Na velocidade que está e do jeito que está chacoalhando, parece até que a coisa que está me levando entrou em desespero.

Quando eu pensei que já era o meu fim, senti meu corpo virando, como se tivesse fazendo uma curva, e, em um piscar de olhos, eu fui jogava para cima e bati em terra firme... com oxigênio!

Escutei alguém tossindo. Eu estava na mesma situação, só que na verdade eu estava quase engasgando.

— Agh! Não gosto de água! — Escutei uma voz feminina.

Continuei deitada no chão. Não estava conseguindo levantar, nem abrir os olhos. Minha respiração ficou pesada.

De repente escutei alguns passos — parece estar com dificuldade — vindo em minha direção. Senti duas mãos sobre minha costela, me pressionando repetidas vezes, até sair a água que me engasgava.

Virei de barriga para o chão, me apoiando com os braços. Tossi um pouco e respirei fundo. Algo tinha segurado minha nuca.

— Relaxe...

Num instante no meu pescoço apareceu uma pequena dor, como se eu estivesse tomando uma injeção.

— Você está bem?

Reuni minha coragem e abri os olhos para poder saber quem é a dona da voz.

Uma... Ghast!

Sim, faz muito tempo que não vejo um, mas me lembro bem de como são. Bem braquelos, a maioria é bem magrelo também. Sempre usam roupas brancas — para representar a áurea sensível deles — e compridas — para esconder os tentáculos.

— Por que... — Pausei para puxar um pouco de ar pela boca — ... você fez issso?

— N-Não fui eu! Bem, resumindo o que aconteceu: você e seus dois amigos foram capturados por uns caras (mandados por alguém) que queriam testar uma experiência.

— Uma experiência? — Perguntei com um sussurro assustada, olhando para os lados. Estou com a sensação de que alguém está observando.

— Calma, nós estamos seguras aqui. Mas então, sim... são experiências para modificar os sentimentos das pessoas. Quando você estava lá dentro daquela sala, provavelmente você estava tendo alucinações ou algo do tipo, isso tudo serve para mexer na cabeça da gente...

Então quer dizer que o que eu "presenciei" era tudo ilusão...? Fico até um pouco aliviada ao saber isso...

— Parece meio idiota querer mudar o sentimentos dos mobs, mas na verdade é bem sério.Chega a ser desumano.

— ... Desumano? Issso quer dizer que... — Não consegui terminar a frase. A Ghast assentiu.

— Os humanos estão fazendo isso — Ela suspirou. — Mas não precisa se preocupar, existe o MPM.

— MPM? — Perguntei. Acho que já escutei isso antes... Alguém da minha família já me falou isso quando eu era mais nova, eu acho...

— "Mobs protegendo mobs". O nome está bem ruim, mas o que vale é a intenção, heh — Ela coçou a cabeça. — O grupo está ganhando força bem rápido.

— Ah, entendi... — Esfreguei os meus olhos que ainda estavam encharcados de água e pisquei repetidas vezes.

— Bem, eu me chamo Ayame, e você? — Ela sorriu.

— Me chamo Cupa... — Olhei melhor para ela. Tem a aparência de ter uns vinte e poucos anos. — Essspera... cadê a Ender e o Creeper?

— Dois parceiros meus estão resgatando eles, não se preocupe.

"Parceiros". Virei a cabeça para o lado, para demonstrar dúvida.

— Ah, é que nós somos da MPM — Ela sorriu. — Só assim eu saberia tanto dessas paradas.

— Hm... Eu tenho uma pergunta.

— Depende do que seja.

— Bem... Pra que os humanos estão fazendo isso?

— Ah... é informação sigilosa. Só os membros do movimento podem saber. Isso é por questão de segurança mesmo. Nós queremos que menos mobs saibam disso, porque se não vai ficar todo mundo com medo, como ocorreu a tempos atrás...

— Quê? — Franzi a testa.

— Ah! Nada, nada. Informação sigilosa — A Ghast abanou a cabeça. — Já que "aconteceu com você", eu achei justo pelo menos te contar o básico do que está acontecendo.

Cruzei os braços e levantei as sobrancelhas. Essa coisa de segredo é uma idiotice! Eu deveria poder saber. Eu quase morri (de novo), poxa!

— Bem... — A branquela me olhou de soslaio e inflou as bochechas — tem um jeito de você saber o que você quiser...

— Como? — Quase saltei em cima dela. Só não fiz isso, porque ainda estou meio sem energia do "resgate".

— Você pode pedir um recrutamento para a MPM! Tcharans. — Ela abriu os braços e balançou as mãos. Só faltava soltar os confetes.

— Essstão mendingando participadoress? — Juntei o dedão com o dedo indicador e balancei a mão.

— Não é isso... — Ela fez uma carinha de lobo triste. — É sempre bom ter novos mobs para ajudar.

— Pensei que fossse um "grupo sssecreto" que sssó oss esscolhidoss por Jeb podem entrar — Fiz uma cara sarcástica.

— Ér... para entrar tem umas regrinhas... mas não é nada demais. Pensa só, se você entrar, vai poder saber o que quiser e ainda vai ganhar umas armas boladas — A Ghast tocou o cotovelo dela na minha costela algumas vezes. — O que me diz agora, hein?

