Águas Passadas
capítulo doze
Os dois se entreolharam, o coração de ambos batia forte, Hanzo sentia uma vontade imensa de abraça-la, mas se conteve. Tentando disfarçar deu boas vindas:
— Harumi, é uma honra tê-la aqui.
Ao dizer isso fez reverência. Harumi deu um sorriso discreto e disse:
— Você é sempre cordial assim com os visitantes?
— Depende muito do visitante.
Os dois se entreolharam novamente Harumi sentiu o seu coração acelerar. Hanzo quebrou o silencio:
— Veio apenas me ver?
Harumi acordou de sua distração e colocou as pastas que tinha em mãos frente ao corpo e disse:
—Trouxe algumas coisas que a Sonya lhe mandou...
— Deve ser os planejamentos estratégicos que ela fez para o Shirai Ryu, certo?
Ela fez um sinal afirmativo com a cabeça. Hanzo a convidou para entrar e ela assentiu. Os dois foram para uma sala no andar superior. Harumi caminhava lentamente pelo corredor indo em direção a sala, olhava cada detalhe, os quadros expostos na parede, o modo em que os moveis estavam colocados e a arquitetura do palacete.
Hanzo caminhava ao lado de Harumi que não parava de olhar em volta. Ele perguntou:
— O que foi?
— É que você deixou da mesma forma que...
— Que você deixou da última vez?
Harumi fez uma pausa, o seu desejo de não tocar no passado não estava se cumprindo, ela sozinha com o seu ex-marido seria um desejo quase impossível de se realizar. Sentiu que não deveria ter falado aquilo, olhou para Hanzo e disse:
— Hanzo, eu vim aqui por motivos profissionais. Eu não queria falar sobre essas coisas, podemos apenas falar sobre o nosso trabalho.
Hanzo esboçou um sorriso e disse:
— Como quiser.
Mostrou a sala para Harumi e a mesma entrou junto com ele. Era uma pequena sala com uma grande mesa e algumas cadeiras em volta, era bem iluminada, sem necessidade do uso de luminárias durante o dia. Hanzo havia mandado fazer aquela sala para reuniões com as Forças Especiais. Harumi colocou as pastas sobre a mesa e perguntou:
— Você quer que eu explique alguma coisa, ou você entende a linguagem da general Blade?
— Eu queria que você me explicasse se não for pedir demais.
Harumi o olhou desconfiada, abriu as pastas com os papéis explicativos e abriu o mapa que ocupava quase a metade da mesa. Começou a explica-lo passo a passo quais as funções do Shiray Riu em cada ponto do mapa, onde deveria disponibilizar o ataque, a defesa e os olheiros. Ao terminar a explicação ela entregou os papéis nas mãos de Hanzo e disse:
— Qualquer dúvida pode ler esse manual, está bem explicado, ou ligue para um de nós das Forças Especiais.
Hanzo olhou firme para Harumi, sem jeito ela baixou a cabeça timidamente, ele segurou no queixo e levantou a cabeça dela devagar. Harumi segurou na mão de Hanzo e disse:
— Por favor, não...
A japonesa não terminou de falar, sentiu apenas os lábios de Hanzo encostando-se aos seus levemente. Harumi o afastou bruscamente e disse:
— Não, Hanzo. Depois de tudo o que você me fez...
— Por favor, dê-me uma chance para eu me explicar.
— Explicar o quê? Você vive com outra mulher agora, está prestes a casar com ela.
— Mas a mulher que eu amo é você.
— Se me amasse teria respeitado a promessa.
— Harumi, me entenda! Depois que recuperei a vida eu me dediquei à reconstrução do Shirai Ryu e a criação do Takeda. Fiquei sem mulher nenhuma por muito tempo... Daí a Tanya apareceu na minha vida... Foi inevitável.
Harumi baixou a cabeça com o olhar perdido, ele levemente levantou a cabeça dela e disse:
— Mas eu nunca te esqueci, Harumi.
Hanzo deixou algumas lágrimas caírem e continuou:
— Pensava em você todos os dias, mesmo eu estando com a Tanya. Eu ia à cripta para te visitar toda a semana...
— E por que você não me libertou de lá? Você pode manipular o fogo e derreteria aquele gelo em que eu e Satoshi estávamos presos. Tinha que ser um terceiro para fazer isso?
Hanzo respirou fundo e olhou para o teto. Depois disso disse:
— Eu tinha medo de trazer consequências graves. Sub zero se arriscou muito em fazer isso...
