love.

Chapter 37: Sorry


♪ I'm sorry I'm bad, I'm sorry you're blue
I'm sorry 'bout all the things I said to you
And I know I can't take it back

"O perdão não muda o passado, mas amplia o futuro.

— Magali. Jul16

Os alunos estavam na estrada, e Magali observava Cascão ser colocado na ambulância. Ela tinha as duas mãos sobre a boca, seus olhos encharcados e vermelhos. Marina estava ao seu lado, acariciando o seu ombro e dizendo que tudo ia ficar bem.

Quando estavam prestes a fechar a porta do carro, Magali foi até o professor, pedindo pra ir com Cascão. Cebola e Mônica foram um dos que também se voluntariou para acompanhar o amigo. O professor cedeu e deixou que os três fossem com o sujinho.

— Qualquer coisa me liga tá? Eu me encargo de levar suas coisas – disse Marina ao se despedir da amiga. A comilona assentiu, e entrou dentro da ambulância.

O resto dos alunos foram levados de volta para o acampamento para poder guardar as barracas e esperar pelo ônibus que os levariam de volta para o Bairro do Limoeiro. O acampamento escolar tinha uma semana de duração, mas devido ao acidente de Cascão, eles tiveram que mudar os planos. A maioria estava contente de poder voltar pra casa, outros nem tanto. Como Julia, que ficou chateada de ter que dar adeus a seu novo amigo Do Contra.

— Confesso que vou sentir sua falta, moreno. – Ela disse, começando a ajuda-lo com a barraca.

— É, foi bom enquanto durou.

— Por que você não me passa seu número? Eu vou adorar ter uma desculpa para ir no Bairro do Limoeiro – brincou a ruiva.

Do Contra sorriu, mas continuou com o que fazia.

— Uma pena ter acontecido esse incidente – Julia largou o que tinha nas mãos e foi até o garoto, colocando os braços ao redor de seu pescoço. – Estava contando em terminar essas férias de outra forma. Quer dizer... se você quiser ainda dá tempo.

— Julia... para com isso...

— O que foi?

— Olha só – ele se afastou dos braços da ruiva. – Você é linda, mas eu realmente não tô com cabeça pra isso agora. Meu amigo acabou de ir pro hospital.

— Sei... é por isso mesmo ou tem alguma outra coisa?

— Não tem outra coisa. Olha lá o Xaveco precisando de ajuda! – disse o moreno apontando para o loiro. Julia então não teve escolha e foi ajuda-lo.

— Cê tá legal Julia? – perguntou Marina que estava ao lado de Xaveco, quando a garota se aproximou e começou a desmontar a barraca com irritação.

— Eu deveria saber que seu amigo era gay.

— Quem? O Do Contra? – perguntou Xaveco.

— Quem mais?

Xaveco e a desenhista não conseguiu deixar de soltar uma boa gargalhada. Julia ficou sem entender o motivo da graça.

— O DC, gay?

— Claro. Desde que vocês chegaram eu tento jogar meu charme, mas ele nunca repara. Até quando eu fingi que tínhamos nos perdido para ficarmos sozinhos, mas nada. Se ele não é gay, é muito lerdo.

— Nem uma coisa nem outra querida – disse Marina, sorrindo. – Você só não é o tipo dele. É tão difícil assim levar um fora de um garoto bonito?

Julia abriu a boca, ofendida, e Xaveco tomou a vez.

— Do DC eu não sei, mas eu sei que você faz bastante o meu tipo. E como faz.

— Sai pra lá garoto.

[...♥...]

Sentada na sala de espera, Magali ainda chorava em silêncio. Os pais do sujinho já tinham chegado ao hospital e agora estavam conversando com os médicos. Cascão deveria ficar em repouso por algumas horas.

Cebola e Mônica estavam em pé encostados perto da janela. Eles não tinham conversado em momento algum durante a viagem de volta para o Limoeiro. O clima estava pesado, principalmente ali, onde ninguém tinha notícias de como estava o sujinho. Mônica as vezes observava Magali, que estava em um estado inconsolável. De alguma forma ela se sentia culpada. Se tivesse ficado vigiando o Cascão como tinha prometido pra si mesma, nada disso teria acontecendo.

— Que barra... – disse Cebola de repente. – Já é a segunda vez que o Cascão vem parar no hospital.

— Pois é... não sei quando esse pesadelo vai acabar.

— Nunca imaginei que fosse passar por isso... te juro que preferia estar no lugar dele.

