POV's Ender

Será... será que ele viu o meu irmão?

— E você chegou a falar com ele? — Perguntei.

— Sim.

Eu até que poderia perguntar sobre o que eles falaram, mas talvez não lembre e também o Humano pode estranhar que eu queira saber tanto à respeito daquele Enderman.

— Aliás... Como que você consegue falar com mobs? — Perguntei, mudando de assunto.

— Bem... diferente dos outros humanos, eu não tento correr nem atacar os mobs, eu tento escutá-los.

— Ah... — Olhei para baixo.

— Olha a hora! Tenho que ir. Foi bom conhecer você, senhorita Enderman.

Olhei para a frente. Ele já estava recolhendo suas coisas.

Virei-me e fingi ir embora, mas voltei e segui de longe o humano. Eu tenho que saber se ele sabe mais alguma coisa sobre esse Enderman!

O Humano seguiu o caminho todo sem virar para trás. Cruzamos o resto da floresta e uma serra. Ele entrou em uma caverna e eu fui atrás, mas antes olhei em volta para me localizar.

Segui o Humano sem fazer barulho por algum tempo. Estava descendo bastante e ficava cada vez mais escuro, porém o Humano usava uma tocha. Era bem estranho, porque quando aparecia algum mob, ele recuava e ia embora correndo...

Parei para observar um cubo de diamante por alguns segundos, até que percebo que eu não enxergava mais a luz da tocha do Humano. Raios! Ele sumiu do nada.

Continuei andando, iluminando o caminho com minhas auras, até que eu piso em algo e escorrego, caindo bem no chão com algumas teias de aranha e restos de ossos.

Bati na minha roupa para tirar a sujeira e peguei a coisa que me fez cair no chão. Um tubo? O que será isso? É um tubo laranja meio amarelado que brilha, nunca vi algo parecido com isso antes.

Guardei aquele item dentro do meu casaco — já que não tinha mais espaço nos bolsos por causa das laranjas — e levantei-me. Pode ser que esse treco sirva para algo.

Percebi um reflexo de luz roxa nas paredes (não era as minhas auras) e corri até lá. Será que é um Enderman? Mas cada vez que chegava mais perto, eu escutava vozes gritando e terríveis sons. Deparei-me com pedras escuras (que são familiares) fazendo um tipo de porta, só que bem maior do que uma porta comum, e no meio tem um tipo de barreira roxa, que fica em constante movimento.

Esse negócio se parece com o que o meu tio falava antigamente. Ele o chamava de portal para o submundo... Meus pais não deixavam ele falar disso comigo, porém, quando eles faleceram, meu tio ofereceu abrigo (fiquei somente alguns dias na residência dele). Ele falava de suas aventuras e sobre uma espécie de Ghast, à qual se apaixonou. Meu tio morreu diagnosticado como doente mental pelo médico e considerado um louco pela a família. Mesmo com tudo isso, eu acreditava em cada palavra dele, e agora vejo que é tudo real.

Cheguei mais perto daquele portal. De repente ele fez um barulho diferente e apareceu alguém. Tapei a boca com as mãos e dei um passo grande para trás.

— O que está fazendo aqui, garota? — Falou aquele... bem, não sei exatamente que espécie é.

Tirei a mão do rosto. Esse mob parece ser bem grosseiro. Ele tem em volta dele vários daquele tubo que eu encontrei no chão.

— Tem alguma regra que proíbe eu estar aqui? — Falei friamente cruzando os braços.

— Olha só, eu... — Ele ia falar algo, mas o portal fez outro barulho e surgiu uma garota com um vestido branco, cabelo branco e olhos vermelhos. Ela é semelhante o que o meu tio falava sobre os Ghasts.

— Eu não acho que... — E logo a garota parou, quando me olhou.

— Quem é você? — Perguntou o outro. – Algum tipo de mob que cresceu demais? Ou foi enfeitiçado por alguém?

Não respondi nada, somente fiquei observando-o. A garota que estava ao seu lado também não era tão pequena assim.

— Eu já ouvi falar sobre mobs assim, acho que é uma Enderman. — Falou a Ghast.

— "Enderman"? Nunca ouvi falar, é uma espécie em extinção? — Perguntou ele rindo.

Botei a mão na testa, suspirando.

— Quem são vocês? — Perguntei. Tenho que saber algo sobre eles.

— Hum... Acho que não é da sua conta. Que pena. — Falou ele com um tom que me tirou do sério.

— N-Não liga não, ele é assim mes... — Àquela Ghast foi falar algo, mas uma voz a interrompeu.

— Ele é um Blaze e ela é uma Ghast. — Me virei e vi uma esqueleto.

