Odeio chegar em casa com tempo chuvoso, é sempre neste tempo que fico sem luz. Delphine agradecia aos céus por conseguir entrar em seu prédio antes da chuva cair, e ria da coincidência, foi só colocar seus pés no térreo, e a chuva arriou. E pensando bem, hoje havia sido um dia de sorte.... Conseguiu que uma das suas pesquisas fosse aceita, saiu mais cedo, não pegou trânsito, e ainda conseguiu fugir de uma chuva!

Delphine já conseguia ver o sorriso de Cosima, ao ver que finalmente a maré de sortes da francesa tinha voltado! Sabia que a morena se sentia culpada pelas coisas que estavam acontecendo em sua vida, e se parasse para refletir... De certa forma ela realmente tinha uma pequena parcela de culpa! Desde que Cosima largou o laboratório, a vida de Delphine tinha começado a se complicar... Passar tanto tempo trabalhando com a mesma pessoa, acabou a deixando mal acostumada a resolver problemas que não fossem os seus habituais! Todos os outros funcionários tinham as suas funções, e com ela havia ficado somente Scott... E o mesmo já não trabalhava como antes! Claro, era um ótimo funcionário... Porém, os problemas pessoais – correr atrás de Félix– , o faziam deixar o trabalho um pouco de lado. Aqueles dois eram uma peça, quando juntos!

Suspirou contente ao finalmente chegar em seu apartamento. Ok, a rotina era uma das coisas que mais gostava, porém, com toda certeza estar com Cosima em sua casa, era uma das coisas que mais amava! Desde que saiu do laboratório, a outra decidiu aceitar o convite de Delphine, e agora ambas moravam juntas. No começo não foi uma convivência fácil, mas pouco a pouco as duas já estavam se habituando!

Franziu o cenho ao reparar que as luzes de toda a sala estavam desligadas. Sempre que chegava em casa, Cosima estava no sofá com o computador ligado, com várias luzes acessas, e digitando ferozmente. Será que aconteceu alguma coisa? Ok que havia chego mais cedo, porém, a outra sempre chegava muito antes dela! Tirou o salto e procurou por seus chinelos, odiava andar com os pés no chão! Franziu o cenho ao encontrar apenas um deles, olhou em volta, e nada dos chinelos! Largou as chaves em cima da mesinha, e a bolsa em cima de uma cadeira, e decidiu procurar a morena morena. Enquanto andava pelo corredor, reparou na quantidade de água pelo chão, provavelmente vinda do banheiro, pareciam rastros feitos por pés molhados... Reparou que algumas peças de roupa também estavam pelo chão, e todas encharcadas.... Engoliu mais uma vez em seco, tentando não tirar nenhuma conclusão precipitada. Poderia ser tudo um mal entendido.... Ok, um mal entendido logo no dia que chegou mais cedo? Será que...?

—Ai Meu Deus Shay, se a Delphine descobrir ela me mata... Ela vai ficar tão louca quando ver isso... Eu não deveria ter te deixado entrar, sabia que daria confusão...

Delphine respirou fundo, pensando seriamente se abria a porta do quarto ou não... Muita coisa passava pela sua mente, enquanto a mão tremia em direção a maçaneta. Quem era Shay? O que ela estava fazendo ali, e porque eu não gostaria dela? Puta merda! Um trovão brilhou no céu, fazendo Delphine novamente prestar atenção na conversa.

—O melhor é manter isso em segredo, e arrumar um lugar para você ficar! Tão lindinha....

Foi a gota d´água, Delphine girou a maçaneta, porém, na mesma hora outro trovão passou pelo céu, fazendo as poucas luzes acessas se apagarem. Sem perder a coragem, a francesa adentrou o quarto. Mesmo no escuro, um pouco da luz da lua entrava pela janela, fazendo a loira enxergar Cosima ajoelhada no chão, de costas para a porta. Para onde foi a amante? Pensou Delphine.

—O que esta acontecendo aqui? — Perguntei irritada.

—Delphine... Eu posso explicar! — Cosima disse enquanto se virava para mim.