— Não fala bobagem, Cebola. O Cascão é forte.

— Eu sei, mas mesmo assim... é incrível como essas coisas podem acontecer com qualquer um, do nada. Em um dia o Cascão estava por aí, saudável, outro está em uma cama de hospital com diabetes.

— O importante agora é mostrar que estamos do lado dele, e que ele não está sozinho.

— É... bom, eu vou comer alguma coisa. Não comi nada desde que saímos do acampamento. Você quer alguma coisa?

— Não, valeu... eu já avisei os meus pais e eles estão chegando.

— Ok, não vou demorar.

Cebola saiu, e as duas agora estavam sozinhas na sala de espera.

— A culpa não é sua – disse Mônica como se tivesse adivinhando seus pensamentos.

Magali levantou a cabeça lentamente e olhou para Mônica. Seus olhos extremamente vermelhos.

— Que?

— O que aconteceu com o Cascão hoje, não foi sua culpa.

Magali fungou e limpou as lagrimas com o lenço de papel que tinha nas mãos.

— Você não precisa se punir por ele estar passando por isso. Só vai fazer com que você se sinta pior.

— E desde quando você se importa como eu me sinto? – Magali se arriscou a dizer. Ela não entendia o motivo de Mônica estar tentando lhe consolar.

— Desde sempre, Magali. Nossa briga não tem a ver com o Cascão. Eu sei muito bem o que você está fazendo... e mesmo não achando certo... eu sei que você tem boas intenções.

— Eu... eu deveria ter ficado com ele... – Magali voltou a chorar. Dessa vez Mônica se levantou do seu lugar e se sentou ao lado da comilona.

— Você não tinha como adivinhar, ninguém tinha como. Não é certo você se culpar pelos erros dele.

— Eu prometi que ia cuidar dele, Mônica. Fui eu quem...

Os pais de Cascão a interrompeu quando entraram na sala.

— O Cascão já está melhor – disse Seu Antenor.

Mônica e Magali soltaram um ar de alívio e a comilona se levantou.

— Eu posso ver ele?

— Mais tarde, minha querida. Ele precisa descansar umas horas. Vocês podem aparecer aqui mais tarde.

— Mas, é rapidinho...

— Magali, eles estão certos. Além do mais precisamos trocar de roupa. – disse Mônica.

Magali queria insistir mais uma vez, mas concedeu.

Dona Lurdes e Seu Antenor voltaram para o quarto do filho.

— Eu liguei pros meus pais, eles já estão me esperando lá em baixo. O Cebola também vai comigo, quer uma carona pra casa?

— Não... eu vou esperar pelos meus – ela respondeu sorrindo fraco.

— Tudo bem, então.

— Er... Mônica – Magali a chamou antes que ela saísse. – Obrigada.

— Por?

— Por... por ter vindo.

— Eu também sou amiga do Cascão, lembra? – disse sorrindo.

— É, eu sei.

Mônica então se virou e foi em direção a saída. Magali respirou fundo, e andou até a janela. Seu choro já estava controlado, e pela primeira vez aquele dia ela se sentiu bem. Ela sentia que Mônica estava se aproximando de alguma forma, porém não queria criar esperanças. Talvez Mônica só tivesse fazendo aquilo por solidariedade. Pelo motivo que fosse, Magali se sentiu feliz.

[...♥...]

Depois de tomar um banho, e comer alguma coisa, Magali voltou ao hospital durante a noite como prometido. Todos os alunos já haviam chegado no Bairro, e alguns deles foram visitar o sujinho também.

Sorte que quando Magali chegou, todos já haviam ido embora, então ela ficou sozinha com o namorado no quarto. Ele ainda estava dormindo, tinha acordado algumas vezes, mas ela não estava presente. Só de vê-lo novamente naquele hospital, sua garganta deu um nó, e a vontade de chorar voltou.

Ela se sentou ao seu lado e segurou sua mão. As lagrimas caíram uma por uma.

— Desculpa, Cas... desculpa por ter te deixado sozinha naquele acampamento. Eu juro que se eu soubesse... – ela fungou algumas vezes, antes de continuar. – A partir de agora não vou sair mais do seu lado. Você vai cansar de tanto que vai me ver – ela riu pra si, torcendo pra que ele estivesse escutando.

Mal sabia ela que eles não eram os únicos dentro do quarto. Na porta, havia alguém que lhe observava.

Do Contra.

O moreno tinha ido visitar o sujinho aquela noite, coincidentemente no mesmo horário que Magali. Mônica chegou logo depois, e viu quando Do Contra entrou no quarto do amigo.