— Agh, você de novo. — Resmungou o tal Blaze.

— Como se eu gostasse de ver a sua cara — Reagiu a esqueleto.

— E-Eu não gosto daqui! Vou embora. — A Ghast falou por fim antes de entrar no portal e sumir.

Nesse meio tempo, percebi que a esqueleto tirou um arco das costas e pegou uma flecha.

— É melhor você ir embora se não quiser ter uma flecha no meio da cabeça. — Falou ela, já apontando o arco para ele.

— Das últimas vezes você pode até ter ganhado, mas agora vai ser diferente. — O Blaze falou com um sorriso no rosto e logo foi mexer o braço para pegar algo.

A arqueira atirou a flecha (já pegando outra flecha para posicionar no arco), mas o Blaze esquivou e puxou um frasco. Ela atirou outra flecha, mas novamente errou. O Blaze foi jogar o frasco no chão, mas eu me teletransportei para trás. Vi que a arqueira cambaleou e caiu.

Eu vou fazer alguma coisa, não posso ficar só assistindo isso. Me teleportei para trás da esqueleto e segurei ela.

— Não se intrometa nisso! — Exclamou ele.

— Não dá, já me intrometi. — Então me teletransportei para bem longe junto com àquela moça.

Deixei ela encostada na parede. A mesma botou a mão na cabeça.

— Ai... — Ela olhou para mim. — Por que me ajudou?

— Eu não sei... Aquele Blaze parecia ser bem problemático... — Respondi.

Ela riu e esfregou os olhos.

— Eu me chamo Kelly, e você?

— Pode me chamar de Ender. Meu pai era "das antigas" e não me botou nome.

— Ah, saquei. Bem, Ender, nós temos que achar o Blaze e botar ele lá no portal, ok?

— Ok, mas... O que ele quer aqui? — Perguntei.

— Você é curiosa, hein? — Riu de brincadeira. — Mas tudo bem, tento explicar. — Ela fez uma pausa e ficou com cara de quem está pensando. — Ér... Eu não sei direito o que ele quer, mas aquele cara tinha chegado todo metido com o nariz empinado que me irritou tanto que eu expulso ele toda vez que eu o vejo. — Ela fez uma cara boba e sorriu.

— Ah, entendi. Então vamos atrás dele!

— Isso!

Eu ajudei a Kelly a se levantar, porque ela ainda estava meio tonta, e fomos procurar o Blaze.

Escutamos alguns passos e resmungos.

— Acho que é ele. — Deduzi cochichando.

— Tem a cara dele. — Cochichou a Kelly.

Ela pegou o arco e foi atrás do barulho. Eu a segui. Nos deparamos com aquele cara de quatro no chão. A Kelly começou a rir e eu olhei para o lado para não ficar observando aquilo.

— E-Ei! — Acho que ele se assustou com as gargalhadas que surgiram do nada.

Ele se levantou rápido e se recompôs. Virei o rosto para ele.

— Para a informação de vocês, eu estava somente procurando algo do chão que eu perdi na minha última vinda para esta possilda.

— Quanta formalidade, sinhô. — Kelly zombou ele com uma voz engraçada.

Eu ri, mas do nada eu parei.

— Isso deu medo — Falou baixo a Kelly, mas eu escutei.

Como assim... ele perdeu algo? Será que é aquela coisa que eu vi no chão? Hum...

— O que você perdeu? — Dei um passo para frente.

— Eu não vou te falar. — Ele se virou e começou a andar. Eu cheguei perto das costas dele.

— O que você vai fazer...? — Sussurrou a Kelly, chegando perto de mim.

Segui o Blaze e peguei delicadamente, mas rapidamente, um daqueles tubos brilhantes que ficam em volta dele. Botei meus braços para trás.

— O que vocês estão fazendo? — Perguntou o Blaze, se virando para trás.

— O que você perdeu seria isso? — Mostrei a minha mão.

— Como você... cof, eu não sei o que é isso.

— Sério? Então não tem problema se eu quebrar ele ao meio, né? – Provoquei.

— ... Não tem problema não... — A voz do Blaze estava trêmula.

— Deixa que eu te ajudo, Ender. — Kelly dizia com um sorriso no rosto. —Você segura esta parte, que eu seguro a outra. Vamos lá... três, dois, um... e...

— PAREM! — Gritou o Blaze. — Tá bom, era isso que eu estava procurando. Agora me devolvam.

Ele foi pegar, mas eu estiquei o braço e botei no alto.

— Que pena, baixo demais.

— Então tá... — Ele... começou a flutuar?