—Comece me dizendo quem é essa vagabunda chamada Shay! Onde ela esta? Anda Cosima, fale alguma coisa! — A francesa mandou, já bem nervosa. Cosima levantou do chão, e na maior dura começou a rir da loira.

—Sério isso? Você tá desconfiando de mim? — Agora seu riso parecia um tanto nervoso.

—Eu não estou brincando! Cadê a garota? — Sai andando pelo quarto, mesmo com pouca iluminação eu conseguia ver algumas coisas.

—Para com isso! Ei, não têm motivo para desconfiar de mim! — Segurou meu braço enquanto falava, obrigando–me a encara– lá.

Cosima respirou fundo, e antes que pudesse falar algo, ouvimos um latido. Encarei Cosima confusa, e logo olhei para a direção que veio o som, me surpreendendo ao ver uma bola de pelos castanhos correr em nossa direção.

—Não, não, não! Eu não acredito que você trouxe um cachorro para cá! — Mordi o lábio nervosa, vendo o cachorro cada vez mais se aproximar.

—Eu... Não me culpe, eu estava voltando para casa, e de repente ela começou a seguir– me! Eu não podia a deixar na rua né?

—Cosima, você sabe que eu sou alérgica! Ela não pode ficar conosco... — Continuei olhando nervosa para a cadela, parecia ser uma filhote, e o pior agora parecia chorar, querendo atenção.

—Del... Eu ia a levar para algum conhecido, mas ninguém pode ter aceita– lá... E ela á tão fofa... Por favor! — Deu um daqueles olhares tristes, e eu comecei a pensar... Ok, eu tenho remédio para alergia... Mas será que é uma boa ideia? A cachorrinha parecia que entendia o que nós estávamos falando, pois foi se chegando pouco a pouco, logo ficando entre as nossas pernas, soltando leves muxoxos caninos, como um choro. Cosima a pegou no colo, e começou a olhar– me. Sem conseguir segurar, acabei soltando um espirro.

—Cosima...

—Del... Por favor! — E a cachorrinha soltou um latido, parecendo concordar. —Eu não podia abandona–lá na chuva...

—Ok, você venceu... — Cosima pareceu bem mais animada, abraçou–me, e deixou a cachorrinha sufocada entre nós duas. — Você é a melhor namorada que eu poderia ter!

—Atchim. — Espirrei. — Ser melhor namorada dá trabalho! Sei que não tem nada a ver, todavia, você viu meu chinelo?

—Ér... A Shay mordeu todo ele! — Sussurrou envergonhada, soltando–se do abraço, e apertando a cadelinha contra o peito.

—COSIMA!

OoO

—A única coisa dos dias chuvosos, é poder estar assim com você, bem juntinho — Cosima sussurrou, enquanto se aconchegava mais em mim. Era uma tradição nossa, toda a vez que faltava luz e estava chovendo, ficamos agarradinhas no sofá, esperando o temporal passar. Era uma maneira de acalma– lá do medo de trovões, e de me manter calma pelo medo do escuro. Medos bobos, e que no fundo já tínhamos perdido, porém, não podíamos perder nossa tradição!

—Com toda a correria da nossa semana, é quase impossível ficar assim... — Sussurrei de volta, começando a fazer um cafuné em seus dreads. Ela inclinou–se um pouco, o suficiente para me dar um selinho, logo voltando para sua posição.

—Promete que manteremos este ritual até ficarmos velhinhas? — Perguntou.

—Sim prometo! Nós duas ficaremos juntas até ficarmos beem velhinhas! — Comentei enquanto entrelaçada meus dedos com os dela.

De repente ouvimos um latido, tendo certeza que nossa pequena “roedora de chinelos” havia acordado. Shay pulou na cama, ficando de frente para Cosima, que a abraçou.

—É, pelo visto será nós três, até ficarmos velhinhas! — Cosima comentou, enquanto abraçava a nova membro da nossa família.

—Atchim — Espirrei novamente. — É, pelo visto sim!

OoO

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.