love.

Chapter 27: I Know It's Over


♫ And I know it's over - still I cling

I don't know where else I can go

Over and over and over and over ♪

Uma das coisas mais cruéis que uma pessoa pode fazer é despertar o amor de alguém sem a intenção de amá-lo.

— Do Contra. Jun06

[...♥...]

Havia passado praticamente uma semana desde o dia em que Do Contra e Magali “se acertaram”. Ela continuava tentando fugir dele, mas acabava falhando todas as vezes. Os dois passaram a se encontrar durante a noite no skatepark quando ninguém estava por perto. Ela não conseguia resistir aos encantos do garoto, pois ele parecia causar algum tipo de feitiço nela quando estavam juntos. Era impossível de explicar.

Marina não incentivava que eles continuassem ficando as escondidas, sendo que Magali ainda não tinha criado a coragem de contar para Mônica sobre eles, mas por outro lado se sentia em um filme de romance quando precisava acobertar os dois.

A comilona se sentia péssima toda vez que chegava em casa com o perfume do moreno grudado em seu corpo. Deitava e chorava. Chorava por gostar dele, chorava por saber que Mônica continuava sendo traída duplamente, como disse Denise. Chorava principalmente por se sentir tão miserável em relação a sua amizade com a dentuça. Mônica definitivamente não merecia aquilo.

Durante aquela noite de sexta-feira, eles estavam mais uma vez juntos, no mesmo lugar. Mas estava sendo diferente das outras vezes, pois Magali estava triste demais pra poder ficar com ele.

— Vai ser amanhã então? – perguntou o moreno enquanto acariciava as costas da comilona.

— Vai – ela respondeu suspirando. – A Denise não nos deu muita escolha, deu?

— Essa semana deve ter sido bastante divertida pra ela. Ver o pânico no seu olhar toda vez que ela fingia que ia se aproximar da Mônica.

— Com certeza foi – disse cobrindo o rosto com as mãos. – Mas eu não tô ligando pra isso agora... amanhã eu vou ter que abrir o jogo com ela, e eu não faço a menor ideia por onde vou começar.

— Começa do inicio...

— Eu não posso fazer isso.

— Por que não?

— Do Contra, ela já vai se sentir humilhada só pela traição. Se ela souber que isso aqui – ela apontou para os dois – aconteceu antes mesmo de vocês começarem a namorar, eu tenho certeza que a dor vai ser pior.

— Pois eu acho que você não deve esconder nada dela, Magali. A Mônica pode acabar descobrindo sozinha, e vai ser pior.

— Pior? Eu juro que não sei como pode ficar pior... – murmurou ela se levantando do chão onde eles estavam sentados. – Eu só... Eu só acho que não contando toda a historia pudesse evitar mais sofrimento...

— A Mônica já vai sofrer de qualquer jeito... – Do Contra queria ter usado palavras menos duras, mas era difícil. – Magá, não tem como evitar isso. Qualquer um teria a mesma reação...

— As vezes – Magali balançou a cabeça meio indignada –, parece que... Você nem se importa.

— Não me importo?! – agora era ele quem estava indignado. – Como assim, Magali? Eu tô tão arrasado quanto você. A Mônica era... É ainda minha namorada.

— E como você consegue ficar nessa calma? Eu pareço ser a unica desesperada por aqui. Alias, eu nem sei como você conseguiu me convencer em continuar me encontrando as escondidas, sabendo que vocês ainda estão juntos!

— Porque assim como você precisou desse tempo pra criar a sua coragem, eu também precisei criar a minha... – ele se levantou e foi até ela, que ainda estava aflita. – Magali, é a Mônica. A nossa Mônica... Todo esse tempo você teve pânico em magoar ela, em fazer-la sofrer. Pois pra mim não é diferente! Eu não sei como terminar esse namoro, sem que ela se sinta mal.

— Somos dois covardes, é isso que somos... – Magali disse passando as mãos pelos braços, por causa do frio.

