Eu andava apressada por mais um dos muitos corredores longos da P.S. Company. Olhei o relógio rapidamente: 21hs! Onde foi que aquele moreno se meteu afinal?

Entrei em algumas salas já escuras e vazias começando a entrar em pânico. Só o que eu precisava era que ele tivesse ido embora sem mim... Ótimo! Era a droga do aniversário dele e, na melhor das hipóteses, ele estava brincando de esconde-esconde comigo!

Minhas esperanças estavam todas em achar Yuu na sala de áudio, mas ela estava trancada. Escorreguei pela parede, sentando no chão e apoiando os cotovelos nos joelhos, apertando minhas têmporas com força.

- Nick? – sua voz chegou aos meus ouvidos alarmada do outro lado do corredor e abri os olhos que nem tinha percebido fechar pra ver sua linda figura correndo em minha direção e se abaixando diante de mim com as minhas mãos nas suas. – Não está se sentindo bem?

Ele tocou meu rosto e minha testa visivelmente apavorado. Eu tentei não rir de seus cuidados tão tenros. Ainda estava brava por ele ter desaparecido.

– Onde é que você estava? – disse na voz mais seca que consegui. Desde que eu o vira pela primeira vez e nos tornamos mais íntimos do que eu jamais poderia sonhar, minhas reações perto dele eram confusas e distorcidas.

– No estúdio de gravação... – ele respondeu um pouco assustado com minha pergunta. – Não percebi o tempo passando... – coçou a cabeça envergonhado. – Gomen... – seus olhos baixaram para o chão, com uma expressão entristecida e minha raiva se dissipou completamente e eu já nem me lembrava mais o motivo pra ter ficado brava com ele.

– Eu pensei que íamos fazer alguma coisa... Comemorar seu aniversário... – ergui e afaguei seu rosto, recebendo seu lindo sorriso que acelerava meu coração em resposta. – Mas você tem que arranjar de fazer hora–extra justo hoje, né? – disse em tom de brincadeira.

– Não estava fazendo hora–extra, ta? – ele deu risada e se levantou, me oferecendo suas mãos pra me ajudar a me levantar, me puxando e prendendo em seus braços forte e protetoramente e beijando minha testa.

– Jogando videogame no estúdio eu sei que você não estava – dei risada enquanto caminhávamos juntos para o elevador, minha cintura bem segura por seu braço direito, seu rosto na curva do meu pescoço, beijando–o. – Teve alguma festa surpresa lá para a qual eu não fui convidada? – Yuu arranhou minha pele com os dentes e soltou um muxoxo prolongado.

– Não consigo sequer imaginar um lugar onde eu possa ir que não a queira comigo... Uma festa sem você? Que lugar abominável! – ele falava isso completamente sério, não era uma brincadeira e não tinha maneiras de duvidar disso. Sorri.

– Então, será que pode, por favor, me dizer o que estava fazendo se não havia nenhuma festa com garotas de biquíni e muita bebida – ele revirou os olhos e apertou o botão pra chamar o elevador – nem estava trabalhando, senhor Shiroyama?

– Eu não sei se posso te dizer... – ele deu um sorriso sapeca e me puxou para dentro da caixa metálica quando as portas se abriram, se encostando a parede e me prendendo em seu peito.

– Como assim não pode me dizer? – disse num tom quase agressivo e muito ofendido, encarando–o horrorizada e o moreno soltou uma gargalhada, puxando meu rosto e unindo nossos lábios.

– Bom... Não é que eu não possa te dizer... Eu gostaria de não te dizer... Ainda...

– Evasivo demais, Shiroyama... – resmunguei, soltando meus braços e começando a lhe fazer cócegas. – Ou me conta ou eu vou ter que torturá–lo...

Ele mordeu o lábio inferior e me olhou malicioso o suficiente pra arrepiar os pelos da minha nuca. Yuu me impediu de continuar com as cócegas segurando firme minhas mãos e me enlaçando em meus próprios braços para sairmos do elevador direto no estacionamento.

– Ah... Se vai me torturar, Nick, prefiro que faça isso em casa, sabe? – ele sussurrou em meu ouvido e beijou meu pescoço novamente.

– Ou você pode me dizer agora mesmo... – eu disse controlando a minha voz e minha vontade de me virar em seus braços e atacar sua boca com a minha da mesma forma que fizemos da primeira vez.

Meu moreno me soltou e abriu a porta do carro pra mim com outra gargalhada deliciosa.

– Você não vai mesmo me deixar te fazer uma surpresa, vai? – Yuu entrou do meu lado e prendeu seu cinto, me olhando.

– Não sou o tipo de garota que gosta muito de surpresas... Fico ansiosa – dei de ombros, prendendo meu próprio cinto e desviando daqueles penetrantes olhos cor de trevas que me encaravam tão intensamente.

Sua mão sedosa deslizou pelo meu rosto e eu fechei os olhos, aproveitando a carícia. Ele estava reflexivo.

– Estou trabalhando uma nova música... – disse depois de um tempo, quebrando o silêncio que se instalara. – Um projeto pessoal... – Yuu explicou quando eu abri meus olhos. – Um presente, na verdade, pra uma pessoa que eu realmente amo muito...

Meus olhos se arregalaram e devem ter ganhado um brilho diferente do reflexo das luzes bruxuleantes do estacionamento, porque o sorriso dele passou do tímido para o radiante.

– Uma... Uma música? – minha voz falhou.

– Não se faz vinte e cinco anos duas vezes, sabia? – ele deu risada. – Eu bem sei disso... – sacudi a cabeça rindo. – Eu fiquei pensando um bom tempo no presente perfeito pra você, então lembrei que você tinha feito uma música pra mim... – corei. É, eu tinha mesmo feito... – E ela é tão bonita... Que eu quis dar um final mais feliz a ela... Um final mais parecido com o nosso mesmo...

Eu nem conseguia juntar palavras numa frase tamanho espanto em que me encontrava. Yuu estava adoravelmente encabulado. Soltei meu cinto e me inclinei para unir nossos lábios e agradecer por aquele carinho e aquela dedicação dele. Já que eu não encontrava palavras...

– Ah... – eu lamentei quando nos soltamos e eu voltei ao meu lugar, recoloquei o cinto e ele ligou o motor e começou a guiar pra casa. – Seus óculos agora parecem tão pouco... – ele afagou meu rosto sem desviar os olhos da estrada.

– Eu os adorei, Nick! De verdade!

– Mas eu podia ter feito melhor...

– Você se importar é mais que um presente!

– Suas fãs se importam... Eu devia ser mais!

– E você é mais! Elas se importam com o Aoi... Você se importa com quem eu sou atrás de tudo isso...

– Mas já era assim antes de você ser tão palpável... Agora tinha que ser mais! – ele riu.

– E é! Você me deu você! É mais do que eu mereço...

Foi minha vez de revirar os olhos.

– Está bem... Quer me dar outro presente, certo? – eu assenti. – Sua música ainda não está finalizada, então pode dar uma contribuição e me mostrar como o nosso final é pra você... – franzi o cenho sem entender e ele riu. – Sabe como você é sempre muito boa em me inspirar...

Eu ri corando. Seria um final bem detalhado então... Único como nossa canção!

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.