O Blaze pegou da minha mão e saiu correndo... ou melhor, voando. Eu fui me teletransportando e me joguei na frente dele. Nós dois caímos no chão, mas eu peguei aquele tubo e saí correndo. Vi umas bolas de fogo passando pela minha frente, mas dobrei para esquerda. Ele provavelmente me seguiu. Comecei a me teletransportar, mas acabei presa em um lugar sem saída. Vi o Blaze voando para minha direção.

— Ora, ora, ora. O que te... — Não esperei ele terminar de falar, já saquei a minha espada. — AH! Tenha a decência de deixar eu terminar a frase! — Ele começou a jogar bolas de fogo em mim, eu tentava rebater ao máximo, mas uma atingiu meu braço esquerdo. — Puf, puf, você... você não é... tão boa assim.

— Falou o cara que está quase caindo no chão.

— Eu só estou... sem fôlego. Eu gasto muita energia para criar bolas de fogo, ainda mais aqui na Terra.

— Ah, entendi. Mas eu continuo com essa sua coisa brilhante.

— Isso se chama Blaze Rod, pare de chamar de "coisa" ou "treco".

— Está bem, está bem. — Sentei-me no chão e guardei a espada dentro do casaco. — Vou te dar uns minutinhos para você descansar.

— Eu não preciso disso. — Ele reclamou e eu ri de um jeito cínico.

— Senta aí, você está cansado. Aproveita isso para você ter alguma chance contra mim. — Lancei um olhar desafiador.

— Huunf. — Então ele se sentou.

Ficamos alguns minutos sentados um longe do outro para descansar, até que...

— CHEGUEI! — Gritou a Kelly. — Poxa vocês nem me esperaram. — Ela fez uma cara triste e veio até mim. — Caramba, o que aconteceu com o seu braço?

— Ah, nada demais, só está sangrando um pouco.

— Sua manga ficou toda rasgada.

— Fazer o quê. — Dei de ombros.

— Cara, como você consegue ficar calma? — Perguntou a Kelly.

— Hey, a conversa está boa, mas eu quero o meu Blaze Rod de volta. — O Blaze se intrometeu.

— Eu te dou se você ir embora.

— Hum...está bem.

Me levantei e estendi o braço para o Blaze, junto com um sorriso. Ele me olhou com graça e subiu sem minha ajuda.

— Você é boazinha demais. — Falou ele, já começando a andar.

— Nem tanto... — Susurrei para mim mesma, lembrando das coisas terríveis que eu já cometi.

Chegamos no portal, que ainda fazia aqueles sons horríveis.

— Como prometido, aqui está. — Joguei a Blaze Rod para ele.

Ele se desequilibrou todo para conseguir pegar o tubo, quase deixou cair no chão. Mas logo se reconstruiu e empinou o nariz novamente.

— Adeus... eu espero. — Ele falou por fim antes de entrar no portal.

— Então... como você sabia que ele tinha perdido o Blaze Rod?

— Antes de encontrar vocês, eu tinha escorregado naquele negócio e deduzi que ele tinha perdido.

— Ah... entendi.

— E está aqui! — Tirei o Blaze Rod do casaco. A Kelly riu. — Toma, assim você pode tirar ele daqui da próxima vez que aparecer.

— Obrigada! Ér... Ender, você já vai?

— Sim, eu moro longe e... eu saí sem avisar para ninguém.

— Tudo bem... mas você vai sair com o braço assim?

— Eu dou um jeito. — Abri até a metade do zíper do casaco, peguei a espada, tirei o braço machucado da manga, cortei a manga fora e botei o casaco de volta. Guardei a espada.

— Não era exatamente isso que eu estava pensando... — Falou ela.

Botei o pano em volta do meu braço.

— Você pode dar um nó? — Perguntei.

— Tá... mas eu tenho os curativos alí aonde eu moro...

— Tudo bem, eu sou das antigas que nem o meu pai. — Sorri. Ela sorriu também e fez um nó.

— Até mais, Ender! Venha me visitar quando quiser. Eu moro nessa área, depois do portal, você caminha para frente, vira a esquerda, depois a esquerda de novo, depois dece e vai para a direita. Minha casa é a terceira.

— Ok, eu venho te visitar! Até! — Sorri.

Saí de lá e subi a serra. Parei para ver aonde eu tinha que ir. Passei pela floresta escura e achei o morro da árvore grande no topo. Peguei uma laranja e a cortei. Comi a fruta e deixei a casca perto do tronco, para virar adubo.

Olhei adiante e vi que já não nevava aonde meus amigos estão, está somente um fino lençol de neve. Passei pelo vale e por mais uma floresta. Cheguei na caverna e vi que estavam todos dormindo, menos a Cupa.