, isso acontece com muitas pessoas da sua idade ou até mesmo mais novas. A maioria dos seus amigos é assim. É normal.

— É que... Parece ser diferente. — Dick se sentia desconfortável. Eliza, a irmã do mais alto administrador da dimensão Creepypasta estava o tratando como se fosse sua mãe. — Não quero pensar que isto é apenas... Adolescência. Parece mais complexo que isso.

Por um momento se lembrara de um de seus melhores amigos, Alexandre. Aquele sim era um garoto complexo de doze anos de idade. Não podia se esquecer de procurá-lo.

— Isso passará. — Garantiu Slenderman, um tanto aliviado por ouvir os argumentos do filho. Para ele, realmente tudo não passava de uma simples fase. Uma pausa fez com que o ambiente caísse no silêncio por um tempo, até que o mais alto dentre os três finalmente se pronunciasse. — Bom, acho que por ora deixarei com que você escolha a janta desta noite.

Um sorriso brotara nos lábios de Dicky, dando finalmente um ponto final no assunto.

E aí está o desenho da Ana Lorenzi, tá meio bugado, mas espero que goste *3*