— Esstá bem... o que precisa para entrar?

— A primeira coisa é...

De repente surgiu um estrondo. Um pedaço de parede de pedra saiu voando, formando um buraco. De lá saíram dois Endermans... familiares.

— Chegamos.

— Putz, finalmente. — A Ghast bufou.

— Sair daquele "necrotério" pela terra é pior do que pela água. — O Enderman continuou com uma reação de indiferença. São... os Endermans que estavam com a bruxa! É melhor eu não comentar nada agora.

De trás daquelas duas criaturas, apareceu o Creeper, que estava tremendo, e a Ender, que está meio séria. A Ghast disse que aquilo era experiências que mexem com o sentimento dos montros, né? Me pergunto o que eles viram...

Fitei a Ender e... percebi algo bem curioso. Os outros dois Endermans são mais altos do que ela e parecem bem mais assustadores. Além dela ter uma aparencia bem mais dócil... Deve ser porque ela é mais nova, talvez...

— Bem! Vamos levar os reféns a salvo pra casa — A Ayame apareceu do nada.

— Não brinque com isso — Cochichei.

Depois de a Ender explicar aonde nós estávamos antes de ser atacados — já que o Creeper e eu somos tão perdidos quanto o Zazu — os três "salvadores" nos levaram para de volta à vilazinha.

Conseguimos encontrar o Spider, o Zombie e a Shadow conversando com um zumbi em frente a uma casa qualquer. Antes de chegarmos lá, o Enderman deu um último alerta.

— Lembrem-se de não contar nada a ninguém sobre o que ocorreu aqui. Não queremos que muitos cidadãos saibam disso, entenderam? — Falou de um jeito amedrontador. Assentimos para não ter nenhum problema com esse cara.

— Nós vamos verificar a área para ter certeza de que foram embora — Avisou a Enderman (ou seria Enderwoman?), então sumiu.

— Até mais! — A Ghast acenou.

A Ender e o Creeper voltaram a andar em direção à casa e a Ayame estava pronta para dar um impulso para sair voando, quando eu segurei o pulso da mesma.

— Ayame, essspera! — Falei.

— Que foi?

— Qual sssão ass regrass para entrar no MPM? Você não falou... — Soltei ela.

— Ah, sim! Eu acabei não te falando. São três regras básicas. — Ela ficou com uma postura reta e levantou o dedo indicador para cima — Dedicar-se totalmente ao grupo; Não ter medo de arriscar a sua vida; Ser solteiro e não ter filhos;

— Como assim... ser solteiro e não ter filhos?

— Não queremos que pais de famílias entrem em combates. O grupo é exatamente para proteger os mobs e as famílias! Não teria sentido se um cara com família abandonasse a própria família para sair por aí, sem saber se um dia irá voltar. Os humanos que fazem isso.

— ...

— E aí, qual é a sua resposta?

Continuei muda. Responder isso é bem difícil. Eu nunca fui uma pessoa que sai por aí lutando e salvando os outros, mas... por que não? Eu poderia tentar...

— Hm... Quer responder depois? — A Ghast sugeriu. — Pensa um pouco e depois me fala. Eu vou ficar por aqui mesmo, fazendo escolta. Porém eu vou embora em breve. Se quiser entrar, me procura perto da cachoeira de lava, à meia noite de amanhã. Se não quiser, não precisa nem aparecer, eu já vou ter entendido. Beleza?

— Esstá bem.

— Fui. — Ela deu um pulo bem alto e saiu voando.

As pessoas em volta ficavam assustados com ela, já que não é normal que os Ghasts fiquem perambulando por aí à toa, a menos que algo tenha acontecido.

Encontrei meus amigos em frente àquela casa.

— Eu ainda não entendi... O que aconteceu? Por que não quer explicar? — Perguntou o Spider, o único que parecia estar preocupado.

— Estamos bem, já disse que não precisa se preocupar. — A Ender pronunciou calmamente, com um sorriso.

— Ender... — Cochichei puxando a manga dela e levando ela para um pouco longe.

— Que foi?

— Eless te contaram sobre o MPM? — Perguntei.

— Sim. Um deles até me chamou para entrar nisso. Mas, por quê?

— É que... eu estava pensando... Sserá que... nóss não poderíamos entrar nele?

— Eu... sinceramente não quero. — Ela olhou para o lado.

— Como assssim? — Tomei um susto.

— Não quero deixar os outros sozinhos.

— Ué, nóss podemos chamar os outrosss — Sugeri.

— Vocês vão acabar se arriscando suas vidas. Não posso deixar que isso aconteça.

— Mas-

— Cupa — Ela pausou e deu um longo suspiro. — Não. Entenda, por favor. Além do mais, as regras para entrar são claras.

— ... Como assim? Você acha que nós não iríamos nos dedicar no movimento?

— Não é essa parte.

— Então é qual? — Perguntei sem paciência.

— De arriscar a vida, como eu já havia falado e de não ter família. — Ela respondeu, olhanado diretamente para mim.

— Ahm?

— O Zazu vai se casar.