— Mas deu certo. Você matou o irmão dele e não pensou nas consequências, matou o Quan-chi e ignorou os riscos...
— Realmente me arrependo do segundo erro citado, mas o primeiro eu estou isento de culpa, eu era controlado por Quan-chi.
Harumi o contemplava e limpou algumas lágrimas do rosto de Hanzo e disse:
— Quase nunca vi você chorar.
Hanzo segurou as mãos de Harumi, se comoveu deixando as lágrimas caírem. Não conseguia falar, pois a comoção tomou conta, apenas sussurrava:
— Meu amor!
Harumi se comoveu também. Deu-lhe um beijo no rosto e o abraçou, ele disse em seu ouvido:
— Me perdoa, por favor!
A japonesa sentia-o ofegante, o afastou e disse:
— Mas preciso de outra explicação.
Hanzo revirou os olhos, limpou o rosto e perguntou:
— O que quer saber?
— Por que você fez tudo aquilo, apresentando a Tanya para a equipe... Só pra mostrar que estava tudo bem, que o que fiz com você não te afetou em nada?
— Harumi, mais uma vez te peço perdão pelo que fiz. Queria me sentir superior à dor, não sabe como a dor de te perder me consumia naquele momento. Já perdi tantas batalhas... Não queria me mostrar um perdedor, mas meu coração estava despedaçado. Eu nunca te esqueci.
Harumi foi até a janela e ficou olhando a paisagem, Hanzo foi se aproximando dela e sussurrou:
— Podemos nos reconciliar?
— E o que você fará com Tanya? Ela não aceitará isso fácil.
— Ela nem precisa saber que você veio aqui. Mas e você e o Liang?
Harumi virou para ele e disse um pouco tropeçando nas palavras:
— Acho que estamos em crise.
Os olhos de Hanzo brilharam, quis sorrir, mas se conteve. Depois de uma pausa ele disse:
— Eu preciso te mostrar uma coisa.
Hanzo a levou para o quarto onde ele dormia e ela observou cada detalhe, o modo em que estavam dispostos os móveis. Hanzo deixou conforme sempre Harumi gostava de deixar antes de acontecer toda a inevitável tragédia. A japonesa contemplava o quarto e lembranças vinham em sua mente, não pode evitar a comoção, Hanzo foi em direção a ela e a abraçou e Harumi retribuiu. Separaram-se do abraço e ela disse:
— Como eu senti sua falta...
Hanzo colocou as mãos nos lábios de Harumi e disse:
— Os seus olhos me dizem tudo.
Harumi e Hanzo selavam aquele momento com um beijo apaixonado. Eles esqueceram o mundo em que viviam e se entregaram àquele amor que há tantos anos estava guardado em cada coração. Aquele que era seu ex-marido e que de certa forma havia se tornado seu inimigo, naquele momento se tornara o seu esposo novamente, um amor que nunca fora rompido ali se consumia.
—---***----
Sub zero estava pensativo, não parava de pensar no que ocorrera naqueles últimos dias. Na folga do treino ele foi até um muro e se sentou e ficou com o olhar perdido. Sonya e Kitana estavam próximas, comiam algumas maçãs que estavam sobre uma bandeja. Sonya disse:
— Há tanto tempo que trabalho com Kuai e nunca o vi assim.
— É o amor, Sonya. Ele e Harumi não estão bem e pelo que vi Sub zero é louco por ela.
— Sim, mas Harumi está com o coração dividido. Entre Hanzo e Kuai.
— Será que foi uma boa você tê-la mandado para o Shirai Ryu? E logo agora?
— Você acha que pode rolar alguma coisa entre os dois lá?
— Sei lá. Mas vai saber. Só te digo que se rolar, o Kuai vai ficar mal pra caramba.
— Coitado, não consegue ter sorte no amor.
— Eu vou lá falar com ele.
Kitana pegou uma maçã e foi em direção a ele, sentou ao seu lado, ofereceu a maçã e disse:
— Para o meu querido professor!
Kuai olhou para o lado, sorriu e disse:
— Por que o termo professor?
— Você tem me ensinado vários golpes bons que eu não conhecia ou até não me lembrava.
Kuai pegou a maçã, beijou a mão da Kitana e disse:
— Você é muito dedicada e fico muito feliz por tê-la conosco.
