-O Leonardo vai mudar para Minas Gerais. –disse Juliana, do outro lado da linha.

-O quê? –eu disse quase caindo da cama. –Você está brincando né?

-Jessica, você acha que eu ia brincar com isso? A mãe dele veio aqui ontem a noite, e conversou com minha mãe, e eu acabei ouvindo… Mas eu não sei se ele vai mesmo, a mãe vai por causa do emprego. O que você acha?

Eu não conseguia responder. Minha cabeça rodava. Agora tudo fazia sentido.

Segunda-feira eu me atrasei toda, porque minha irmã mais nova, Júlia, passou mal e eu acabei cuidando dela e noite toda, e mal dormi!

Tive que entrar pela portaria, e logo que eu cheguei, o Leo estava conversando com a secretária.

-Semana que vem você volta aqui para pegar sua transferência. –disse ela, e em seguida virou para mim. –Atrasada, senhorita Jéssica?

Na hora, eu pensei que fosse transferência de sala de aula, porque a minha turma é a mais bagunceira!

Mas agora eu estava começando a entender.

Na quarta-feira, passei em frente a casa dele, e sua mãe estava gritando, o que eu achei muito estranho.

-LEONARDO, VOCÊ VAI ARRUMAR ESSAS MALAS AGORA!

Fiquei lembrando da semana. Todos os dias ele estava muito estranho, se afastando dos amigos, prestando mais atenção nas aulas, quieto toda hora… Tudo indicava que ele ia mesmo mudar de casa. Não não. De estado!

-Jess, você está aí? –perguntou Jú com um tom preocupado.

Tarde demais, as lágrimas já estavam rolando pelo meu rosto, e acabei desligando o telefone.

Fechei a porta correndo pra ninguém me ver naquele estado. Deitei na minha cama abraçando meu ursinho de pelúcia favorito, aquele que ganhei de minha melhor amiga a 5 anos atrás, antes dela morrer.

Eu não queria falar com ninguém, apenas ficar abraçada com o meu ursinho. Por mais que seja esquisito, ele me ajuda muito, acho que é pela pessoa que me deu.

-Por que as coisas nunca dão certo comigo, Chicken? –eu “perguntei” para ele, e em seguida abracei ele com muita força.

Depois de um longo tempo chorando, acabei me acalmando, e dormi. Sonhei que estava em um jardim com o Leo, e ele finalmente tinha se declarado pra mim. Mas eu acordei no melhor momento, e encarei a realidade.

Já que tinha acordado, acabei levantando, e comecei a me arrumar bem cedo. Fiz meu café, arrumei a mochila, e resolvi sair de casa logo, não queria ver ninguém. Aliás, não queria nem sair de casa.

Assim que cheguei, sentei no banco que fica no jardim, do outro lado da rua. Aproveitei para ler meu livro, já que tinha bastante tempo que não lia. Mas quem disse que eu consegui?

O Leo, chegou cedo também, e resolveu conversar comigo. Justamente agora, que ele está indo embora, ele resolve conversar comigo?

-Oi. –ele disse um pouco tímido, sentando do meu lado.

Eu tentei não me importar.

-Oi. –eu respondi não tirando os meus olhos do meu livro.

-Será que podemos conversar?

-Claro. –eu disse virando a página do meu livro.

-Eu estou falando sério.

-Eu estou ouvindo.

-Então ta. –ele puxou o meu livro e guardou dentro da mochila dele.

-Hey!

-Eu preciso mesmo conversar com você. Será que você não percebe?

-Tá bom. –eu olhei séria pra ele. –Fala.

-Bem, acho que agora você sabe a verdade né? Eu vou pra Minas Gerais…

Meus olhos encheram de água novamente. Não, eu não podia chorar na frente dele. Rapidamente, eu olhei para o chão.

-Por que está dizendo essas coisas agora?

-Então… –ele suspirou. –Eu não quero me mudar.

-Claro, você tem seus amigos aqui…

-Não é por isso. É que sabe… esse tempo todo, nós ficamos separados mas…

-FALA LEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEO! TUDO BOM? –chegou o Bruno, mais conhecido como o escândalo em pessoa.

-Er… Oi Bruno… –respondeu o Leo todo vermelho.

-Depois eu falo com você. –eu respondi e saí correndo, porque a Jú tinha acabado de chegar.