— É, talvez... – ele se aproximou e a abraçou para tentar aquece-la. – Somos covardes, péssimos amigos, o que você quiser chamar... O que eu sei é que somos corajosos o suficiente pra ficarmos juntos mesmo sabendo das consequências que vão vim por ai.

— Eu ainda não sei se é uma boa ideia a gente...

— Não me faça calar sua boca com um beijo de novo – ele disse passando os dedos pelo seu pescoço. Magali se arrepiava sempre que o moreno entrava em contato com essa área do seu corpo, e ele mais do ninguém sabia disso.

Ela não pôde deixar de sorrir, mesmo triste, inconsolável, Do Contra ainda conseguia faze-la rir, por mais bobo que fosse o motivo.

[...♥...]

Um sábado chuvoso. O tempo não podia estar mais triste, pensou Mônica. A dentuça estava passando por uma semana depressiva. O motivo? Seu namorado, Do Contra.

Ele não estava mais aparecendo em sua casa de surpresa como costumava fazer. Não passava mais horas no telefone com ela como antigamente, e na escola, raramente tinham seus momentos íntimos no intervalo. O garoto simplesmente diminuiu a convivência com ela, era até como se estivesse fugindo ou algo assim.

Mônica buscou várias vezes na mente, pensando no que ela poderia ter feito de errado para ele estar agindo daquela forma a semana inteira. Porém no dia anterior depois da aula, a dentuça começou a ter uma leve suspeita do que puderia estar acontecendo. Aquele afastamento repentino só poderia significar duas coisas.

Mônica não era idiota, então quando ele finalmente deu sinal de vida naquele sábado dizendo que eles precisavam conversar, ela confirmou a sua hipótese.

O dia já estava triste, e ela sentiu que ia acabar ficando ainda mais. Tomou um banho quente, vestiu uma calça jeans vermelho vinho, e colocou o seu casaco branco. Sentou na sala, olhando para a tela da TV desligada, esperando o namorado aparecer. Seu coração estava na mão, ela só esperava pelo pior. Mas no fundo tinha uma pontinha de esperança que tudo não passasse de uma paranoia, e que a conversa fosse sobre um assunto completamente diferente.

Finalmente ele tocou a campainha. Como estava sozinha em casa, levantou para atender. Já na porta, tratou de colocar um sorriso no rosto e abriu. Ele estava como sempre, bermuda preta, blusa preta, e casaco por causa do frio, também preto. Seus cabelos estavam relativamente molhados. Ele tinha saído sem guarda-chuva, mas não precisava, pois eles moravam perto um do outro.

— Oi amor – ela tentou parecer o mais normal possível, e se aproximou para lhe dar um selinho. Pra sua surpresa ele retribuiu. – Por que não esperou a chuva passar? Você está todo molhado...

— É que... Essa conversa não vai poder esperar muito – ele disse fechando a porta e sacudindo os cabelos com a mão.

— Nossa, é tão sério assim o assunto?

— Bastante...

Mônica quis parar de sorrir, mas não o fez. Foi até a lavandeiria e voltou com uma toalha branca na mão. Entregou a ele, e o moreno começou a se secar enquanto ela observava em pé.

Do Contra que não era besta, percebeu na hora que ela estava quieta demais. Ele sabia que ela tinha ficado chateada por ele ter evitado-a a semana inteira. No fundo sentia que ela esperava por algo ruim.

— Não vai sentar? – ele perguntou apontando para um lugar ao lado dele. Mônica não respondeu e sentou.

Definitivamente o moreno não sabia como começar. Seria a conversa mais dificil que ele ia ter com Mônica, mas não podia adiar mais tempo. Ia ter que seguir até o final. Ele parou de secar os cabelos, baixou a cabeça e respirou uma... duas, três vezes.

— Eu sei que você provavelmente deve ter notado o meu sumiço essa semana...

— Sim, notei... – ela disse desviando o olhar do garoto para não chorar. Ela não ia chorar. Sabia o rumo da conversa, mas não ia chorar.

