Os dois se entreolharam, o coração de ambos batia forte, Hanzo sentia uma vontade imensa de abraça-la, mas se conteve. Tentando disfarçar deu boas vindas:

— Harumi, é uma honra tê-la aqui.

Ao dizer isso fez reverência. Harumi deu um sorriso discreto e disse:

— Você é sempre cordial assim com os visitantes?

— Depende muito do visitante.

Os dois se entreolharam novamente Harumi sentiu o seu coração acelerar. Hanzo quebrou o silencio:

— Veio apenas me ver?

Harumi acordou de sua distração e colocou as pastas que tinha em mãos frente ao corpo e disse:

—Trouxe algumas coisas que a Sonya lhe mandou...

— Deve ser os planejamentos estratégicos que ela fez para o Shirai Ryu, certo?

Ela fez um sinal afirmativo com a cabeça. Hanzo a convidou para entrar e ela assentiu. Os dois foram para uma sala no andar superior. Harumi caminhava lentamente pelo corredor indo em direção a sala, olhava cada detalhe, os quadros expostos na parede, o modo em que os moveis estavam colocados e a arquitetura do palacete.

Hanzo caminhava ao lado de Harumi que não parava de olhar em volta. Ele perguntou:

— O que foi?

— É que você deixou da mesma forma que...

— Que você deixou da última vez?

Harumi fez uma pausa, o seu desejo de não tocar no passado não estava se cumprindo, ela sozinha com o seu ex-marido seria um desejo quase impossível de se realizar. Sentiu que não deveria ter falado aquilo, olhou para Hanzo e disse:

— Hanzo, eu vim aqui por motivos profissionais. Eu não queria falar sobre essas coisas, podemos apenas falar sobre o nosso trabalho.

Hanzo esboçou um sorriso e disse:

— Como quiser.

Mostrou a sala para Harumi e a mesma entrou junto com ele. Era uma pequena sala com uma grande mesa e algumas cadeiras em volta, era bem iluminada, sem necessidade do uso de luminárias durante o dia. Hanzo havia mandado fazer aquela sala para reuniões com as Forças Especiais. Harumi colocou as pastas sobre a mesa e perguntou:

— Você quer que eu explique alguma coisa, ou você entende a linguagem da general Blade?

— Eu queria que você me explicasse se não for pedir demais.

Harumi o olhou desconfiada, abriu as pastas com os papéis explicativos e abriu o mapa que ocupava quase a metade da mesa. Começou a explica-lo passo a passo quais as funções do Shiray Riu em cada ponto do mapa, onde deveria disponibilizar o ataque, a defesa e os olheiros. Ao terminar a explicação ela entregou os papéis nas mãos de Hanzo e disse:

— Qualquer dúvida pode ler esse manual, está bem explicado, ou ligue para um de nós das Forças Especiais.

Hanzo olhou firme para Harumi, sem jeito ela baixou a cabeça timidamente, ele segurou no queixo e levantou a cabeça dela devagar. Harumi segurou na mão de Hanzo e disse:

— Por favor, não...

A japonesa não terminou de falar, sentiu apenas os lábios de Hanzo encostando-se aos seus levemente. Harumi o afastou bruscamente e disse:

— Não, Hanzo. Depois de tudo o que você me fez...

— Por favor, dê-me uma chance para eu me explicar.

— Explicar o quê? Você vive com outra mulher agora, está prestes a casar com ela.

— Mas a mulher que eu amo é você.

— Se me amasse teria respeitado a promessa.

— Harumi, me entenda! Depois que recuperei a vida eu me dediquei à reconstrução do Shirai Ryu e a criação do Takeda. Fiquei sem mulher nenhuma por muito tempo... Daí a Tanya apareceu na minha vida... Foi inevitável.

Harumi baixou a cabeça com o olhar perdido, ele levemente levantou a cabeça dela e disse:

— Mas eu nunca te esqueci, Harumi.

Hanzo deixou algumas lágrimas caírem e continuou:

— Pensava em você todos os dias, mesmo eu estando com a Tanya. Eu ia à cripta para te visitar toda a semana...

— E por que você não me libertou de lá? Você pode manipular o fogo e derreteria aquele gelo em que eu e Satoshi estávamos presos. Tinha que ser um terceiro para fazer isso?

Hanzo respirou fundo e olhou para o teto. Depois disso disse:

— Eu tinha medo de trazer consequências graves. Sub zero se arriscou muito em fazer isso...

