— Ally, acho que sua banheira já encheu. – Ela muda de canal mais uma vez, buscando fugir dos noticiários. Trish para em um canal infantil, onde estava passando algum desenho animado e logo começa a cantar junto com a personagem – Brilha linda flor, teu poder venceu...

Levanto da cama antes que ela se anime a comece a dançar todas as músicas de Enrolados – seu desenho preferido. Vou ao banheiro e desligo a torneira, minha banheira realmente já estava cheia. Despejo o sabonete líquido do hotel até formar bolhas, agora sim o banho estava pronto.

Desligo a luz do banheiro, deixando apenas o sol entrar. Coloco uma música no celular e enfim, entro na banheira.

— Trish, não existe nada melhor que isso! – Encosto minha cabeça na parede.

— Existe sim! Ficar deitada na cama o dia inteiro fazendo nada. – Escuto sua voz abafada do outro lado da porta.

Fecho meus olhos, aproveitando a música que ecoava pelo cômodo.

— Oh meu Deus! Allicia! Allicia pelo amor de Deus! – Meus cabelos são puxados para cima. – Ally acorda. Por favor.

Eu tentava respirar, mas estava difícil, tinha algo em minha garganta. Começo a tossir e sai água da minha boca.

— Graças a Deus você está bem! – Trish me abraça. – O que você fez? Você está louca?

— O que aconteceu? – Coloco a mão no peito, ainda sentindo dificuldade para respirar.

— Faz duas horas que você está nessa banheira, e quando entro aqui, sua cabeça está debaixo da água! Você poderia ter morrido, Ally! Poderia ter morrido!

— Eu devo ter pegado no sono, eu não sei.

— Não faça isso de novo. – Ela passa a mão pelo rosto, tirando qualquer vestígio das lagrimas. – Sua idiota. Não sabe o susto que eu passei.

***

— Vocês estão prontas? – Dez e Austin entram em nosso quarto sem antes bater. Nada adiantou colocar a placa de “Não Perturbe” na porta.

— Vamos fazer o que hoje? – Trish pergunta, sem ao menos estar interessada. Ela ainda estava de pijama na cama.

— Golfe.

— Serio? De pular de um avião vamos para golfe? – Debocha a latina.

— Se acostume com isso, Trish. Essa viagem é para agradar a Ally, e não você. – Austin cruza os braços e a encara. – Estamos pensando no bem dela. Não queremos fazer nada pesado hoje para não desgasta-la.

Me pergunto se eles sabiam que eu estava no quarto, ouvindo tudo. Eu não precisava ser defendida, ou muito menos ser motivo de uma briga. Não precisava ser tratada como uma criança doente que precisa de proteção.

— Você diz como se eu não me importasse com ela! – Trish se levanta. – Como se eu estivesse cagando para a saúde dela, sendo que não foi você que quase a viu morrer hoje! – A latina empurra Austin. – Deveria ter avisado a Ally que hoje ela não pode se desgastar, quem sabe assim ela não tentasse se afogar na banheira! – Por fim, ela bate a porta e sai do quarto. Seus passos estavam tão pesados que eram ouvidos de longe.

— Alguém me explica o que acabou de acontecer aqui. – Dez olha para mim.

— Fui tomar banho e acabei pegando no sono... Acho que minha cabeça escorregou, eu não sei. Trish entrou no banheiro e eu estava engolindo água. Ela acha que eu fiz de proposito, que tentei me matar afogada.

— Eu vou tentar falar com ela... Ver se ela se acalma, e quem sabe, se quer ir jogar golfe. – O ruivo apontou para mim e para Austin. – Vocês dois vão indo para o carro, encontro vocês no estacionamento.

***

Respiro. Você consegue eu repito para mim mesma. Você consegue.

O buraco estava a cinco metros de distância, eu tinha que acertar. Não posso me sentir intimidada pelos meninos só porque eles jogam golfe desde criança. Trish não veio, o que me deixa ainda mais ansiosa, eu sou a única leiga.

— Você vai jogar hoje ou amanhã? – Dez diz impaciente.

Faço a tacada, e como esperado, erro.

— Ok, deixa eu te mostrar como faz. – Austin me abraça por trás e segura o taco, por cima das minhas mãos. Tento dizer que não preciso disso, mas ele não me escuta. – Você precisa levantar o taco sem mexer a perna. Desse jeito. – Ele levanta as minhas mãos. – E então...

— Oi, vocês precisam de ajuda? – Um garoto se aproxima. – Sou Elliot, o auxiliar do campo.

— Ah, ótimo. – Me afasto de Austin assim que olho para o atraente auxiliar. – Não sei jogar.

— Então hoje é seu dia de sorte. – Ele sorri. Me contenho para não suspirar, e ignoro as reviradas de olho do loiro.

***

Suas mãos estavam em minha cintura agora. Conseguia sentir sua respiração em meu pescoço.

— Lembre-se do que eu falei. Não mexa da cintura para baixo. – Elliot sussurrava em meu ouvido. Isso tirava minha atenção, mas me concentrei na bola.

Fiz a tacada e, depois de sete tentativas, acertei.

— Uou! Essa foi longe! – Dez bateu palmas. Fizemos um aperto de mão em comemoração.

Continuamos a jogar, e eu estava ficando tão boa quanto os meninos. Fizeram apostas, e eu fiquei de fora, sabia que iria perder todas. Sempre errava algumas tacadas de propósito para Elliot me abraçar por trás auxiliar.

O sol estava ficando quente, e eu estava começando a me sentir mal. Não quis avisar a ninguém pois os meninos estavam se divertindo.

— Ally, sua vez.

A bola estava a mais de dez metros de distância. Você consegue voltei a repetir para mim mesma. Lembrei de tudo que Elliot me falou, e foquei na bola. Por fim acertei.

Levantei o taco em comemoração, e logo em seguida cai de joelhos.

— Você está bem? – Elliot se agacha em minha frente.

— Eu... Acho que minha pressão caiu. – Respiro fundo. – Esta tão quente. – Minha visão estava ficando muito clara, e não enxergava as coisas com clareza.

— Quer ir embora? – Dez passa as mãos em minhas costas. Digo que sim e ele me ajuda a levantar.

— Ally! – Elliot me chama. – Semana que vem terá uma festa dos meus amigos, e eu gostaria muito que você fosse.

— Será um prazer. – Sorrio.

— O prazer será todo meu. – Ele diz, antes de eu ir embora.

***

Deito na cama, me sentindo aliviada. Austin tira os meus sapatos, e puxa o cobertor para cima. Ele deixa o copo d’água que pedi minutos atrás na cômoda ao lado. Se vira para ir embora, mas seguro em sua mão.

— Austin. – O chamo. – Não vai embora. Por favor. – Vou para o lado, dando espaço para ele se deitar.

— O que?

— Fica aqui, comigo. Só até Trish voltar. – Quando chegamos, notamos que a latina não estava no quarto, ou mesmo no hotel. Seus sapatos de corrida não estavam, então provavelmente foi dar uma volta. – Estou com medo de que aconteça alguma coisa comigo... Não estou me sentindo bem... Estou com medo de...

— Ei, estou aqui. – Ele se deita ao meu lado. – Nada de ruim vai acontecer. – Ele passa os braços pelo meu ombro e me aconchego em seu peito. – Eu prometo.

- Sinto muito por hoje. Sei que estavam se divertindo no golfe.

— Você não precisa se desculpar por nada. Isso não é culpa sua. – Sinto seus dedos passando entre meus cabelos. – Tudo vai melhorar, ok?

Por um momento acredito que tudo vai ficar bem com ele por perto.