— Bem... eu vim aqui justamente pra te explicar o que...

— Olha DC, não nasci ontem... Se tá acontecendo alguma coisa, é melhor você falar de uma vez! – Mônica engoliu em seco e manteve sua postura.

Do Contra olhou para ela meio incerto se deveria ser direto ou não. Não era desse jeito que tinha planejado.

— Mônica... o que eu quero que você saiba antes de mais nada é que eu te amo. Com você minha vida ficou diferente, e eu sempre me amarrei nessas coisas – ele sorriu, mas ela continuou séria. – Mas... começaram a acontecer algumas coisas... coisas que eu não pude controlar, entendeu? Na verdade eu não espero que você entenda...

— DC... – a dentuça apertou os olhos e depois abriu. – Sem rodeios por favor... e diz logo... o que você tem pra dizer – murmurou ainda séria. Não ia chorar. Não ia.

— Eu... – Do Contra tinha mil coisas que queria ter dito antes, mas Mônica era inteligente demais pra não ter sacado ainda o que ele tinha pra falar. Infelizmente ia ter que ser direto. – Eu... acho melhor a gente terminar.

Ele viu Mônica cravar as unhas no estofado. Ele não se atreveu a dizer mais nada antes de ouvir alguma coisa dela. Tinha quase certeza que ela iria avançar pra cima dele a qualquer momento, mas esperou. Esperou um minuto, dois, três, quatro... Nada foi dito naquela sala durante um bom tempo. A unica coisa que podiam ouvir era o tic tac do relógio que ficava na cozinha, que por algum motivo passou a ficar ainda mais alto na opinião do garoto.

— Eu... eu fiz alguma coisa? – ela disse finalmente, quase um alivio para ele escutar a voz dela depois de tanto tempo em silêncio.

— Que? Claro que não, Mônica! – Ele se aproximou alguns centimentros, mas decidiu não tocar nela. – Você não fez nada, o problema é comigo... Você me conhece, sabe que eu tenho esse jeito estranho. O problema nunca poderia ter sido você, vai por mim...

— Então, por quê...? – ela perguntou sentindo sua garganta arranhar.

Do Contra já esperava presenciar Mônica daquele jeito, mas por mais decidido que estivesse, era horrível de qualquer forma.

Suspirando alto, o moreno se levantou do sofá e se abaixou de frente a ela. Assim poderia olhar em seus olhos.

— Tudo que a gente viveu até agora foi especial pra mim... não só durante o namoro, como antes dele também. Eu sempre te considerei a minha melhor amiga, embora tivesse aquele sentimento platônico na infância, isso nunca me impediu de continuar gostando de você, da sua companhia – ele tentou tocar em uma das mãos de Mônica, e pra sua surpresa, ela não recuou. – Nossa relação vai ser sempre especial, independente se fomos namorados ou não. Mas agora eu... eu realmente quero ficar sozinho...

— Eu ainda não entendo... você sempre dizia que queria ficar comigo, DC. O que mudou?

— Algumas coisas...

— Eu mudei?

— Não... – ele suspirou e baixou o olhar.

— Então pra que terminar?! – perguntou se levantando do sofá. – Nós já estamos há dois meses juntos DC! Nunca tivemos uma briga séria, talvez um desentendimento ali, ou aqui... mas... você nunca deixou que eu ficasse chateada por muito tempo. Sempre vinha aqui em casa, me pedir desculpas até quando eu era a culpada da nossa discussão.

— Eu sei Mônica, mas...

— Talvez nossa relação esteja normal demais pra você... é isso não é? Se for, eu juro que posso mudar DC – Mônica dizia tudo muito rápido, nem ela sabia o que estava fazendo – eu... sei lá, posso aprender mais sobre esse seu universo, e quem sabe...

— Mônica! – O moreno precisou aumentar o tom da voz pra que ela parasse de falar. Do Contra se sentia cada vez mais péssimo com a situação. – Eu já disse que o problema não é você...

