Sobre uma ária antiga

Não surgem (escuta, escuta) as nossas palavras

Daquela ária antiga?

Eu te desenterrei.

E finalmente tu vês de novo o sol,

Tu me falas, ó amiga!

Essas palavras dizias.

Não ouves? Não ouves?

Mas quem as recolheu?

Dos ventres ocos da madeira surgem os teus modos,

Que o vento libertou.

Dizias: "Eu te leio no coração. Não me amas. Tu pensas que é a última vez!"

Noto a boca um pouco murcha.

"Não me amas. E a ultima vez mas antes que me abandones

O voto há de se cumprir.

Oh! Faz que eu te falte no coração!

Tu não me perdoas se já na têmpora beijada os cabelos estão brancos?"

Olhai aqueles cabelos sobre aquele pescoço pálido

Os sinais dos anos; E te disse:

"Mas cala-te! eu te amo."

Os teus belos olhos estavam cobertos de lágrimas

Sob meus beijos.

"Me enganas, me enganas" respondia tu,

As minhas mãos beijando.

"Que importa? Eu sei que me enganas; Mas amanhã talvez tu me amarás morta."

Profundo era o céu do leito; e o leito profundo como a tumba, obscuro,

O corpo estava sem véu; e no leito profundo já parecia impuro.

Vi pela varanda aberta uma cidade longínqua

Cortada por um rio sinuoso, fechado por uma grinalda de rochas

Que acesas ardiam de uma luz vermelha;

No dia de verão e os ventos traziam odores

Dos jardins remotos

Onde em torno iam mulheres poderosas

Cantando entre avidas flores.

(Ottorino Respighi)

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  • Entrou em 24 de set. de 2014 01:51
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