— Mas deu certo. Você matou o irmão dele e não pensou nas consequências, matou o Quan-chi e ignorou os riscos...

— Realmente me arrependo do segundo erro citado, mas o primeiro eu estou isento de culpa, eu era controlado por Quan-chi.

Harumi o contemplava e limpou algumas lágrimas do rosto de Hanzo e disse:

— Quase nunca vi você chorar.

Hanzo segurou as mãos de Harumi, se comoveu deixando as lágrimas caírem. Não conseguia falar, pois a comoção tomou conta, apenas sussurrava:

— Meu amor!

Harumi se comoveu também. Deu-lhe um beijo no rosto e o abraçou, ele disse em seu ouvido:

— Me perdoa, por favor!

A japonesa sentia-o ofegante, o afastou e disse:

— Mas preciso de outra explicação.

Hanzo revirou os olhos, limpou o rosto e perguntou:

— O que quer saber?

— Por que você fez tudo aquilo, apresentando a Tanya para a equipe... Só pra mostrar que estava tudo bem, que o que fiz com você não te afetou em nada?

— Harumi, mais uma vez te peço perdão pelo que fiz. Queria me sentir superior à dor, não sabe como a dor de te perder me consumia naquele momento. Já perdi tantas batalhas... Não queria me mostrar um perdedor, mas meu coração estava despedaçado. Eu nunca te esqueci.

Harumi foi até a janela e ficou olhando a paisagem, Hanzo foi se aproximando dela e sussurrou:

— Podemos nos reconciliar?

— E o que você fará com Tanya? Ela não aceitará isso fácil.

— Ela nem precisa saber que você veio aqui. Mas e você e o Liang?

Harumi virou para ele e disse um pouco tropeçando nas palavras:

— Acho que estamos em crise.

Os olhos de Hanzo brilharam, quis sorrir, mas se conteve. Depois de uma pausa ele disse:

— Eu preciso te mostrar uma coisa.

Hanzo a levou para o quarto onde ele dormia e ela observou cada detalhe, o modo em que estavam dispostos os móveis. Hanzo deixou conforme sempre Harumi gostava de deixar antes de acontecer toda a inevitável tragédia. A japonesa contemplava o quarto e lembranças vinham em sua mente, não pode evitar a comoção, Hanzo foi em direção a ela e a abraçou e Harumi retribuiu. Separaram-se do abraço e ela disse:

— Como eu senti sua falta...

Hanzo colocou as mãos nos lábios de Harumi e disse:

— Os seus olhos me dizem tudo.

Harumi e Hanzo selavam aquele momento com um beijo apaixonado. Eles esqueceram o mundo em que viviam e se entregaram àquele amor que há tantos anos estava guardado em cada coração. Aquele que era seu ex-marido e que de certa forma havia se tornado seu inimigo, naquele momento se tornara o seu esposo novamente, um amor que nunca fora rompido ali se consumia.

—---***----

Sub zero estava pensativo, não parava de pensar no que ocorrera naqueles últimos dias. Na folga do treino ele foi até um muro e se sentou e ficou com o olhar perdido. Sonya e Kitana estavam próximas, comiam algumas maçãs que estavam sobre uma bandeja. Sonya disse:

— Há tanto tempo que trabalho com Kuai e nunca o vi assim.

— É o amor, Sonya. Ele e Harumi não estão bem e pelo que vi Sub zero é louco por ela.

— Sim, mas Harumi está com o coração dividido. Entre Hanzo e Kuai.

— Será que foi uma boa você tê-la mandado para o Shirai Ryu? E logo agora?

— Você acha que pode rolar alguma coisa entre os dois lá?

— Sei lá. Mas vai saber. Só te digo que se rolar, o Kuai vai ficar mal pra caramba.

— Coitado, não consegue ter sorte no amor.

— Eu vou lá falar com ele.

Kitana pegou uma maçã e foi em direção a ele, sentou ao seu lado, ofereceu a maçã e disse:

— Para o meu querido professor!

Kuai olhou para o lado, sorriu e disse:

— Por que o termo professor?

— Você tem me ensinado vários golpes bons que eu não conhecia ou até não me lembrava.

Kuai pegou a maçã, beijou a mão da Kitana e disse:

— Você é muito dedicada e fico muito feliz por tê-la conosco.