Ela tocou suavemente em seu ombro, e o moreno se assustou. Fechando a porta.

— Er...Oi Mô.

— Oi DC. Veio ver o Cascão?

— É, mas... a Magali já está lá dentro... não quero atrapalhar. Só queria saber se ele está melhor.

— Sim, os médicos disseram que ele já vai poder voltar pra casa amanhã. Foi só um susto.

— Ah, que bom... fico aliviado. Eu vou nessa, então.

— Mas já? Não quer entrar?

— Não, não precisa. Eu preciso ir, tenho encontro com os caras do skate. Manda melhoras quando ele acordar.

Mônica não entendeu a pressa, mas assentiu. Do Contra foi embora e ela entrou no quarto onde estava Magali, dessa vez mais calma.

— Como ele tá?

Magali sorriu a ver a dentuça.

— Dormindo ainda. Dona Lurdes disse que ele talvez não acorde hoje, só amanhã.

— E você?

— Eu? – ela perguntou surpresa. – Ahm.. eu tô bem... bem melhor agora.

— Fica tranquila, Magali. O Cascão vai superar mais essa... é ele forte. Que nem os amigos dele.

Magali abaixou a cabeça, feliz ao ouvir aquilo.

— Eu sei.

Após um silêncio, cada uma olhando para um canto diferente, Magali criou coragem.

— Mônica... eu sei que não é hora nem lugar pra falar sobre isso mais... eu só quero que você saiba que eu fiquei muito feliz quando você veio falar comigo hoje mais cedo.

— Ah... eu só tentando...

— Me consolar por causa do Cascão, eu sei. Você não precisava fazer aquilo...

— Mas eu quis, afinal de contas, eu não quero que você sofra por algo que não tem culpa. O Cascão está nesta situação por causa das próprias decisões.

— Eu sinto muito a sua falta, Mônica.

Mônica suspirou e se levantou da cadeira, ela não parecia estar preparada para aquele assunto. Por mais que quisesse.

— Magali, como você mesma disse, não é hora nem...

— Já sei que você não quer falar sobre isso, mas ainda sim eu preciso continuar tentando – Magali se levantou e foi até ela. – Eu sinto falta das nossas conversas, até das nossas brigas. Sinto falta de chegar na sua casa depois da aula, deitar na sua cama e ouvir você reclamar do Cebola – ela dizia tentando não chorar. Mônica, por incrível que pareça, já não tinha mais aquele olhar de desprezo que tinha antes quando olhava para a comilona. – Eu sei que eu cuidei muito mal da nossa amizade, eu fui uma péssima amiga, eu reconheço. E acredite, eu estou pagando por isso. Mas... não me peça pra desistir. Porque eu não quero desistir de tentar reconquistar a nossa amizade. Você não era só a minha melhor amiga, Mônica. Você era minha irmã.

— Magali... você pisou na bola comigo.

A comilona assentiu com a cabeça, deixando uma lagrima cair, mas a secou com as costas da mão.

— Pisou feio. Eu nunca esperava que você pudesse me trair um dia. Você deveria ter sido sincera comigo desde o início, Magali. Se você realmente confiasse em mim, deveria ter me contado no primeiro dia. Com certeza eu teria achado estranho no começo, poderia até ter sentido ciúmes sim, mas eu jamais iria colocar um garoto acima da nossa amizade. Além do mais, não era o Do Contra quem eu amava de verdade, e você sabe disso.

— Eu sei Mônica, eu sei. Mas querendo ou não, vocês tinham uma história juntos. Eu não queria ter me envolvido com ele. Quando aconteceu era tarde demais... eu fui me enrolando, e no final... – Magali suspirou. – Me perdoa, Mônica.

A dentuça encarou Magali por um tempo. Ela podia ver em seus olhos que ela estava sendo realmente sincera.

— Nenhum garoto vai ser tão importante quanto nossa amizade. Eu sempre deixei isso claro... e é por isso que eu fiquei com tanto medo de te contar. O DC também não facilitava as coisas pra mim. Ele me perseguia, me pressionava, por mais que fugisse dele... era inútil.

— Tudo seria diferente se você tivesse aberto o jogo comigo... tudo seria diferente se você tivesse me dito que gostava dele de verdade. Eu nunca teria te impedido de ficar com ele.

— Desculpa... eu achei que tivesse fazendo o certo em te poupar da verdade, mas... só fiz escolhas erradas.