— Estou muito feliz por estar com vocês também. Mas mudando de assunto, eu percebi que você está bem cabisbaixo... É por causa da Harumi, não é?
— Ai Kitana, acho que nunca deveria ter me envolvido com ela...
— Mas por quê?
— Olha aí. Dei abrigo, proteção, amei-a, cuidei do filho dela e olha o que ganho...
— Ah Kuai! Você tem que entende-la e outra, você não podia ter dado tudo isso a ela e esperar algo em troca. Você criou muitas expectativas, e você tem que ter paciência pra ela esquecer o Hanzo...
— Mas a Sonya não colabora, mandou a Harumi logo para a toca do lobo.
— Ela já te explicou isso.
Sub zero respirou fundo e olhou para o céu.
— Esqueça esse assunto, apenas por um momento.
Sonya acenava para eles voltarem, Kitana voltou a dizer:
— Vamos voltar, ela está nos chamando. E nada de ficar com essa carinha triste.
Sub zero sorriu se levantou e ajudou Kitana a se levantar e os dois voltaram para o treino. Por mais que Kuai tentasse esquecer, uma angustia invadiu lhe o peito, mas mesmo assim continuou o treino.
—---***----
Já passava das 18h, Harumi e Hanzo continuavam na cama dormindo. Harumi despertou primeiro, vendo na situação que estava olhou para a janela viu as estrelas no céu, lembrou-se de Kuai e se levantou com cuidado para não acordar Hanzo. Vestiu a roupa e estava quase para ir embora e Hanzo a chamou. Harumi disse:
— Não posso mais ficar aqui. Era para eu ter voltado já.
Hanzo pediu para que ela se sentasse na cama e ela assentiu, beijou os lábios da japonesa e disse:
— Não precisa contar a ninguém o que houve aqui.
Harumi respirou fundo e disse:
— Tenho que ir.
Saiu do quarto correndo e viu que alguns guardas e criados a olhavam com sorrisos. Harumi passou direto, chegando à porta do palacete viu Rain jogando no celular e o chamou. Rain virou e disse:
— Todos estão preocupados com você, daí a Sonya pediu para eu vir. Perguntei aos guardas e eles me disseram que você estava aí. Resolvi esperar aqui.
— E desde que horas você está aqui.
— Cheguei era uma 17h30min.
Harumi empalideceu, lembrou-se de tudo o que fez naquele dia e lembrou-se de Kuai, o medo tomou conta do seu coração e Harumi permaneceu calada. Rain se aproximou dela e perguntou:
— Está tudo bem?
— Sim... Por favor, me leve para casa.
Rain atendeu ao pedido da japonesa e se tele transportou junto com ela de volta ao Lin Kuei.
Ao chegarem ao Lin Kuei estavam a sua espera Jacqui, Sonya e Sub zero. Os dois surgiram do redemoinho de água, Sonya se aproximou de Harumi e perguntou:
— Menina, o que houve com você? Estávamos preocupados a sua espera.
Harumi olhou por trás de Sonya e viu Jacqui. Quando viu Sub zero seu rosto empalideceu, olhou para o lado, não conseguiu encará-lo. Sonya atônita perguntou:
— O que houve Harumi?
Harumi olhou para ela e disse:
— Não é nada, só preciso tomar um bom banho, essa viagem foi muito cansativa.
A japonesa saiu as pressas em direção ao seu quarto. Jacqui a acompanhou, Harumi ia batendo a porta na cara de Jacqui, mas esta impediu. Harumi disse:
— Por favor, me deixe sozinha!
Jacqui empurrou a porta, entrou no quarto e fechou a porta. Harumi insistia:
— Por favor, me deixe!
— Eu não posso sair daqui antes de saber o que houve. Olha como você chegou. Por que chegou com essa cara? Hanzo te machucou?
Harumi estava virada de costas para Jacqui, seus olhos estavam voltados para a janela, o berço estava vazio, pois Satoshi estava jantando. Harumi começou a chorar copiosamente, Jacqui amparou-a e disse:
— Está me deixando preocupada. Diga-me se ele te machucou.
— Ele não me machucou, Jacqui. Mas eu machuquei Sub zero.
Jacqui começou a compreender tudo. Harumi continuou.
— Eu trai o grão-mestre. Eu caí nas garras dos meus sentimentos, Jacqui.
Rain estava próximo à janela e ouviu toda a conversa e entendeu o motivo da demora de Harumi no Shirai Ryu.
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