— Estou muito feliz por estar com vocês também. Mas mudando de assunto, eu percebi que você está bem cabisbaixo... É por causa da Harumi, não é?

— Ai Kitana, acho que nunca deveria ter me envolvido com ela...

— Mas por quê?

— Olha aí. Dei abrigo, proteção, amei-a, cuidei do filho dela e olha o que ganho...

— Ah Kuai! Você tem que entende-la e outra, você não podia ter dado tudo isso a ela e esperar algo em troca. Você criou muitas expectativas, e você tem que ter paciência pra ela esquecer o Hanzo...

— Mas a Sonya não colabora, mandou a Harumi logo para a toca do lobo.

— Ela já te explicou isso.

Sub zero respirou fundo e olhou para o céu.

— Esqueça esse assunto, apenas por um momento.

Sonya acenava para eles voltarem, Kitana voltou a dizer:

— Vamos voltar, ela está nos chamando. E nada de ficar com essa carinha triste.

Sub zero sorriu se levantou e ajudou Kitana a se levantar e os dois voltaram para o treino. Por mais que Kuai tentasse esquecer, uma angustia invadiu lhe o peito, mas mesmo assim continuou o treino.

—---***----

Já passava das 18h, Harumi e Hanzo continuavam na cama dormindo. Harumi despertou primeiro, vendo na situação que estava olhou para a janela viu as estrelas no céu, lembrou-se de Kuai e se levantou com cuidado para não acordar Hanzo. Vestiu a roupa e estava quase para ir embora e Hanzo a chamou. Harumi disse:

— Não posso mais ficar aqui. Era para eu ter voltado já.

Hanzo pediu para que ela se sentasse na cama e ela assentiu, beijou os lábios da japonesa e disse:

— Não precisa contar a ninguém o que houve aqui.

Harumi respirou fundo e disse:

— Tenho que ir.

Saiu do quarto correndo e viu que alguns guardas e criados a olhavam com sorrisos. Harumi passou direto, chegando à porta do palacete viu Rain jogando no celular e o chamou. Rain virou e disse:

— Todos estão preocupados com você, daí a Sonya pediu para eu vir. Perguntei aos guardas e eles me disseram que você estava aí. Resolvi esperar aqui.

— E desde que horas você está aqui.

— Cheguei era uma 17h30min.

Harumi empalideceu, lembrou-se de tudo o que fez naquele dia e lembrou-se de Kuai, o medo tomou conta do seu coração e Harumi permaneceu calada. Rain se aproximou dela e perguntou:

— Está tudo bem?

— Sim... Por favor, me leve para casa.

Rain atendeu ao pedido da japonesa e se tele transportou junto com ela de volta ao Lin Kuei.

Ao chegarem ao Lin Kuei estavam a sua espera Jacqui, Sonya e Sub zero. Os dois surgiram do redemoinho de água, Sonya se aproximou de Harumi e perguntou:

— Menina, o que houve com você? Estávamos preocupados a sua espera.

Harumi olhou por trás de Sonya e viu Jacqui. Quando viu Sub zero seu rosto empalideceu, olhou para o lado, não conseguiu encará-lo. Sonya atônita perguntou:

— O que houve Harumi?

Harumi olhou para ela e disse:

— Não é nada, só preciso tomar um bom banho, essa viagem foi muito cansativa.

A japonesa saiu as pressas em direção ao seu quarto. Jacqui a acompanhou, Harumi ia batendo a porta na cara de Jacqui, mas esta impediu. Harumi disse:

— Por favor, me deixe sozinha!

Jacqui empurrou a porta, entrou no quarto e fechou a porta. Harumi insistia:

— Por favor, me deixe!

— Eu não posso sair daqui antes de saber o que houve. Olha como você chegou. Por que chegou com essa cara? Hanzo te machucou?

Harumi estava virada de costas para Jacqui, seus olhos estavam voltados para a janela, o berço estava vazio, pois Satoshi estava jantando. Harumi começou a chorar copiosamente, Jacqui amparou-a e disse:

— Está me deixando preocupada. Diga-me se ele te machucou.

— Ele não me machucou, Jacqui. Mas eu machuquei Sub zero.

Jacqui começou a compreender tudo. Harumi continuou.

— Eu trai o grão-mestre. Eu caí nas garras dos meus sentimentos, Jacqui.

Rain estava próximo à janela e ouviu toda a conversa e entendeu o motivo da demora de Harumi no Shirai Ryu.