A dentuça encarou o chão franzindo o cenho.

— Sério, você é uma garota incrível, não conheço nenhum cara que não queira estar no meu lugar. Mas...

— Mas você não gosta mais de mim... é isso?

— Claro que eu gosto de você, Mônica... gosto muito. Só que não é mais como antes, entendeu?

Respirando fundo, a garota teve que se sentar de novo para refletir sobre aquela informação. As coisas estavam acontecendo muito depressa.

— Vamos ser sinceros um com o outro... – ele voltou a se sentar ao seu lado. – Esse namoro nem teria começado se o Cebola não tivesse beijado a Denise na sua festa. É dele que você gosta de verdade.

— O Cebola é um idiota, Do Contra...

— Um grande idiota – concordou ele – mas um idiota que é apaixonado por você. E você também é por ele...

— Eu não tenho mais certeza disso.

— Eu tenho. Posso ter sido seu namorado, mas eu sempre soube que no fundo não era comigo que você queria estar.

Mônica não soube o que responder. Não soube, porque no fundo essa era a verdade.

— É... talvez... talvez pedir você em namoro tenha sido um erro se olharmos por esse ângulo.

— Um erro que eu curti muito de cometer – ele riu e viu que ela tinha sorriso de lado também

Sem tirar os olhos um do outro, eles não disseram mais nada. Se encararam como se fosse a ultima vez que iam se ver, era como se estivessem se despendido.

— Obrigada por tudo, DC. Vou sentir sua falta – disse Mônica.

— Eu também vou, pode ter certeza...

Do Contra se aproximou, e ela deixou que ele lhe concedesse um abraço. Por mais apaixonado que o moreno estivesse por Magali, não podia negar que iria sentir falta daqueles abraços, e dos carinhos da dentuça.

Quando se afastaram, ele se levantou para ir embora. Mônica o levou até a porta e quando estava para sala de novo, voltou a mirar a TV desligada. Tentou processar tudo aquilo que acabara de acontecer.

Seu namoro tinha terminado.

Ela não amava Do Contra, mas por que se sentia tão triste?

[...♥...]

Quando a chuva passou, Magali resolveu ir até a casa de Mônica. Antes de ir, tinha tomado um banho muito demorado, tão demorado que sua mãe chegou a pensar que ela tivesse desmaiado no chão do banheiro. Passou o dia inteiro comendo besteiras, pois se sentia nervosa, e só comida poderia resolver o seu problema. Bem, não resolveu.

Começou a passar todo o texto que tinha ensaiado durante o caminho para a casa da amiga. Suas mãos tremiam, mas não era devido ao frio que fazia.

Quando chegou, achou que não estivesse ninguém em casa. Já era de noite, e tudo por dentro estava escuro. Decidiu tocar a campainha mesmo assim. Passou as mãos geladas pela calça e esperou.

Não demorou muito e ela se abriu. Tudo que pôde ver foi Mônica dando as costas. Estranhou na hora, mas entrou.

A casa inteira estava escura. Magali começou a ficar preocupada.

— Por que não acendeu as luzes? – ela perguntou tentando não esbarrar em nada.

— Peguei no sono... – respondeu. Sua voz saiu baixa e meio rouca. – Pode acender se quiser...

Magali foi até o interruptor da sala e acendeu. Viu Mônica se sentar no sofá e andou até ela rapidamente. Precisava começar logo aquela conversa antes que perdesse a coragem.

— Amiga, eu queria falar com você... Sobre um assunto meio importante e...

A comilona percebeu que os olhos da dentuça estavam vermelhos, seu nariz, e suas bochechas também.

— O que aconteceu, amiga?! – Magali se sentou, visivelmente preocupada.

— O... o DC...

— O Do Contra esteve aqui?! – os olhos da morena se arregalaram.

— Sim... ele... ele terminou comigo, Magá – Mônica se atirou nos braços da morena e começou a soluçar.

A garota ficou absolutamente sem reação.

Isso não era pra estar acontecendo.