— Eu também fiz. Principalmente quando deixei que a Denise me tirasse o Cebola. Quando pedi o DC em namoro. Todos nós erramos, Magali... e é por isso que... eu vou te perdoar.

Magali levantou a cabeça, surpresa. Ela não tinha certeza que tinha ouvido certo. Estava se desculpando com Mônica, mas a última coisa que esperava era que a dentuça fosse realmente aceitar.

— É... sério? – ela perguntou em choque.

— Sim, eu acho que esse tempo longe me fez refletir sobre várias coisas. Eu fiquei tão cega de ódio que esqueci o tipo de pessoa que você é. Que gosta de proteger as pessoas. Que prefere sofrer a ver algum dos seus amigos chorar. Você pode ter errado em não ter me contado antes, mas a verdade é que eu também sinto a sua falta, e eu já não quero ficar longe de você.

Magali voltou a chorar, dessa vez de felicidade. Ela abriu um sorriso, enquanto as lagrimas desciam pelo seu rosto. Parecia que ela tinha acordado de um pesadelo infinito.

— Eu posso te abraçar?

Mônica assentiu, abraçando a amiga. Sentir o abraço de Mônica foi uma das melhores coisas que poderiam acontecer aquele dia. A sensação foi de um alívio imenso, de conforto, de saudade. Elas se abraçaram forte, sem conseguir se desgrudar.

Aos poucos elas foram se afastando, e Magali pôde ver que Mônica também estava chorando.

— Você não tem ideia de quanto eu esperei por isso...

Mônica soltou uma risadinha, e enxugou as lagrimas.

— Só promete que nunca mais vai esconder as coisas de mim.

Magali beijou os dois dedos indicadores.

Alguém tocou na porta, e Mônica abriu. Era Cebola.

— Oi, e aí? Ele já acordou?

— Só amanhã.

— Tá tudo bem por aqui? – perguntou o careca ao ver que as duas tinham chorado.

— Tudo ótimo! – Magali abraçou a dentuça de lado. – Cebola, a Mônica e eu fizemos as pazes.

— Jura? – Cebola abriu um sorriso, surpreso. Ele achava que as duas iam demorar meses até voltarem a se falar, por causa do gênio orgulhoso da dentuça.

Logo depois, chegou Seu Antenor e Dona Lurdes, que só tinham se ausentando para ir tomar banho. Trouxeram roupas para Cascão usar no dia seguinte quando acordasse.

Como já tinha gente de mais no quarto, o médico pediu para que os três amigos saíssem.

Já na praça do bairro, os três pararam pra conversar.

— Agora que estamos bem, que ir lá pra casa? – sugeriu Magali. – A Marina vai adorar saber a novidade.

— Claro, só vou passar em casa primeiro.

— Tudo bem, te espero lá – Magali foi embora, com um sorriso no rosto. Ela não conseguia disfarçar a sua felicidade.

Pelo visto Mônica também não.

— Fico feliz que vocês tenham se entendido... era super estranho ver as duas assim... tão distantes.

— É, era sim. Confesso que sofri bastante. A Magali é minha outra metade.

— E você a dela.

— Ela me prometeu que não ia pisar mais na bola...

— Falando em pisar na bola... er... e aproveitando que hoje é o dia dos pedidos de desculpas... eu também queria fazer o mesmo.

— Como assim?

— Eu também pisei na bola com você, Mô. Fiquei com a Denise na sua festa... tudo por um mal-entendido. Por causa disso, você acabou ficando com o DC.

— Esquece isso, Cebola. Isso já faz tempo.

— Pra mim foi como se fosse ontem. Até hoje não consigo me perdoar... queria saber se pelo menos você vai conseguir.

Mônica suspirou e encarou o careca.

— Esse ano foi difícil... fui enganada pelas três pessoas mais importantes da minha vida. Você, a Magali, o DC. Perdoar não é fácil, mas é a única maneira de seguir em frente. Eu já te perdoei a muito tempo, Cebolinha.

— Então... será que ainda dá tempo de a gente tentar de novo?

— Tentar de novo – ela riu. – Taí uma coisa que talvez eu nunca consiga fazer.

— Mas Mônica...

— Cebola, volta pra Denise. É com ela que você está agora, não é?

— Mônica...

— Não perde mais seu tempo comigo. Nossa história já acabou. Não dá mais tempo pra consertar o que ficou no passado. Agora dá licença, que eu preciso ir.

A dentuça saiu andando deixando Cebola sozinho no meio da rua.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.