Meu medo, Clementina, é esse negócio de intimidade.

Que pavor, Clementina. Imagine alguém capaz de invadir esse mundo particular que criei dentro de mim, que atravesse essa imagem reluzente e cheia de luz que projetei para fora e fiz da minha casca. Que pavor imaginar descobrirem que não sou tão boa assim…

Eu preciso. Preciso disso, Clementina. Se não acreditarem nessa minha incrível e magnífica casca, como, então, serei eu capaz de acreditar nela? E, se eu não acreditar nela, como serei capaz de aceitar o amor dos outros? Você está enganada… Não, eu não acho que o amor precise de justificativas. Mas, talvez, eu só acredite que não sou digna desse amor sem interesses. Não me parece sensato. Eu enquanto eu, sou apenas eu. Não me parece uma decisão lógica alguém amar esse eu desprovido de qualidades; esse eu cheio de mazelas e, ao mesmo tempo, esse eu tão ordinário, tão irrelevante.

Por isso preciso ser boa, Clementina. Não na essência da palavra, mas preciso ser capaz de manter intacta a couraça que construí e construo.

Por isso a intimidade é um problema — ela me faz lembrar que eu sou eu. E esse, minha cara amiga, talvez seja o meu maior medo.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.